Como se tornar favorito do público na Globo? Everaldo Marques tem receita: ‘Leveza e sem exagero’


Ao lado de Luis Roberto, narrador será a principal voz da emissora carioca nos Jogos Olímpicos de Paris

Por Marcos Antomil
Foto: Helena Barreto/Globo
Entrevista comEveraldo MarquesNarrador do Grupo Globo

“Cereja não salva bolo ruim”. Everaldo Marques é um dos raros casos de narradores da Globo que não são alvos de comentários raivosos e odiosos nas redes sociais. A simpatia do grande público foi construída ao longo de praticamente 20 anos na função e para isso o locutor tem uma receita, que não está pronta, segundo ele, mas ajuda a compreender o apoio que encontra da audiência.

“Eu não sei o que faz o público gostar de mim: se é pela forma mais leve de narrar, sem exageros... Eu não quero que a minha narração seja a grande atração. A grande atração é o jogo. O que tento é não atrapalhar, contextualizar e comunicar de maneira leve”, afirmou em entrevista ao Estadão. Everaldo será, ao lado de Luis Roberto, o principal nome da Globo na transmissão dos Jogos Olímpicos de Paris.

Diretamente dos estúdios da emissora no Rio de Janeiro, o locutor conta a seu favor com a versatilidade e a habilidade de narrar diversas modalidades. “Eu não controlo qual evento vou fazer na Globo, o que controlo é a qualidade do que eu faço, quanto eu estudo, me preparo e faço bem o meu trabalho”.

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Conhecido pelos bordões e uso de expressões populares, como “enquanto tem bambu tem flecha”, Everaldo reconhece a importância dessas frases nas suas transmissões, mas afirma que não é esse seu foco. “O bordão é a cereja do bolo, estou preocupado com o bolo. Se o bolo for ruim, não é a cereja que vai salvar o bolo, que é a informação correta, conhecimento e emoção. Eu sei a cereja que leva aos trending topics, mas eu não estou preocupado com isso”.

Como é narrar pela primeira vez uma modalidade?

Nosso papel na TV aberta é explicar e traduzir as modalidades menos conhecidas para o grande público. Muitos vão torcer pelo Brasil e acompanhar pela primeira vez determinado esporte. Vamos ter novos torcedores do tiro com arco, esgrima... Tento entender ao máximo as nuances de cada esporte para, na transmissão, explicar a dinâmica da competição. Sempre tive esse desafio de levar modalidades novas ao público, como foi com futebol americano na ESPN, por exemplo. Não posso ter vergonha de ser didático, dada a heterogeneidade do público da TV aberta.

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Como você enxerga a decisão da Globo de não ter narradores in loco nos Jogos Olímpicos?

Se estivéssemos in loco, a variedade de modalidades talvez não fosse tão numerosa, porque você pode estar na arena do vôlei de praia e depois fazer outro esporte, o que exige um deslocamento. Estando todos no mesmo estúdio, é mais fácil fazer essa transição.

Qual a diferença entre narrar no local da competição e no estúdio?

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O principal ponto é o ambiente. Estando lá, você sente essa energia. Mas, a qualidade da transmissão melhorou muito ao longo dos anos. Os estúdios estão prontos para nos dar o maior apoio com o que há de mais moderno tecnologicamente. Décadas atrás, estar na arena de competição fazia diferença quanto às informações, como saber quem vai ocupar cada raia numa prova de velocidade do atletismo. Hoje, não faz mais diferença. Além disso, o acesso aos atletas é muito mais restrito.

Em sua chegada à Globo, no início de 2020, houve pedido para que sua narração sofresse algum ajuste em relação ao que fazia na ESPN?

No mês que antecedeu minha estreia, ninguém falou nada comigo sobre isso. Mas na noite em que fui fazer minha estreia, em um jogo da NBA no SporTV, meia hora antes, mandei mensagem para um dos meus chefes perguntando. A resposta foi: ‘Nós contratamos o Everaldo Marques da ESPN’. Desde então, não me preocupei mais com isso. O que faço conscientemente é o cuidado com a linguagem dependendo do canal da transmissão, se SporTV ou Globo. Na TV aberta, o público não é formado majoritariamente por fanáticos de determinado esporte.

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Everaldo Marques ficou longos anos na ESPN e mudou para o Grupo Globo em 2020. Foto: João Cotta/TV Globo

Como lida com a sua ambição profissional em um espaço tão competitivo?

