Estreou nesta quarta-feira, 16, o documentário Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo. Dirigido por Juliana Vicente, o longa da Netflix mostra a origem e a ascensão do grupo formado por Mano Brown, KL Jay, Ice Blue e Edi Rock.
Produzido pela Preta Portê, o filme traz cenas inéditas gravadas ao longo dos mais de 30 anos de carreira, além de entrevistas exclusivas, e reforça o impacto e o legado dos músicos, desde os primeiros shows nas ruas de São Paulo.
Em entrevista ao Estadão, a diretora explica que o projeto começou em 2015, com filmagens de entrevistas que, a princípio, seriam para um DVD sobre os 25 anos do grupo. Porém, desde 2012, Juliana já entendia a função que os Racionais exerciam socialmente, para além da música.
Naquele ano, ela gravou o clipe de Marighella, diretamente da ocupação de Mauá. “Para muita gente, Racionais é religião, é partido político e um pai para quem nunca teve, vai muito além da música”, explica.
“O Racionais salvou minha vida”
Juliana afirma que, no processo de acompanhar o grupo em shows, ouviu diversos fãs comentarem que o Racionais salvou a vida deles. No documentário, um dos principais pontos explorados é a ligação do grupo com pessoas da periferia.
Desde sua criação, os rappers representam a voz dessa comunidade e as letras e rimas dialogam diretamente com essa realidade. “Queria que os pretos me ouvissem, queria ir no coração deles”, anunciou Mano Brown em uma cena no início do documentário.
Esse desejo se realizou e essa ligação tão íntima e forte se deve justamente por Brown, KL Jay, Ice Blue e Edi Rock estarem, até hoje, “no mesmo corre” que os fãs. “Eles estão lá dentro [periferia], né? Eles vivem ali, continuam circulando ali. A vida dos caras é a favela e eles falam o que ninguém quer falar”, explica Juliana.
“Em São Paulo, Deus é uma nota de cem”
Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo mostra não só o impacto político e social do grupo, mas também a influência da capital paulista para os artistas. Os marcos territoriais, os bairros de onde cada um vêm e o deslocamento pela cidade ganham grande protagonismo no longa.
São Paulo entra no documentário como um personagem, sendo o berço de influência para os músicos antes e durante a ascensão do grupo. “Nós não tínhamos nada, então íamos nos alimentar das luzes e vitrines do centro. Era na São Bento o centro do hip hop dos anos 80″, explica Mano no documentário.
“A questão do território é muito importante para eles. Ter conquistado a própria periferia é um grande marco. Esse deslocamento da periferia para o centro da cidade e tudo que você pode ver a partir dali, é inevitável você não ser atravessado. ‘Em São Paulo, Deus é uma nota de cem’”, diz Juliana, citando a música Vida Loka, dos Racionais.
Por fim, a diretora conclui que o intuito do longa é que as pessoas continuem ouvindo o grupo, porque “quanto mais gente escutar Racionais, mais teremos perspectiva de um mundo melhor”.