Brasil encerra Paralimpíada no top 5; veja por que o País vai melhor do que nas Olimpíadas


Participação na França conta com o recorde de 25 ouros e 89 do total de medalhas

Por Bruno Accorsi, Sergio Neto e Vinícius Harfush
Atualização:

Os Jogos Paralímpicos de Paris-2024 elevaram ainda mais o patamar do Brasil, que se despede com sua melhor campanha da história em todos os aspectos possíveis. Até então com o top 7 como melhor colocação dentro do quadro de medalhas em uma edição de Paralimpíada, o País encerrou a participação na França como dono do inédito 5º lugar, com o recorde de 25 ouros e 89 do total de medalhas. Ficou abaixo apenas de China, Grã-Bretanha, EUA e Holanda.

Os últimos pódios foram celebrados neste domingo, dia final de competições. Nos 200m da classe VL2 (os atletas usam tronco e braços na remada) da canoagem, houve dobradinha brasileira. Fernando Rufino completou a prova em 50s47, recorde paralímpico, e foi bicampeão, depois de ter sido ouro nos Jogos de Tóquio. Atrás dele, veio Igor Rofalini, prata com 51s78. No halterofilismo, Tayana Medeiros ficou com o ouro na categoria até 86kg.

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A meta do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) era conquistar de 70 a 90 pódios e terminar no top-8 do quadro de medalhas. Nos Jogos do Japão, em 2021, melhor desempenho até então, foram conquistados 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes – 72 pódios no total.

Mais do que as marcas expressivas, as competições em Paris consolidaram nomes que já eram icônicos para o esporte brasileiro como verdadeiras lendas. É o caso da nadadora Carol Santiago, que se tornou a maior medalhista de ouro brasileira da história dos Jogos Paralímpicos.

A nadadora Carol Santiago, que se tornou a maior medalhista de ouro brasileira da história dos Jogos Paralímpicos Foto: Alessandra Cabral/CPB
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Campeã nos 100 metros costas e nos 100 metros livre na categoria S12 - destinada a atletas com deficiência visual pequena, mas significativa - e nos 50 metros livre da S13 - para casos de deficiência visual menos severa dentro da classificação - , ela ainda faturou prata nos 100 metros peito (SB12) e no revezamento 4x100m livre misto.

Junto ao desempenho já histórico que havia apresentado nos Jogos de Tóquio, em 2021, a pernambucana de 39 anos tem agora dez medalhas paralímpicas. São seis ouros, três pratas e um bronze, que a tornam a quinta na lista de representantes do Brasil com mais pódios, atrás de Daniel Dias (27), André Brasil (14), Clodoaldo Silva(14) e Ádria Santos (13).

A natação brasileira, de forma geral, trouxe muitas alegrias e rendeu 25 medalhas. Além de Carol, o País teve grande destaque com Gabriel Araújo, vencedor de três medalhas de ouros 100 metros costas, 50 metros costas e 200 metros livres, todos na classe S2, para nadadores com falta de coordenação motora de alto grau no tronco, nas pernas e nas mãos, e de baixo grau nos braços.

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Com o desempenho, Gabrielzinho bateu a marca de seis medalhas paralímpicas, pois já havia conquistado dois ouros e uma prata nos Jogos de Tóquio, há três anos. Outro nadador brasileiro que subiu no primeiro lugar do pódio foi Talisson Glock, campeão dos 400 metros livre S6.

Apesar do sucesso da natação, a principal fonte de medalhas do Brasil foi o atletismo, que teve 35 pódios de atletas brasileiros, dos quais dez subiram no primeiro lugar. Estrela paralímpica, Petrúcio Ferreira foi ouro nos 100m T47 e celebrou sexta medalha da carreira. Ele já tinha um ouro e duas pratas conquistadas no Rio-2016, além de um ouro e um bronze nos Jogos de Tóquio2020.

Uma das grandes estrelas brasileiras em Paris foi Jerusa Geber, de 42 anos, que foi ouro nos 100 metros e nos 200 metros da classe T11. Foi a primeira vez que ela se tornou campeã em Jogos Paralímpicos, após dois bronzes em Pequim-2008 e pratas em Londres-2012 e Tóquio-2020.

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Os demais ouros do atletismo vieram de Júlio Agripino dos Santos (500m T1), Ricardo Mendonça (100m T37), Fernanda Yara (400m T47), Yeltsin Jacques (1500m T11), Rayane Soares (400m T13), Claudiney Batista (lançamento de disco F56) e Elizabeth Gomes (lançamento de disco F53).

Outra paratleta que se colocou em um patamar ainda mais alto foi a halterofilista Mariana D’Andrea. Com a medalha de ouro conquistada em Paris na categoria até 73 kg, ela tornou-se bicampeã olímpica, pois já havia ficado em primeiro lugar na Paralimpíada passada.

Em sintonia com a tendência das Olimpíadas de Paris, em que o Brasil teve 12 de suas 20 medalhas conquistadas por mulheres, as Paralímpiadas também tiveram protagonismo feminino.

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O ouro de D’Andrea foi um dos 13 conquistados por paratletas mulheres da delegação brasileira, um a mais do que os 12 ouros oriundos de competições masculina. No total de medalhas, as mulheres trouxeram menos medalhas que os homens, mas fizeram a melhor campanha da história com 43 pódios.

Por que o Brasil é uma potência paralímpica?

A resposta é, de fato, complexa. Mas é possível traçar um caminho feito pelas organizações e atletas paralímpicos ao longo das últimas décadas e que explicam o salto de qualidade que o Brasil teve e que foi obtido nas provas na capital francesa.