Todos nós, somos mais de 30 narradores no Grupo Globo, temos os nossos sonhos, gostaríamos de narrar as grandes finais... Mas chega na final da Copa do Mundo, há só uma final de Copa do Mundo e só dois narradores vão transmitir (um na Globo, outro no SporTV). A única coisa que controlo é a qualidade do meu trabalho, não sou eu quem defino quais eventos vou narrar. O que controlo é a qualidade do que eu faço, quanto eu estudo, me preparo e faço bem o meu trabalho.

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Com o Luís Roberto, tenho uma amizade desde o início dos anos 2000, ele sempre foi muito gentil comigo, principalmente na minha chegada na emissora. Com o Villani e a Renata, também tenho uma relação tranquila. Eu me dou bem com todo mundo, sem problemas de ego.

Qual evento não narrou e gostaria de ter narrado?

Eu gostaria de ter narrado aqueles eventos que na infância me fizeram ser apaixonado pelo esporte e pela profissão. Eu gosto tanto das transmissões como dos esportes. Quando criança, eu assistia às transmissões como um laboratório na minha cabeço para o que viria a ser minha profissão. Quero ser narrador desde os oito anos. Eu ficava encantado com os narradores e construí meu estilo tendo a técnica de grandes profissionais como referência. A época de ouro do Brasil na Fórmula 1, lutas do Mike Tyson, jogos do Michael Jordan e do Magic Johnson, a seleção de vôlei em 1992. A primeira lembrança que tenho de vida é o Joaquim Cruz dando a volta olímpica com a bandeirinha do Brasil comemorando a medalha nos 800m rasos nos Jogos de Los Angeles, em 1984. Aquela transmissão acompanhei na Bandeirantes na voz do Álvaro José.

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Alguém vai alcançar o posto no altar da narração esportiva da televisão que conta com Luciano do Valle, Galvão Bueno e Silvio Luiz?

Eu acho que essa posição é inviolável. No auge desses três, a TV aberta tinha uma exclusividade que hoje não tem mais. Eles foram os protagonistas de uma era em que a TV aberta era a única forma de acompanhar os principais eventos esportivos.

Você assiste às reprises das suas transmissões?

Sim, mas não fico focado apenas nos melhores momentos. Gosto de ver um evento todo para notar justamente os momentos intermediários. É nesses que me concentro para pensar no que poderia fazer de diferente. Os cinco minutos de grandes emoções eu costumo ir bem. O trabalho de cuidado é nos outros minutos.

“Cereja não salva bolo ruim”. Everaldo Marques é um dos raros casos de narradores da Globo que não são alvos de comentários raivosos e odiosos nas redes sociais. A simpatia do grande público foi construída ao longo de praticamente 20 anos na função e para isso o locutor tem uma receita, que não está pronta, segundo ele, mas ajuda a compreender o apoio que encontra da audiência.

“Eu não sei o que faz o público gostar de mim: se é pela forma mais leve de narrar, sem exageros... Eu não quero que a minha narração seja a grande atração. A grande atração é o jogo. O que tento é não atrapalhar, contextualizar e comunicar de maneira leve”, afirmou em entrevista ao Estadão. Everaldo será, ao lado de Luis Roberto, o principal nome da Globo na transmissão dos Jogos Olímpicos de Paris.

Diretamente dos estúdios da emissora no Rio de Janeiro, o locutor conta a seu favor com a versatilidade e a habilidade de narrar diversas modalidades. “Eu não controlo qual evento vou fazer na Globo, o que controlo é a qualidade do que eu faço, quanto eu estudo, me preparo e faço bem o meu trabalho”.

Conhecido pelos bordões e uso de expressões populares, como “enquanto tem bambu tem flecha”, Everaldo reconhece a importância dessas frases nas suas transmissões, mas afirma que não é esse seu foco. “O bordão é a cereja do bolo, estou preocupado com o bolo. Se o bolo for ruim, não é a cereja que vai salvar o bolo, que é a informação correta, conhecimento e emoção. Eu sei a cereja que leva aos trending topics, mas eu não estou preocupado com isso”.

Como é narrar pela primeira vez uma modalidade?

Nosso papel na TV aberta é explicar e traduzir as modalidades menos conhecidas para o grande público. Muitos vão torcer pelo Brasil e acompanhar pela primeira vez determinado esporte. Vamos ter novos torcedores do tiro com arco, esgrima... Tento entender ao máximo as nuances de cada esporte para, na transmissão, explicar a dinâmica da competição. Sempre tive esse desafio de levar modalidades novas ao público, como foi com futebol americano na ESPN, por exemplo. Não posso ter vergonha de ser didático, dada a heterogeneidade do público da TV aberta.

