Os playoffs do Novo Basquete Brasil (NBB) podem ser disputados em um local isolado, somente com pessoas necessárias à realização das partidas. A afirmação é deSérgio Domenici, superintendente da Liga Nacional de Basquete. Em entrevista exclusiva ao Estado, o dirigente reforça o trabalho da LNB para encerrar o torneio, que está paralisado desde o dia 15 de março por causa da pandemia do coronavírus, em quadra e projeta um possível retorno para junho.
Com grande influência nas decisões neste momento, Sérgio Domenici ainda comenta da situação financeira das equipes após casos envolvendo Bauru, Pinheiros e Botafogo e admite que será necessário repensar "todo o modelo" da competição para o próximo ano diante da crise financeira e da perda da Caixa Econômica Federal, o seu principal patrocinador.
Como vai funcionar o trabalho da equipe multidisciplinar? Esta equipe, formada pelos médicos: Claudio Carbone (Flamengo), Diego Gadelha (Unifacisa) e Diogo Vilar (Unifacisa), pelos preparadores físicos: Pablo Marcelino (Unifacisa) e Pedro Falci Alves (Botafogo), pelos fisioterapeutas: Rogério Barbosa (Sesi Franca) e Silvanio Miranda Signoretti Júnior (Minas TC), técnicos: Gustavo De Conti (Flamengo) e Helinho (Sesi Franca) e pelos atletas: Alex Garcia (Minas TC), Paulinho Boracini (Botafogo) e Guilherme Teichmann (Corinthians), será responsável pela avaliação de todos os possíveis cenários para o retorno do campeonato. Os encontros serão semanais, via videoconferência, e cada segmento será responsável por elaborar um relatório e propostas em diferentes cenários para os clubes decidirem os rumos da competição.
Por que não há profissionais de fora de quadra nas comissões criadas? Não seria bom ter pessoas de marketing? Por serem de assuntos muito técnicos optou-se por criar comissões específicas para outros temas e as deliberações e sugestões são enviadas ao conselho dos clubes. No caso do marketing já fizemos um encontro entre os departamentos de todos os clubes e esta semana faremos um com todos os patrocinadores da LNB, que já vinham sendo consultados regularmente, e os principais patrocinadores das equipes.
A liga trabalha com alguma data limite para o reinício do NBB sem que possa interferir na próxima temporada? Além da próxima temporada há outros fatores que estão sendo levados em consideração como a viabilidade financeira das equipes trabalharem com o orçamento projetado para a temporada. O que se espera é que o isolamento social possa permitir que haja jogos a partir de meados de junho. Estamos pensando em várias formas, uma delas, inclusive, prevê a realização dos jogos em local isolado, somente com as pessoas necessárias à realização da partida e com os clubes isolados também. São alternativas no entanto. Tudo dependerá da evolução da disseminação do vírus.
Há alguma obrigatoriedade (de patrocinadores, parceiros...) em realizar esta temporada até o final? Ninguém podia prever uma situação dessas quando os contratos foram fechados, então os mesmos preveem uma temporada completa. No entanto temos recebido um apoio muito grande dos nossos patrocinadores e todos estão entendendo o momento atual. Naturalmente que algumas entregas são proporcionais à quantidade de jogos e serão readequadas, mas grosso modo a manutenção dos mesmos tem sido integral.
Confia que será possível encerrar esta temporada com um campeão? Estamos trabalhando para isso. Os clubes têm evitado qualquer decisão precipitada, afinal há muito fatores a serem considerados, tais como saúde, social e econômico. Tiveram, por exemplo, que aprovar um auxílio financeiro aos árbitros que, em sua grande maioria, vivem exclusivamente da arbitragem. São aspectos que não podem ficar de fora de uma discussão. Há ainda a questão dos contratos com os atletas, contratos de patrocínio das equipes e muitos outros. A disposição de todos é finalizar a competição em quadra. Todo o ecossistema que forma a Liga Nacional de Basquete está imbuído disto, clubes, atletas, comissões técnicas, árbitros, patrocinadores e apoiadores. Naturalmente que somente a situação da evolução da pandemia poderá determinar o futuro, mas os clubes tomarão a decisão até quando lhes for possível.
A liga tem um formato ou formatos predefinidos em caso de retorno do NBB? Este é o item mais simples. Basta sabermos quantos dias e equipes teremos. O sistema de disputa é simples de formatar. No entanto temos de ter algumas premissas antes, avaliando o cenário atual. Menor tempo possível de competição, isolamento, medidas de higiene, menor deslocamento possível, entre outros.
Apesar de afirmar que pretende fechar esta temporada, o Pinheiros dispensou os jogadores com contratos profissionais sem uma negociação e ficou apenas com os garotos da base... A liga faz qual avaliação deste episódio? O Pinheiros simplesmente comunicou que os contratos não serão renovados a partir de maio e cumpriu uma medida burocrática apenas. Teve ainda a iniciativa de liberar seus jogadores desde já a procurarem outra equipe se assim desejarem. No entanto, caso o campeonato perdure até junho ou algo próximo, poderá estudar uma prorrogação no contrato daqueles que desejarem e utilizar seus jogadores da base para finalizarem a competição.
