Segurando as pontas com 12 equipes: falta de expansão emperra a WNBA


Liga americana de basquete feminino é muito mais restrita do que a NBA e dificulta bastante para a entrada de jogadoras

Por Erica L. Ayala

Em 17 de outubro, Lexie Brown se tornou campeã da WNBA. Ela e o Chicago Sky derrotaram o Phoenix Mercury para ganhar o primeiro título na história da franquia. Mas, quatro meses antes, ela estava sentada em casa se perguntando se algum dia conseguiria voltar à liga americana feminina de basquete.

Brown esperava jogar pelo Minnesota Lynx durante a temporada de 2021, mas o time a dispensou em 17 de abril. Dias depois, ela chegou a Chicago para um período de treinamentos. "Você tem de lidar com coisas assim", disse Brown. "Manter a cabeça no lugar, manter a postura profissional, ficar pronta para quando o telefone tocar."

Jogadoras do Chicago Sky comemoram o título da temporada de 2021 da WNBA Foto: Matt Marton-USA TODAY Sports
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O Sky cortou Brown em maio. Depois a contratou de novo, voltou a cortá-la e finalmente a contratou para o resto da temporada em 14 de junho. "Os últimos meses foram muito difíceis para mim no plano pessoal", disse Brown em junho, "mas acho que Chicago é o lugar onde eu queria estar. E mesmo que tenha passado por muita coisa para chegar em Chicago, estou muito feliz por estar aqui."

O aborrecimento às vezes vale a pena - afinal, Brown ganhou um campeonato - mas pode cobrar seu preço.

A cada temporada, as jogadoras têm de passar por uma porta giratória de contratos para as 144 vagas de elenco da WNBA. Muitas pessoas dentro e fora da liga acreditam que está na hora de expandir as listas de jogadoras dos times ou as equipes da liga - ou as duas coisas. Com apenas 12 equipes e 12 vagas no elenco de cada equipe, é mais difícil entrar e ficar na WNBA do que na NBA, especialmente porque a maioria dos contratos das jogadoras não tem garantias. Os salários relativamente baixos também as levam a fazer escolhas difíceis sobre quando e onde jogar.

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A WNBA é vista como o padrão ouro para as ligas esportivas femininas por causa do nível de competição e dos benefícios que as jogadoras obtiveram por meio da negociação coletiva. Mas Nneka Ogwumike, presidente do sindicato das jogadoras, está entre as pessoas que vêm lutando por mais.

"Gosto de onde a liga está agora porque pessoas estão chamando atenção para seus problemas", disse Ogwumike, veterana que jogou por dez anos no Los Angeles Sparks. “Mas não gosto de onde está agora por causa do número de jogadoras e de equipes. E não quer dizer que seja culpa de alguém, sabe? Só queremos ver as coisas crescendo”.

TETO SALARIAL

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Ogwumike liderou o sindicato das jogadoras quando a categoria chegou a um histórico acordo de negociação coletiva que entrou em vigor na temporada de 2020 e durará até 2027. O acordo elevou o teto salarial por equipe para US$ 1,3 milhão, um aumento de 30%. Muitos viram o acordo como um passo na direção certa em relação à equidade salarial. Mas ele também jogou luz sobre uma outra preocupação.

“O aumento de US$ 300.000 no teto salarial não foi significativo”, disse Cheryl Reeve, treinadora e gerente geral do Lynx. “Elogiaram muito, dizendo que estávamos fazendo o melhor para as jogadoras. E, sim, as jogadoras supermax agora ganham ainda mais”.

O salário mínimo para as jogadoras em 2020 aumentou cerca de US$ 15.000, para US$ 57.000, e o supermax para as veteranas aumentou cerca de US$ 100.000, para US$ 215.000. Os números aumentam a cada ano.

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As equipes que querem levar jogadoras experientes para uma campanha até o final dos playoffs agora precisam lidar com aquilo que Reeve chamou de “ginástica do teto salarial”. “Estou fazendo muito mais gerenciamento geral durante a temporada do que gostaria. E, no nosso caso, isso aconteceu por causa das lesões”, disse Reeve.

O Lynx assinou contrato com Layshia Clarendon pelo restante da temporada de 2021 em 2 de julho, após três contratos curtos. O jogo de pegar-e-largar foi necessário para que o Minnesota permanecesse dentro do limite da equipe, já que o Lynx vinha lidando com lesões e ausências de outras jogadoras.

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Clarendon começou a temporada com o New York Liberty e twittou na véspera da temporada: "Estou de coração partido pelas jogadoras que estão sendo cortadas (sim, faz parte do negócio), mas principalmente porque há ZERO oportunidades de desenvolvimento."

Sete dias mais tarde, depois de jogar um total de três minutos numa partida pelo Liberty, Clarendon também foi dispensada.

Isso abriu a porta para o Lynx. Para aliviar o fardo causado pelas lesões das jogadoras, a WNBA pode conceder contratos curtos para equipes com menos de 10 jogadoras ativas. Cada substituição de uma jogadora lesionada requer um novo contrato dentro do teto salarial. As equipes geralmente precisam escolher entre cortar jogadoras lesionadas para liberar vagas no elenco ou mantê-las no time e competir com menos jogadoras ativas.

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Terri Jackson, diretora-executiva do sindicato das jogadoras, disse que o sindicato “deixou clara nossa posição” sobre a adição de vagas de reservas de jogadoras lesionadas e a expansão das escalações durante a última rodada de negociações, mas não conseguiu chegar a um acordo sobre os termos.

Ogwumike disse que as jogadoras queriam criar uma "liga mais robusta". "Acho que as ideias estão na mesa”, disse ela, acrescentando, “mas, com certeza, precisamos de mais equipes."

DESENVOLVER TALENTOS

Com esse objetivo, algumas pessoas dentro da WNBA acreditam que uma liga de desenvolvimento seria a evolução mais lógica.

A G-League da NBA é um campo de provas para jogadores sem contrato e também uma maneira de desenvolver jogadores contratados para equipes da NBA dando a eles mais tempo em quadra. Cada equipe da NBA pode ter até dois jogadores em contratos bidirecionais que dividam o tempo entre as duas ligas. As equipes também podem convocar outros jogadores da G League em contratos de curto prazo, conforme necessário, se tiverem espaço na lista.

Jacki Gemelos, assistente do Liberty e ex-jogadora da WNBA, disse que “duas vagas extras no elenco seriam uma coisa excelente”.