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As principais razões que apontam o País como um dos destaques paralímpicos passam desde a lógica de que os investimentos geram resultados, principalmente a longo prazo, até um contexto social que é muito forte no Brasil.

Em um país onde as pessoas com deficiência encontram barreiras para praticar suas atividades mais simples do dia a dia nas ruas de quase todas as cidades, o esporte surge como uma realidade onde há, de fato, uma valorização diante do esforço e evolução constante de quem tem alguma limitação. E a combinação desses fatores com o talento de cada um dos atletas, vem colocando o Brasil como um destaque mundial.

De 2008, na edição de Pequim, para cá, o País sempre figurou no top 10 de melhores nações da competição. Mas o recorte de medalhas conquistadas evidencia um crescimento do esporte paralímpico a partir da realização dos jogos do Rio, em 2016. Nas duas últimas edições, o País levou 72 medalhas para casa. A título de comparação, em Londres, 2012, quando o Brasil também foi 7º colocado, foram “apenas” 43 pódios nos Jogos.

Hoje, a participação do Comitê Paralímpico Brasileiro está muito mais voltada para a formação de atletas e desenvolvimento das modalidades paralímpicas. Uma das heranças deixadas pela Rio 2016 foi justamente o centro de treinamento oficial do CPB, localizado em São Paulo. O espaço com mais de 100 mil metros quadrados é responsável por desenvolver 17 modalidades paralímpicas, tendo abrigado quase 1.500 eventos esportivos paralímpicos entre os Jogos do Rio e o começo de 2023.

No total, quase 90 mil atletas passaram pelas instalações, que custou R$ 264,2 milhões, investidos pelo Governo do Estado de São Paulo e pelo Governo Federal, por meio do Ministério dos Esportes. Mas os investimento não trariam os mesmos resultados se não houvesse, da parte do atleta, o foco e a vontade de se colocar em posição de destaque dentro de cada uma das modalidades.

O que explica o desempenho do Brasil ser melhor nas Paralimpíadas do que nas Olimpíadas

O questionamento sobre o bom desempenho do Brasil nos Jogos Paralímpicos também enviesa para o lado da comparação com os resultados do Brasil nos Jogos Olímpicos. Na edição de Paris, por exemplo, não conseguiu quebrar sua melhor marca da história. Em números absolutos, é possível criar uma balança que pesa mais para as disputas paralímpicas, já que o Brasil tinha, antes de Paris, 373 medalhas conquistadas, enquanto os esportes olímpicos somavam 170 pódios já contando com esta última edição na capital francesa.

Há também uma diferença de recursos chamativa entre o que foi recebido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o CPB. A maior fonte de investimentos recebidos pelo CPB é a Lei das Loterias. Em pouco mais de duas décadas, o CPB recebeu R$ 1,64 bilhão do Governo Federal, valor 40% menor do que o COB recebeu no mesmo período.

Uma resposta mais objetiva para o questionamento é que os Jogos Paralímpicos apresentam uma variedade maior de categorias dentro da mesma modalidade. Adria Santos, maior medalhista entre as mulheres na história dos Jogos Paralímpicos, conquistou 13 medalhas, sendo quatro ouros, na classe T11, onde os competidores correm ao lado do atleta-guia e usam o cordão de ligação.

No atletismo, existem classes para amputados, cadeirantes, deficientes intelectuais e visuais, por exemplo. Ou seja, se cada uma das classes tiverem mais de um atleta brasileiro competindo, a chance de medalha já torna-se maior do que nas Olimpíadas, onde as categorias são divididas entre masculino e feminino. Mas, muito além da quantidade, é preciso olhar para a qualidade desses atletas que representam o Brasil.

Os Jogos Paralímpicos de Paris-2024 elevaram ainda mais o patamar do Brasil, que se despede com sua melhor campanha da história em todos os aspectos possíveis. Até então com o top 7 como melhor colocação dentro do quadro de medalhas em uma edição de Paralimpíada, o País encerrou a participação na França como dono do inédito 5º lugar, com o recorde de 25 ouros e 89 do total de medalhas. Ficou abaixo apenas de China, Grã-Bretanha, EUA e Holanda.

Os últimos pódios foram celebrados neste domingo, dia final de competições. Nos 200m da classe VL2 (os atletas usam tronco e braços na remada) da canoagem, houve dobradinha brasileira. Fernando Rufino completou a prova em 50s47, recorde paralímpico, e foi bicampeão, depois de ter sido ouro nos Jogos de Tóquio. Atrás dele, veio Igor Rofalini, prata com 51s78. No halterofilismo, Tayana Medeiros ficou com o ouro na categoria até 86kg.

A meta do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) era conquistar de 70 a 90 pódios e terminar no top-8 do quadro de medalhas. Nos Jogos do Japão, em 2021, melhor desempenho até então, foram conquistados 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes – 72 pódios no total.

Mais do que as marcas expressivas, as competições em Paris consolidaram nomes que já eram icônicos para o esporte brasileiro como verdadeiras lendas. É o caso da nadadora Carol Santiago, que se tornou a maior medalhista de ouro brasileira da história dos Jogos Paralímpicos.

A nadadora Carol Santiago, que se tornou a maior medalhista de ouro brasileira da história dos Jogos Paralímpicos Foto: Alessandra Cabral/CPB

Campeã nos 100 metros costas e nos 100 metros livre na categoria S12 - destinada a atletas com deficiência visual pequena, mas significativa - e nos 50 metros livre da S13 - para casos de deficiência visual menos severa dentro da classificação - , ela ainda faturou prata nos 100 metros peito (SB12) e no revezamento 4x100m livre misto.

