Vídeo: como treinam as ‘novas Rebecas’ em ginásio onde atleta começou carreira em Guarulhos


Com conquistas da ginasta brasileira nos Jogos Olímpicos de Paris, projeto guarulhense teve explosão de inscrições; apesar de reformas recentes, local ainda carece de olhar mais cuidadoso da prefeitura e de empresas regionais

Por Ingrid Gonzaga

Entre conhecidos aparelhos de ginástica artística e sob os olhos concentrados de um grafite de Rebeca Andrade, dezenas de pequenas meninas fazem acrobacias em um ginásio. Responsáveis por acolher os incontáveis troféus conquistados pela equipe da cidade em décadas, as paredes do grande galpão expõem também fotos que contam aos mais atentos um pouco da história daquele local — e um dos motivos pelo qual ele está cada vez mais famoso.

Foi ali que a ginasta brasileira, agora maior medalhista olímpica da história do País, deu seus primeiros passos na modalidade. Sediado próximo ao centro de Guarulhos, o Ginásio Bonifácio Cardoso recebe semanalmente, além de suas atletas, equipes de jornalistas interessados em contar o início da trajetória daquela que já é uma das mais importantes figuras brasileiras de todos os tempos.

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A influência de Rebeca é inegável. Apenas neste ano, 425 meninas conseguiram sua tão sonhada vaga no projeto, que é subsidiado pela prefeitura, após passar horas em uma fila de inscrições. O caso se torna mais impressionante quando se descobre as outras centenas de crianças que ainda estão na lista de espera. Somadas, as novas e antigas atletas já são cerca de 800, conta Rosana Marques Araújo, professora e coordenadora do local.

Uma das alunas treina nas barras assimétricas. Ao fundo, o graffiti de Rebeca Andrade, pintado em homenagem à atuação da atleta nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, quando se tornou a primeira medalhista olímpica da ginástica artística feminina Foto: Júlia Pereira/Estadão

Dentre elas, algumas são responsáveis por trazer à cidade seus títulos mais recentes. Guarulhos conquistou pódios nos Jogos da Juventude deste ano (foi campeão geral por equipes e levou 12 medalhas no total na competição), foi ouro no nível intermediário do Torneio Nacional de 2023 e conseguiram outras medalhas individuais e por equipes no Campeonato Estadual da Federação Paulista, também no ano passado.

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O histórico de excelência, no entanto, é construído em meio a algumas dificuldades. Apesar da visibilidade internacional de Rebeca Andrade (que é inspiração para as meninas que treinam ali) e da sequência de bons resultados, as garotas ainda não possuem todas as condições estruturais para alcançar seu ápice esportivo, afirmam professoras.

A antiga Rebeca

Mônica Barroso dos Anjos ainda se lembra do momento em que viu Rebeca Andrade pela primeira vez. Foi ela quem aprovou a então aspirante a ginasta e permitiu que ela começasse a treinar no ginásio. Desde sempre, enxergou potencial na garota. “A gente fazia um teste duas vezes por ano, e a Rebeca tinha perdido esse teste. A Cida era funcionária do ginásio, trabalhava na cozinha e chegou na Rose [coordenadora do ginásio à época] e perguntou se ela podia abrir uma exceção. A Rose abriu uma exceção e falou para falar comigo antes. Eu estava na sala dos professores, chega a Cida e me fala: ‘Mônica, eu trouxe minha sobrinha. Queria que você desse uma olhada nela’”.

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Já no teste, Mônica notou a habilidade da garota e seu corpo apto para a prática da ginástica artística. Não tinha como ser diferente: quis a pequena menina na sua equipe. “Acho que caiu uma futura Daiane dos Santos aqui no nosso ginásio”, disse a uma das professoras. Tempos depois, Rebeca seria chamada de “Daianinha de Guarulhos”.