“Eu teria sido a 13º, 14º jogadora da lista, o que talvez não seja o suficiente para estar entre as 12, mas seria um bom avanço”, disse Gemelos, acrescentando que as vagas poderiam ser para “uma jogadora especializada, como uma arremessadora, ou para uma jogadora muito, muito alta, caso você precise dela para certos jogos, ou mesmo apenas por causa de problemas de lesão."

Em sua breve carreira na WNBA, Gemelos jogou 35 jogos por três clubes. Para as jogadoras que não embalam na WNBA ou que mal veem a quadra, existem poucos caminhos para ganhar mais tempo de jogo sem ir para o exterior. Uma nova liga nacional, a Athletes Unlimited, que começará sua temporada de cinco semanas este mês, agora é uma opção. Mas para a maioria das jogadoras, as ligas internacionais são sua melhor oportunidade de jogar e de ganharem algum dinheiro.

Mesmo a maioria das jogadoras mais bem pagas da WNBA vão para o exterior para competir por clubes europeus e seleções nacionais durante a entressafra e, às vezes, nos meses da WNBA. "Se não estou ganhando muito na liga, se não é o suficiente para sobreviver durante o ano, vou para o exterior e tenho o verão de folga”, disse a ala do Lynx, Napheesa Collier, no podcast “Tea With A & Phee”, que ela apresenta com a ala do Las Vegas Aces, A'ja Wilson.

Como resultado, muitas jogadoras estrangeiras chegam atrasadas ao campo de treinamento da WNBA, saem no meio da temporada ou ficam totalmente de fora, especialmente nos anos olímpicos. Somente na temporada de 2021, 55 jogadoras chegaram atrasadas aos campos de treinamento da WNBA e cerca de uma dúzia de jogadoras perdeu a estreia em casa, de acordo com o The Hartford Courant. No futuro, isso custará às jogadoras 1% de seu salário para cada dia de atraso e corte total no pagamento dos treinos para aquelas que perderem todo o período. A liga quer que as jogadoras permaneçam nos Estados Unidos para minimizar as interrupções na temporada da WNBA e reduzir o risco de lesões, mas para algumas jogadoras é uma decisão difícil.

Uma jogadora de primeira linha pode ganhar de US$ 500.000 a US$ 1,5 milhão por jogar no exterior. Diana Taurasi ficou de fora da temporada de 2015 depois de vencer um campeonato com o Mercury em 2014. “A natureza do basquete feminino o ano todo cobra seu preço, e teria sido irresponsável recusar a oportunidade financeira com meu time na Rússia”, escreveu Taurasi numa uma carta aos torcedores.

A equipe russa de Taurasi, o UMMC Ekaterinburg, pagou seu salário da WNBA, US$ 107.000, de acordo com a ESPN, mais uma quantia de US$ 1,5 milhão no exterior para ela ficar de fora da temporada de seis meses da WNBA de 2015. Em 2021, ela levou o Mercury às finais da WNBA apesar de uma lesão no tornozelo, por um salário máximo de US $ 221.450.

SEM MOVIMENTOS SEM DINHEIRO

Reeve, treinadora e gerente geral do Lynx, disse que preferia a expansão dos times à expansão do elenco, especialmente porque a resposta, de um jeito ou de outro, é mais dinheiro. “Precisamos de um compromisso maior da NBA como um todo e dos proprietários da NBA”, disse ela. “Precisamos de um compromisso financeiro maior. Precisamos de um investimento maior. Faz muito tempo que esta liga gira em torno, você sabe, da correspondência entre receitas e despesas, você não pode perder um único dólar. E não é assim que você faz uma liga crescer."

Quando solicitada que respondesse ao comentário de Reeve, Cathy Engelbert, comissária da WNBA, disse: “Eu discordo disso. Tenho um histórico de construção e crescimento de negócios, e é isso que estamos fazendo aqui."

Engelbert disse estar orgulhosa de que a WNBA seja a mais antiga liga profissional feminina do país (entre os esportes coletivos) e do compromisso financeiro da NBA, que tem a WNBA como parte da identidade da marca. "Francamente, não acho que poderíamos estar aqui se a NBA não tivesse dado tanto apoio ao longo dos anos."

A NBA possui 50% da WNBA, e cinco proprietários da NBA - de Phoenix, Brooklyn, Indiana, Minnesota e Washington - também possuem uma equipe da WNBA. Engelbert se recusou a comentar sobre o orçamento operacional da WNBA.

Quando perguntado sobre a possibilidade fornecer mais suporte, um porta-voz da NBA, Mike Bass, disse por e-mail: “A NBA vem proporcionando um enorme apoio financeiro para sustentar a operação da WNBA nos últimos 25 anos, e nosso compromisso nunca vacilou. Estamos vendo um crescimento empolgante para a liga sob a direção de Cathy e estamos confiantes na capacidade da liga, das equipes e da liderança das jogadoras em continuar esse crescimento”.

Engelbert disse que também sabia que havia “iniquidades no sistema” em relação à audiência das ligas esportivas femininas. “Todos os sinais e símbolos apontam para o crescimento da liga, mas não estamos nem perto de ter o modelo econômico que as jogadoras merecem”, disse Engelbert.

Desde que se tornou comissária em julho de 2019, Engelbert se concentrou na economia e nas experiências das jogadoras e torcedores. Ela atraiu mais investidores, como a Amazon, que é patrocinadora de um torneio no meio da temporada, com prêmio total de US$ 500.000 para os dois times finalistas. Isso aumentou as oportunidades de remuneração para as jogadoras, assim como uma provisão para acordos de marketing, mas não abordou as preocupações subjacentes sobre vagas limitadas nos elencos e melhor remuneração para as jogadoras em geral.

Engelbert disse que expandir a liga faz “parte de um plano de transição”, mas não é para agora. “Se você quer ampliar sua exposição, provavelmente precisará ter mais de 12 cidades em um país com 330 milhões de habitantes”, disse Engelbert. “Vamos expandir no futuro, com certeza, mas não vamos expandir só por expandir antes de termos um modelo econômico mais avançado”.

Ogwumike disse que espera que mais compromissos financeiros dos patrocinadores levem as jogadoras a conseguirem o que querem - escalações maiores e salários mais altos - para manter as jogadoras mais proeminentes na WNBA.

“Esses dois últimos períodos de contratação mostraram que tem uma liga inteira sentada dentro de casa, e então temos que fazer algo a respeito”, disse Ogwumike, referindo-se ao número de jogadoras talentosas que não foram contratadas. “Acho que é realmente uma questão de cobrar dos proprietários, dos investidores e das pessoas que querem investir mais nos esportes femininos. Temos jogadoras que estão prontas para fazer parte desta liga”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU.

