Como judô, modalidade que mais medalhas rendeu ao Brasil, se prepara para Paris-2024


País aposta na experiência para manter série de pódios olímpicos e de olho em renovação

Por Rodrigo Sampaio

O torcedor se acostumou a ver o judô brasileiro subindo ao pódio nas Olimpíadas. A modalidade, responsável pelo maior número de medalhas do País na história, será representada em Paris por um time bastante experiente, com alguns competidores em seu último ciclo. Eles serão responsáveis pela missão de manter uma tradição que já dura 40 anos: fazer o Brasil ter pelo menos um judoca medalhista.

A equipe que vai a Paris mescla juventude com experiência. Dos 13 atletas brasileiros em Paris, cinco já tiveram a honra de subir ao pódio olímpico. É o caso de Rafael Silva, o Baby, medalhista de bronze em Londres-2012 e Rio-2016. Aos 37 anos, o atleta mais experiente do time brasileiro vai para a sua quarta Olimpíada e se diz contente pela oportunidade de ainda estar competindo. Em Paris, existe a possibilidade de o último capítulo da trajetória olímpica do sul-mato-grossense ter como antagonista um personagem antigo. O francês Teddy Riner, lenda do judô, é o favorito ao ouro, especialmente por competir em casa.

“Se encontrar com ele depois das quartas de final, é melhor, mas treinar pensando nas classificações atrapalha um pouco. Eu tô muito feliz de estar para a olimpíada e treinando da melhor maneira possível para enfrentar qualquer adversário lá”, comenta Baby ao Estadão.

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Rafael Silva, o Baby, vai para a quarta Olimpíada, após não conseguir destaque em Tóquio. Foto: Wander Roberto/COB

Depois de passar em branco em Tóquio, Rafael Silva cogitou se aposentar, mas se reergueu com o bronze no Mundial de Judô no ano passado e prevê o Brasil conquistando de duas a três medalhas em Paris. O judoca já pensa no pós-carreira e planeja trabalhar com gestão no esporte. Ele vê a equipe brasileira “homogênea” e busca passar a sua experiência aos mais novos.

“A ideia é criar um ambiente vencedor. De estar presente no tatame, treinando junto. Acho que ter atletas medalhistas em um grupo como esse traz essa questão, de a molecada ver e pensar ‘se o cara conseguiu, eu também posso’”, comenta Baby.

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Os Jogos de Paris também marcam o retorno de Rafaela Silva às Olimpíadas. Campeã olímpica na Rio-2016, ela ficou fora da disputa em Tóquio após suspensão por doping. Um exame realizado após os Jogos Pan-Americanos de Lima apontou em seu organismo a presença de uma substância broncodilatadora não permitida. A judoca passou por momentos difíceis, teve de devolver a medalha de ouro e ficou dois anos longe dos tatames, retornando somente em 2022.

A carioca de 32 anos conquistou o ouro no Pan de Santiago, em 2023, e, assim como Baby e Mayra Aguiar, foi poupada da disputa no Mundial de Judô de Abu Dabi. Esperança de medalha em Paris, a judoca crê que chega em sua melhor versão para a disputa na capital francesa e rechaça a hipótese de aposentadoria após as Olimpíadas.

“O meu treinador, Geraldo Bernardes, sempre falou que eu me entrego ainda mais quando passo por um momento negativo na minha vida. Então esse período fora me fortaleceu muito na briga pela vaga em Paris. Acredito que chego um pouco melhor do que na Olimpíada Rio 2016, até porque são oito anos a mais treinando, trabalhando, com experiência, e isso vai fazer a diferença”, afirma.

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Rafaela Silva superou suspensão e conquistou o ouro no Pan-Americano 2023, na categoria até 57 kg. Foto: Wander Roberto/COB

Rafaela chega como cabeça de chave na categoria até 57 quilos, que tem como uma das favoritas a canadense Christa Deguchi, campeã mundial em 2019 e 2023, e medalhista de prata no Mundial deste ano. A brasileira, que pode ter pelo caminho Nora Gjakova, atleta do Kosovo que defende o ouro conquistado em Tóquio, afirma estar estudando bastante as adversárias e não vê favoritismo na disputa.