Junto ao desempenho já histórico que havia apresentado nos Jogos de Tóquio, em 2021, a pernambucana de 39 anos tem agora dez medalhas paralímpicas. São seis ouros, três pratas e um bronze, que a tornam a quinta na lista de representantes do Brasil com mais pódios, atrás de Daniel Dias (27), André Brasil (14), Clodoaldo Silva(14) e Ádria Santos (13).

A natação brasileira, de forma geral, trouxe muitas alegrias e rendeu 25 medalhas. Além de Carol, o País teve grande destaque com Gabriel Araújo, vencedor de três medalhas de ouros 100 metros costas, 50 metros costas e 200 metros livres, todos na classe S2, para nadadores com falta de coordenação motora de alto grau no tronco, nas pernas e nas mãos, e de baixo grau nos braços.

Com o desempenho, Gabrielzinho bateu a marca de seis medalhas paralímpicas, pois já havia conquistado dois ouros e uma prata nos Jogos de Tóquio, há três anos. Outro nadador brasileiro que subiu no primeiro lugar do pódio foi Talisson Glock, campeão dos 400 metros livre S6.

Apesar do sucesso da natação, a principal fonte de medalhas do Brasil foi o atletismo, que teve 35 pódios de atletas brasileiros, dos quais dez subiram no primeiro lugar. Estrela paralímpica, Petrúcio Ferreira foi ouro nos 100m T47 e celebrou sexta medalha da carreira. Ele já tinha um ouro e duas pratas conquistadas no Rio-2016, além de um ouro e um bronze nos Jogos de Tóquio2020.

Uma das grandes estrelas brasileiras em Paris foi Jerusa Geber, de 42 anos, que foi ouro nos 100 metros e nos 200 metros da classe T11. Foi a primeira vez que ela se tornou campeã em Jogos Paralímpicos, após dois bronzes em Pequim-2008 e pratas em Londres-2012 e Tóquio-2020.

Os demais ouros do atletismo vieram de Júlio Agripino dos Santos (500m T1), Ricardo Mendonça (100m T37), Fernanda Yara (400m T47), Yeltsin Jacques (1500m T11), Rayane Soares (400m T13), Claudiney Batista (lançamento de disco F56) e Elizabeth Gomes (lançamento de disco F53).

Outra paratleta que se colocou em um patamar ainda mais alto foi a halterofilista Mariana D’Andrea. Com a medalha de ouro conquistada em Paris na categoria até 73 kg, ela tornou-se bicampeã olímpica, pois já havia ficado em primeiro lugar na Paralimpíada passada.

Em sintonia com a tendência das Olimpíadas de Paris, em que o Brasil teve 12 de suas 20 medalhas conquistadas por mulheres, as Paralímpiadas também tiveram protagonismo feminino.

O ouro de D’Andrea foi um dos 13 conquistados por paratletas mulheres da delegação brasileira, um a mais do que os 12 ouros oriundos de competições masculina. No total de medalhas, as mulheres trouxeram menos medalhas que os homens, mas fizeram a melhor campanha da história com 43 pódios.

Por que o Brasil é uma potência paralímpica?

A resposta é, de fato, complexa. Mas é possível traçar um caminho feito pelas organizações e atletas paralímpicos ao longo das últimas décadas e que explicam o salto de qualidade que o Brasil teve e que foi obtido nas provas na capital francesa.

As principais razões que apontam o País como um dos destaques paralímpicos passam desde a lógica de que os investimentos geram resultados, principalmente a longo prazo, até um contexto social que é muito forte no Brasil.

Em um país onde as pessoas com deficiência encontram barreiras para praticar suas atividades mais simples do dia a dia nas ruas de quase todas as cidades, o esporte surge como uma realidade onde há, de fato, uma valorização diante do esforço e evolução constante de quem tem alguma limitação. E a combinação desses fatores com o talento de cada um dos atletas, vem colocando o Brasil como um destaque mundial.

De 2008, na edição de Pequim, para cá, o País sempre figurou no top 10 de melhores nações da competição. Mas o recorte de medalhas conquistadas evidencia um crescimento do esporte paralímpico a partir da realização dos jogos do Rio, em 2016. Nas duas últimas edições, o País levou 72 medalhas para casa. A título de comparação, em Londres, 2012, quando o Brasil também foi 7º colocado, foram “apenas” 43 pódios nos Jogos.

Hoje, a participação do Comitê Paralímpico Brasileiro está muito mais voltada para a formação de atletas e desenvolvimento das modalidades paralímpicas. Uma das heranças deixadas pela Rio 2016 foi justamente o centro de treinamento oficial do CPB, localizado em São Paulo. O espaço com mais de 100 mil metros quadrados é responsável por desenvolver 17 modalidades paralímpicas, tendo abrigado quase 1.500 eventos esportivos paralímpicos entre os Jogos do Rio e o começo de 2023.

No total, quase 90 mil atletas passaram pelas instalações, que custou R$ 264,2 milhões, investidos pelo Governo do Estado de São Paulo e pelo Governo Federal, por meio do Ministério dos Esportes. Mas os investimento não trariam os mesmos resultados se não houvesse, da parte do atleta, o foco e a vontade de se colocar em posição de destaque dentro de cada uma das modalidades.

O que explica o desempenho do Brasil ser melhor nas Paralimpíadas do que nas Olimpíadas

O questionamento sobre o bom desempenho do Brasil nos Jogos Paralímpicos também enviesa para o lado da comparação com os resultados do Brasil nos Jogos Olímpicos. Na edição de Paris, por exemplo, não conseguiu quebrar sua melhor marca da história. Em números absolutos, é possível criar uma balança que pesa mais para as disputas paralímpicas, já que o Brasil tinha, antes de Paris, 373 medalhas conquistadas, enquanto os esportes olímpicos somavam 170 pódios já contando com esta última edição na capital francesa.