Em 17 de outubro, Lexie Brown se tornou campeã da WNBA. Ela e o Chicago Sky derrotaram o Phoenix Mercury para ganhar o primeiro título na história da franquia. Mas, quatro meses antes, ela estava sentada em casa se perguntando se algum dia conseguiria voltar à liga americana feminina de basquete.

Brown esperava jogar pelo Minnesota Lynx durante a temporada de 2021, mas o time a dispensou em 17 de abril. Dias depois, ela chegou a Chicago para um período de treinamentos. "Você tem de lidar com coisas assim", disse Brown. "Manter a cabeça no lugar, manter a postura profissional, ficar pronta para quando o telefone tocar."

Jogadoras do Chicago Sky comemoram o título da temporada de 2021 da WNBA Foto: Matt Marton-USA TODAY Sports

O Sky cortou Brown em maio. Depois a contratou de novo, voltou a cortá-la e finalmente a contratou para o resto da temporada em 14 de junho. "Os últimos meses foram muito difíceis para mim no plano pessoal", disse Brown em junho, "mas acho que Chicago é o lugar onde eu queria estar. E mesmo que tenha passado por muita coisa para chegar em Chicago, estou muito feliz por estar aqui."

O aborrecimento às vezes vale a pena - afinal, Brown ganhou um campeonato - mas pode cobrar seu preço.

A cada temporada, as jogadoras têm de passar por uma porta giratória de contratos para as 144 vagas de elenco da WNBA. Muitas pessoas dentro e fora da liga acreditam que está na hora de expandir as listas de jogadoras dos times ou as equipes da liga - ou as duas coisas. Com apenas 12 equipes e 12 vagas no elenco de cada equipe, é mais difícil entrar e ficar na WNBA do que na NBA, especialmente porque a maioria dos contratos das jogadoras não tem garantias. Os salários relativamente baixos também as levam a fazer escolhas difíceis sobre quando e onde jogar.

A WNBA é vista como o padrão ouro para as ligas esportivas femininas por causa do nível de competição e dos benefícios que as jogadoras obtiveram por meio da negociação coletiva. Mas Nneka Ogwumike, presidente do sindicato das jogadoras, está entre as pessoas que vêm lutando por mais.

"Gosto de onde a liga está agora porque pessoas estão chamando atenção para seus problemas", disse Ogwumike, veterana que jogou por dez anos no Los Angeles Sparks. “Mas não gosto de onde está agora por causa do número de jogadoras e de equipes. E não quer dizer que seja culpa de alguém, sabe? Só queremos ver as coisas crescendo”.

TETO SALARIAL

Ogwumike liderou o sindicato das jogadoras quando a categoria chegou a um histórico acordo de negociação coletiva que entrou em vigor na temporada de 2020 e durará até 2027. O acordo elevou o teto salarial por equipe para US$ 1,3 milhão, um aumento de 30%. Muitos viram o acordo como um passo na direção certa em relação à equidade salarial. Mas ele também jogou luz sobre uma outra preocupação.

“O aumento de US$ 300.000 no teto salarial não foi significativo”, disse Cheryl Reeve, treinadora e gerente geral do Lynx. “Elogiaram muito, dizendo que estávamos fazendo o melhor para as jogadoras. E, sim, as jogadoras supermax agora ganham ainda mais”.

O salário mínimo para as jogadoras em 2020 aumentou cerca de US$ 15.000, para US$ 57.000, e o supermax para as veteranas aumentou cerca de US$ 100.000, para US$ 215.000. Os números aumentam a cada ano.

As equipes que querem levar jogadoras experientes para uma campanha até o final dos playoffs agora precisam lidar com aquilo que Reeve chamou de “ginástica do teto salarial”. “Estou fazendo muito mais gerenciamento geral durante a temporada do que gostaria. E, no nosso caso, isso aconteceu por causa das lesões”, disse Reeve.

O Lynx assinou contrato com Layshia Clarendon pelo restante da temporada de 2021 em 2 de julho, após três contratos curtos. O jogo de pegar-e-largar foi necessário para que o Minnesota permanecesse dentro do limite da equipe, já que o Lynx vinha lidando com lesões e ausências de outras jogadoras.

Clarendon começou a temporada com o New York Liberty e twittou na véspera da temporada: "Estou de coração partido pelas jogadoras que estão sendo cortadas (sim, faz parte do negócio), mas principalmente porque há ZERO oportunidades de desenvolvimento."

Sete dias mais tarde, depois de jogar um total de três minutos numa partida pelo Liberty, Clarendon também foi dispensada.

Isso abriu a porta para o Lynx. Para aliviar o fardo causado pelas lesões das jogadoras, a WNBA pode conceder contratos curtos para equipes com menos de 10 jogadoras ativas. Cada substituição de uma jogadora lesionada requer um novo contrato dentro do teto salarial. As equipes geralmente precisam escolher entre cortar jogadoras lesionadas para liberar vagas no elenco ou mantê-las no time e competir com menos jogadoras ativas.

Terri Jackson, diretora-executiva do sindicato das jogadoras, disse que o sindicato “deixou clara nossa posição” sobre a adição de vagas de reservas de jogadoras lesionadas e a expansão das escalações durante a última rodada de negociações, mas não conseguiu chegar a um acordo sobre os termos.

Ogwumike disse que as jogadoras queriam criar uma "liga mais robusta". "Acho que as ideias estão na mesa”, disse ela, acrescentando, “mas, com certeza, precisamos de mais equipes."

DESENVOLVER TALENTOS

Com esse objetivo, algumas pessoas dentro da WNBA acreditam que uma liga de desenvolvimento seria a evolução mais lógica.

A G-League da NBA é um campo de provas para jogadores sem contrato e também uma maneira de desenvolver jogadores contratados para equipes da NBA dando a eles mais tempo em quadra. Cada equipe da NBA pode ter até dois jogadores em contratos bidirecionais que dividam o tempo entre as duas ligas. As equipes também podem convocar outros jogadores da G League em contratos de curto prazo, conforme necessário, se tiverem espaço na lista.

Jacki Gemelos, assistente do Liberty e ex-jogadora da WNBA, disse que “duas vagas extras no elenco seriam uma coisa excelente”.