“Em uma olimpíada tudo pode acontecer. Às vezes a gente vê um favorito saindo na primeira ou na segunda rodada, ou também vê uma atleta que não teve um resultado expressivo dentro do ciclo assim, como eu cheguei em 2016, surpreender. As pessoas falaram que eu era uma incógnita, que, se um dia eu fui esperança de medalha, virei uma dúvida, e eu saí do Rio com uma medalha de ouro”, comenta.

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Cargnin busca retomar foco após desastre no RS

Medalha de bronze em Tóquio, Daniel Cargnin teve a preparação para Paris atrapalhada pela tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Natural de Porto Alegre, o atleta do Sogipa conciliou os treinos com trabalho voluntário de auxílio às vítimas das enchentes. O judoca de 26 reconhece que a situação mexeu com a sua cabeça, refletindo no quinto lugar no Mundial de Abu Dabi.

“Quando a parte física ‘vai embora’ é uma coisa, mas quando é o emocional, parece que é pior ainda. Eu estava indo para o Mundial pensando ‘o que eu tô indo fazer?’ Porque eu não estava treinando direito”, recorda Daniel.

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O brasileiro teve uma prévia do que pode encontrar em Paris no Mundial. Na disputa pelo bronze, ele encarou Ankhzaya Lavjargal, da Mongólia, e acabou perdendo após ser punido com três shidos. O gaúcho comenta que sofreu uma espécie de “apagão” durante a luta, se desconectando e deixando passar a chance do pódio. Recuperado dos problemas físicos que o acometeram durante o ciclo, incluindo cirurgias para tratar lesões na lombar e no tornozelo, Daniel agora prioriza a parte mental para não cometer erros em Paris.

Daniel Cargnin vem de uma conquista de medalha de bronze no Pan-Americano-2023. Foto: Gaspar Nóbrega/COB

“Acredito que a Olimpíada é uma competição emocional, mais do que outras competições. Porque todo mundo chega bem preparado e no seu auge. Quem tá com o emocional um pouco melhor sai com um passo na frente. Porque quando estamos felizes, já é um ponto a mais. Tem gente que chega lá no auge físico, mas está esgotado psicologicamente. Ver meu pai feliz indo me buscar no aeroporto em Santa Catarina e saber que as pessoas estavam torcendo por mim independentemente de pódio ou não foi um momento de felicidade.”

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Renovação

Além da experiência de medalhistas olímpicos e mundiais, o time brasileiro vai a Paris com novas caras que representam a renovação constante do judô brasileiro. Seis dos 13 convocados são estreantes: Michel Augusto (60kg), Willian Lima (66kg), Guilherme Schmidt (81kg), Leonardo Gonçalves (100kg), Natasha Ferreira (48kg) e Beatriz Souza (acima dos 78kg).

Natural de Mogi das Cruzes, William Lima é bicampeão pan-americano no peso meio-leve (até 66 quilos) e tem sete medalhas no circuito internacional. O judoca cresceu na reta final do ciclo olímpico, com ouro no Grand Prix da Croácia, e vai ser o cabeça de chave número 6. Apesar do franco favoritismo do japonês Abe Hifume em sua categoria, o paulista se permite sonhar com o pódio e destaca a confiança transmitida por atletas mais experientes do time brasileiro.

“É algo muito importante ir para as Olimpíadas ao lado de grandes ídolos que eu via na TV. Foram exatamente eles quem foram me deixando mais tranquilo e confiante ao longo do ciclo. É muito bom dividir o treinamento com quem sabe o caminho para voltar com a medalha olímpica”, diz William. “Se no próximo ciclo eu também puder inspirar outros atletas, será muito gratificante.”

