“Nadar rápido” era o que pensava o campeão olímpico César Cielo antes de entrar na água. Foi refletindo sobre a filosofia que desenvolveu durante as competições que o ex-nadador trocou a piscina pelos palcos. A nova carreira veio de forma natural, como ele ressaltou em entrevista exclusiva para o Estadão, após uma conversa promovida pela marca de roupas Vilebrequin.
A ideia do ex-atleta é buscar os 101%, e assim ele adaptou as lições aprendidas na piscina para suas palestras, procurando inspirar e provocar reflexões positivas em seu público. “Eu tento trazer essas provocações. Eu tento mostrar o que funcionou para mim, para eu chegar onde eu cheguei”, diz Cielo, enfatizando a importância da autenticidade em suas apresentações.
A possibilidade de motivar as pessoas é algo que, há dois anos, faz parte da vida do ex-atleta. “Quando eu estava nadando e pensando em tudo o que eu ia fazer, eu sabia que, se eu tivesse o resultado que eu queria, ia ter um impacto na minha comunidade. Sempre pensei nisso. E hoje, com a palestra, não é diferente. Quando uma pessoa vem me confrontar e dizer que o evento foi um divisor de água para ela, é o que mais me alegra”, conta.
O retorno das pessoas não é o único ganho do ex-nadador. Como palestrante, Cielo tem uma renda maior comparada ao que ganhava na época em que nadava. “Hoje eu ganho muito mais dinheiro do que eu ganhava quando era atleta, ainda hoje em dia tem atleta que sai do treino e vai ser Uber. É incomparável. Quando eu estava no auge do auge da minha carreira não rendia tanto quanto agora. O que realmente dá dinheiro são os eventos”.
Apesar do sucesso como palestrante, Cielo mantém uma visão realista sobre seu papel no mundo esportivo. Para ele, a preparação mental dos atletas de alto nível exige um acompanhamento especializado e próximo. Por esse motivo, ele disse que ministrar uma palestra para os atletas olímpicos neste momento é algo que não está nos planos, apesar de sua experiência e sucesso como atleta. “A gente de fora vai chegar falando besteira. É um momento tão sensível que se você falar um negócio errado, pode pegar mal. Tem que ser alguém próximo, o psiquiatra, psicólogo, família”, afirma.
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Chuva de medalhas
O campeão olímpico e recém-introduzido ao Hall da Fama da Natação Internacional demonstrou grande otimismo em relação ao desempenho do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris. “Eu acho que a gente vai ver medalha com muita frequência”, acredita o ex-nadador, destacando o potencial de diversas modalidades esportivas brasileiras.
Questionado sobre quais atletas poderiam trazer o ouro para o País, Cielo apontou Alison dos Santos, o Piu, como um dos favoritos. Ele também mencionou Rebeca Andrade na ginástica artística, apesar da forte concorrência de Simone Biles, e demonstrou confiança no vôlei feminino e em Duda e Ana Patrícia, que são a melhor dupla do vôlei de praia feminino do mundo atualmente.
“A gente está indo com um dos melhores times que o Brasil já teve. Falar em primeiro lugar é sempre difícil, pois pequenos detalhes fazem a diferença. Mas podemos voltar com muitos ouros, ou muitas pratas que, apesar de parecerem um desastre, nos mostram o quão perto estamos do topo. A diferença entre as duas medalhas é mínima, e nossos atletas estão prontos para lutar por cada centímetro no pódio”.
Caso Joel Jota
A escolha do nome de Joel Jota como padrinho do Time Brasil foi vista por Cielo como uma “trapalhada” do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Jota também foi nadador, mas de uma geração anterior à do atleta. “Eu vi a história, mas não entendi o que aconteceu. No fim das contas, acho que foi mais uma trapalhada do COB do que qualquer coisa”, limitou-se a dizer.
Atletas e ex-atletas, como os nadadores Joanna Maranhão e Bruno Fratus questionaram o COB pela escolha, por contradições na carreira de Jota que, além de padrinho, atuaria também como mentor. Com a polêmica, Jota decidiu abrir mão do cargo.
Nadar é preciso
Apesar de ter deixado as piscinas profissionalmente, Cielo continua a nadar pelo menos duas vezes por semana. Sempre presente no Instituto Cesar Cielo, localizado na zona leste de São Paulo, ele conta que, de vez em quando, desafia os meninos na água. ”Eu sei que eu não vou mais nadar aos cinquenta, mas se uma turminha mais nova vem e quer agitar, eu falo assim, ‘não, não, não, o titio aqui no vinte e cinco ainda ganha, não vem encher meu saco, respeita a minha história”, conta o ex-nadador, aos risos.
Com o prazer de nadar rápido, Cielo tem a intenção de voltar a repetir a marca de nove segundos em vinte e cinco metros, na piscina. O desafio, que pensa em começar em julho, é encarado por ele como uma espécie de “pré-olímpico” pessoal, mostrando que a competitividade da época de atleta continua em alta.