A primeira professora de Rebeca não esconde o orgulho que sente da excepcional aluna. Ela não só esteve presente nos Jogos do Rio, como também atuou como voluntária nos Pan-Americanos que classificaram a atleta para os Jogos de Tóquio. De longe, no Brasil, acompanhou a ginasta conquistar o posto de maior olímpica do País.

“Quando eu vi a nota, fiquei muito feliz, muito emocionada. Passa todo um filme na cabeça de quando ela entrou. Foi uma felicidade enorme, um ouro que ela ganhou em cima de uma Biles. E a Biles fazendo tudo: não errou, não caiu, ela deu alguns passos. Foi muito emocionante”, relembra a final do solo, quando Rebeca derrotou uma das maiores ginastas da história.

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Rosana se sente da mesma maneira: “É muito gratificante. Sabendo que aqui em Guarulhos tem talentos não só na ginástica, mas em outras modalidades, e em pensar que ela chegou a tanto. Ela é considerada uma estrela no mundo do esporte”.

O ginásio

Por meio do programa Guarulhos Campeão, o governo guarulhense subsidia boa parte dos gastos necessários. “Aqui é um projeto da prefeitura. Eles dão o ginásio, os professores, é tudo mantido pela prefeitura. Eles pagam as taxas da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), da federação”, conta Mônica.

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É também a prefeitura que sustenta os valores dos campeonatos que as atletas participam. “Como é um órgão público, tem um chamamento. Vem uma verba para as equipes de competição. E com esse chamamento a gente paga o Troféu São Paulo, campeonato paulista, brasileiro, transporte e alimentação”, explica Rosana.

Nem tudo, porém, é perfeito. Ainda faltam para as garotas algumas coisas essenciais para atletas de alto rendimento. “Se a gente quiser participar de mais, Pan-americanos, mundiais, já tem que fazer as ações. As mães montam cantina. Tudo porque é órgão público, tem que dividir com todas as outras modalidades, tem as outras prioridades”, continua a coordenadora, sobre os campeonatos.

“A psicóloga que vem é uma voluntária, ela faz um trabalho com as meninas de 15 em 15 dias. E hoje não tem esse acompanhamento de nutricionista. Não temos fisioterapeuta no ginásio, mas tem um departamento da prefeitura que elas vão até lá para tratar”, conta Mônica, sobre outros acompanhamentos que atletas devem ter. “Professora de balé a gente tem, mas também é uma escola de dança, a Rita Camilo, que cedeu para a gente. Vamos fazendo parcerias para conseguir as coisas, porque a prefeitura dá uma parte, mas não tem condições de dar tudo”.

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Ambas afirmam que apesar de o ginásio ter condições, pode melhorar. “Os equipamentos precisam dar uma melhorada. Nosso fosso, precisa ter um fosso de mais qualidade”, diz a coordenadora. “Eu acho que tem que fazer um outro ginásio, porque aqui tem que comportar as equipes que treinam, mais a turma de massificação e mais essas oficinas dessas 425 crianças que nós pegamos. Deveriam fazer mais um ginásio para nós e colocar aparelhos mais modernos”.

Rosana afirma que os aparelhos que estão no local são os mesmos desde a inauguração do ginásio, que aconteceu em 1992. “O tablado a CBG doou para nós, mas já está desgastado. Teria que fazer uma nova compra de aparelhos para nós”. A quantidade crescente de alunas desgasta cada vez mais rápido os materiais.

Questionada, a prefeitura de Guarulhos afirma que “a última intervenção no Ginásio Bonifácio Cardoso foi no ano de 2023: uma reforma em parceria com o Rotary Club de Guarulhos. Ela incluiu impermeabilização do telhado, instalação de exaustores, pintura interna e reforma dos vestiários masculino e feminino”. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o Rotary Club de Guarulhos. No entanto, uma matéria no site oficial da instituição lista as mesmas melhorias citadas pela assessoria da prefeitura. Não há indicações sobre uma nova reforma.

