Ciência contribui para o sucesso do basquete feminino de Santo André


Equipe campeã paulista teve ajuda de estudo que investiga a estratégia utilizada pelas atletas em arremessos com utilização do eye tracking

Restam 19,6 segundos para o fim do jogo, o placar está empatado: 67 a 67. O destino do Santo André/APABA na decisão do Campeonato Paulista Feminino de Basquete adulto está nas mãos de Simone Lima. O público no ginásio Pedro Dell’Antonia, no ABC, fica apreensivo. A experiente pivô olha fixamente para o aro e converte os dois lances livres, o time andreense supera o Vera Cruz, de Campinas, na segunda partida da série final e depois é campeão ao vencer o terceiro confronto. A história desta conquista, em dezembro do ano passado, transcende o esporte. A ciência foi uma peça importante no quebra-cabeça do título.

Há seis meses, o Santo André, por intermédio do técnico Bruno Guidorizzi, da secretária de esportes adjunta Laís Elena e da diretora técnica do basquete feminino, Arilza Coraça, abriram as portas para a ciência. O clube permitiu que uma ex-atleta da equipe, Luciane Moscaleski, que encerrou sua carreira no final de 2017 e atualmente é candidata ao mestrado no Programa de Pós-graduação em Neurociência e Cognição da Universidade Federal do ABC (UFABC), investigasse a estratégia utilizada em arremessos pelas atletas do time adulto em um estudo na área de Neurociência e Cognição.

Time de basquete feminino de Santo André foi tricampeão paulista em 2018. Foto: Reprodução/LBF Twitter
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A pesquisa envolve três instituições: a Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE-USP), com o professor Alexandre Moreira, o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra do Instituto Santos Dumont de Macaíba-RN, com o professor Edgard Morya, além da UFABC, representada pelo professor Alexandre Okano, do Centro de Matemática, Computação e Cognição (CMCC). Há ainda parceria com a Brain Support, empresa que faz estudos neurocientíficos.

Os dados obtidos no protocolo inicial estão em análise, mas os resultados preliminares já apontam para um ganho esportivo. Simone Lima é o exemplo. A pivô de 39 anos viu o aproveitamento no lance livre subir de 56% (14/25) para 68,75% (11/16), com um impressionante desempenho de 81,81% (9/11) na série final contra o Vera Cruz, ao colocar em prática o que aprendeu após os testes com os óculos de eye tracking, que permite medir a posição e o comportamento do movimento ocular.

"Queremos entender melhor o fenômeno quiet eye (fixar o olhar) e estabelecer uma comparação entre a estratégia visual de arremessos bem-sucedidos e malsucedidos em diversos níveis de habilidades e verificar os efeitos da estimulação cerebral sobre a estratégia visual, o desempenho no arremesso e o nível de atenção", diz Luciane.

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O quiet eye é caracterizado pela fixação do olhar de rastreamento em um local ou objeto específico no espaço antes do desfecho final de uma tarefa de pontaria. Com as orientações corretas, as atletas podem perceber as informações mais cedo e adquirir uma transmissão de comandos de maior qualidade para o sistema motor.

"Faço análise dos jogos e, nos últimos lances livres (na decisão), a cada acerto eu olhava para o professor Okano, que estava na arquibancada, e era uma satisfação por ver o trabalho saindo do papel e sendo executado", relembra Luciane, que, além de trabalhar na análise de jogos e adversários, atua como auxiliar na preparação física.

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Este tipo de treinamento no basquete tem sido estudado por Joan Vickers, uma pesquisadora canadense, desde 1995. Em 2001, ela comprovou que esta atividade era eficaz em atletas da liga universitária do Canadá. Na pesquisa científica internacional, outros esportes, como golfe, beisebol e futebol, também são utilizados.

No Brasil, não existem publicações científicas com este tipo de pesquisa em basquete de nível profissional. Em Bauru, o professor Sérgio Tosi realiza trabalho com atletas de base, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

"As informações do padrão de olhar podem ser utilizadas pelos técnicos para melhorar o desempenho num aspecto importante para o atleta, que é a fase de aquisição da informação sensorial, seguida pela execução da ação que foi planejada no momento anterior", diz Luciane.

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O segundo protocolo, que vai começar este ano, envolverá a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC). Trata-se de um método avançado de neuromodulação aplicado para modificar a excitabilidade cerebral de forma segura. "Espero trazer mais conhecimento científico aplicado ao esporte, e a neuromodulação pode ajudar a melhorar a atenção e percepção."