“Eu teria sido a 13º, 14º jogadora da lista, o que talvez não seja o suficiente para estar entre as 12, mas seria um bom avanço”, disse Gemelos, acrescentando que as vagas poderiam ser para “uma jogadora especializada, como uma arremessadora, ou para uma jogadora muito, muito alta, caso você precise dela para certos jogos, ou mesmo apenas por causa de problemas de lesão."

Em sua breve carreira na WNBA, Gemelos jogou 35 jogos por três clubes. Para as jogadoras que não embalam na WNBA ou que mal veem a quadra, existem poucos caminhos para ganhar mais tempo de jogo sem ir para o exterior. Uma nova liga nacional, a Athletes Unlimited, que começará sua temporada de cinco semanas este mês, agora é uma opção. Mas para a maioria das jogadoras, as ligas internacionais são sua melhor oportunidade de jogar e de ganharem algum dinheiro.

Mesmo a maioria das jogadoras mais bem pagas da WNBA vão para o exterior para competir por clubes europeus e seleções nacionais durante a entressafra e, às vezes, nos meses da WNBA. "Se não estou ganhando muito na liga, se não é o suficiente para sobreviver durante o ano, vou para o exterior e tenho o verão de folga”, disse a ala do Lynx, Napheesa Collier, no podcast “Tea With A & Phee”, que ela apresenta com a ala do Las Vegas Aces, A'ja Wilson.

Como resultado, muitas jogadoras estrangeiras chegam atrasadas ao campo de treinamento da WNBA, saem no meio da temporada ou ficam totalmente de fora, especialmente nos anos olímpicos. Somente na temporada de 2021, 55 jogadoras chegaram atrasadas aos campos de treinamento da WNBA e cerca de uma dúzia de jogadoras perdeu a estreia em casa, de acordo com o The Hartford Courant. No futuro, isso custará às jogadoras 1% de seu salário para cada dia de atraso e corte total no pagamento dos treinos para aquelas que perderem todo o período. A liga quer que as jogadoras permaneçam nos Estados Unidos para minimizar as interrupções na temporada da WNBA e reduzir o risco de lesões, mas para algumas jogadoras é uma decisão difícil.

Uma jogadora de primeira linha pode ganhar de US$ 500.000 a US$ 1,5 milhão por jogar no exterior. Diana Taurasi ficou de fora da temporada de 2015 depois de vencer um campeonato com o Mercury em 2014. “A natureza do basquete feminino o ano todo cobra seu preço, e teria sido irresponsável recusar a oportunidade financeira com meu time na Rússia”, escreveu Taurasi numa uma carta aos torcedores.

A equipe russa de Taurasi, o UMMC Ekaterinburg, pagou seu salário da WNBA, US$ 107.000, de acordo com a ESPN, mais uma quantia de US$ 1,5 milhão no exterior para ela ficar de fora da temporada de seis meses da WNBA de 2015. Em 2021, ela levou o Mercury às finais da WNBA apesar de uma lesão no tornozelo, por um salário máximo de US $ 221.450.

SEM MOVIMENTOS SEM DINHEIRO

Reeve, treinadora e gerente geral do Lynx, disse que preferia a expansão dos times à expansão do elenco, especialmente porque a resposta, de um jeito ou de outro, é mais dinheiro. “Precisamos de um compromisso maior da NBA como um todo e dos proprietários da NBA”, disse ela. “Precisamos de um compromisso financeiro maior. Precisamos de um investimento maior. Faz muito tempo que esta liga gira em torno, você sabe, da correspondência entre receitas e despesas, você não pode perder um único dólar. E não é assim que você faz uma liga crescer."

Quando solicitada que respondesse ao comentário de Reeve, Cathy Engelbert, comissária da WNBA, disse: “Eu discordo disso. Tenho um histórico de construção e crescimento de negócios, e é isso que estamos fazendo aqui."

Engelbert disse estar orgulhosa de que a WNBA seja a mais antiga liga profissional feminina do país (entre os esportes coletivos) e do compromisso financeiro da NBA, que tem a WNBA como parte da identidade da marca. "Francamente, não acho que poderíamos estar aqui se a NBA não tivesse dado tanto apoio ao longo dos anos."

A NBA possui 50% da WNBA, e cinco proprietários da NBA - de Phoenix, Brooklyn, Indiana, Minnesota e Washington - também possuem uma equipe da WNBA. Engelbert se recusou a comentar sobre o orçamento operacional da WNBA.

Quando perguntado sobre a possibilidade fornecer mais suporte, um porta-voz da NBA, Mike Bass, disse por e-mail: “A NBA vem proporcionando um enorme apoio financeiro para sustentar a operação da WNBA nos últimos 25 anos, e nosso compromisso nunca vacilou. Estamos vendo um crescimento empolgante para a liga sob a direção de Cathy e estamos confiantes na capacidade da liga, das equipes e da liderança das jogadoras em continuar esse crescimento”.

Engelbert disse que também sabia que havia “iniquidades no sistema” em relação à audiência das ligas esportivas femininas. “Todos os sinais e símbolos apontam para o crescimento da liga, mas não estamos nem perto de ter o modelo econômico que as jogadoras merecem”, disse Engelbert.

Desde que se tornou comissária em julho de 2019, Engelbert se concentrou na economia e nas experiências das jogadoras e torcedores. Ela atraiu mais investidores, como a Amazon, que é patrocinadora de um torneio no meio da temporada, com prêmio total de US$ 500.000 para os dois times finalistas. Isso aumentou as oportunidades de remuneração para as jogadoras, assim como uma provisão para acordos de marketing, mas não abordou as preocupações subjacentes sobre vagas limitadas nos elencos e melhor remuneração para as jogadoras em geral.

Engelbert disse que expandir a liga faz “parte de um plano de transição”, mas não é para agora. “Se você quer ampliar sua exposição, provavelmente precisará ter mais de 12 cidades em um país com 330 milhões de habitantes”, disse Engelbert. “Vamos expandir no futuro, com certeza, mas não vamos expandir só por expandir antes de termos um modelo econômico mais avançado”.

Ogwumike disse que espera que mais compromissos financeiros dos patrocinadores levem as jogadoras a conseguirem o que querem - escalações maiores e salários mais altos - para manter as jogadoras mais proeminentes na WNBA.

“Esses dois últimos períodos de contratação mostraram que tem uma liga inteira sentada dentro de casa, e então temos que fazer algo a respeito”, disse Ogwumike, referindo-se ao número de jogadoras talentosas que não foram contratadas. “Acho que é realmente uma questão de cobrar dos proprietários, dos investidores e das pessoas que querem investir mais nos esportes femininos. Temos jogadoras que estão prontas para fazer parte desta liga”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU.