Sobre os aparelhos, a prefeitura diz que os renova periodicamente e também recebe aparelhos novos. “Ainda em 2024 serão adquiridos novos colchões e um novo tablado completo”, completa. Não há informações sobre compra dos demais aparelhos. Acerca do acompanhamento com outros profissionais, a nota afirma que “a prefeitura oferece, junto ao Cemmderoc (Centro Municipal de Medicina Desportiva Osvaldo de Carlos), serviços de fisioterapia, e, em parceria com a Faculdade Anhanguera, disponibiliza psicólogos, nutricionistas, dentistas e fisioterapeutas”.

Por fim, sobre a participação em campeonatos internacionais de grande porte, a prefeitura explica: “A verba destinada dentro do chamamento público para custeio de taxas federativas, transporte, alimentação, uniformes e material esportivo pode ser usada para qualquer competição, desde que prevista no plano de trabalho apresentado à Prefeitura de Guarulhos. Caso a verba seja insuficiente, a administração ainda tem o recurso do adiantamento de verba, por meio do qual é pleiteada a complementação de valores diretamente ao gabinete do prefeito”.

A assessoria esclarece também que é permitido às entidades esportivas buscar apoio por meio de patrocínios. Porém, ainda que procurem, as ginastas responsáveis não conseguiram encontrar empresas responsáveis — mesmo com a grande visibilidade trazida pelo nome de Rebeca Andrade.

“É muito difícil. Vamos atrás, fazemos o projeto, mas nenhuma empresa patrocina. Mesmo na outra Olimpíada, em que a Rebeca se destacou, fomos atrás de patrocínio e também nenhuma empresa quis patrocinar. Vamos ver agora, se com toda essa repercussão alguma empresa se interessa”, conta Rosana.

As novas ‘Rebecas’

Não só para as novas crianças que decidiram se aventurar no esporte graças a medalhista olímpica, Rebeca é inspiração também para as meninas que estão no Ginásio Bonifácio Cardoso por quase toda a vida. É o caso de Beatriz Targino, de 13 anos. Só de ginástica, já tem quase uma década. Treina desde os quatro anos de idade no grande galpão em Guarulhos e tem o salto como aparelho preferido — assim como Rebeca, que domina a prova.

Ela conta que quis participar da modalidade por ser uma criança agitada. “Quando eu era criança, pulava muito. Eu tinha um computador no meu quarto, em que eu ficava a madrugada inteira assistindo ginástica, a rítmica também. A minha mãe tinha uma amiga que tinha o contato aqui do ginásio e falou ‘olha, leva sua filha lá’”, conta sobre seu começo.

Ainda que na época que começou Rebeca sequer tivesse participado de seus primeiros Jogos Olímpicos, Beatriz também a considera um exemplo. “Eu sempre soube que quando eu tinha muitas dificuldades, ela [Rebeca] também teria passado por tudo aquilo. Saber que ela passou por tudo que eu posso estar passando agora me dá uma inspiração”, explica.

A mãe da ginasta, Vanessa de Oliveira, relata os desafios que passa para que a filha possa treinar. “Para nós não é fácil. Eu não moro aqui em Guarulhos, eu moro em São Paulo, na Freguesia do Ó. É uma hora e meia, quase duas [de viagem até o Ginásio]. São nove anos nesse trajeto, trazendo ela todos os dias”. A longa distância era um problema também enfrentado por Rebeca: a atleta andava por quase duas horas até o mesmo local de treino, acompanhada por um dos irmãos, quando faltava dinheiro para a condução.

No caso de Beatriz, é Vanessa quem a acompanha diariamente. “Eu abdiquei da minha vida para sonhar o sonho dela. De segunda a sábado, ela sai da escola meio-dia, malemá come. A gente sai, pega o trânsito imenso na marginal, na Dutra, para chegar aqui todos os dias e treinar até seis horas da tarde. Enquanto ela quiser permanecer, ela vai estar”, conta.

