5, 4, 3, 2, 1... campeão! Técnico, jogadores, dirigentes do Palmeiras não se atrevem a tocar no assunto. No que fazem muito bem. Mas inevitável que, para a torcida, tenha começado a contagem regressiva para festejar outro título brasileiro, o sexto desde 1971, o décimo, no critério adotado pela CBF há alguns anos. A equipe lidera com 5 pontos de vantagem sobre o Inter (67 a 62) e só uma hecatombe dupla vai arrancar-lhe a taça da mão.
Soará como lugar-comum, porém será conquista merecida, se vier, talvez antes da última rodada. Não há o que contestar na caminhada dos palestrinos. Nos padrões do que se joga hoje por estas bandas, sustentam a vantagem com altivez, regularidade, eficiência.
Nem sempre isso se traduz em futebol bonito ou vistoso. Com o elenco que possui, o líder poderia, digamos, mostrar-se mais generoso nos espetáculos. Raros os clubes com elenco tão diversificado num país que se tornou incontrolável exportador de talento. Entendo os que malham nesse aspecto, sob a alegação de que se revela pobre o repertório para uma instituição que investe pesado para sobressair.
Entram na conta das decepções, quedas nas semifinais de Copa do Brasil e Libertadores, fora a perda do Paulista para o Corinthians, em casa. Certo, esperava-se mais do Palmeiras. No entanto, calma lá! Ganhar o Brasileiro tem valor – e enorme! Da forma como alguns torcem o nariz parece que a Série A do Nacional virou objetivo de segunda linha, prêmio de consolação.
Engano: ser campeão do Brasil é extraordinário, para ser comemorado, troféu para expor com destaque. E o Palmeiras está próximo disso, como consequência de campanha irretocável, sobretudo com a chegada de Felipão. O “velho mestre” pegou o time atrás de vários concorrentes e, 18 rodadas depois, o vê à frente. Nessa fase, foram 13 vitórias e 5 empates, praticamente um turno de invencibilidade.
Rasteiro creditar a trajetória apenas ao acaso. Ela é produto de trabalho, de equilíbrio, de sensatez de Felipão ao saber utilizar-se de praticamente todos os jogadores. Um dos segredos está na recuperação de interesse de atletas que andavam escanteados. Pouco? Não. Antecessores tinham vastas alternativas e não souberam valer-se delas.
A arrancada tem hoje mais uma prova: o clássico com o Fluminense, em casa. Tropeço pode animar o Inter, e não deve ser descartado. Mas o Palmeiras tem gordurinha para queimar.
Apito final. Quando era criança, nos anos 60, olhava fascinado para as notícias que passavam nos letreiros do Estadão, na Major Quedinho. Dizia que um dia trabalharia ali. O dia veio em 25 de maio de 1974, na função singela de revisor de anúncios em madrugadas de fim de semana. Então me sentia o mais feliz calouro de Jornalismo da USP.
O tempo passou, tive paciência para esperar oportunidades. Virei repórter em 1977, chefe de reportagem em 1981, repórter especial em 1985. Passei pela Agência Estado, voltei ao jornal, fui editor de Esportes em duas ocasiões, a última delas entre 2006 e 2009. Nos últimos anos, tornei-me colunista, com quase 2 mil crônicas assinadas neste espaço, fora outras tantas no blog do portal.
Nestes 44 anos e meio, vi o jornal mudar de sede, enfrentar crises e bonança, assim como o Brasil. O Estadão foi extensão da minha casa e me recebeu adolescente; casei, tive filhos, virei avô. Imaginava-me ficar bem velhinho, ainda a dialogar aqui com os leitores. Não foi possível.
Despeço-me com o mesmo espírito jovem, idealista e esperançoso daquele 25 de maio de 1974. Com o mesmo amor por este jornal, a quem nunca traí, mesmo nas mais rotineiras funções. Cai uma lágrima, claro, pois não se rompe uma relação de vida inteira sem aperto no coração. Obrigado a todos. Nos vemos por aí.