O Comitê Olímpico Internacional (COI) tem acusado a Rússia de violar a Carta Olímpica ao lançar uma competição que busca ser uma alternativa aos Jogos Olímpicos, sob o nome de “Jogos da Amizade”. O evento será realizado em Moscou e Ecaterimburgo em setembro deste ano, um mês depois do fim da Olimpíada de Paris, cuja abertura será em 26 de julho, e deve distribuir US$ 50 milhões (R$ 250 milhões) em premiação.
O governo russo criou e financiou a Associação Internacional da Amizade (IFA) com o objetivo de organizar os Jogos da Amizade no verão, em agosto, e no inverno de 2026, em Sochi A Rússia terá uma participação muito restrita nos Jogos Olímpicos de Paris, devido às sanções resultantes da invasão à Ucrânia, há mais de dois anos, e à suspensão do Comitê Olímpico Russo.
Em modalidades individuais, apenas alguns atletas, que não apoiaram a guerra e não pertencem a clubes do exército, poderão competir na capital francesa, mas sob bandeira neutra e sem ouvir o hino de seu país. Russos e bielorrussos estão proibidos de participar do desfile dos atletas na cerimônia de abertura da Olimpíada. A estimativa é de que não mais do que 36 atletas russos e 22 bielorrussos devam competir em Paris.
Diante da ofensiva da Rússia para que embaixadores e autoridades entrem em contato com governos de todo o mundo para incentivar a participação em seus jogos alternativos, o COI contra-atacou e pediu aos governos e organizações esportivas que não participem da competição. A acusação do COI é de que esse evento tem caráter político e viola a Carta Olímpica.
O Comitê Olímpico do Brasil (COB) foi um dos convidados para que o Time Brasil participe dos Jogos Alternativos, mas declinou. “O Comitê Olímpico do Brasil foi convidado, mas o foco total da entidade está no projeto olímpico Paris 2024. Portanto, o COB não participará dos Jogos da Amizade”, afirmou o COB em nota enviada ao Estadão.
Contra-ataque do COI
Em uma “declaração contra a politização do esporte”, emitida recentemente, o COI disse que o governo russo pretende organizar eventos esportivos na Rússia “com motivações puramente políticas”, contrariando os princípios fundamentais da Carta Olímpica e as resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Conforme a acusação do COI, “o governo russo lançou uma ofensiva diplomática muito intensa” para que embaixadores e autoridades entrem em contato com governos de todo o mundo para incentivar a participação em seus jogos alternativos.
“Para tornar sua motivação puramente política ainda mais evidente, eles estão deliberadamente contornando as organizações esportivas dos países que têm como alvo. Essa é uma violação flagrante da Carta Olímpica e, ao mesmo tempo, uma violação das várias resoluções da ONU”, afirmou o órgão que comanda o esporte olímpico mundialmente.
Na avaliação do COI, trata-se de “uma tentativa cínica da Federação Russa de politizar o esporte”. A entidade avisou que sua comissão de atleta, que representa todos os atletas olímpicos do mundo, se opõe “ao uso de atletas para propaganda política”.
O COI também lembrou que a Agência Mundial Antidoping (WADA) fez o alerta recente de que as competições que a Rússia vai organizar estão fora de controle do órgão que fiscaliza os casos de doping no esporte mundial.
“O governo russo também mostra uma total falta de respeito pelas regras globais antidoping e pela integridade das competições. Este é o mesmo governo que foi implicado no programa de doping sistêmico nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi 2014 e, posteriormente, na manipulação de dados antidoping”, argumentou o COI.
Resposta russa
Ao denunciar que o COI pretende sancionar os atletas que possam participar nos “Jogos da Amizade”, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, disse que as decisões do órgão são ilegais, injustas e inaceitáveis.
“Estamos escandalizados com as condições discriminatórias sem precedentes impostas pelo Comitê Olímpico Internacional aos atletas russos”, declarou Zakharova. O governo russo também acusou o COI de querer intimidar os atletas que estão dispostos a participar dos jogos promovidos por Moscou, depois que o diretor de Solidariedade Olímpica do COI, James Macleod, indicou a existência de sanções.
“É uma intimidação dos atletas. E isso enfraquece completamente a autoridade do COI”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.