O esforço dá resultados. Em um campeonato nacional, no ano passado, Beatriz ficou em sexto lugar. Neste ano, participará de novo. E a pequena ginasta almeja voos ainda maiores: quer chegar onde Rebeca chegou. “É bem difícil chegar no nível olímpico, mas a gente vai tentando, treinando, se dedicando. Queira ou não, a nossa vida é aqui no ginásio. A gente vai treinando cada vez mais para chegar onde ela chegou”.

As demais crianças, além da dedicação, compartilham a admiração pela ginasta olímpica. “Nas competições, a gente se reuniu, e elas [crianças] estavam ali naquela torcida. Elas se espelham muito, conseguem enxergar que é real, que a Rebeca saiu daqui com as dificuldades todas que ela teve. É uma lição de vida para as meninas que estão aqui, em termos de saber que é possível chegar no alto e de que a Rebeca também passou por momentos difíceis”, conta Mônica. “Ela virou um ícone como um Pelé, um Ayrton Senna”.

Entre conhecidos aparelhos de ginástica artística e sob os olhos concentrados de um grafite de Rebeca Andrade, dezenas de pequenas meninas fazem acrobacias em um ginásio. Responsáveis por acolher os incontáveis troféus conquistados pela equipe da cidade em décadas, as paredes do grande galpão expõem também fotos que contam aos mais atentos um pouco da história daquele local — e um dos motivos pelo qual ele está cada vez mais famoso.

Foi ali que a ginasta brasileira, agora maior medalhista olímpica da história do País, deu seus primeiros passos na modalidade. Sediado próximo ao centro de Guarulhos, o Ginásio Bonifácio Cardoso recebe semanalmente, além de suas atletas, equipes de jornalistas interessados em contar o início da trajetória daquela que já é uma das mais importantes figuras brasileiras de todos os tempos.

A influência de Rebeca é inegável. Apenas neste ano, 425 meninas conseguiram sua tão sonhada vaga no projeto, que é subsidiado pela prefeitura, após passar horas em uma fila de inscrições. O caso se torna mais impressionante quando se descobre as outras centenas de crianças que ainda estão na lista de espera. Somadas, as novas e antigas atletas já são cerca de 800, conta Rosana Marques Araújo, professora e coordenadora do local.

Uma das alunas treina nas barras assimétricas. Ao fundo, o graffiti de Rebeca Andrade, pintado em homenagem à atuação da atleta nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, quando se tornou a primeira medalhista olímpica da ginástica artística feminina Foto: Júlia Pereira/Estadão

Dentre elas, algumas são responsáveis por trazer à cidade seus títulos mais recentes. Guarulhos conquistou pódios nos Jogos da Juventude deste ano (foi campeão geral por equipes e levou 12 medalhas no total na competição), foi ouro no nível intermediário do Torneio Nacional de 2023 e conseguiram outras medalhas individuais e por equipes no Campeonato Estadual da Federação Paulista, também no ano passado.

O histórico de excelência, no entanto, é construído em meio a algumas dificuldades. Apesar da visibilidade internacional de Rebeca Andrade (que é inspiração para as meninas que treinam ali) e da sequência de bons resultados, as garotas ainda não possuem todas as condições estruturais para alcançar seu ápice esportivo, afirmam professoras.

A antiga Rebeca

Mônica Barroso dos Anjos ainda se lembra do momento em que viu Rebeca Andrade pela primeira vez. Foi ela quem aprovou a então aspirante a ginasta e permitiu que ela começasse a treinar no ginásio. Desde sempre, enxergou potencial na garota. “A gente fazia um teste duas vezes por ano, e a Rebeca tinha perdido esse teste. A Cida era funcionária do ginásio, trabalhava na cozinha e chegou na Rose [coordenadora do ginásio à época] e perguntou se ela podia abrir uma exceção. A Rose abriu uma exceção e falou para falar comigo antes. Eu estava na sala dos professores, chega a Cida e me fala: ‘Mônica, eu trouxe minha sobrinha. Queria que você desse uma olhada nela’”.