Há também uma diferença de recursos chamativa entre o que foi recebido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o CPB. A maior fonte de investimentos recebidos pelo CPB é a Lei das Loterias. Em pouco mais de duas décadas, o CPB recebeu R$ 1,64 bilhão do Governo Federal, valor 40% menor do que o COB recebeu no mesmo período.

Uma resposta mais objetiva para o questionamento é que os Jogos Paralímpicos apresentam uma variedade maior de categorias dentro da mesma modalidade. Adria Santos, maior medalhista entre as mulheres na história dos Jogos Paralímpicos, conquistou 13 medalhas, sendo quatro ouros, na classe T11, onde os competidores correm ao lado do atleta-guia e usam o cordão de ligação.

No atletismo, existem classes para amputados, cadeirantes, deficientes intelectuais e visuais, por exemplo. Ou seja, se cada uma das classes tiverem mais de um atleta brasileiro competindo, a chance de medalha já torna-se maior do que nas Olimpíadas, onde as categorias são divididas entre masculino e feminino. Mas, muito além da quantidade, é preciso olhar para a qualidade desses atletas que representam o Brasil.

Os Jogos Paralímpicos de Paris-2024 elevaram ainda mais o patamar do Brasil, que se despede com sua melhor campanha da história em todos os aspectos possíveis. Até então com o top 7 como melhor colocação dentro do quadro de medalhas em uma edição de Paralimpíada, o País encerrou a participação na França como dono do inédito 5º lugar, com o recorde de 25 ouros e 89 do total de medalhas. Ficou abaixo apenas de China, Grã-Bretanha, EUA e Holanda.

Os últimos pódios foram celebrados neste domingo, dia final de competições. Nos 200m da classe VL2 (os atletas usam tronco e braços na remada) da canoagem, houve dobradinha brasileira. Fernando Rufino completou a prova em 50s47, recorde paralímpico, e foi bicampeão, depois de ter sido ouro nos Jogos de Tóquio. Atrás dele, veio Igor Rofalini, prata com 51s78. No halterofilismo, Tayana Medeiros ficou com o ouro na categoria até 86kg.

A meta do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) era conquistar de 70 a 90 pódios e terminar no top-8 do quadro de medalhas. Nos Jogos do Japão, em 2021, melhor desempenho até então, foram conquistados 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes – 72 pódios no total.

Mais do que as marcas expressivas, as competições em Paris consolidaram nomes que já eram icônicos para o esporte brasileiro como verdadeiras lendas. É o caso da nadadora Carol Santiago, que se tornou a maior medalhista de ouro brasileira da história dos Jogos Paralímpicos.

A nadadora Carol Santiago, que se tornou a maior medalhista de ouro brasileira da história dos Jogos Paralímpicos Foto: Alessandra Cabral/CPB

Campeã nos 100 metros costas e nos 100 metros livre na categoria S12 - destinada a atletas com deficiência visual pequena, mas significativa - e nos 50 metros livre da S13 - para casos de deficiência visual menos severa dentro da classificação - , ela ainda faturou prata nos 100 metros peito (SB12) e no revezamento 4x100m livre misto.

Junto ao desempenho já histórico que havia apresentado nos Jogos de Tóquio, em 2021, a pernambucana de 39 anos tem agora dez medalhas paralímpicas. São seis ouros, três pratas e um bronze, que a tornam a quinta na lista de representantes do Brasil com mais pódios, atrás de Daniel Dias (27), André Brasil (14), Clodoaldo Silva(14) e Ádria Santos (13).

A natação brasileira, de forma geral, trouxe muitas alegrias e rendeu 25 medalhas. Além de Carol, o País teve grande destaque com Gabriel Araújo, vencedor de três medalhas de ouros 100 metros costas, 50 metros costas e 200 metros livres, todos na classe S2, para nadadores com falta de coordenação motora de alto grau no tronco, nas pernas e nas mãos, e de baixo grau nos braços.

Com o desempenho, Gabrielzinho bateu a marca de seis medalhas paralímpicas, pois já havia conquistado dois ouros e uma prata nos Jogos de Tóquio, há três anos. Outro nadador brasileiro que subiu no primeiro lugar do pódio foi Talisson Glock, campeão dos 400 metros livre S6.

Apesar do sucesso da natação, a principal fonte de medalhas do Brasil foi o atletismo, que teve 35 pódios de atletas brasileiros, dos quais dez subiram no primeiro lugar. Estrela paralímpica, Petrúcio Ferreira foi ouro nos 100m T47 e celebrou sexta medalha da carreira. Ele já tinha um ouro e duas pratas conquistadas no Rio-2016, além de um ouro e um bronze nos Jogos de Tóquio2020.

Uma das grandes estrelas brasileiras em Paris foi Jerusa Geber, de 42 anos, que foi ouro nos 100 metros e nos 200 metros da classe T11. Foi a primeira vez que ela se tornou campeã em Jogos Paralímpicos, após dois bronzes em Pequim-2008 e pratas em Londres-2012 e Tóquio-2020.

Os demais ouros do atletismo vieram de Júlio Agripino dos Santos (500m T1), Ricardo Mendonça (100m T37), Fernanda Yara (400m T47), Yeltsin Jacques (1500m T11), Rayane Soares (400m T13), Claudiney Batista (lançamento de disco F56) e Elizabeth Gomes (lançamento de disco F53).