Confira o time brasileiro do judô em Paris

Masculino

  • Willian Lima (até 66kg)
  • Daniel Cargnin (até 73kg)
  • Guilherme Schimidt (até 81kg)
  • Rafael Macedo (até 90kg)
  • Leonardo Gonçalves (até 100kg)
  • Rafael Silva (acima de 100kg)
  • Michel Augusto (até 60kg)

Feminino

  • Larissa Pimenta (até 52g)
  • Rafaela Silva (até 57kg)
  • Mayra Aguiar (até 78kg)
  • Beatriz Souza (acima de 63kg)
  • Natasha Ferreira (até 48kg)
  • Ketleyn Quadros (até 63kg)

O torcedor se acostumou a ver o judô brasileiro subindo ao pódio nas Olimpíadas. A modalidade, responsável pelo maior número de medalhas do País na história, será representada em Paris por um time bastante experiente, com alguns competidores em seu último ciclo. Eles serão responsáveis pela missão de manter uma tradição que já dura 40 anos: fazer o Brasil ter pelo menos um judoca medalhista.

A equipe que vai a Paris mescla juventude com experiência. Dos 13 atletas brasileiros em Paris, cinco já tiveram a honra de subir ao pódio olímpico. É o caso de Rafael Silva, o Baby, medalhista de bronze em Londres-2012 e Rio-2016. Aos 37 anos, o atleta mais experiente do time brasileiro vai para a sua quarta Olimpíada e se diz contente pela oportunidade de ainda estar competindo. Em Paris, existe a possibilidade de o último capítulo da trajetória olímpica do sul-mato-grossense ter como antagonista um personagem antigo. O francês Teddy Riner, lenda do judô, é o favorito ao ouro, especialmente por competir em casa.

“Se encontrar com ele depois das quartas de final, é melhor, mas treinar pensando nas classificações atrapalha um pouco. Eu tô muito feliz de estar para a olimpíada e treinando da melhor maneira possível para enfrentar qualquer adversário lá”, comenta Baby ao Estadão.

Rafael Silva, o Baby, vai para a quarta Olimpíada, após não conseguir destaque em Tóquio. Foto: Wander Roberto/COB

Depois de passar em branco em Tóquio, Rafael Silva cogitou se aposentar, mas se reergueu com o bronze no Mundial de Judô no ano passado e prevê o Brasil conquistando de duas a três medalhas em Paris. O judoca já pensa no pós-carreira e planeja trabalhar com gestão no esporte. Ele vê a equipe brasileira “homogênea” e busca passar a sua experiência aos mais novos.

“A ideia é criar um ambiente vencedor. De estar presente no tatame, treinando junto. Acho que ter atletas medalhistas em um grupo como esse traz essa questão, de a molecada ver e pensar ‘se o cara conseguiu, eu também posso’”, comenta Baby.

Os Jogos de Paris também marcam o retorno de Rafaela Silva às Olimpíadas. Campeã olímpica na Rio-2016, ela ficou fora da disputa em Tóquio após suspensão por doping. Um exame realizado após os Jogos Pan-Americanos de Lima apontou em seu organismo a presença de uma substância broncodilatadora não permitida. A judoca passou por momentos difíceis, teve de devolver a medalha de ouro e ficou dois anos longe dos tatames, retornando somente em 2022.

A carioca de 32 anos conquistou o ouro no Pan de Santiago, em 2023, e, assim como Baby e Mayra Aguiar, foi poupada da disputa no Mundial de Judô de Abu Dabi. Esperança de medalha em Paris, a judoca crê que chega em sua melhor versão para a disputa na capital francesa e rechaça a hipótese de aposentadoria após as Olimpíadas.

“O meu treinador, Geraldo Bernardes, sempre falou que eu me entrego ainda mais quando passo por um momento negativo na minha vida. Então esse período fora me fortaleceu muito na briga pela vaga em Paris. Acredito que chego um pouco melhor do que na Olimpíada Rio 2016, até porque são oito anos a mais treinando, trabalhando, com experiência, e isso vai fazer a diferença”, afirma.

Rafaela Silva superou suspensão e conquistou o ouro no Pan-Americano 2023, na categoria até 57 kg. Foto: Wander Roberto/COB

Rafaela chega como cabeça de chave na categoria até 57 quilos, que tem como uma das favoritas a canadense Christa Deguchi, campeã mundial em 2019 e 2023, e medalhista de prata no Mundial deste ano. A brasileira, que pode ter pelo caminho Nora Gjakova, atleta do Kosovo que defende o ouro conquistado em Tóquio, afirma estar estudando bastante as adversárias e não vê favoritismo na disputa.