Já no teste, Mônica notou a habilidade da garota e seu corpo apto para a prática da ginástica artística. Não tinha como ser diferente: quis a pequena menina na sua equipe. “Acho que caiu uma futura Daiane dos Santos aqui no nosso ginásio”, disse a uma das professoras. Tempos depois, Rebeca seria chamada de “Daianinha de Guarulhos”.

A primeira professora de Rebeca não esconde o orgulho que sente da excepcional aluna. Ela não só esteve presente nos Jogos do Rio, como também atuou como voluntária nos Pan-Americanos que classificaram a atleta para os Jogos de Tóquio. De longe, no Brasil, acompanhou a ginasta conquistar o posto de maior olímpica do País.

“Quando eu vi a nota, fiquei muito feliz, muito emocionada. Passa todo um filme na cabeça de quando ela entrou. Foi uma felicidade enorme, um ouro que ela ganhou em cima de uma Biles. E a Biles fazendo tudo: não errou, não caiu, ela deu alguns passos. Foi muito emocionante”, relembra a final do solo, quando Rebeca derrotou uma das maiores ginastas da história.

Rosana se sente da mesma maneira: “É muito gratificante. Sabendo que aqui em Guarulhos tem talentos não só na ginástica, mas em outras modalidades, e em pensar que ela chegou a tanto. Ela é considerada uma estrela no mundo do esporte”.

O ginásio

Por meio do programa Guarulhos Campeão, o governo guarulhense subsidia boa parte dos gastos necessários. “Aqui é um projeto da prefeitura. Eles dão o ginásio, os professores, é tudo mantido pela prefeitura. Eles pagam as taxas da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), da federação”, conta Mônica.

É também a prefeitura que sustenta os valores dos campeonatos que as atletas participam. “Como é um órgão público, tem um chamamento. Vem uma verba para as equipes de competição. E com esse chamamento a gente paga o Troféu São Paulo, campeonato paulista, brasileiro, transporte e alimentação”, explica Rosana.

Nem tudo, porém, é perfeito. Ainda faltam para as garotas algumas coisas essenciais para atletas de alto rendimento. “Se a gente quiser participar de mais, Pan-americanos, mundiais, já tem que fazer as ações. As mães montam cantina. Tudo porque é órgão público, tem que dividir com todas as outras modalidades, tem as outras prioridades”, continua a coordenadora, sobre os campeonatos.

“A psicóloga que vem é uma voluntária, ela faz um trabalho com as meninas de 15 em 15 dias. E hoje não tem esse acompanhamento de nutricionista. Não temos fisioterapeuta no ginásio, mas tem um departamento da prefeitura que elas vão até lá para tratar”, conta Mônica, sobre outros acompanhamentos que atletas devem ter. “Professora de balé a gente tem, mas também é uma escola de dança, a Rita Camilo, que cedeu para a gente. Vamos fazendo parcerias para conseguir as coisas, porque a prefeitura dá uma parte, mas não tem condições de dar tudo”.

Ambas afirmam que apesar de o ginásio ter condições, pode melhorar. “Os equipamentos precisam dar uma melhorada. Nosso fosso, precisa ter um fosso de mais qualidade”, diz a coordenadora. “Eu acho que tem que fazer um outro ginásio, porque aqui tem que comportar as equipes que treinam, mais a turma de massificação e mais essas oficinas dessas 425 crianças que nós pegamos. Deveriam fazer mais um ginásio para nós e colocar aparelhos mais modernos”.

Rosana afirma que os aparelhos que estão no local são os mesmos desde a inauguração do ginásio, que aconteceu em 1992. “O tablado a CBG doou para nós, mas já está desgastado. Teria que fazer uma nova compra de aparelhos para nós”. A quantidade crescente de alunas desgasta cada vez mais rápido os materiais.

