Pra você que, alguma vez - ou várias - disse

E que seja eterno... Enquanto durar a bateria.


- Amor, amor, calma.

Por Maria Dolores

- (???).

- Quando eu conheci ela? Sei lá, eu conheço um monte de gente todo dia, em todo lugar que eu vou eu conheço gente nova, porque eu sou de fora, lembra? Então é claro que vou conhecer gente.

- (???).

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- Como é que eu vou lembrar, amor? Não sei... Sei lá quem é ela...

A conversa estava nesse pé quando eu sai de casa para fazer (ou tentar) esteira na academia. Era fim de tarde e o residente de medicina estava andando pra lá e pra cá no hall do prédio, com a pasta pendurada pelo ombro, uma mão no jaleco e a outra no telefone celular.Ela deve ter ligado antes dele entrar no elevador, então ele ficou conversando por ali, no silêncio frio do hall até eu passar em passos rápidos munida da minha intenção nobre de me tornar uma pessoa saudavelmente ativa. Ele, como médico, provavelmente se orgulharia.

Com muita força de vontade e uma sensação concreta de vitória, caminhei por 42 minutos, na velocidade de seis quilômetros por hora. Um recorde para mim. Entre o tempo na esteira e o percurso de ida e volta à academia, devo ter demorado uns cinquenta minutos. E, cinquenta minutos depois... Ele ainda estava ali, o pobre residente. Pasta pendurada pelo ombro, jaleco em uma mão, telefone na outra, com a diferença que, desta vez, encontrava-se sentado no banco de madeira próximo ao primeiro elevador, e não mais andando pra lá e pra cá.

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- Amor, amor, quantas vezes a gente já teve esse mesmo tipo de conversa? É isso toda vez. Não é possível.

- (???)

- Calma, amor, calma, não quis dizer isso, é claro que eu te amo.

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Eu deveria ter passado rápido, porque não tinha nada a ver com aquilo. Mas a curiosidade faz parte da vida, assim como a necessidade de praticar exercícios, então tentei caminhar o mais devagar humanamente possível, estilo estou-destruída-acabei-de-me-matar-na-academia. Ele parecia desolado, o residente. Vez outra deixava o jaleco no banco e segurava a testa, o queixo, a cabeça. Ouvindo a namorada, esposa, noiva ou sei lá o quê desafogar a mágoa, o ciúme, a insegurança e desconfiança que muitas vezes se instalam quando um casal não vive junto.Ou quando vive, o que é pior.

Não conheço o residente. Não conhece a mulher do outro lado da linha. Mas fiquei com pena. Dele. Dela. Cinquenta minutos de uma conversa que não leva a lugar nenhum, uma conversa velha, batida, repetida. E ele sabe disso. Ela também. Por que, então, não abreviaram uns quarenta minutos? Podiam ter dito tudo em dez e gastar o restante para fazer juras de amor e planos para o futuro. Mas, o ser humano é assim, acabamos insistindo no erro e nas mesmas bobagens desgastantes dia após dia. Vivemos grudados em uma necessidade de sofrer, um medo crônico de relaxar e ser feliz. Até ter a sorte, ou sabedoria, de amadurecer. Ou até, quem sabe, acabarem o sinal e a bateria.

- (???).

- Quando eu conheci ela? Sei lá, eu conheço um monte de gente todo dia, em todo lugar que eu vou eu conheço gente nova, porque eu sou de fora, lembra? Então é claro que vou conhecer gente.

- (???).

- Como é que eu vou lembrar, amor? Não sei... Sei lá quem é ela...

A conversa estava nesse pé quando eu sai de casa para fazer (ou tentar) esteira na academia. Era fim de tarde e o residente de medicina estava andando pra lá e pra cá no hall do prédio, com a pasta pendurada pelo ombro, uma mão no jaleco e a outra no telefone celular.Ela deve ter ligado antes dele entrar no elevador, então ele ficou conversando por ali, no silêncio frio do hall até eu passar em passos rápidos munida da minha intenção nobre de me tornar uma pessoa saudavelmente ativa. Ele, como médico, provavelmente se orgulharia.

Com muita força de vontade e uma sensação concreta de vitória, caminhei por 42 minutos, na velocidade de seis quilômetros por hora. Um recorde para mim. Entre o tempo na esteira e o percurso de ida e volta à academia, devo ter demorado uns cinquenta minutos. E, cinquenta minutos depois... Ele ainda estava ali, o pobre residente. Pasta pendurada pelo ombro, jaleco em uma mão, telefone na outra, com a diferença que, desta vez, encontrava-se sentado no banco de madeira próximo ao primeiro elevador, e não mais andando pra lá e pra cá.