“Em uma olimpíada tudo pode acontecer. Às vezes a gente vê um favorito saindo na primeira ou na segunda rodada, ou também vê uma atleta que não teve um resultado expressivo dentro do ciclo assim, como eu cheguei em 2016, surpreender. As pessoas falaram que eu era uma incógnita, que, se um dia eu fui esperança de medalha, virei uma dúvida, e eu saí do Rio com uma medalha de ouro”, comenta.

Cargnin busca retomar foco após desastre no RS

Medalha de bronze em Tóquio, Daniel Cargnin teve a preparação para Paris atrapalhada pela tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Natural de Porto Alegre, o atleta do Sogipa conciliou os treinos com trabalho voluntário de auxílio às vítimas das enchentes. O judoca de 26 reconhece que a situação mexeu com a sua cabeça, refletindo no quinto lugar no Mundial de Abu Dabi.

“Quando a parte física ‘vai embora’ é uma coisa, mas quando é o emocional, parece que é pior ainda. Eu estava indo para o Mundial pensando ‘o que eu tô indo fazer?’ Porque eu não estava treinando direito”, recorda Daniel.

O brasileiro teve uma prévia do que pode encontrar em Paris no Mundial. Na disputa pelo bronze, ele encarou Ankhzaya Lavjargal, da Mongólia, e acabou perdendo após ser punido com três shidos. O gaúcho comenta que sofreu uma espécie de “apagão” durante a luta, se desconectando e deixando passar a chance do pódio. Recuperado dos problemas físicos que o acometeram durante o ciclo, incluindo cirurgias para tratar lesões na lombar e no tornozelo, Daniel agora prioriza a parte mental para não cometer erros em Paris.

Daniel Cargnin vem de uma conquista de medalha de bronze no Pan-Americano-2023. Foto: Gaspar Nóbrega/COB

“Acredito que a Olimpíada é uma competição emocional, mais do que outras competições. Porque todo mundo chega bem preparado e no seu auge. Quem tá com o emocional um pouco melhor sai com um passo na frente. Porque quando estamos felizes, já é um ponto a mais. Tem gente que chega lá no auge físico, mas está esgotado psicologicamente. Ver meu pai feliz indo me buscar no aeroporto em Santa Catarina e saber que as pessoas estavam torcendo por mim independentemente de pódio ou não foi um momento de felicidade.”

Renovação

Além da experiência de medalhistas olímpicos e mundiais, o time brasileiro vai a Paris com novas caras que representam a renovação constante do judô brasileiro. Seis dos 13 convocados são estreantes: Michel Augusto (60kg), Willian Lima (66kg), Guilherme Schmidt (81kg), Leonardo Gonçalves (100kg), Natasha Ferreira (48kg) e Beatriz Souza (acima dos 78kg).

Natural de Mogi das Cruzes, William Lima é bicampeão pan-americano no peso meio-leve (até 66 quilos) e tem sete medalhas no circuito internacional. O judoca cresceu na reta final do ciclo olímpico, com ouro no Grand Prix da Croácia, e vai ser o cabeça de chave número 6. Apesar do franco favoritismo do japonês Abe Hifume em sua categoria, o paulista se permite sonhar com o pódio e destaca a confiança transmitida por atletas mais experientes do time brasileiro.

“É algo muito importante ir para as Olimpíadas ao lado de grandes ídolos que eu via na TV. Foram exatamente eles quem foram me deixando mais tranquilo e confiante ao longo do ciclo. É muito bom dividir o treinamento com quem sabe o caminho para voltar com a medalha olímpica”, diz William. “Se no próximo ciclo eu também puder inspirar outros atletas, será muito gratificante.”

Confira o time brasileiro do judô em Paris

Masculino

  • Willian Lima (até 66kg)
  • Daniel Cargnin (até 73kg)
  • Guilherme Schimidt (até 81kg)
  • Rafael Macedo (até 90kg)
  • Leonardo Gonçalves (até 100kg)
  • Rafael Silva (acima de 100kg)
  • Michel Augusto (até 60kg)

Feminino

  • Larissa Pimenta (até 52g)
  • Rafaela Silva (até 57kg)
  • Mayra Aguiar (até 78kg)
  • Beatriz Souza (acima de 63kg)
  • Natasha Ferreira (até 48kg)
  • Ketleyn Quadros (até 63kg)

O torcedor se acostumou a ver o judô brasileiro subindo ao pódio nas Olimpíadas. A modalidade, responsável pelo maior número de medalhas do País na história, será representada em Paris por um time bastante experiente, com alguns competidores em seu último ciclo. Eles serão responsáveis pela missão de manter uma tradição que já dura 40 anos: fazer o Brasil ter pelo menos um judoca medalhista.