Questionada, a prefeitura de Guarulhos afirma que “a última intervenção no Ginásio Bonifácio Cardoso foi no ano de 2023: uma reforma em parceria com o Rotary Club de Guarulhos. Ela incluiu impermeabilização do telhado, instalação de exaustores, pintura interna e reforma dos vestiários masculino e feminino”. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o Rotary Club de Guarulhos. No entanto, uma matéria no site oficial da instituição lista as mesmas melhorias citadas pela assessoria da prefeitura. Não há indicações sobre uma nova reforma.

Sobre os aparelhos, a prefeitura diz que os renova periodicamente e também recebe aparelhos novos. “Ainda em 2024 serão adquiridos novos colchões e um novo tablado completo”, completa. Não há informações sobre compra dos demais aparelhos. Acerca do acompanhamento com outros profissionais, a nota afirma que “a prefeitura oferece, junto ao Cemmderoc (Centro Municipal de Medicina Desportiva Osvaldo de Carlos), serviços de fisioterapia, e, em parceria com a Faculdade Anhanguera, disponibiliza psicólogos, nutricionistas, dentistas e fisioterapeutas”.

Por fim, sobre a participação em campeonatos internacionais de grande porte, a prefeitura explica: “A verba destinada dentro do chamamento público para custeio de taxas federativas, transporte, alimentação, uniformes e material esportivo pode ser usada para qualquer competição, desde que prevista no plano de trabalho apresentado à Prefeitura de Guarulhos. Caso a verba seja insuficiente, a administração ainda tem o recurso do adiantamento de verba, por meio do qual é pleiteada a complementação de valores diretamente ao gabinete do prefeito”.

A assessoria esclarece também que é permitido às entidades esportivas buscar apoio por meio de patrocínios. Porém, ainda que procurem, as ginastas responsáveis não conseguiram encontrar empresas responsáveis — mesmo com a grande visibilidade trazida pelo nome de Rebeca Andrade.

“É muito difícil. Vamos atrás, fazemos o projeto, mas nenhuma empresa patrocina. Mesmo na outra Olimpíada, em que a Rebeca se destacou, fomos atrás de patrocínio e também nenhuma empresa quis patrocinar. Vamos ver agora, se com toda essa repercussão alguma empresa se interessa”, conta Rosana.

As novas ‘Rebecas’

Não só para as novas crianças que decidiram se aventurar no esporte graças a medalhista olímpica, Rebeca é inspiração também para as meninas que estão no Ginásio Bonifácio Cardoso por quase toda a vida. É o caso de Beatriz Targino, de 13 anos. Só de ginástica, já tem quase uma década. Treina desde os quatro anos de idade no grande galpão em Guarulhos e tem o salto como aparelho preferido — assim como Rebeca, que domina a prova.

Ela conta que quis participar da modalidade por ser uma criança agitada. “Quando eu era criança, pulava muito. Eu tinha um computador no meu quarto, em que eu ficava a madrugada inteira assistindo ginástica, a rítmica também. A minha mãe tinha uma amiga que tinha o contato aqui do ginásio e falou ‘olha, leva sua filha lá’”, conta sobre seu começo.

Ainda que na época que começou Rebeca sequer tivesse participado de seus primeiros Jogos Olímpicos, Beatriz também a considera um exemplo. “Eu sempre soube que quando eu tinha muitas dificuldades, ela [Rebeca] também teria passado por tudo aquilo. Saber que ela passou por tudo que eu posso estar passando agora me dá uma inspiração”, explica.

A mãe da ginasta, Vanessa de Oliveira, relata os desafios que passa para que a filha possa treinar. “Para nós não é fácil. Eu não moro aqui em Guarulhos, eu moro em São Paulo, na Freguesia do Ó. É uma hora e meia, quase duas [de viagem até o Ginásio]. São nove anos nesse trajeto, trazendo ela todos os dias”. A longa distância era um problema também enfrentado por Rebeca: a atleta andava por quase duas horas até o mesmo local de treino, acompanhada por um dos irmãos, quando faltava dinheiro para a condução.