Como você enxerga a decisão da Globo de não ter narradores in loco nos Jogos Olímpicos?

Se estivéssemos in loco, a variedade de modalidades talvez não fosse tão numerosa, porque você pode estar na arena do vôlei de praia e depois fazer outro esporte, o que exige um deslocamento. Estando todos no mesmo estúdio, é mais fácil fazer essa transição.

Qual a diferença entre narrar no local da competição e no estúdio?

O principal ponto é o ambiente. Estando lá, você sente essa energia. Mas, a qualidade da transmissão melhorou muito ao longo dos anos. Os estúdios estão prontos para nos dar o maior apoio com o que há de mais moderno tecnologicamente. Décadas atrás, estar na arena de competição fazia diferença quanto às informações, como saber quem vai ocupar cada raia numa prova de velocidade do atletismo. Hoje, não faz mais diferença. Além disso, o acesso aos atletas é muito mais restrito.

Em sua chegada à Globo, no início de 2020, houve pedido para que sua narração sofresse algum ajuste em relação ao que fazia na ESPN?

No mês que antecedeu minha estreia, ninguém falou nada comigo sobre isso. Mas na noite em que fui fazer minha estreia, em um jogo da NBA no SporTV, meia hora antes, mandei mensagem para um dos meus chefes perguntando. A resposta foi: ‘Nós contratamos o Everaldo Marques da ESPN’. Desde então, não me preocupei mais com isso. O que faço conscientemente é o cuidado com a linguagem dependendo do canal da transmissão, se SporTV ou Globo. Na TV aberta, o público não é formado majoritariamente por fanáticos de determinado esporte.

Everaldo Marques ficou longos anos na ESPN e mudou para o Grupo Globo em 2020. Foto: João Cotta/TV Globo

Como lida com a sua ambição profissional em um espaço tão competitivo?

Todos nós, somos mais de 30 narradores no Grupo Globo, temos os nossos sonhos, gostaríamos de narrar as grandes finais... Mas chega na final da Copa do Mundo, há só uma final de Copa do Mundo e só dois narradores vão transmitir (um na Globo, outro no SporTV). A única coisa que controlo é a qualidade do meu trabalho, não sou eu quem defino quais eventos vou narrar. O que controlo é a qualidade do que eu faço, quanto eu estudo, me preparo e faço bem o meu trabalho.

Com o Luís Roberto, tenho uma amizade desde o início dos anos 2000, ele sempre foi muito gentil comigo, principalmente na minha chegada na emissora. Com o Villani e a Renata, também tenho uma relação tranquila. Eu me dou bem com todo mundo, sem problemas de ego.

Qual evento não narrou e gostaria de ter narrado?

Eu gostaria de ter narrado aqueles eventos que na infância me fizeram ser apaixonado pelo esporte e pela profissão. Eu gosto tanto das transmissões como dos esportes. Quando criança, eu assistia às transmissões como um laboratório na minha cabeço para o que viria a ser minha profissão. Quero ser narrador desde os oito anos. Eu ficava encantado com os narradores e construí meu estilo tendo a técnica de grandes profissionais como referência. A época de ouro do Brasil na Fórmula 1, lutas do Mike Tyson, jogos do Michael Jordan e do Magic Johnson, a seleção de vôlei em 1992. A primeira lembrança que tenho de vida é o Joaquim Cruz dando a volta olímpica com a bandeirinha do Brasil comemorando a medalha nos 800m rasos nos Jogos de Los Angeles, em 1984. Aquela transmissão acompanhei na Bandeirantes na voz do Álvaro José.

Alguém vai alcançar o posto no altar da narração esportiva da televisão que conta com Luciano do Valle, Galvão Bueno e Silvio Luiz?

Eu acho que essa posição é inviolável. No auge desses três, a TV aberta tinha uma exclusividade que hoje não tem mais. Eles foram os protagonistas de uma era em que a TV aberta era a única forma de acompanhar os principais eventos esportivos.

Você assiste às reprises das suas transmissões?

Sim, mas não fico focado apenas nos melhores momentos. Gosto de ver um evento todo para notar justamente os momentos intermediários. É nesses que me concentro para pensar no que poderia fazer de diferente. Os cinco minutos de grandes emoções eu costumo ir bem. O trabalho de cuidado é nos outros minutos.