A equipe que vai a Paris mescla juventude com experiência. Dos 13 atletas brasileiros em Paris, cinco já tiveram a honra de subir ao pódio olímpico. É o caso de Rafael Silva, o Baby, medalhista de bronze em Londres-2012 e Rio-2016. Aos 37 anos, o atleta mais experiente do time brasileiro vai para a sua quarta Olimpíada e se diz contente pela oportunidade de ainda estar competindo. Em Paris, existe a possibilidade de o último capítulo da trajetória olímpica do sul-mato-grossense ter como antagonista um personagem antigo. O francês Teddy Riner, lenda do judô, é o favorito ao ouro, especialmente por competir em casa.

“Se encontrar com ele depois das quartas de final, é melhor, mas treinar pensando nas classificações atrapalha um pouco. Eu tô muito feliz de estar para a olimpíada e treinando da melhor maneira possível para enfrentar qualquer adversário lá”, comenta Baby ao Estadão.

Rafael Silva, o Baby, vai para a quarta Olimpíada, após não conseguir destaque em Tóquio. Foto: Wander Roberto/COB

Depois de passar em branco em Tóquio, Rafael Silva cogitou se aposentar, mas se reergueu com o bronze no Mundial de Judô no ano passado e prevê o Brasil conquistando de duas a três medalhas em Paris. O judoca já pensa no pós-carreira e planeja trabalhar com gestão no esporte. Ele vê a equipe brasileira “homogênea” e busca passar a sua experiência aos mais novos.

“A ideia é criar um ambiente vencedor. De estar presente no tatame, treinando junto. Acho que ter atletas medalhistas em um grupo como esse traz essa questão, de a molecada ver e pensar ‘se o cara conseguiu, eu também posso’”, comenta Baby.

Os Jogos de Paris também marcam o retorno de Rafaela Silva às Olimpíadas. Campeã olímpica na Rio-2016, ela ficou fora da disputa em Tóquio após suspensão por doping. Um exame realizado após os Jogos Pan-Americanos de Lima apontou em seu organismo a presença de uma substância broncodilatadora não permitida. A judoca passou por momentos difíceis, teve de devolver a medalha de ouro e ficou dois anos longe dos tatames, retornando somente em 2022.

A carioca de 32 anos conquistou o ouro no Pan de Santiago, em 2023, e, assim como Baby e Mayra Aguiar, foi poupada da disputa no Mundial de Judô de Abu Dabi. Esperança de medalha em Paris, a judoca crê que chega em sua melhor versão para a disputa na capital francesa e rechaça a hipótese de aposentadoria após as Olimpíadas.

“O meu treinador, Geraldo Bernardes, sempre falou que eu me entrego ainda mais quando passo por um momento negativo na minha vida. Então esse período fora me fortaleceu muito na briga pela vaga em Paris. Acredito que chego um pouco melhor do que na Olimpíada Rio 2016, até porque são oito anos a mais treinando, trabalhando, com experiência, e isso vai fazer a diferença”, afirma.

Rafaela Silva superou suspensão e conquistou o ouro no Pan-Americano 2023, na categoria até 57 kg. Foto: Wander Roberto/COB

Rafaela chega como cabeça de chave na categoria até 57 quilos, que tem como uma das favoritas a canadense Christa Deguchi, campeã mundial em 2019 e 2023, e medalhista de prata no Mundial deste ano. A brasileira, que pode ter pelo caminho Nora Gjakova, atleta do Kosovo que defende o ouro conquistado em Tóquio, afirma estar estudando bastante as adversárias e não vê favoritismo na disputa.