Em 17 de outubro, Lexie Brown se tornou campeã da WNBA. Ela e o Chicago Sky derrotaram o Phoenix Mercury para ganhar o primeiro título na história da franquia. Mas, quatro meses antes, ela estava sentada em casa se perguntando se algum dia conseguiria voltar à liga americana feminina de basquete.

Brown esperava jogar pelo Minnesota Lynx durante a temporada de 2021, mas o time a dispensou em 17 de abril. Dias depois, ela chegou a Chicago para um período de treinamentos. "Você tem de lidar com coisas assim", disse Brown. "Manter a cabeça no lugar, manter a postura profissional, ficar pronta para quando o telefone tocar."

Jogadoras do Chicago Sky comemoram o título da temporada de 2021 da WNBA Foto: Matt Marton-USA TODAY Sports

O Sky cortou Brown em maio. Depois a contratou de novo, voltou a cortá-la e finalmente a contratou para o resto da temporada em 14 de junho. "Os últimos meses foram muito difíceis para mim no plano pessoal", disse Brown em junho, "mas acho que Chicago é o lugar onde eu queria estar. E mesmo que tenha passado por muita coisa para chegar em Chicago, estou muito feliz por estar aqui."

O aborrecimento às vezes vale a pena - afinal, Brown ganhou um campeonato - mas pode cobrar seu preço.

A cada temporada, as jogadoras têm de passar por uma porta giratória de contratos para as 144 vagas de elenco da WNBA. Muitas pessoas dentro e fora da liga acreditam que está na hora de expandir as listas de jogadoras dos times ou as equipes da liga - ou as duas coisas. Com apenas 12 equipes e 12 vagas no elenco de cada equipe, é mais difícil entrar e ficar na WNBA do que na NBA, especialmente porque a maioria dos contratos das jogadoras não tem garantias. Os salários relativamente baixos também as levam a fazer escolhas difíceis sobre quando e onde jogar.

A WNBA é vista como o padrão ouro para as ligas esportivas femininas por causa do nível de competição e dos benefícios que as jogadoras obtiveram por meio da negociação coletiva. Mas Nneka Ogwumike, presidente do sindicato das jogadoras, está entre as pessoas que vêm lutando por mais.

"Gosto de onde a liga está agora porque pessoas estão chamando atenção para seus problemas", disse Ogwumike, veterana que jogou por dez anos no Los Angeles Sparks. “Mas não gosto de onde está agora por causa do número de jogadoras e de equipes. E não quer dizer que seja culpa de alguém, sabe? Só queremos ver as coisas crescendo”.

TETO SALARIAL

Ogwumike liderou o sindicato das jogadoras quando a categoria chegou a um histórico acordo de negociação coletiva que entrou em vigor na temporada de 2020 e durará até 2027. O acordo elevou o teto salarial por equipe para US$ 1,3 milhão, um aumento de 30%. Muitos viram o acordo como um passo na direção certa em relação à equidade salarial. Mas ele também jogou luz sobre uma outra preocupação.

“O aumento de US$ 300.000 no teto salarial não foi significativo”, disse Cheryl Reeve, treinadora e gerente geral do Lynx. “Elogiaram muito, dizendo que estávamos fazendo o melhor para as jogadoras. E, sim, as jogadoras supermax agora ganham ainda mais”.

O salário mínimo para as jogadoras em 2020 aumentou cerca de US$ 15.000, para US$ 57.000, e o supermax para as veteranas aumentou cerca de US$ 100.000, para US$ 215.000. Os números aumentam a cada ano.

As equipes que querem levar jogadoras experientes para uma campanha até o final dos playoffs agora precisam lidar com aquilo que Reeve chamou de “ginástica do teto salarial”. “Estou fazendo muito mais gerenciamento geral durante a temporada do que gostaria. E, no nosso caso, isso aconteceu por causa das lesões”, disse Reeve.

O Lynx assinou contrato com Layshia Clarendon pelo restante da temporada de 2021 em 2 de julho, após três contratos curtos. O jogo de pegar-e-largar foi necessário para que o Minnesota permanecesse dentro do limite da equipe, já que o Lynx vinha lidando com lesões e ausências de outras jogadoras.

Clarendon começou a temporada com o New York Liberty e twittou na véspera da temporada: "Estou de coração partido pelas jogadoras que estão sendo cortadas (sim, faz parte do negócio), mas principalmente porque há ZERO oportunidades de desenvolvimento."

Sete dias mais tarde, depois de jogar um total de três minutos numa partida pelo Liberty, Clarendon também foi dispensada.

Isso abriu a porta para o Lynx. Para aliviar o fardo causado pelas lesões das jogadoras, a WNBA pode conceder contratos curtos para equipes com menos de 10 jogadoras ativas. Cada substituição de uma jogadora lesionada requer um novo contrato dentro do teto salarial. As equipes geralmente precisam escolher entre cortar jogadoras lesionadas para liberar vagas no elenco ou mantê-las no time e competir com menos jogadoras ativas.

Terri Jackson, diretora-executiva do sindicato das jogadoras, disse que o sindicato “deixou clara nossa posição” sobre a adição de vagas de reservas de jogadoras lesionadas e a expansão das escalações durante a última rodada de negociações, mas não conseguiu chegar a um acordo sobre os termos.

Ogwumike disse que as jogadoras queriam criar uma "liga mais robusta". "Acho que as ideias estão na mesa”, disse ela, acrescentando, “mas, com certeza, precisamos de mais equipes."

DESENVOLVER TALENTOS

Com esse objetivo, algumas pessoas dentro da WNBA acreditam que uma liga de desenvolvimento seria a evolução mais lógica.

A G-League da NBA é um campo de provas para jogadores sem contrato e também uma maneira de desenvolver jogadores contratados para equipes da NBA dando a eles mais tempo em quadra. Cada equipe da NBA pode ter até dois jogadores em contratos bidirecionais que dividam o tempo entre as duas ligas. As equipes também podem convocar outros jogadores da G League em contratos de curto prazo, conforme necessário, se tiverem espaço na lista.

Jacki Gemelos, assistente do Liberty e ex-jogadora da WNBA, disse que “duas vagas extras no elenco seriam uma coisa excelente”.