- Amor, amor, quantas vezes a gente já teve esse mesmo tipo de conversa? É isso toda vez. Não é possível.

- (???)

- Calma, amor, calma, não quis dizer isso, é claro que eu te amo.

Eu deveria ter passado rápido, porque não tinha nada a ver com aquilo. Mas a curiosidade faz parte da vida, assim como a necessidade de praticar exercícios, então tentei caminhar o mais devagar humanamente possível, estilo estou-destruída-acabei-de-me-matar-na-academia. Ele parecia desolado, o residente. Vez outra deixava o jaleco no banco e segurava a testa, o queixo, a cabeça. Ouvindo a namorada, esposa, noiva ou sei lá o quê desafogar a mágoa, o ciúme, a insegurança e desconfiança que muitas vezes se instalam quando um casal não vive junto.Ou quando vive, o que é pior.

Não conheço o residente. Não conhece a mulher do outro lado da linha. Mas fiquei com pena. Dele. Dela. Cinquenta minutos de uma conversa que não leva a lugar nenhum, uma conversa velha, batida, repetida. E ele sabe disso. Ela também. Por que, então, não abreviaram uns quarenta minutos? Podiam ter dito tudo em dez e gastar o restante para fazer juras de amor e planos para o futuro. Mas, o ser humano é assim, acabamos insistindo no erro e nas mesmas bobagens desgastantes dia após dia. Vivemos grudados em uma necessidade de sofrer, um medo crônico de relaxar e ser feliz. Até ter a sorte, ou sabedoria, de amadurecer. Ou até, quem sabe, acabarem o sinal e a bateria.

- (???).

- Quando eu conheci ela? Sei lá, eu conheço um monte de gente todo dia, em todo lugar que eu vou eu conheço gente nova, porque eu sou de fora, lembra? Então é claro que vou conhecer gente.

- (???).

- Como é que eu vou lembrar, amor? Não sei... Sei lá quem é ela...

A conversa estava nesse pé quando eu sai de casa para fazer (ou tentar) esteira na academia. Era fim de tarde e o residente de medicina estava andando pra lá e pra cá no hall do prédio, com a pasta pendurada pelo ombro, uma mão no jaleco e a outra no telefone celular.Ela deve ter ligado antes dele entrar no elevador, então ele ficou conversando por ali, no silêncio frio do hall até eu passar em passos rápidos munida da minha intenção nobre de me tornar uma pessoa saudavelmente ativa. Ele, como médico, provavelmente se orgulharia.

Com muita força de vontade e uma sensação concreta de vitória, caminhei por 42 minutos, na velocidade de seis quilômetros por hora. Um recorde para mim. Entre o tempo na esteira e o percurso de ida e volta à academia, devo ter demorado uns cinquenta minutos. E, cinquenta minutos depois... Ele ainda estava ali, o pobre residente. Pasta pendurada pelo ombro, jaleco em uma mão, telefone na outra, com a diferença que, desta vez, encontrava-se sentado no banco de madeira próximo ao primeiro elevador, e não mais andando pra lá e pra cá.

- Amor, amor, quantas vezes a gente já teve esse mesmo tipo de conversa? É isso toda vez. Não é possível.

- (???)

- Calma, amor, calma, não quis dizer isso, é claro que eu te amo.

Eu deveria ter passado rápido, porque não tinha nada a ver com aquilo. Mas a curiosidade faz parte da vida, assim como a necessidade de praticar exercícios, então tentei caminhar o mais devagar humanamente possível, estilo estou-destruída-acabei-de-me-matar-na-academia. Ele parecia desolado, o residente. Vez outra deixava o jaleco no banco e segurava a testa, o queixo, a cabeça. Ouvindo a namorada, esposa, noiva ou sei lá o quê desafogar a mágoa, o ciúme, a insegurança e desconfiança que muitas vezes se instalam quando um casal não vive junto.Ou quando vive, o que é pior.

Não conheço o residente. Não conhece a mulher do outro lado da linha. Mas fiquei com pena. Dele. Dela. Cinquenta minutos de uma conversa que não leva a lugar nenhum, uma conversa velha, batida, repetida. E ele sabe disso. Ela também. Por que, então, não abreviaram uns quarenta minutos? Podiam ter dito tudo em dez e gastar o restante para fazer juras de amor e planos para o futuro. Mas, o ser humano é assim, acabamos insistindo no erro e nas mesmas bobagens desgastantes dia após dia. Vivemos grudados em uma necessidade de sofrer, um medo crônico de relaxar e ser feliz. Até ter a sorte, ou sabedoria, de amadurecer. Ou até, quem sabe, acabarem o sinal e a bateria.

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