“Cereja não salva bolo ruim”. Everaldo Marques é um dos raros casos de narradores da Globo que não são alvos de comentários raivosos e odiosos nas redes sociais. A simpatia do grande público foi construída ao longo de praticamente 20 anos na função e para isso o locutor tem uma receita, que não está pronta, segundo ele, mas ajuda a compreender o apoio que encontra da audiência.

“Eu não sei o que faz o público gostar de mim: se é pela forma mais leve de narrar, sem exageros... Eu não quero que a minha narração seja a grande atração. A grande atração é o jogo. O que tento é não atrapalhar, contextualizar e comunicar de maneira leve”, afirmou em entrevista ao Estadão. Everaldo será, ao lado de Luis Roberto, o principal nome da Globo na transmissão dos Jogos Olímpicos de Paris.

Diretamente dos estúdios da emissora no Rio de Janeiro, o locutor conta a seu favor com a versatilidade e a habilidade de narrar diversas modalidades. “Eu não controlo qual evento vou fazer na Globo, o que controlo é a qualidade do que eu faço, quanto eu estudo, me preparo e faço bem o meu trabalho”.

Conhecido pelos bordões e uso de expressões populares, como “enquanto tem bambu tem flecha”, Everaldo reconhece a importância dessas frases nas suas transmissões, mas afirma que não é esse seu foco. “O bordão é a cereja do bolo, estou preocupado com o bolo. Se o bolo for ruim, não é a cereja que vai salvar o bolo, que é a informação correta, conhecimento e emoção. Eu sei a cereja que leva aos trending topics, mas eu não estou preocupado com isso”.

Como é narrar pela primeira vez uma modalidade?

Nosso papel na TV aberta é explicar e traduzir as modalidades menos conhecidas para o grande público. Muitos vão torcer pelo Brasil e acompanhar pela primeira vez determinado esporte. Vamos ter novos torcedores do tiro com arco, esgrima... Tento entender ao máximo as nuances de cada esporte para, na transmissão, explicar a dinâmica da competição. Sempre tive esse desafio de levar modalidades novas ao público, como foi com futebol americano na ESPN, por exemplo. Não posso ter vergonha de ser didático, dada a heterogeneidade do público da TV aberta.

Como você enxerga a decisão da Globo de não ter narradores in loco nos Jogos Olímpicos?

Se estivéssemos in loco, a variedade de modalidades talvez não fosse tão numerosa, porque você pode estar na arena do vôlei de praia e depois fazer outro esporte, o que exige um deslocamento. Estando todos no mesmo estúdio, é mais fácil fazer essa transição.

Qual a diferença entre narrar no local da competição e no estúdio?

O principal ponto é o ambiente. Estando lá, você sente essa energia. Mas, a qualidade da transmissão melhorou muito ao longo dos anos. Os estúdios estão prontos para nos dar o maior apoio com o que há de mais moderno tecnologicamente. Décadas atrás, estar na arena de competição fazia diferença quanto às informações, como saber quem vai ocupar cada raia numa prova de velocidade do atletismo. Hoje, não faz mais diferença. Além disso, o acesso aos atletas é muito mais restrito.

Em sua chegada à Globo, no início de 2020, houve pedido para que sua narração sofresse algum ajuste em relação ao que fazia na ESPN?

No mês que antecedeu minha estreia, ninguém falou nada comigo sobre isso. Mas na noite em que fui fazer minha estreia, em um jogo da NBA no SporTV, meia hora antes, mandei mensagem para um dos meus chefes perguntando. A resposta foi: ‘Nós contratamos o Everaldo Marques da ESPN’. Desde então, não me preocupei mais com isso. O que faço conscientemente é o cuidado com a linguagem dependendo do canal da transmissão, se SporTV ou Globo. Na TV aberta, o público não é formado majoritariamente por fanáticos de determinado esporte.

Everaldo Marques ficou longos anos na ESPN e mudou para o Grupo Globo em 2020. Foto: João Cotta/TV Globo

Como lida com a sua ambição profissional em um espaço tão competitivo?

Todos nós, somos mais de 30 narradores no Grupo Globo, temos os nossos sonhos, gostaríamos de narrar as grandes finais... Mas chega na final da Copa do Mundo, há só uma final de Copa do Mundo e só dois narradores vão transmitir (um na Globo, outro no SporTV). A única coisa que controlo é a qualidade do meu trabalho, não sou eu quem defino quais eventos vou narrar. O que controlo é a qualidade do que eu faço, quanto eu estudo, me preparo e faço bem o meu trabalho.

