Começam na próxima sexta-feira, 26, os Jogos Olímpicos de Paris, os mais sustentáveis da história, segundo promessa dos organizadores do megaevento. O Comitê Organizador da 33ª edição da Olimpíada na Era Moderna elaborou, desde a fase de candidatura, o plano de promover um legado sustentável diante das consequências das emergências climáticas.
Em nome da sustentabilidade, a organização fez a promessa de reduzir pela metade a emissão de gases poluentes em relação a edições anteriores, deixará à disposição dos atletas centenas de bicicletas, meio de transporte preferido dos parisienses, afirmou que dispensará parte de materiais de plástico, vai eliminar geradores a diesel e instalar painéis solares no Rio Sena e fará adaptações no cardápio dos atletas, com mais opções de refeições à base de planta.
O compromisso ambiental da Olimpíada parisiense também inclui reutilizar pódios e mobiliário, reciclagem de objetos habitualmente negligenciados, como estruturas removíveis, e a venda de equipamentos esportivos a baixo custo, promovendo uma segunda vida e reduzindo o desperdício.
Há controvérsias nas decisões que priorizam a responsabilidade ambiental do Comitê Organizador. A principal delas diz respeito à climatização da Vila Olímpica. Os organizadores mencionaram a questão da justiça ambiental e decidiram não instalar aparelhos de ar-condicionado nos quartos da Vila Olímpica, o que foi motivo de críticas dos comitês olímpicos nacionais, já que, nos últimos Jogos Olímpicos, os dormitórios eram climatizados.
Pressionado, o comitê organizador liberou a instalação de módulos temporários na Vila Olímpica, que custam 300 euros cada (cerca de R$ 1,5 mil), desde que cada comitê banque esse custo. Boa parte dos países, incluindo Brasil, Estados Unidos, Holanda e Canadá, aderiu, o que fez o Comitê Olímpico do Brasil (COB) aumentar seus gastos com a Missão Paris. O COB pagou cerca de R$ 270 mil para instalar aparelhos de ar-condicionado nos quartos dos atletas brasileiros.
“O objetivo é fornecer uma temperatura ideal de descanso aos atletas, para que eles possam se recuperar e ter totais condições de brigar pelas medalhas, visto que o calor extremo pode atrapalhar o sono e a recuperação”, argumenta ao Estadão Joyce Ardies, subchefe de missão do COB em Paris. O ano de 2023 foi o mais quente já registrado, segundo relatório do Observatório europeu Copernicus, e a capital francesa registrou ondas de calor com 40ºC no verão passado, mas a previsão para os primeiros dias da Olimpíada não é de forte calor.
O COB, diz Joyce, zerou o uso de papel na montagem de malas, evitará uso de copos descartáveis de água, vai disponibilizar 70 bicicletas para o uso de atletas e oficiais do Time Brasil, mapeia a reutilização de materiais comprados para os Jogos, instalou bebedouros industriais nas bases do Time Brasil e alinhou com a prefeitura de St. Ouen para o descarte correto do lixo.
“Fatores desde a redução do papel no momento da montagem de malas, quando a lista de peças que deve ir na mala de cada atleta é feita com um tablet e sistema em vez de milhares de folhas, até a consideração do aluguel local de certos equipamentos versus o envio via cargo aéreo ou marítimo, são considerados”, pontua ela.
O COB elaborou um programa com iniciativas sustentáveis e convocou a principal atleta olímpica do País atualmente, Rebeca Andrade, para ser a porta-voz de sustentabilidade da entidade em eventos e redes sociais.
“Acho importante mudar um pouco as nossas práticas, sermos mais sustentáveis. Estou honrada e até meio perdida sobre o que falar”, diz a ginasta, ainda tímida e sem jeito, mesmo já acostumada a lidar com a fama que seus títulos e medalhas lhe trouxeram. “Sozinha não vou mudar o mundo, mas posso fazer alguma diferença. Então, se todos se juntarem a gente poderá mudar o mundo de verdade”.
“A implementação dessas práticas em um dos maiores eventos do mundo gera grande visibilidade para o movimento sustentável e pode ter reflexos positivos na educação socioambiental”, observa Augusto Freitas, CEO da Cristalcopo, empresa idealizadora de um projeto que retirou mais de 400 toneladas de resíduos do meio ambiente por meio da reciclagem.
Apenas uma nova - e controversa - estrutura
Paris-2024 rejeitou novas construções. Aproximadamente 95% dos locais serão instalações preexistentes, reformadas e modernizadas, ou estruturas temporárias. O centro aquático é a única instalação permanente construída para os Jogos Olímpicos. O espaço custou quase R$ 1 bilhão, mas não receberá as provas de natação por ser muito pequeno, com 5 mil lugares. Tal capacidade é insuficiente para a federação internacional, que impõe um mínimo de 15 mil assentos para provas de natação em grandes eventos.
O novo centro aquático, cuja construção está envolta em controvérsias, receberá somente as disputas de saltos ornamentais e de nado artístico e a fase preliminar do polo aquático. As provas de natação foram realocadas para a Arena La Défense, em Nanterre, do outro lado da capital francesa, em duas piscinas desmontáveis que posteriormente serão transferidas para Sevran e Bagnolet, duas localidades nos arredores da cidade.
Os locais que vão receber as competições estão espalhados pela cidade - e não concentrado em um lugar só - e foram escolhidos para que possam ser acessados por transporte público. A cidade também está estabeleceu novos padrões de sustentabilidade para grandes eventos esportivos, incentivando a conservação de energia e inovação.
“Estes serão os Jogos Olímpicos de uma nova era, alimentados por 100% de energia renovável, principalmente eletricidade limpa, mas também biogás. Todos os sites serão conectados à rede com eletricidade renovável proveniente de parques eólicos e solares”, disse o príncipe Albert II de Mônaco, membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) e presidente da Comissão de Sustentabilidade e Legado.
Segundo o COI, o não utilização de geradores a diesel permitirá a redução equivalente a 13 mil toneladas de emissões de carbono. Tais soluções seguirão em vigor após os Jogos, permitindo que outros eventos também reduzam suas emissões.
Os organizadores ainda prometem servir 13 milhões de refeições e lanches de maneira mais sustentável. A meta é uma média de 1kg de CO 2 por refeição, em comparação com a média francesa de 2,3kg, com 80% dos ingredientes sendo de origem francesa e pelo menos 30%, orgânicos. Produtos à base de plantas serão dobrados, enquanto haverá a redução do uso do plástico pela metade.