Advogado de formação, Rodrigo Montoro carrega o sobrenome do ex-governador de São Paulo, Franco Montoro, e vai buscar nos ensinamentos do avô o caminho da conciliação para o basquete brasileiro. Na presidência da Liga Nacional de Basquete desde o primeiro dia de 2023, o dirigente de 48 anos tem como objetivo se entender com o presidente da Confederação Brasileira de Basketball, Guy Peixoto, para resolver o impasse entre CBB e LNB, responsável pela organização do Novo Basquete Brasil, o NBB, principal torneio de clubes do País.
Em outubro do ano passado, em votação na Assembleia Geral, a CBB decidiu cancelar a chancela da LNB, liberando por meio de uma excepcionalidade que o torneio de 2022-2023 transcorresse normalmente. Agora, segundo revelou Montoro ao Estadão, as duas partes buscam o entendimento em “um procedimento de mediação extrajudicial” que já está em andamento. “O que a gente busca é exatamente fazer tudo para chegarmos a um acordo”, afirmou.
Qual sua prioridade nos primeiros dias como presidente da LNB?
Conciliação. A prioridade é conciliar para construir. Construir a partir das diferenças. Buscar pontos em comum, definir prioridades e unir esforços para o crescimento do basquete. Isso tanto com os parceiros da Liga, como também com a comunidade do basquete brasileiro. Somente unidos é que vamos conseguir crescer.
Como dar mais poder de decisão aos clubes?
A Liga é uma associação e todas as suas decisões são tomadas pelo seu Conselho de Administração, formado pelos clubes e representantes de atletas. As reuniões do Conselho são realizadas mediante a convocação previa de todos os clubes e os assuntos são discutidos e debatidos de forma franca e direta. Fazem parte do Conselho nove clubes, presentes à reunião por ordem de filiação, o presidente e vice-presidente da Liga, além de representantes dos atletas. Por ocasião da minha eleição, foi anunciada a formação de um grupo de trabalho denominado Comitê de Governança e Gestão, cuja primeira atribuição é formular propostas alternativas para alterar a composição do Conselho. O objetivo é aumentar o número de participantes ou realizar um revezamento de clubes buscando uma maior participação de todos nas decisões. As propostas deste comitê serão levadas ao Conselho para debate e possível adoção.
Uma das reclamações dos clubes, sempre em conversas informais, é não receber repasse da LNB. É possível adotar outro modelo para que isso possa acontecer?
Não vejo isso como uma reclamação, mas sim como um anseio de todos os clubes. Não é uma simples questão de modelo. Temos que pensar na Liga como um negócio, do qual todos os clubes são sócios. A sua função é estruturar, organizar e viabilizar nossas competições, em especial o NBB. Isso envolve receitas e despesas. Na prática, todas as despesas do escritório da Liga são voltadas aos clubes, seja no transporte e hospedagem da arbitragem, no custeio de uma transmissão ou mesmo na comunicação, que é inteiramente voltada para a promoção dos clubes e da competição. Para tanto, há uma estrutura profissional e procura de parcerias e patrocínios. Esse negócio vem crescendo ano a ano. A dinâmica é diminuir ao máximo o custo dos clubes com o campeonato, de forma a possibilitar o aumento dos investimentos em suas equipes. Para discutir este assunto, da mesma forma, anunciamos a criação de um outro grupo de trabalho, denominado Comitê Financeiro, que ao mesmo tempo que visa analisar e buscar novas alternativas para melhorar a gestão e resultado da Liga, vai enfrentar este tema.
Vai procurar o presidente da CBB para uma conciliação?
Sim, para conversarmos e pensarmos juntos o melhor para o basquete brasileiro. Nunca deixou de haver toda possibilidade de diálogo entre CBB e LNB para solução de divergências eventuais. E logicamente na minha gestão não será diferente.
É uma situação que você imagina que possa ser revertida?
Já está acontecendo um procedimento de mediação extrajudicial entre LNB e CBB. Na mediação, o que a gente busca é exatamente fazer tudo para chegarmos a um acordo. Tanto a CBB quanto a LNB procuraram a mediação exatamente porque querem resolver a questão amigavelmente, pensando no bem do basquete brasileiro.
Qual avaliação faz da saída da Magic Paula da CBB?
É uma questão interna da CBB e não me cabe comentar.
Hoje vemos claramente algumas equipes dominando o basquete nacional... O que fazer para nivelar o torneio, sem desvalorizar essas equipes que fazem um maior investimento?
Profissionalização e gestão. Tanto da Liga como dos clubes. Quanto mais profissional o negócio Liga, de forma a tornar o campeonato rentável, melhor para os clubes. Quanto mais profissional a gestão dos clubes, melhor para a Liga. Esta é a dinâmica. Neste sentido, firmamos uma parceria com a EY na gestão do Delano e do Donzelli, que trouxe como resultado uma análise da Liga, do campeonato e as possibilidades para melhorar a gestão. No projeto são abordados temas como o Planejamento Estratégico dos Clubes voltado principalmente para a geração de receitas. Neste aspecto foi criado um manual com orientações e sugestões de boas práticas nas áreas Comercial, Marketing e Comunicação, Desportivo e Operacional, Financeiro, Governança, Riscos, Conformidade e Jurídico. Veja que separamos Comercial do Marketing, mesmo sendo atividades relacionadas, para dar mais ênfase a este quesito tão importante. Este trabalho já foi apresentado aos clubes em uma reunião da Liga e disponibilizado para todos.
Há novas parcerias no radar?
Nossa Diretoria de Marketing está sempre em busca de novas parcerias que nos provoquem e nos façam crescer. A pandemia fez recuar sensivelmente o nosso orçamento e aos poucos estamos recuperando o terreno perdido. Prova disso são a chegada da Sportbet.io e a renovação com outros parceiros importantes, inclusive a volta ao SporTV. Estamos confiantes que poderemos anunciar novos nomes já na primeira quinzena de janeiro e o Jogo das Estrelas em Belo Horizonte também trará novidades.
O que pretende trazer de novidades?
Não é uma novidade, pois a Liga já tem uma atuação no desenvolvimento de jovens atletas. Mas entendo que o investimento no desenvolvimento de jovens atletas é o caminho para o fortalecimento do basquete brasileiro. Já temos a LDB - Liga de Desenvolvimento do Basquete, que é um campeonato para atletas até 22 anos. Já é uma condição para participação dos clubes no NBB que os mesmos tenham jogado a LDB anterior. No ano passado, foi deliberado pelos clubes um limite de 10 atletas por equipe com idade superior à idade LDB do ano anterior. No ano passado, também foi retomada a realização do Torneio Interligas, que reúne os dois primeiros colocados da LDB com os dois primeiros colocados do Campeonato Argentino da mesma idade. Neste ano, pretendemos realizado o torneio com quatro clubes de cada país. Assim, a ideia é buscar desenvolver mais projetos que possam contribuir com o desenvolvimento destes novos atletas.
E, por fim, você é neto de um grande político, o Franco Montoro, ex-governador de São Paulo, entre outros cargos, algum aprendizado que pode colocar em prática na gestão da LNB?
Participação. Esta é a palavra que meu avô sempre repetia. Já mencionei em outras oportunidades de que minha intenção é fazer uma gestão participativa, que envolva diretamente todos os clubes da Liga, atletas, treinadores e gestores do basquete, e indiretamente, o maior número de entidades e pessoas ligadas ao basquete.