Outra paratleta que se colocou em um patamar ainda mais alto foi a halterofilista Mariana D’Andrea. Com a medalha de ouro conquistada em Paris na categoria até 73 kg, ela tornou-se bicampeã olímpica, pois já havia ficado em primeiro lugar na Paralimpíada passada.

Em sintonia com a tendência das Olimpíadas de Paris, em que o Brasil teve 12 de suas 20 medalhas conquistadas por mulheres, as Paralímpiadas também tiveram protagonismo feminino.

O ouro de D’Andrea foi um dos 13 conquistados por paratletas mulheres da delegação brasileira, um a mais do que os 12 ouros oriundos de competições masculina. No total de medalhas, as mulheres trouxeram menos medalhas que os homens, mas fizeram a melhor campanha da história com 43 pódios.

Por que o Brasil é uma potência paralímpica?

A resposta é, de fato, complexa. Mas é possível traçar um caminho feito pelas organizações e atletas paralímpicos ao longo das últimas décadas e que explicam o salto de qualidade que o Brasil teve e que foi obtido nas provas na capital francesa.

As principais razões que apontam o País como um dos destaques paralímpicos passam desde a lógica de que os investimentos geram resultados, principalmente a longo prazo, até um contexto social que é muito forte no Brasil.

Em um país onde as pessoas com deficiência encontram barreiras para praticar suas atividades mais simples do dia a dia nas ruas de quase todas as cidades, o esporte surge como uma realidade onde há, de fato, uma valorização diante do esforço e evolução constante de quem tem alguma limitação. E a combinação desses fatores com o talento de cada um dos atletas, vem colocando o Brasil como um destaque mundial.

De 2008, na edição de Pequim, para cá, o País sempre figurou no top 10 de melhores nações da competição. Mas o recorte de medalhas conquistadas evidencia um crescimento do esporte paralímpico a partir da realização dos jogos do Rio, em 2016. Nas duas últimas edições, o País levou 72 medalhas para casa. A título de comparação, em Londres, 2012, quando o Brasil também foi 7º colocado, foram “apenas” 43 pódios nos Jogos.

Hoje, a participação do Comitê Paralímpico Brasileiro está muito mais voltada para a formação de atletas e desenvolvimento das modalidades paralímpicas. Uma das heranças deixadas pela Rio 2016 foi justamente o centro de treinamento oficial do CPB, localizado em São Paulo. O espaço com mais de 100 mil metros quadrados é responsável por desenvolver 17 modalidades paralímpicas, tendo abrigado quase 1.500 eventos esportivos paralímpicos entre os Jogos do Rio e o começo de 2023.

No total, quase 90 mil atletas passaram pelas instalações, que custou R$ 264,2 milhões, investidos pelo Governo do Estado de São Paulo e pelo Governo Federal, por meio do Ministério dos Esportes. Mas os investimento não trariam os mesmos resultados se não houvesse, da parte do atleta, o foco e a vontade de se colocar em posição de destaque dentro de cada uma das modalidades.

O que explica o desempenho do Brasil ser melhor nas Paralimpíadas do que nas Olimpíadas

O questionamento sobre o bom desempenho do Brasil nos Jogos Paralímpicos também enviesa para o lado da comparação com os resultados do Brasil nos Jogos Olímpicos. Na edição de Paris, por exemplo, não conseguiu quebrar sua melhor marca da história. Em números absolutos, é possível criar uma balança que pesa mais para as disputas paralímpicas, já que o Brasil tinha, antes de Paris, 373 medalhas conquistadas, enquanto os esportes olímpicos somavam 170 pódios já contando com esta última edição na capital francesa.

Há também uma diferença de recursos chamativa entre o que foi recebido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o CPB. A maior fonte de investimentos recebidos pelo CPB é a Lei das Loterias. Em pouco mais de duas décadas, o CPB recebeu R$ 1,64 bilhão do Governo Federal, valor 40% menor do que o COB recebeu no mesmo período.

Uma resposta mais objetiva para o questionamento é que os Jogos Paralímpicos apresentam uma variedade maior de categorias dentro da mesma modalidade. Adria Santos, maior medalhista entre as mulheres na história dos Jogos Paralímpicos, conquistou 13 medalhas, sendo quatro ouros, na classe T11, onde os competidores correm ao lado do atleta-guia e usam o cordão de ligação.

No atletismo, existem classes para amputados, cadeirantes, deficientes intelectuais e visuais, por exemplo. Ou seja, se cada uma das classes tiverem mais de um atleta brasileiro competindo, a chance de medalha já torna-se maior do que nas Olimpíadas, onde as categorias são divididas entre masculino e feminino. Mas, muito além da quantidade, é preciso olhar para a qualidade desses atletas que representam o Brasil.

Os Jogos Paralímpicos de Paris-2024 elevaram ainda mais o patamar do Brasil, que se despede com sua melhor campanha da história em todos os aspectos possíveis. Até então com o top 7 como melhor colocação dentro do quadro de medalhas em uma edição de Paralimpíada, o País encerrou a participação na França como dono do inédito 5º lugar, com o recorde de 25 ouros e 89 do total de medalhas. Ficou abaixo apenas de China, Grã-Bretanha, EUA e Holanda.

Os últimos pódios foram celebrados neste domingo, dia final de competições. Nos 200m da classe VL2 (os atletas usam tronco e braços na remada) da canoagem, houve dobradinha brasileira. Fernando Rufino completou a prova em 50s47, recorde paralímpico, e foi bicampeão, depois de ter sido ouro nos Jogos de Tóquio. Atrás dele, veio Igor Rofalini, prata com 51s78. No halterofilismo, Tayana Medeiros ficou com o ouro na categoria até 86kg.