“Em uma olimpíada tudo pode acontecer. Às vezes a gente vê um favorito saindo na primeira ou na segunda rodada, ou também vê uma atleta que não teve um resultado expressivo dentro do ciclo assim, como eu cheguei em 2016, surpreender. As pessoas falaram que eu era uma incógnita, que, se um dia eu fui esperança de medalha, virei uma dúvida, e eu saí do Rio com uma medalha de ouro”, comenta.

Cargnin busca retomar foco após desastre no RS

Medalha de bronze em Tóquio, Daniel Cargnin teve a preparação para Paris atrapalhada pela tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Natural de Porto Alegre, o atleta do Sogipa conciliou os treinos com trabalho voluntário de auxílio às vítimas das enchentes. O judoca de 26 reconhece que a situação mexeu com a sua cabeça, refletindo no quinto lugar no Mundial de Abu Dabi.

“Quando a parte física ‘vai embora’ é uma coisa, mas quando é o emocional, parece que é pior ainda. Eu estava indo para o Mundial pensando ‘o que eu tô indo fazer?’ Porque eu não estava treinando direito”, recorda Daniel.

O brasileiro teve uma prévia do que pode encontrar em Paris no Mundial. Na disputa pelo bronze, ele encarou Ankhzaya Lavjargal, da Mongólia, e acabou perdendo após ser punido com três shidos. O gaúcho comenta que sofreu uma espécie de “apagão” durante a luta, se desconectando e deixando passar a chance do pódio. Recuperado dos problemas físicos que o acometeram durante o ciclo, incluindo cirurgias para tratar lesões na lombar e no tornozelo, Daniel agora prioriza a parte mental para não cometer erros em Paris.

Daniel Cargnin vem de uma conquista de medalha de bronze no Pan-Americano-2023. Foto: Gaspar Nóbrega/COB

“Acredito que a Olimpíada é uma competição emocional, mais do que outras competições. Porque todo mundo chega bem preparado e no seu auge. Quem tá com o emocional um pouco melhor sai com um passo na frente. Porque quando estamos felizes, já é um ponto a mais. Tem gente que chega lá no auge físico, mas está esgotado psicologicamente. Ver meu pai feliz indo me buscar no aeroporto em Santa Catarina e saber que as pessoas estavam torcendo por mim independentemente de pódio ou não foi um momento de felicidade.”

Renovação

Além da experiência de medalhistas olímpicos e mundiais, o time brasileiro vai a Paris com novas caras que representam a renovação constante do judô brasileiro. Seis dos 13 convocados são estreantes: Michel Augusto (60kg), Willian Lima (66kg), Guilherme Schmidt (81kg), Leonardo Gonçalves (100kg), Natasha Ferreira (48kg) e Beatriz Souza (acima dos 78kg).

Natural de Mogi das Cruzes, William Lima é bicampeão pan-americano no peso meio-leve (até 66 quilos) e tem sete medalhas no circuito internacional. O judoca cresceu na reta final do ciclo olímpico, com ouro no Grand Prix da Croácia, e vai ser o cabeça de chave número 6. Apesar do franco favoritismo do japonês Abe Hifume em sua categoria, o paulista se permite sonhar com o pódio e destaca a confiança transmitida por atletas mais experientes do time brasileiro.

“É algo muito importante ir para as Olimpíadas ao lado de grandes ídolos que eu via na TV. Foram exatamente eles quem foram me deixando mais tranquilo e confiante ao longo do ciclo. É muito bom dividir o treinamento com quem sabe o caminho para voltar com a medalha olímpica”, diz William. “Se no próximo ciclo eu também puder inspirar outros atletas, será muito gratificante.”

Confira o time brasileiro do judô em Paris

Masculino

  • Willian Lima (até 66kg)
  • Daniel Cargnin (até 73kg)
  • Guilherme Schimidt (até 81kg)
  • Rafael Macedo (até 90kg)
  • Leonardo Gonçalves (até 100kg)
  • Rafael Silva (acima de 100kg)
  • Michel Augusto (até 60kg)

Feminino

  • Larissa Pimenta (até 52g)
  • Rafaela Silva (até 57kg)
  • Mayra Aguiar (até 78kg)
  • Beatriz Souza (acima de 63kg)
  • Natasha Ferreira (até 48kg)
  • Ketleyn Quadros (até 63kg)

O torcedor se acostumou a ver o judô brasileiro subindo ao pódio nas Olimpíadas. A modalidade, responsável pelo maior número de medalhas do País na história, será representada em Paris por um time bastante experiente, com alguns competidores em seu último ciclo. Eles serão responsáveis pela missão de manter uma tradição que já dura 40 anos: fazer o Brasil ter pelo menos um judoca medalhista.