No caso de Beatriz, é Vanessa quem a acompanha diariamente. “Eu abdiquei da minha vida para sonhar o sonho dela. De segunda a sábado, ela sai da escola meio-dia, malemá come. A gente sai, pega o trânsito imenso na marginal, na Dutra, para chegar aqui todos os dias e treinar até seis horas da tarde. Enquanto ela quiser permanecer, ela vai estar”, conta.

O esforço dá resultados. Em um campeonato nacional, no ano passado, Beatriz ficou em sexto lugar. Neste ano, participará de novo. E a pequena ginasta almeja voos ainda maiores: quer chegar onde Rebeca chegou. “É bem difícil chegar no nível olímpico, mas a gente vai tentando, treinando, se dedicando. Queira ou não, a nossa vida é aqui no ginásio. A gente vai treinando cada vez mais para chegar onde ela chegou”.

As demais crianças, além da dedicação, compartilham a admiração pela ginasta olímpica. “Nas competições, a gente se reuniu, e elas [crianças] estavam ali naquela torcida. Elas se espelham muito, conseguem enxergar que é real, que a Rebeca saiu daqui com as dificuldades todas que ela teve. É uma lição de vida para as meninas que estão aqui, em termos de saber que é possível chegar no alto e de que a Rebeca também passou por momentos difíceis”, conta Mônica. “Ela virou um ícone como um Pelé, um Ayrton Senna”.

Entre conhecidos aparelhos de ginástica artística e sob os olhos concentrados de um grafite de Rebeca Andrade, dezenas de pequenas meninas fazem acrobacias em um ginásio. Responsáveis por acolher os incontáveis troféus conquistados pela equipe da cidade em décadas, as paredes do grande galpão expõem também fotos que contam aos mais atentos um pouco da história daquele local — e um dos motivos pelo qual ele está cada vez mais famoso.

Foi ali que a ginasta brasileira, agora maior medalhista olímpica da história do País, deu seus primeiros passos na modalidade. Sediado próximo ao centro de Guarulhos, o Ginásio Bonifácio Cardoso recebe semanalmente, além de suas atletas, equipes de jornalistas interessados em contar o início da trajetória daquela que já é uma das mais importantes figuras brasileiras de todos os tempos.

A influência de Rebeca é inegável. Apenas neste ano, 425 meninas conseguiram sua tão sonhada vaga no projeto, que é subsidiado pela prefeitura, após passar horas em uma fila de inscrições. O caso se torna mais impressionante quando se descobre as outras centenas de crianças que ainda estão na lista de espera. Somadas, as novas e antigas atletas já são cerca de 800, conta Rosana Marques Araújo, professora e coordenadora do local.

Uma das alunas treina nas barras assimétricas. Ao fundo, o graffiti de Rebeca Andrade, pintado em homenagem à atuação da atleta nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, quando se tornou a primeira medalhista olímpica da ginástica artística feminina Foto: Júlia Pereira/Estadão

Dentre elas, algumas são responsáveis por trazer à cidade seus títulos mais recentes. Guarulhos conquistou pódios nos Jogos da Juventude deste ano (foi campeão geral por equipes e levou 12 medalhas no total na competição), foi ouro no nível intermediário do Torneio Nacional de 2023 e conseguiram outras medalhas individuais e por equipes no Campeonato Estadual da Federação Paulista, também no ano passado.

O histórico de excelência, no entanto, é construído em meio a algumas dificuldades. Apesar da visibilidade internacional de Rebeca Andrade (que é inspiração para as meninas que treinam ali) e da sequência de bons resultados, as garotas ainda não possuem todas as condições estruturais para alcançar seu ápice esportivo, afirmam professoras.