Três perguntas para Simone Lima, pivô do Santo André

1. No começo, você teve resistência ao estudo? A Luciene chegou com o Eye Tracking e eu não queria fazer. Estou quase no fim da carreira e já sei o que tenho de fazer. Mas ela insistiu, falou dos professores que estavam envolvidos e eu aceitei, mas fiz totalmente desencanada. Claro que com seriedade, para o resultado ser correto. Após realizar algumas atividades, e ela me orientar onde tinha de olhar, eu vi que aquilo aumentava minha porcentagem de acerto. Por fim, na final do Paulista, quando tinha de acertar os dois lances livres para levar para o terceiro jogo, lembrei de todos os mecanismos e realizei.

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2. O aproveitamento cresceu de maneira significativa? Foi de 56% para 81%. Errei poucos lances livres desde que coloquei o estudo em prática. A ciência, quando colocada no esporte, sobe o patamar de qualquer atleta. Os estudos atuais estão bem avançados, o que falta é mão de obra para colocar em prática. Estamos sendo abençoados com este projeto. Para você ter uma ideia, o Marcelo Chehade, que é o secretário de Esportes de Santo André e acompanha o time, falou comigo dizendo que eu não acertava lance livre, que ele achava que eu iria errar (na final), mas falei para ele ficar tranquilo porque agora sei o que faço.

3. Mas o ganho esportivo foi apenas no lance livre? Não. Em qualquer parte da quadra que você recebe um passe, já está com o olhar mais treinado para ser mais efetiva no arremesso. Claro que não é só o olhar, há toda uma mecânica do arremesso, que tenho por causa de todos os anos que jogo e treino. Mas sabendo onde fixar o olhar, parece que aumenta a concentração para aquele momento.

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Restam 19,6 segundos para o fim do jogo, o placar está empatado: 67 a 67. O destino do Santo André/APABA na decisão do Campeonato Paulista Feminino de Basquete adulto está nas mãos de Simone Lima. O público no ginásio Pedro Dell’Antonia, no ABC, fica apreensivo. A experiente pivô olha fixamente para o aro e converte os dois lances livres, o time andreense supera o Vera Cruz, de Campinas, na segunda partida da série final e depois é campeão ao vencer o terceiro confronto. A história desta conquista, em dezembro do ano passado, transcende o esporte. A ciência foi uma peça importante no quebra-cabeça do título.

Há seis meses, o Santo André, por intermédio do técnico Bruno Guidorizzi, da secretária de esportes adjunta Laís Elena e da diretora técnica do basquete feminino, Arilza Coraça, abriram as portas para a ciência. O clube permitiu que uma ex-atleta da equipe, Luciane Moscaleski, que encerrou sua carreira no final de 2017 e atualmente é candidata ao mestrado no Programa de Pós-graduação em Neurociência e Cognição da Universidade Federal do ABC (UFABC), investigasse a estratégia utilizada em arremessos pelas atletas do time adulto em um estudo na área de Neurociência e Cognição.

Time de basquete feminino de Santo André foi tricampeão paulista em 2018. Foto: Reprodução/LBF Twitter

A pesquisa envolve três instituições: a Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE-USP), com o professor Alexandre Moreira, o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra do Instituto Santos Dumont de Macaíba-RN, com o professor Edgard Morya, além da UFABC, representada pelo professor Alexandre Okano, do Centro de Matemática, Computação e Cognição (CMCC). Há ainda parceria com a Brain Support, empresa que faz estudos neurocientíficos.

Os dados obtidos no protocolo inicial estão em análise, mas os resultados preliminares já apontam para um ganho esportivo. Simone Lima é o exemplo. A pivô de 39 anos viu o aproveitamento no lance livre subir de 56% (14/25) para 68,75% (11/16), com um impressionante desempenho de 81,81% (9/11) na série final contra o Vera Cruz, ao colocar em prática o que aprendeu após os testes com os óculos de eye tracking, que permite medir a posição e o comportamento do movimento ocular.

"Queremos entender melhor o fenômeno quiet eye (fixar o olhar) e estabelecer uma comparação entre a estratégia visual de arremessos bem-sucedidos e malsucedidos em diversos níveis de habilidades e verificar os efeitos da estimulação cerebral sobre a estratégia visual, o desempenho no arremesso e o nível de atenção", diz Luciane.