A meta do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) era conquistar de 70 a 90 pódios e terminar no top-8 do quadro de medalhas. Nos Jogos do Japão, em 2021, melhor desempenho até então, foram conquistados 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes – 72 pódios no total.

Mais do que as marcas expressivas, as competições em Paris consolidaram nomes que já eram icônicos para o esporte brasileiro como verdadeiras lendas. É o caso da nadadora Carol Santiago, que se tornou a maior medalhista de ouro brasileira da história dos Jogos Paralímpicos.

A nadadora Carol Santiago, que se tornou a maior medalhista de ouro brasileira da história dos Jogos Paralímpicos Foto: Alessandra Cabral/CPB

Campeã nos 100 metros costas e nos 100 metros livre na categoria S12 - destinada a atletas com deficiência visual pequena, mas significativa - e nos 50 metros livre da S13 - para casos de deficiência visual menos severa dentro da classificação - , ela ainda faturou prata nos 100 metros peito (SB12) e no revezamento 4x100m livre misto.

Junto ao desempenho já histórico que havia apresentado nos Jogos de Tóquio, em 2021, a pernambucana de 39 anos tem agora dez medalhas paralímpicas. São seis ouros, três pratas e um bronze, que a tornam a quinta na lista de representantes do Brasil com mais pódios, atrás de Daniel Dias (27), André Brasil (14), Clodoaldo Silva(14) e Ádria Santos (13).

A natação brasileira, de forma geral, trouxe muitas alegrias e rendeu 25 medalhas. Além de Carol, o País teve grande destaque com Gabriel Araújo, vencedor de três medalhas de ouros 100 metros costas, 50 metros costas e 200 metros livres, todos na classe S2, para nadadores com falta de coordenação motora de alto grau no tronco, nas pernas e nas mãos, e de baixo grau nos braços.

Com o desempenho, Gabrielzinho bateu a marca de seis medalhas paralímpicas, pois já havia conquistado dois ouros e uma prata nos Jogos de Tóquio, há três anos. Outro nadador brasileiro que subiu no primeiro lugar do pódio foi Talisson Glock, campeão dos 400 metros livre S6.

Apesar do sucesso da natação, a principal fonte de medalhas do Brasil foi o atletismo, que teve 35 pódios de atletas brasileiros, dos quais dez subiram no primeiro lugar. Estrela paralímpica, Petrúcio Ferreira foi ouro nos 100m T47 e celebrou sexta medalha da carreira. Ele já tinha um ouro e duas pratas conquistadas no Rio-2016, além de um ouro e um bronze nos Jogos de Tóquio2020.

Uma das grandes estrelas brasileiras em Paris foi Jerusa Geber, de 42 anos, que foi ouro nos 100 metros e nos 200 metros da classe T11. Foi a primeira vez que ela se tornou campeã em Jogos Paralímpicos, após dois bronzes em Pequim-2008 e pratas em Londres-2012 e Tóquio-2020.

Os demais ouros do atletismo vieram de Júlio Agripino dos Santos (500m T1), Ricardo Mendonça (100m T37), Fernanda Yara (400m T47), Yeltsin Jacques (1500m T11), Rayane Soares (400m T13), Claudiney Batista (lançamento de disco F56) e Elizabeth Gomes (lançamento de disco F53).

Outra paratleta que se colocou em um patamar ainda mais alto foi a halterofilista Mariana D’Andrea. Com a medalha de ouro conquistada em Paris na categoria até 73 kg, ela tornou-se bicampeã olímpica, pois já havia ficado em primeiro lugar na Paralimpíada passada.

Em sintonia com a tendência das Olimpíadas de Paris, em que o Brasil teve 12 de suas 20 medalhas conquistadas por mulheres, as Paralímpiadas também tiveram protagonismo feminino.

O ouro de D’Andrea foi um dos 13 conquistados por paratletas mulheres da delegação brasileira, um a mais do que os 12 ouros oriundos de competições masculina. No total de medalhas, as mulheres trouxeram menos medalhas que os homens, mas fizeram a melhor campanha da história com 43 pódios.

Por que o Brasil é uma potência paralímpica?

A resposta é, de fato, complexa. Mas é possível traçar um caminho feito pelas organizações e atletas paralímpicos ao longo das últimas décadas e que explicam o salto de qualidade que o Brasil teve e que foi obtido nas provas na capital francesa.

As principais razões que apontam o País como um dos destaques paralímpicos passam desde a lógica de que os investimentos geram resultados, principalmente a longo prazo, até um contexto social que é muito forte no Brasil.

Em um país onde as pessoas com deficiência encontram barreiras para praticar suas atividades mais simples do dia a dia nas ruas de quase todas as cidades, o esporte surge como uma realidade onde há, de fato, uma valorização diante do esforço e evolução constante de quem tem alguma limitação. E a combinação desses fatores com o talento de cada um dos atletas, vem colocando o Brasil como um destaque mundial.

De 2008, na edição de Pequim, para cá, o País sempre figurou no top 10 de melhores nações da competição. Mas o recorte de medalhas conquistadas evidencia um crescimento do esporte paralímpico a partir da realização dos jogos do Rio, em 2016. Nas duas últimas edições, o País levou 72 medalhas para casa. A título de comparação, em Londres, 2012, quando o Brasil também foi 7º colocado, foram “apenas” 43 pódios nos Jogos.

Hoje, a participação do Comitê Paralímpico Brasileiro está muito mais voltada para a formação de atletas e desenvolvimento das modalidades paralímpicas. Uma das heranças deixadas pela Rio 2016 foi justamente o centro de treinamento oficial do CPB, localizado em São Paulo. O espaço com mais de 100 mil metros quadrados é responsável por desenvolver 17 modalidades paralímpicas, tendo abrigado quase 1.500 eventos esportivos paralímpicos entre os Jogos do Rio e o começo de 2023.