Com o Luís Roberto, tenho uma amizade desde o início dos anos 2000, ele sempre foi muito gentil comigo, principalmente na minha chegada na emissora. Com o Villani e a Renata, também tenho uma relação tranquila. Eu me dou bem com todo mundo, sem problemas de ego.

Qual evento não narrou e gostaria de ter narrado?

Eu gostaria de ter narrado aqueles eventos que na infância me fizeram ser apaixonado pelo esporte e pela profissão. Eu gosto tanto das transmissões como dos esportes. Quando criança, eu assistia às transmissões como um laboratório na minha cabeço para o que viria a ser minha profissão. Quero ser narrador desde os oito anos. Eu ficava encantado com os narradores e construí meu estilo tendo a técnica de grandes profissionais como referência. A época de ouro do Brasil na Fórmula 1, lutas do Mike Tyson, jogos do Michael Jordan e do Magic Johnson, a seleção de vôlei em 1992. A primeira lembrança que tenho de vida é o Joaquim Cruz dando a volta olímpica com a bandeirinha do Brasil comemorando a medalha nos 800m rasos nos Jogos de Los Angeles, em 1984. Aquela transmissão acompanhei na Bandeirantes na voz do Álvaro José.

Alguém vai alcançar o posto no altar da narração esportiva da televisão que conta com Luciano do Valle, Galvão Bueno e Silvio Luiz?

Eu acho que essa posição é inviolável. No auge desses três, a TV aberta tinha uma exclusividade que hoje não tem mais. Eles foram os protagonistas de uma era em que a TV aberta era a única forma de acompanhar os principais eventos esportivos.

Você assiste às reprises das suas transmissões?

Sim, mas não fico focado apenas nos melhores momentos. Gosto de ver um evento todo para notar justamente os momentos intermediários. É nesses que me concentro para pensar no que poderia fazer de diferente. Os cinco minutos de grandes emoções eu costumo ir bem. O trabalho de cuidado é nos outros minutos.

“Cereja não salva bolo ruim”. Everaldo Marques é um dos raros casos de narradores da Globo que não são alvos de comentários raivosos e odiosos nas redes sociais. A simpatia do grande público foi construída ao longo de praticamente 20 anos na função e para isso o locutor tem uma receita, que não está pronta, segundo ele, mas ajuda a compreender o apoio que encontra da audiência.

“Eu não sei o que faz o público gostar de mim: se é pela forma mais leve de narrar, sem exageros... Eu não quero que a minha narração seja a grande atração. A grande atração é o jogo. O que tento é não atrapalhar, contextualizar e comunicar de maneira leve”, afirmou em entrevista ao Estadão. Everaldo será, ao lado de Luis Roberto, o principal nome da Globo na transmissão dos Jogos Olímpicos de Paris.

Diretamente dos estúdios da emissora no Rio de Janeiro, o locutor conta a seu favor com a versatilidade e a habilidade de narrar diversas modalidades. “Eu não controlo qual evento vou fazer na Globo, o que controlo é a qualidade do que eu faço, quanto eu estudo, me preparo e faço bem o meu trabalho”.

Conhecido pelos bordões e uso de expressões populares, como “enquanto tem bambu tem flecha”, Everaldo reconhece a importância dessas frases nas suas transmissões, mas afirma que não é esse seu foco. “O bordão é a cereja do bolo, estou preocupado com o bolo. Se o bolo for ruim, não é a cereja que vai salvar o bolo, que é a informação correta, conhecimento e emoção. Eu sei a cereja que leva aos trending topics, mas eu não estou preocupado com isso”.

Como é narrar pela primeira vez uma modalidade?

Nosso papel na TV aberta é explicar e traduzir as modalidades menos conhecidas para o grande público. Muitos vão torcer pelo Brasil e acompanhar pela primeira vez determinado esporte. Vamos ter novos torcedores do tiro com arco, esgrima... Tento entender ao máximo as nuances de cada esporte para, na transmissão, explicar a dinâmica da competição. Sempre tive esse desafio de levar modalidades novas ao público, como foi com futebol americano na ESPN, por exemplo. Não posso ter vergonha de ser didático, dada a heterogeneidade do público da TV aberta.