O quiet eye é caracterizado pela fixação do olhar de rastreamento em um local ou objeto específico no espaço antes do desfecho final de uma tarefa de pontaria. Com as orientações corretas, as atletas podem perceber as informações mais cedo e adquirir uma transmissão de comandos de maior qualidade para o sistema motor.

"Faço análise dos jogos e, nos últimos lances livres (na decisão), a cada acerto eu olhava para o professor Okano, que estava na arquibancada, e era uma satisfação por ver o trabalho saindo do papel e sendo executado", relembra Luciane, que, além de trabalhar na análise de jogos e adversários, atua como auxiliar na preparação física.

Este tipo de treinamento no basquete tem sido estudado por Joan Vickers, uma pesquisadora canadense, desde 1995. Em 2001, ela comprovou que esta atividade era eficaz em atletas da liga universitária do Canadá. Na pesquisa científica internacional, outros esportes, como golfe, beisebol e futebol, também são utilizados.

No Brasil, não existem publicações científicas com este tipo de pesquisa em basquete de nível profissional. Em Bauru, o professor Sérgio Tosi realiza trabalho com atletas de base, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

"As informações do padrão de olhar podem ser utilizadas pelos técnicos para melhorar o desempenho num aspecto importante para o atleta, que é a fase de aquisição da informação sensorial, seguida pela execução da ação que foi planejada no momento anterior", diz Luciane.

O segundo protocolo, que vai começar este ano, envolverá a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC). Trata-se de um método avançado de neuromodulação aplicado para modificar a excitabilidade cerebral de forma segura. "Espero trazer mais conhecimento científico aplicado ao esporte, e a neuromodulação pode ajudar a melhorar a atenção e percepção."

Três perguntas para Simone Lima, pivô do Santo André

1. No começo, você teve resistência ao estudo? A Luciene chegou com o Eye Tracking e eu não queria fazer. Estou quase no fim da carreira e já sei o que tenho de fazer. Mas ela insistiu, falou dos professores que estavam envolvidos e eu aceitei, mas fiz totalmente desencanada. Claro que com seriedade, para o resultado ser correto. Após realizar algumas atividades, e ela me orientar onde tinha de olhar, eu vi que aquilo aumentava minha porcentagem de acerto. Por fim, na final do Paulista, quando tinha de acertar os dois lances livres para levar para o terceiro jogo, lembrei de todos os mecanismos e realizei.

2. O aproveitamento cresceu de maneira significativa? Foi de 56% para 81%. Errei poucos lances livres desde que coloquei o estudo em prática. A ciência, quando colocada no esporte, sobe o patamar de qualquer atleta. Os estudos atuais estão bem avançados, o que falta é mão de obra para colocar em prática. Estamos sendo abençoados com este projeto. Para você ter uma ideia, o Marcelo Chehade, que é o secretário de Esportes de Santo André e acompanha o time, falou comigo dizendo que eu não acertava lance livre, que ele achava que eu iria errar (na final), mas falei para ele ficar tranquilo porque agora sei o que faço.

3. Mas o ganho esportivo foi apenas no lance livre? Não. Em qualquer parte da quadra que você recebe um passe, já está com o olhar mais treinado para ser mais efetiva no arremesso. Claro que não é só o olhar, há toda uma mecânica do arremesso, que tenho por causa de todos os anos que jogo e treino. Mas sabendo onde fixar o olhar, parece que aumenta a concentração para aquele momento.

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Há seis meses, o Santo André, por intermédio do técnico Bruno Guidorizzi, da secretária de esportes adjunta Laís Elena e da diretora técnica do basquete feminino, Arilza Coraça, abriram as portas para a ciência. O clube permitiu que uma ex-atleta da equipe, Luciane Moscaleski, que encerrou sua carreira no final de 2017 e atualmente é candidata ao mestrado no Programa de Pós-graduação em Neurociência e Cognição da Universidade Federal do ABC (UFABC), investigasse a estratégia utilizada em arremessos pelas atletas do time adulto em um estudo na área de Neurociência e Cognição.

Time de basquete feminino de Santo André foi tricampeão paulista em 2018. Foto: Reprodução/LBF Twitter

A pesquisa envolve três instituições: a Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE-USP), com o professor Alexandre Moreira, o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra do Instituto Santos Dumont de Macaíba-RN, com o professor Edgard Morya, além da UFABC, representada pelo professor Alexandre Okano, do Centro de Matemática, Computação e Cognição (CMCC). Há ainda parceria com a Brain Support, empresa que faz estudos neurocientíficos.