No total, quase 90 mil atletas passaram pelas instalações, que custou R$ 264,2 milhões, investidos pelo Governo do Estado de São Paulo e pelo Governo Federal, por meio do Ministério dos Esportes. Mas os investimento não trariam os mesmos resultados se não houvesse, da parte do atleta, o foco e a vontade de se colocar em posição de destaque dentro de cada uma das modalidades.

O que explica o desempenho do Brasil ser melhor nas Paralimpíadas do que nas Olimpíadas

O questionamento sobre o bom desempenho do Brasil nos Jogos Paralímpicos também enviesa para o lado da comparação com os resultados do Brasil nos Jogos Olímpicos. Na edição de Paris, por exemplo, não conseguiu quebrar sua melhor marca da história. Em números absolutos, é possível criar uma balança que pesa mais para as disputas paralímpicas, já que o Brasil tinha, antes de Paris, 373 medalhas conquistadas, enquanto os esportes olímpicos somavam 170 pódios já contando com esta última edição na capital francesa.

Há também uma diferença de recursos chamativa entre o que foi recebido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o CPB. A maior fonte de investimentos recebidos pelo CPB é a Lei das Loterias. Em pouco mais de duas décadas, o CPB recebeu R$ 1,64 bilhão do Governo Federal, valor 40% menor do que o COB recebeu no mesmo período.

Uma resposta mais objetiva para o questionamento é que os Jogos Paralímpicos apresentam uma variedade maior de categorias dentro da mesma modalidade. Adria Santos, maior medalhista entre as mulheres na história dos Jogos Paralímpicos, conquistou 13 medalhas, sendo quatro ouros, na classe T11, onde os competidores correm ao lado do atleta-guia e usam o cordão de ligação.

No atletismo, existem classes para amputados, cadeirantes, deficientes intelectuais e visuais, por exemplo. Ou seja, se cada uma das classes tiverem mais de um atleta brasileiro competindo, a chance de medalha já torna-se maior do que nas Olimpíadas, onde as categorias são divididas entre masculino e feminino. Mas, muito além da quantidade, é preciso olhar para a qualidade desses atletas que representam o Brasil.

Os Jogos Paralímpicos de Paris-2024 elevaram ainda mais o patamar do Brasil, que se despede com sua melhor campanha da história em todos os aspectos possíveis. Até então com o top 7 como melhor colocação dentro do quadro de medalhas em uma edição de Paralimpíada, o País encerrou a participação na França como dono do inédito 5º lugar, com o recorde de 25 ouros e 89 do total de medalhas. Ficou abaixo apenas de China, Grã-Bretanha, EUA e Holanda.

Os últimos pódios foram celebrados neste domingo, dia final de competições. Nos 200m da classe VL2 (os atletas usam tronco e braços na remada) da canoagem, houve dobradinha brasileira. Fernando Rufino completou a prova em 50s47, recorde paralímpico, e foi bicampeão, depois de ter sido ouro nos Jogos de Tóquio. Atrás dele, veio Igor Rofalini, prata com 51s78. No halterofilismo, Tayana Medeiros ficou com o ouro na categoria até 86kg.

A meta do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) era conquistar de 70 a 90 pódios e terminar no top-8 do quadro de medalhas. Nos Jogos do Japão, em 2021, melhor desempenho até então, foram conquistados 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes – 72 pódios no total.

Mais do que as marcas expressivas, as competições em Paris consolidaram nomes que já eram icônicos para o esporte brasileiro como verdadeiras lendas. É o caso da nadadora Carol Santiago, que se tornou a maior medalhista de ouro brasileira da história dos Jogos Paralímpicos.

A nadadora Carol Santiago, que se tornou a maior medalhista de ouro brasileira da história dos Jogos Paralímpicos Foto: Alessandra Cabral/CPB

Campeã nos 100 metros costas e nos 100 metros livre na categoria S12 - destinada a atletas com deficiência visual pequena, mas significativa - e nos 50 metros livre da S13 - para casos de deficiência visual menos severa dentro da classificação - , ela ainda faturou prata nos 100 metros peito (SB12) e no revezamento 4x100m livre misto.

Junto ao desempenho já histórico que havia apresentado nos Jogos de Tóquio, em 2021, a pernambucana de 39 anos tem agora dez medalhas paralímpicas. São seis ouros, três pratas e um bronze, que a tornam a quinta na lista de representantes do Brasil com mais pódios, atrás de Daniel Dias (27), André Brasil (14), Clodoaldo Silva(14) e Ádria Santos (13).

A natação brasileira, de forma geral, trouxe muitas alegrias e rendeu 25 medalhas. Além de Carol, o País teve grande destaque com Gabriel Araújo, vencedor de três medalhas de ouros 100 metros costas, 50 metros costas e 200 metros livres, todos na classe S2, para nadadores com falta de coordenação motora de alto grau no tronco, nas pernas e nas mãos, e de baixo grau nos braços.

Com o desempenho, Gabrielzinho bateu a marca de seis medalhas paralímpicas, pois já havia conquistado dois ouros e uma prata nos Jogos de Tóquio, há três anos. Outro nadador brasileiro que subiu no primeiro lugar do pódio foi Talisson Glock, campeão dos 400 metros livre S6.

Apesar do sucesso da natação, a principal fonte de medalhas do Brasil foi o atletismo, que teve 35 pódios de atletas brasileiros, dos quais dez subiram no primeiro lugar. Estrela paralímpica, Petrúcio Ferreira foi ouro nos 100m T47 e celebrou sexta medalha da carreira. Ele já tinha um ouro e duas pratas conquistadas no Rio-2016, além de um ouro e um bronze nos Jogos de Tóquio2020.