“Eu teria sido a 13º, 14º jogadora da lista, o que talvez não seja o suficiente para estar entre as 12, mas seria um bom avanço”, disse Gemelos, acrescentando que as vagas poderiam ser para “uma jogadora especializada, como uma arremessadora, ou para uma jogadora muito, muito alta, caso você precise dela para certos jogos, ou mesmo apenas por causa de problemas de lesão."

Em sua breve carreira na WNBA, Gemelos jogou 35 jogos por três clubes. Para as jogadoras que não embalam na WNBA ou que mal veem a quadra, existem poucos caminhos para ganhar mais tempo de jogo sem ir para o exterior. Uma nova liga nacional, a Athletes Unlimited, que começará sua temporada de cinco semanas este mês, agora é uma opção. Mas para a maioria das jogadoras, as ligas internacionais são sua melhor oportunidade de jogar e de ganharem algum dinheiro.

Mesmo a maioria das jogadoras mais bem pagas da WNBA vão para o exterior para competir por clubes europeus e seleções nacionais durante a entressafra e, às vezes, nos meses da WNBA. "Se não estou ganhando muito na liga, se não é o suficiente para sobreviver durante o ano, vou para o exterior e tenho o verão de folga”, disse a ala do Lynx, Napheesa Collier, no podcast “Tea With A & Phee”, que ela apresenta com a ala do Las Vegas Aces, A'ja Wilson.

Como resultado, muitas jogadoras estrangeiras chegam atrasadas ao campo de treinamento da WNBA, saem no meio da temporada ou ficam totalmente de fora, especialmente nos anos olímpicos. Somente na temporada de 2021, 55 jogadoras chegaram atrasadas aos campos de treinamento da WNBA e cerca de uma dúzia de jogadoras perdeu a estreia em casa, de acordo com o The Hartford Courant. No futuro, isso custará às jogadoras 1% de seu salário para cada dia de atraso e corte total no pagamento dos treinos para aquelas que perderem todo o período. A liga quer que as jogadoras permaneçam nos Estados Unidos para minimizar as interrupções na temporada da WNBA e reduzir o risco de lesões, mas para algumas jogadoras é uma decisão difícil.

Uma jogadora de primeira linha pode ganhar de US$ 500.000 a US$ 1,5 milhão por jogar no exterior. Diana Taurasi ficou de fora da temporada de 2015 depois de vencer um campeonato com o Mercury em 2014. “A natureza do basquete feminino o ano todo cobra seu preço, e teria sido irresponsável recusar a oportunidade financeira com meu time na Rússia”, escreveu Taurasi numa uma carta aos torcedores.

A equipe russa de Taurasi, o UMMC Ekaterinburg, pagou seu salário da WNBA, US$ 107.000, de acordo com a ESPN, mais uma quantia de US$ 1,5 milhão no exterior para ela ficar de fora da temporada de seis meses da WNBA de 2015. Em 2021, ela levou o Mercury às finais da WNBA apesar de uma lesão no tornozelo, por um salário máximo de US $ 221.450.

SEM MOVIMENTOS SEM DINHEIRO

Reeve, treinadora e gerente geral do Lynx, disse que preferia a expansão dos times à expansão do elenco, especialmente porque a resposta, de um jeito ou de outro, é mais dinheiro. “Precisamos de um compromisso maior da NBA como um todo e dos proprietários da NBA”, disse ela. “Precisamos de um compromisso financeiro maior. Precisamos de um investimento maior. Faz muito tempo que esta liga gira em torno, você sabe, da correspondência entre receitas e despesas, você não pode perder um único dólar. E não é assim que você faz uma liga crescer."

Quando solicitada que respondesse ao comentário de Reeve, Cathy Engelbert, comissária da WNBA, disse: “Eu discordo disso. Tenho um histórico de construção e crescimento de negócios, e é isso que estamos fazendo aqui."

Engelbert disse estar orgulhosa de que a WNBA seja a mais antiga liga profissional feminina do país (entre os esportes coletivos) e do compromisso financeiro da NBA, que tem a WNBA como parte da identidade da marca. "Francamente, não acho que poderíamos estar aqui se a NBA não tivesse dado tanto apoio ao longo dos anos."

A NBA possui 50% da WNBA, e cinco proprietários da NBA - de Phoenix, Brooklyn, Indiana, Minnesota e Washington - também possuem uma equipe da WNBA. Engelbert se recusou a comentar sobre o orçamento operacional da WNBA.

Quando perguntado sobre a possibilidade fornecer mais suporte, um porta-voz da NBA, Mike Bass, disse por e-mail: “A NBA vem proporcionando um enorme apoio financeiro para sustentar a operação da WNBA nos últimos 25 anos, e nosso compromisso nunca vacilou. Estamos vendo um crescimento empolgante para a liga sob a direção de Cathy e estamos confiantes na capacidade da liga, das equipes e da liderança das jogadoras em continuar esse crescimento”.

Engelbert disse que também sabia que havia “iniquidades no sistema” em relação à audiência das ligas esportivas femininas. “Todos os sinais e símbolos apontam para o crescimento da liga, mas não estamos nem perto de ter o modelo econômico que as jogadoras merecem”, disse Engelbert.

Desde que se tornou comissária em julho de 2019, Engelbert se concentrou na economia e nas experiências das jogadoras e torcedores. Ela atraiu mais investidores, como a Amazon, que é patrocinadora de um torneio no meio da temporada, com prêmio total de US$ 500.000 para os dois times finalistas. Isso aumentou as oportunidades de remuneração para as jogadoras, assim como uma provisão para acordos de marketing, mas não abordou as preocupações subjacentes sobre vagas limitadas nos elencos e melhor remuneração para as jogadoras em geral.

Engelbert disse que expandir a liga faz “parte de um plano de transição”, mas não é para agora. “Se você quer ampliar sua exposição, provavelmente precisará ter mais de 12 cidades em um país com 330 milhões de habitantes”, disse Engelbert. “Vamos expandir no futuro, com certeza, mas não vamos expandir só por expandir antes de termos um modelo econômico mais avançado”.

Ogwumike disse que espera que mais compromissos financeiros dos patrocinadores levem as jogadoras a conseguirem o que querem - escalações maiores e salários mais altos - para manter as jogadoras mais proeminentes na WNBA.

“Esses dois últimos períodos de contratação mostraram que tem uma liga inteira sentada dentro de casa, e então temos que fazer algo a respeito”, disse Ogwumike, referindo-se ao número de jogadoras talentosas que não foram contratadas. “Acho que é realmente uma questão de cobrar dos proprietários, dos investidores e das pessoas que querem investir mais nos esportes femininos. Temos jogadoras que estão prontas para fazer parte desta liga”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU.