O Bauru pode impulsionar outros clubes que estão em situação parecida a também desistir da atual temporada? Essas decisões não são tomadas da noite para o dia, então não acreditamos que isso seja um fator motivacional para as demais equipes. Ninguém entra em uma competição pensando em sair dela, mesmo que não tenha chances de ser campeã. O caso de Bauru é perfeitamente aceitável e, de maneira responsável, optaram por salvar a equipe para a próxima temporada o que, para todos, é o mais importante e todos entenderam. Pode ser que mais alguma equipe opte por finalizar antes a competição, mas, em uma época como essa, tudo terá de ser compreendido.
Temos o Botafogo com quatro meses, quase cinco, de salários atrasados... Como avalia esta situação? Situações como essa são sempre muito ruins. O Botafogo já tem o projeto aprovado e dinheiro captado via Lei de Incentivo Estadual. O crédito para utilização depende de publicação no Diário Oficial, desta forma conseguirão saldar tudo de uma vez. Esta situação da pandemia agravou os trâmites de liberação dos recursos. Importante destacar que os clubes criaram há alguns anos o "Livro de Dívidas" que garante que nenhuma equipe possa iniciar uma temporada sem ter quitado todos os compromissos com seus atletas da temporada anterior. Este foi um ganho muito importante. Também é exigido o registro do contrato de trabalho CLT para qualquer jogador, garantindo assim vários direitos aos atletas.
A liga está atenta ao fato de os jogadores terem contratos no máximo até junho? Em caso de retorno do NBB, o que poderá ser feito? Claro, fizemos um levantamento da situação contratual de todas as 12 equipes deste playoff. A ideia é finalizarmos até 30 de junho.
A Caixa não renovou o contrato de patrocínio. Como a liga pretende lidar com esta crise econômica e o cenário de incertezas no esporte? Em nosso orçamento para esta temporada estava previsto o término do contrato, portanto até setembro teremos nossas contas equilibradas. Esta pergunta é a que estamos nos fazendo agora. Teremos de repensar em todo o modelo, desde os sistemas de disputa, transporte de equipes e árbitros e estrutura da LNB. Mantemos a confiança na credibilidade alcançada nestes anos bem como na força da entrega que fazemos para alavancar novos patrocinadores, além da manutenção dos atuais.
O que esperar do próximo NBB? Acredita que o número de equipes pode diminuir? É possível que diminua, este é um ciclo natural e agora agravado pela pandemia. Temos, na contramão disso tudo, recebido ligações de equipes que já estão equacionadas para a próxima temporada e que desejam voltar ao NBB ou fazerem parte pela primeira vez. Este é um quadro que só será visível por volta de agosto deste ano.
A liga tem conversado com algum representante da CBB sobre o possível retorno do NBB? Ou com pessoas da Fiba? Por hora não, quando tivermos uma definição clara dos rumos a serem tomados faremos as comunicações necessárias às entidades.
A liga demorou para paralisar o NBB? A contaminação do Maique, pivô do Paulistano, que testou positivo para covid-19 (sentiu os primeiros sintomas no dia 12 de março, três dias depois de jogar em Campina Grande e três antes do NBB ser paralisado) poderia ter sido evitada? Na verdade fomos a primeira entidade do Brasil a tomar uma medida de proteção que foi realizar os jogos com portões fechados. Depois, para paralisar de vez o campeonato, os clubes tomaram esta decisão no dia 15 de março, domingo, um dia após o vôlei. A CBF, por exemplo, só paralisou o campeonato no dia 16 de março. Tudo muito rápido e sob forte comoção. Como já disse, os clubes tinham uma responsabilidade muito grande à sua frente, além da saúde de todos os participantes, havia inúmeras situações inéditas a serem avaliadas, não era uma questão rotineira nem que estivéssemos preparados. Nem a LNB nem nenhuma outra entidade no mundo. Agimos rápido e com responsabilidade e agora, para a volta ou não do campeonato, os clubes tomarão a sua decisão depois de analisar o máximo de variáveis disponíveis, além das mudanças no quadro epidemiológico que se altera diariamente. Se puderem salvar a competição assim o farão, se não for possível, terão a responsabilidade necessária para cancelá-lo em momento oportuno. Sobre o Maique, o importante frisar que sua última partida foi no dia 9 de março, muito antes de cancelarmos o campeonato, nós ou qualquer outra entidade do Brasil. Ainda, o atleta só foi encaminhado ao hospital no dia 15 de março e o resultado do exame somente dia 17 de março. Felizmente, nenhum jogador do Paulistano ou da Unifacisa teve qualquer sintoma depois do contato com o atleta. Mais uma vez, esta era uma situação inusitada. Hoje, com toda a informação que temos, talvez o alerta fosse dado.