Uma das grandes estrelas brasileiras em Paris foi Jerusa Geber, de 42 anos, que foi ouro nos 100 metros e nos 200 metros da classe T11. Foi a primeira vez que ela se tornou campeã em Jogos Paralímpicos, após dois bronzes em Pequim-2008 e pratas em Londres-2012 e Tóquio-2020.

Os demais ouros do atletismo vieram de Júlio Agripino dos Santos (500m T1), Ricardo Mendonça (100m T37), Fernanda Yara (400m T47), Yeltsin Jacques (1500m T11), Rayane Soares (400m T13), Claudiney Batista (lançamento de disco F56) e Elizabeth Gomes (lançamento de disco F53).

Outra paratleta que se colocou em um patamar ainda mais alto foi a halterofilista Mariana D’Andrea. Com a medalha de ouro conquistada em Paris na categoria até 73 kg, ela tornou-se bicampeã olímpica, pois já havia ficado em primeiro lugar na Paralimpíada passada.

Em sintonia com a tendência das Olimpíadas de Paris, em que o Brasil teve 12 de suas 20 medalhas conquistadas por mulheres, as Paralímpiadas também tiveram protagonismo feminino.

O ouro de D’Andrea foi um dos 13 conquistados por paratletas mulheres da delegação brasileira, um a mais do que os 12 ouros oriundos de competições masculina. No total de medalhas, as mulheres trouxeram menos medalhas que os homens, mas fizeram a melhor campanha da história com 43 pódios.

Por que o Brasil é uma potência paralímpica?

A resposta é, de fato, complexa. Mas é possível traçar um caminho feito pelas organizações e atletas paralímpicos ao longo das últimas décadas e que explicam o salto de qualidade que o Brasil teve e que foi obtido nas provas na capital francesa.

As principais razões que apontam o País como um dos destaques paralímpicos passam desde a lógica de que os investimentos geram resultados, principalmente a longo prazo, até um contexto social que é muito forte no Brasil.

Em um país onde as pessoas com deficiência encontram barreiras para praticar suas atividades mais simples do dia a dia nas ruas de quase todas as cidades, o esporte surge como uma realidade onde há, de fato, uma valorização diante do esforço e evolução constante de quem tem alguma limitação. E a combinação desses fatores com o talento de cada um dos atletas, vem colocando o Brasil como um destaque mundial.

De 2008, na edição de Pequim, para cá, o País sempre figurou no top 10 de melhores nações da competição. Mas o recorte de medalhas conquistadas evidencia um crescimento do esporte paralímpico a partir da realização dos jogos do Rio, em 2016. Nas duas últimas edições, o País levou 72 medalhas para casa. A título de comparação, em Londres, 2012, quando o Brasil também foi 7º colocado, foram “apenas” 43 pódios nos Jogos.

Hoje, a participação do Comitê Paralímpico Brasileiro está muito mais voltada para a formação de atletas e desenvolvimento das modalidades paralímpicas. Uma das heranças deixadas pela Rio 2016 foi justamente o centro de treinamento oficial do CPB, localizado em São Paulo. O espaço com mais de 100 mil metros quadrados é responsável por desenvolver 17 modalidades paralímpicas, tendo abrigado quase 1.500 eventos esportivos paralímpicos entre os Jogos do Rio e o começo de 2023.

No total, quase 90 mil atletas passaram pelas instalações, que custou R$ 264,2 milhões, investidos pelo Governo do Estado de São Paulo e pelo Governo Federal, por meio do Ministério dos Esportes. Mas os investimento não trariam os mesmos resultados se não houvesse, da parte do atleta, o foco e a vontade de se colocar em posição de destaque dentro de cada uma das modalidades.

O que explica o desempenho do Brasil ser melhor nas Paralimpíadas do que nas Olimpíadas

O questionamento sobre o bom desempenho do Brasil nos Jogos Paralímpicos também enviesa para o lado da comparação com os resultados do Brasil nos Jogos Olímpicos. Na edição de Paris, por exemplo, não conseguiu quebrar sua melhor marca da história. Em números absolutos, é possível criar uma balança que pesa mais para as disputas paralímpicas, já que o Brasil tinha, antes de Paris, 373 medalhas conquistadas, enquanto os esportes olímpicos somavam 170 pódios já contando com esta última edição na capital francesa.

Há também uma diferença de recursos chamativa entre o que foi recebido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o CPB. A maior fonte de investimentos recebidos pelo CPB é a Lei das Loterias. Em pouco mais de duas décadas, o CPB recebeu R$ 1,64 bilhão do Governo Federal, valor 40% menor do que o COB recebeu no mesmo período.

Uma resposta mais objetiva para o questionamento é que os Jogos Paralímpicos apresentam uma variedade maior de categorias dentro da mesma modalidade. Adria Santos, maior medalhista entre as mulheres na história dos Jogos Paralímpicos, conquistou 13 medalhas, sendo quatro ouros, na classe T11, onde os competidores correm ao lado do atleta-guia e usam o cordão de ligação.

No atletismo, existem classes para amputados, cadeirantes, deficientes intelectuais e visuais, por exemplo. Ou seja, se cada uma das classes tiverem mais de um atleta brasileiro competindo, a chance de medalha já torna-se maior do que nas Olimpíadas, onde as categorias são divididas entre masculino e feminino. Mas, muito além da quantidade, é preciso olhar para a qualidade desses atletas que representam o Brasil.

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