Em 17 de outubro, Lexie Brown se tornou campeã da WNBA. Ela e o Chicago Sky derrotaram o Phoenix Mercury para ganhar o primeiro título na história da franquia. Mas, quatro meses antes, ela estava sentada em casa se perguntando se algum dia conseguiria voltar à liga americana feminina de basquete.

Brown esperava jogar pelo Minnesota Lynx durante a temporada de 2021, mas o time a dispensou em 17 de abril. Dias depois, ela chegou a Chicago para um período de treinamentos. "Você tem de lidar com coisas assim", disse Brown. "Manter a cabeça no lugar, manter a postura profissional, ficar pronta para quando o telefone tocar."

Jogadoras do Chicago Sky comemoram o título da temporada de 2021 da WNBA Foto: Matt Marton-USA TODAY Sports

O Sky cortou Brown em maio. Depois a contratou de novo, voltou a cortá-la e finalmente a contratou para o resto da temporada em 14 de junho. "Os últimos meses foram muito difíceis para mim no plano pessoal", disse Brown em junho, "mas acho que Chicago é o lugar onde eu queria estar. E mesmo que tenha passado por muita coisa para chegar em Chicago, estou muito feliz por estar aqui."

O aborrecimento às vezes vale a pena - afinal, Brown ganhou um campeonato - mas pode cobrar seu preço.

A cada temporada, as jogadoras têm de passar por uma porta giratória de contratos para as 144 vagas de elenco da WNBA. Muitas pessoas dentro e fora da liga acreditam que está na hora de expandir as listas de jogadoras dos times ou as equipes da liga - ou as duas coisas. Com apenas 12 equipes e 12 vagas no elenco de cada equipe, é mais difícil entrar e ficar na WNBA do que na NBA, especialmente porque a maioria dos contratos das jogadoras não tem garantias. Os salários relativamente baixos também as levam a fazer escolhas difíceis sobre quando e onde jogar.

A WNBA é vista como o padrão ouro para as ligas esportivas femininas por causa do nível de competição e dos benefícios que as jogadoras obtiveram por meio da negociação coletiva. Mas Nneka Ogwumike, presidente do sindicato das jogadoras, está entre as pessoas que vêm lutando por mais.

"Gosto de onde a liga está agora porque pessoas estão chamando atenção para seus problemas", disse Ogwumike, veterana que jogou por dez anos no Los Angeles Sparks. “Mas não gosto de onde está agora por causa do número de jogadoras e de equipes. E não quer dizer que seja culpa de alguém, sabe? Só queremos ver as coisas crescendo”.

TETO SALARIAL

Ogwumike liderou o sindicato das jogadoras quando a categoria chegou a um histórico acordo de negociação coletiva que entrou em vigor na temporada de 2020 e durará até 2027. O acordo elevou o teto salarial por equipe para US$ 1,3 milhão, um aumento de 30%. Muitos viram o acordo como um passo na direção certa em relação à equidade salarial. Mas ele também jogou luz sobre uma outra preocupação.

“O aumento de US$ 300.000 no teto salarial não foi significativo”, disse Cheryl Reeve, treinadora e gerente geral do Lynx. “Elogiaram muito, dizendo que estávamos fazendo o melhor para as jogadoras. E, sim, as jogadoras supermax agora ganham ainda mais”.

O salário mínimo para as jogadoras em 2020 aumentou cerca de US$ 15.000, para US$ 57.000, e o supermax para as veteranas aumentou cerca de US$ 100.000, para US$ 215.000. Os números aumentam a cada ano.

As equipes que querem levar jogadoras experientes para uma campanha até o final dos playoffs agora precisam lidar com aquilo que Reeve chamou de “ginástica do teto salarial”. “Estou fazendo muito mais gerenciamento geral durante a temporada do que gostaria. E, no nosso caso, isso aconteceu por causa das lesões”, disse Reeve.

O Lynx assinou contrato com Layshia Clarendon pelo restante da temporada de 2021 em 2 de julho, após três contratos curtos. O jogo de pegar-e-largar foi necessário para que o Minnesota permanecesse dentro do limite da equipe, já que o Lynx vinha lidando com lesões e ausências de outras jogadoras.

Clarendon começou a temporada com o New York Liberty e twittou na véspera da temporada: "Estou de coração partido pelas jogadoras que estão sendo cortadas (sim, faz parte do negócio), mas principalmente porque há ZERO oportunidades de desenvolvimento."

Sete dias mais tarde, depois de jogar um total de três minutos numa partida pelo Liberty, Clarendon também foi dispensada.

Isso abriu a porta para o Lynx. Para aliviar o fardo causado pelas lesões das jogadoras, a WNBA pode conceder contratos curtos para equipes com menos de 10 jogadoras ativas. Cada substituição de uma jogadora lesionada requer um novo contrato dentro do teto salarial. As equipes geralmente precisam escolher entre cortar jogadoras lesionadas para liberar vagas no elenco ou mantê-las no time e competir com menos jogadoras ativas.

Terri Jackson, diretora-executiva do sindicato das jogadoras, disse que o sindicato “deixou clara nossa posição” sobre a adição de vagas de reservas de jogadoras lesionadas e a expansão das escalações durante a última rodada de negociações, mas não conseguiu chegar a um acordo sobre os termos.

Ogwumike disse que as jogadoras queriam criar uma "liga mais robusta". "Acho que as ideias estão na mesa”, disse ela, acrescentando, “mas, com certeza, precisamos de mais equipes."

DESENVOLVER TALENTOS

Com esse objetivo, algumas pessoas dentro da WNBA acreditam que uma liga de desenvolvimento seria a evolução mais lógica.

A G-League da NBA é um campo de provas para jogadores sem contrato e também uma maneira de desenvolver jogadores contratados para equipes da NBA dando a eles mais tempo em quadra. Cada equipe da NBA pode ter até dois jogadores em contratos bidirecionais que dividam o tempo entre as duas ligas. As equipes também podem convocar outros jogadores da G League em contratos de curto prazo, conforme necessário, se tiverem espaço na lista.

Jacki Gemelos, assistente do Liberty e ex-jogadora da WNBA, disse que “duas vagas extras no elenco seriam uma coisa excelente”.

“Eu teria sido a 13º, 14º jogadora da lista, o que talvez não seja o suficiente para estar entre as 12, mas seria um bom avanço”, disse Gemelos, acrescentando que as vagas poderiam ser para “uma jogadora especializada, como uma arremessadora, ou para uma jogadora muito, muito alta, caso você precise dela para certos jogos, ou mesmo apenas por causa de problemas de lesão."