A equipe que vai a Paris mescla juventude com experiência. Dos 13 atletas brasileiros em Paris, cinco já tiveram a honra de subir ao pódio olímpico. É o caso de Rafael Silva, o Baby, medalhista de bronze em Londres-2012 e Rio-2016. Aos 37 anos, o atleta mais experiente do time brasileiro vai para a sua quarta Olimpíada e se diz contente pela oportunidade de ainda estar competindo. Em Paris, existe a possibilidade de o último capítulo da trajetória olímpica do sul-mato-grossense ter como antagonista um personagem antigo. O francês Teddy Riner, lenda do judô, é o favorito ao ouro, especialmente por competir em casa.

“Se encontrar com ele depois das quartas de final, é melhor, mas treinar pensando nas classificações atrapalha um pouco. Eu tô muito feliz de estar para a olimpíada e treinando da melhor maneira possível para enfrentar qualquer adversário lá”, comenta Baby ao Estadão.

Rafael Silva, o Baby, vai para a quarta Olimpíada, após não conseguir destaque em Tóquio. Foto: Wander Roberto/COB

Depois de passar em branco em Tóquio, Rafael Silva cogitou se aposentar, mas se reergueu com o bronze no Mundial de Judô no ano passado e prevê o Brasil conquistando de duas a três medalhas em Paris. O judoca já pensa no pós-carreira e planeja trabalhar com gestão no esporte. Ele vê a equipe brasileira “homogênea” e busca passar a sua experiência aos mais novos.

“A ideia é criar um ambiente vencedor. De estar presente no tatame, treinando junto. Acho que ter atletas medalhistas em um grupo como esse traz essa questão, de a molecada ver e pensar ‘se o cara conseguiu, eu também posso’”, comenta Baby.

Os Jogos de Paris também marcam o retorno de Rafaela Silva às Olimpíadas. Campeã olímpica na Rio-2016, ela ficou fora da disputa em Tóquio após suspensão por doping. Um exame realizado após os Jogos Pan-Americanos de Lima apontou em seu organismo a presença de uma substância broncodilatadora não permitida. A judoca passou por momentos difíceis, teve de devolver a medalha de ouro e ficou dois anos longe dos tatames, retornando somente em 2022.

A carioca de 32 anos conquistou o ouro no Pan de Santiago, em 2023, e, assim como Baby e Mayra Aguiar, foi poupada da disputa no Mundial de Judô de Abu Dabi. Esperança de medalha em Paris, a judoca crê que chega em sua melhor versão para a disputa na capital francesa e rechaça a hipótese de aposentadoria após as Olimpíadas.

“O meu treinador, Geraldo Bernardes, sempre falou que eu me entrego ainda mais quando passo por um momento negativo na minha vida. Então esse período fora me fortaleceu muito na briga pela vaga em Paris. Acredito que chego um pouco melhor do que na Olimpíada Rio 2016, até porque são oito anos a mais treinando, trabalhando, com experiência, e isso vai fazer a diferença”, afirma.

Rafaela Silva superou suspensão e conquistou o ouro no Pan-Americano 2023, na categoria até 57 kg. Foto: Wander Roberto/COB

Rafaela chega como cabeça de chave na categoria até 57 quilos, que tem como uma das favoritas a canadense Christa Deguchi, campeã mundial em 2019 e 2023, e medalhista de prata no Mundial deste ano. A brasileira, que pode ter pelo caminho Nora Gjakova, atleta do Kosovo que defende o ouro conquistado em Tóquio, afirma estar estudando bastante as adversárias e não vê favoritismo na disputa.