Os dados obtidos no protocolo inicial estão em análise, mas os resultados preliminares já apontam para um ganho esportivo. Simone Lima é o exemplo. A pivô de 39 anos viu o aproveitamento no lance livre subir de 56% (14/25) para 68,75% (11/16), com um impressionante desempenho de 81,81% (9/11) na série final contra o Vera Cruz, ao colocar em prática o que aprendeu após os testes com os óculos de eye tracking, que permite medir a posição e o comportamento do movimento ocular.

"Queremos entender melhor o fenômeno quiet eye (fixar o olhar) e estabelecer uma comparação entre a estratégia visual de arremessos bem-sucedidos e malsucedidos em diversos níveis de habilidades e verificar os efeitos da estimulação cerebral sobre a estratégia visual, o desempenho no arremesso e o nível de atenção", diz Luciane.

O quiet eye é caracterizado pela fixação do olhar de rastreamento em um local ou objeto específico no espaço antes do desfecho final de uma tarefa de pontaria. Com as orientações corretas, as atletas podem perceber as informações mais cedo e adquirir uma transmissão de comandos de maior qualidade para o sistema motor.

"Faço análise dos jogos e, nos últimos lances livres (na decisão), a cada acerto eu olhava para o professor Okano, que estava na arquibancada, e era uma satisfação por ver o trabalho saindo do papel e sendo executado", relembra Luciane, que, além de trabalhar na análise de jogos e adversários, atua como auxiliar na preparação física.

Este tipo de treinamento no basquete tem sido estudado por Joan Vickers, uma pesquisadora canadense, desde 1995. Em 2001, ela comprovou que esta atividade era eficaz em atletas da liga universitária do Canadá. Na pesquisa científica internacional, outros esportes, como golfe, beisebol e futebol, também são utilizados.

No Brasil, não existem publicações científicas com este tipo de pesquisa em basquete de nível profissional. Em Bauru, o professor Sérgio Tosi realiza trabalho com atletas de base, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

"As informações do padrão de olhar podem ser utilizadas pelos técnicos para melhorar o desempenho num aspecto importante para o atleta, que é a fase de aquisição da informação sensorial, seguida pela execução da ação que foi planejada no momento anterior", diz Luciane.

O segundo protocolo, que vai começar este ano, envolverá a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC). Trata-se de um método avançado de neuromodulação aplicado para modificar a excitabilidade cerebral de forma segura. "Espero trazer mais conhecimento científico aplicado ao esporte, e a neuromodulação pode ajudar a melhorar a atenção e percepção."

Três perguntas para Simone Lima, pivô do Santo André

1. No começo, você teve resistência ao estudo? A Luciene chegou com o Eye Tracking e eu não queria fazer. Estou quase no fim da carreira e já sei o que tenho de fazer. Mas ela insistiu, falou dos professores que estavam envolvidos e eu aceitei, mas fiz totalmente desencanada. Claro que com seriedade, para o resultado ser correto. Após realizar algumas atividades, e ela me orientar onde tinha de olhar, eu vi que aquilo aumentava minha porcentagem de acerto. Por fim, na final do Paulista, quando tinha de acertar os dois lances livres para levar para o terceiro jogo, lembrei de todos os mecanismos e realizei.

2. O aproveitamento cresceu de maneira significativa? Foi de 56% para 81%. Errei poucos lances livres desde que coloquei o estudo em prática. A ciência, quando colocada no esporte, sobe o patamar de qualquer atleta. Os estudos atuais estão bem avançados, o que falta é mão de obra para colocar em prática. Estamos sendo abençoados com este projeto. Para você ter uma ideia, o Marcelo Chehade, que é o secretário de Esportes de Santo André e acompanha o time, falou comigo dizendo que eu não acertava lance livre, que ele achava que eu iria errar (na final), mas falei para ele ficar tranquilo porque agora sei o que faço.

3. Mas o ganho esportivo foi apenas no lance livre? Não. Em qualquer parte da quadra que você recebe um passe, já está com o olhar mais treinado para ser mais efetiva no arremesso. Claro que não é só o olhar, há toda uma mecânica do arremesso, que tenho por causa de todos os anos que jogo e treino. Mas sabendo onde fixar o olhar, parece que aumenta a concentração para aquele momento.

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