Como você enxerga a decisão da Globo de não ter narradores in loco nos Jogos Olímpicos?

Se estivéssemos in loco, a variedade de modalidades talvez não fosse tão numerosa, porque você pode estar na arena do vôlei de praia e depois fazer outro esporte, o que exige um deslocamento. Estando todos no mesmo estúdio, é mais fácil fazer essa transição.

Qual a diferença entre narrar no local da competição e no estúdio?

O principal ponto é o ambiente. Estando lá, você sente essa energia. Mas, a qualidade da transmissão melhorou muito ao longo dos anos. Os estúdios estão prontos para nos dar o maior apoio com o que há de mais moderno tecnologicamente. Décadas atrás, estar na arena de competição fazia diferença quanto às informações, como saber quem vai ocupar cada raia numa prova de velocidade do atletismo. Hoje, não faz mais diferença. Além disso, o acesso aos atletas é muito mais restrito.

Em sua chegada à Globo, no início de 2020, houve pedido para que sua narração sofresse algum ajuste em relação ao que fazia na ESPN?

No mês que antecedeu minha estreia, ninguém falou nada comigo sobre isso. Mas na noite em que fui fazer minha estreia, em um jogo da NBA no SporTV, meia hora antes, mandei mensagem para um dos meus chefes perguntando. A resposta foi: ‘Nós contratamos o Everaldo Marques da ESPN’. Desde então, não me preocupei mais com isso. O que faço conscientemente é o cuidado com a linguagem dependendo do canal da transmissão, se SporTV ou Globo. Na TV aberta, o público não é formado majoritariamente por fanáticos de determinado esporte.

Everaldo Marques ficou longos anos na ESPN e mudou para o Grupo Globo em 2020. Foto: João Cotta/TV Globo

Como lida com a sua ambição profissional em um espaço tão competitivo?

Todos nós, somos mais de 30 narradores no Grupo Globo, temos os nossos sonhos, gostaríamos de narrar as grandes finais... Mas chega na final da Copa do Mundo, há só uma final de Copa do Mundo e só dois narradores vão transmitir (um na Globo, outro no SporTV). A única coisa que controlo é a qualidade do meu trabalho, não sou eu quem defino quais eventos vou narrar. O que controlo é a qualidade do que eu faço, quanto eu estudo, me preparo e faço bem o meu trabalho.

Com o Luís Roberto, tenho uma amizade desde o início dos anos 2000, ele sempre foi muito gentil comigo, principalmente na minha chegada na emissora. Com o Villani e a Renata, também tenho uma relação tranquila. Eu me dou bem com todo mundo, sem problemas de ego.

Qual evento não narrou e gostaria de ter narrado?

Eu gostaria de ter narrado aqueles eventos que na infância me fizeram ser apaixonado pelo esporte e pela profissão. Eu gosto tanto das transmissões como dos esportes. Quando criança, eu assistia às transmissões como um laboratório na minha cabeço para o que viria a ser minha profissão. Quero ser narrador desde os oito anos. Eu ficava encantado com os narradores e construí meu estilo tendo a técnica de grandes profissionais como referência. A época de ouro do Brasil na Fórmula 1, lutas do Mike Tyson, jogos do Michael Jordan e do Magic Johnson, a seleção de vôlei em 1992. A primeira lembrança que tenho de vida é o Joaquim Cruz dando a volta olímpica com a bandeirinha do Brasil comemorando a medalha nos 800m rasos nos Jogos de Los Angeles, em 1984. Aquela transmissão acompanhei na Bandeirantes na voz do Álvaro José.

Alguém vai alcançar o posto no altar da narração esportiva da televisão que conta com Luciano do Valle, Galvão Bueno e Silvio Luiz?

Eu acho que essa posição é inviolável. No auge desses três, a TV aberta tinha uma exclusividade que hoje não tem mais. Eles foram os protagonistas de uma era em que a TV aberta era a única forma de acompanhar os principais eventos esportivos.

Você assiste às reprises das suas transmissões?

Sim, mas não fico focado apenas nos melhores momentos. Gosto de ver um evento todo para notar justamente os momentos intermediários. É nesses que me concentro para pensar no que poderia fazer de diferente. Os cinco minutos de grandes emoções eu costumo ir bem. O trabalho de cuidado é nos outros minutos.

Entrevista por Marcos Antomil

Editor assistente de Esportes. Formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduado em Jornalismo e Transmissões Esportivas pela Universidad Nebrija (Espanha).

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