Em sua breve carreira na WNBA, Gemelos jogou 35 jogos por três clubes. Para as jogadoras que não embalam na WNBA ou que mal veem a quadra, existem poucos caminhos para ganhar mais tempo de jogo sem ir para o exterior. Uma nova liga nacional, a Athletes Unlimited, que começará sua temporada de cinco semanas este mês, agora é uma opção. Mas para a maioria das jogadoras, as ligas internacionais são sua melhor oportunidade de jogar e de ganharem algum dinheiro.

Mesmo a maioria das jogadoras mais bem pagas da WNBA vão para o exterior para competir por clubes europeus e seleções nacionais durante a entressafra e, às vezes, nos meses da WNBA. "Se não estou ganhando muito na liga, se não é o suficiente para sobreviver durante o ano, vou para o exterior e tenho o verão de folga”, disse a ala do Lynx, Napheesa Collier, no podcast “Tea With A & Phee”, que ela apresenta com a ala do Las Vegas Aces, A'ja Wilson.

Como resultado, muitas jogadoras estrangeiras chegam atrasadas ao campo de treinamento da WNBA, saem no meio da temporada ou ficam totalmente de fora, especialmente nos anos olímpicos. Somente na temporada de 2021, 55 jogadoras chegaram atrasadas aos campos de treinamento da WNBA e cerca de uma dúzia de jogadoras perdeu a estreia em casa, de acordo com o The Hartford Courant. No futuro, isso custará às jogadoras 1% de seu salário para cada dia de atraso e corte total no pagamento dos treinos para aquelas que perderem todo o período. A liga quer que as jogadoras permaneçam nos Estados Unidos para minimizar as interrupções na temporada da WNBA e reduzir o risco de lesões, mas para algumas jogadoras é uma decisão difícil.

Uma jogadora de primeira linha pode ganhar de US$ 500.000 a US$ 1,5 milhão por jogar no exterior. Diana Taurasi ficou de fora da temporada de 2015 depois de vencer um campeonato com o Mercury em 2014. “A natureza do basquete feminino o ano todo cobra seu preço, e teria sido irresponsável recusar a oportunidade financeira com meu time na Rússia”, escreveu Taurasi numa uma carta aos torcedores.

A equipe russa de Taurasi, o UMMC Ekaterinburg, pagou seu salário da WNBA, US$ 107.000, de acordo com a ESPN, mais uma quantia de US$ 1,5 milhão no exterior para ela ficar de fora da temporada de seis meses da WNBA de 2015. Em 2021, ela levou o Mercury às finais da WNBA apesar de uma lesão no tornozelo, por um salário máximo de US $ 221.450.

SEM MOVIMENTOS SEM DINHEIRO

Reeve, treinadora e gerente geral do Lynx, disse que preferia a expansão dos times à expansão do elenco, especialmente porque a resposta, de um jeito ou de outro, é mais dinheiro. “Precisamos de um compromisso maior da NBA como um todo e dos proprietários da NBA”, disse ela. “Precisamos de um compromisso financeiro maior. Precisamos de um investimento maior. Faz muito tempo que esta liga gira em torno, você sabe, da correspondência entre receitas e despesas, você não pode perder um único dólar. E não é assim que você faz uma liga crescer."

Quando solicitada que respondesse ao comentário de Reeve, Cathy Engelbert, comissária da WNBA, disse: “Eu discordo disso. Tenho um histórico de construção e crescimento de negócios, e é isso que estamos fazendo aqui."

Engelbert disse estar orgulhosa de que a WNBA seja a mais antiga liga profissional feminina do país (entre os esportes coletivos) e do compromisso financeiro da NBA, que tem a WNBA como parte da identidade da marca. "Francamente, não acho que poderíamos estar aqui se a NBA não tivesse dado tanto apoio ao longo dos anos."

A NBA possui 50% da WNBA, e cinco proprietários da NBA - de Phoenix, Brooklyn, Indiana, Minnesota e Washington - também possuem uma equipe da WNBA. Engelbert se recusou a comentar sobre o orçamento operacional da WNBA.

Quando perguntado sobre a possibilidade fornecer mais suporte, um porta-voz da NBA, Mike Bass, disse por e-mail: “A NBA vem proporcionando um enorme apoio financeiro para sustentar a operação da WNBA nos últimos 25 anos, e nosso compromisso nunca vacilou. Estamos vendo um crescimento empolgante para a liga sob a direção de Cathy e estamos confiantes na capacidade da liga, das equipes e da liderança das jogadoras em continuar esse crescimento”.

Engelbert disse que também sabia que havia “iniquidades no sistema” em relação à audiência das ligas esportivas femininas. “Todos os sinais e símbolos apontam para o crescimento da liga, mas não estamos nem perto de ter o modelo econômico que as jogadoras merecem”, disse Engelbert.

Desde que se tornou comissária em julho de 2019, Engelbert se concentrou na economia e nas experiências das jogadoras e torcedores. Ela atraiu mais investidores, como a Amazon, que é patrocinadora de um torneio no meio da temporada, com prêmio total de US$ 500.000 para os dois times finalistas. Isso aumentou as oportunidades de remuneração para as jogadoras, assim como uma provisão para acordos de marketing, mas não abordou as preocupações subjacentes sobre vagas limitadas nos elencos e melhor remuneração para as jogadoras em geral.

Engelbert disse que expandir a liga faz “parte de um plano de transição”, mas não é para agora. “Se você quer ampliar sua exposição, provavelmente precisará ter mais de 12 cidades em um país com 330 milhões de habitantes”, disse Engelbert. “Vamos expandir no futuro, com certeza, mas não vamos expandir só por expandir antes de termos um modelo econômico mais avançado”.

Ogwumike disse que espera que mais compromissos financeiros dos patrocinadores levem as jogadoras a conseguirem o que querem - escalações maiores e salários mais altos - para manter as jogadoras mais proeminentes na WNBA.

“Esses dois últimos períodos de contratação mostraram que tem uma liga inteira sentada dentro de casa, e então temos que fazer algo a respeito”, disse Ogwumike, referindo-se ao número de jogadoras talentosas que não foram contratadas. “Acho que é realmente uma questão de cobrar dos proprietários, dos investidores e das pessoas que querem investir mais nos esportes femininos. Temos jogadoras que estão prontas para fazer parte desta liga”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU.

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