“Em uma olimpíada tudo pode acontecer. Às vezes a gente vê um favorito saindo na primeira ou na segunda rodada, ou também vê uma atleta que não teve um resultado expressivo dentro do ciclo assim, como eu cheguei em 2016, surpreender. As pessoas falaram que eu era uma incógnita, que, se um dia eu fui esperança de medalha, virei uma dúvida, e eu saí do Rio com uma medalha de ouro”, comenta.

Cargnin busca retomar foco após desastre no RS

Medalha de bronze em Tóquio, Daniel Cargnin teve a preparação para Paris atrapalhada pela tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Natural de Porto Alegre, o atleta do Sogipa conciliou os treinos com trabalho voluntário de auxílio às vítimas das enchentes. O judoca de 26 reconhece que a situação mexeu com a sua cabeça, refletindo no quinto lugar no Mundial de Abu Dabi.

“Quando a parte física ‘vai embora’ é uma coisa, mas quando é o emocional, parece que é pior ainda. Eu estava indo para o Mundial pensando ‘o que eu tô indo fazer?’ Porque eu não estava treinando direito”, recorda Daniel.

O brasileiro teve uma prévia do que pode encontrar em Paris no Mundial. Na disputa pelo bronze, ele encarou Ankhzaya Lavjargal, da Mongólia, e acabou perdendo após ser punido com três shidos. O gaúcho comenta que sofreu uma espécie de “apagão” durante a luta, se desconectando e deixando passar a chance do pódio. Recuperado dos problemas físicos que o acometeram durante o ciclo, incluindo cirurgias para tratar lesões na lombar e no tornozelo, Daniel agora prioriza a parte mental para não cometer erros em Paris.

Daniel Cargnin vem de uma conquista de medalha de bronze no Pan-Americano-2023. Foto: Gaspar Nóbrega/COB

“Acredito que a Olimpíada é uma competição emocional, mais do que outras competições. Porque todo mundo chega bem preparado e no seu auge. Quem tá com o emocional um pouco melhor sai com um passo na frente. Porque quando estamos felizes, já é um ponto a mais. Tem gente que chega lá no auge físico, mas está esgotado psicologicamente. Ver meu pai feliz indo me buscar no aeroporto em Santa Catarina e saber que as pessoas estavam torcendo por mim independentemente de pódio ou não foi um momento de felicidade.”

Renovação

Além da experiência de medalhistas olímpicos e mundiais, o time brasileiro vai a Paris com novas caras que representam a renovação constante do judô brasileiro. Seis dos 13 convocados são estreantes: Michel Augusto (60kg), Willian Lima (66kg), Guilherme Schmidt (81kg), Leonardo Gonçalves (100kg), Natasha Ferreira (48kg) e Beatriz Souza (acima dos 78kg).

Natural de Mogi das Cruzes, William Lima é bicampeão pan-americano no peso meio-leve (até 66 quilos) e tem sete medalhas no circuito internacional. O judoca cresceu na reta final do ciclo olímpico, com ouro no Grand Prix da Croácia, e vai ser o cabeça de chave número 6. Apesar do franco favoritismo do japonês Abe Hifume em sua categoria, o paulista se permite sonhar com o pódio e destaca a confiança transmitida por atletas mais experientes do time brasileiro.

“É algo muito importante ir para as Olimpíadas ao lado de grandes ídolos que eu via na TV. Foram exatamente eles quem foram me deixando mais tranquilo e confiante ao longo do ciclo. É muito bom dividir o treinamento com quem sabe o caminho para voltar com a medalha olímpica”, diz William. “Se no próximo ciclo eu também puder inspirar outros atletas, será muito gratificante.”

Confira o time brasileiro do judô em Paris

Masculino

  • Willian Lima (até 66kg)
  • Daniel Cargnin (até 73kg)
  • Guilherme Schimidt (até 81kg)
  • Rafael Macedo (até 90kg)
  • Leonardo Gonçalves (até 100kg)
  • Rafael Silva (acima de 100kg)
  • Michel Augusto (até 60kg)

Feminino

  • Larissa Pimenta (até 52g)
  • Rafaela Silva (até 57kg)
  • Mayra Aguiar (até 78kg)
  • Beatriz Souza (acima de 63kg)
  • Natasha Ferreira (até 48kg)
  • Ketleyn Quadros (até 63kg)

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