A antiga Rebeca

Mônica Barroso dos Anjos ainda se lembra do momento em que viu Rebeca Andrade pela primeira vez. Foi ela quem aprovou a então aspirante a ginasta e permitiu que ela começasse a treinar no ginásio. Desde sempre, enxergou potencial na garota. “A gente fazia um teste duas vezes por ano, e a Rebeca tinha perdido esse teste. A Cida era funcionária do ginásio, trabalhava na cozinha e chegou na Rose [coordenadora do ginásio à época] e perguntou se ela podia abrir uma exceção. A Rose abriu uma exceção e falou para falar comigo antes. Eu estava na sala dos professores, chega a Cida e me fala: ‘Mônica, eu trouxe minha sobrinha. Queria que você desse uma olhada nela’”.

Já no teste, Mônica notou a habilidade da garota e seu corpo apto para a prática da ginástica artística. Não tinha como ser diferente: quis a pequena menina na sua equipe. “Acho que caiu uma futura Daiane dos Santos aqui no nosso ginásio”, disse a uma das professoras. Tempos depois, Rebeca seria chamada de “Daianinha de Guarulhos”.

A primeira professora de Rebeca não esconde o orgulho que sente da excepcional aluna. Ela não só esteve presente nos Jogos do Rio, como também atuou como voluntária nos Pan-Americanos que classificaram a atleta para os Jogos de Tóquio. De longe, no Brasil, acompanhou a ginasta conquistar o posto de maior olímpica do País.

“Quando eu vi a nota, fiquei muito feliz, muito emocionada. Passa todo um filme na cabeça de quando ela entrou. Foi uma felicidade enorme, um ouro que ela ganhou em cima de uma Biles. E a Biles fazendo tudo: não errou, não caiu, ela deu alguns passos. Foi muito emocionante”, relembra a final do solo, quando Rebeca derrotou uma das maiores ginastas da história.

Rosana se sente da mesma maneira: “É muito gratificante. Sabendo que aqui em Guarulhos tem talentos não só na ginástica, mas em outras modalidades, e em pensar que ela chegou a tanto. Ela é considerada uma estrela no mundo do esporte”.

O ginásio

Por meio do programa Guarulhos Campeão, o governo guarulhense subsidia boa parte dos gastos necessários. “Aqui é um projeto da prefeitura. Eles dão o ginásio, os professores, é tudo mantido pela prefeitura. Eles pagam as taxas da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), da federação”, conta Mônica.

É também a prefeitura que sustenta os valores dos campeonatos que as atletas participam. “Como é um órgão público, tem um chamamento. Vem uma verba para as equipes de competição. E com esse chamamento a gente paga o Troféu São Paulo, campeonato paulista, brasileiro, transporte e alimentação”, explica Rosana.

Nem tudo, porém, é perfeito. Ainda faltam para as garotas algumas coisas essenciais para atletas de alto rendimento. “Se a gente quiser participar de mais, Pan-americanos, mundiais, já tem que fazer as ações. As mães montam cantina. Tudo porque é órgão público, tem que dividir com todas as outras modalidades, tem as outras prioridades”, continua a coordenadora, sobre os campeonatos.

“A psicóloga que vem é uma voluntária, ela faz um trabalho com as meninas de 15 em 15 dias. E hoje não tem esse acompanhamento de nutricionista. Não temos fisioterapeuta no ginásio, mas tem um departamento da prefeitura que elas vão até lá para tratar”, conta Mônica, sobre outros acompanhamentos que atletas devem ter. “Professora de balé a gente tem, mas também é uma escola de dança, a Rita Camilo, que cedeu para a gente. Vamos fazendo parcerias para conseguir as coisas, porque a prefeitura dá uma parte, mas não tem condições de dar tudo”.

Ambas afirmam que apesar de o ginásio ter condições, pode melhorar. “Os equipamentos precisam dar uma melhorada. Nosso fosso, precisa ter um fosso de mais qualidade”, diz a coordenadora. “Eu acho que tem que fazer um outro ginásio, porque aqui tem que comportar as equipes que treinam, mais a turma de massificação e mais essas oficinas dessas 425 crianças que nós pegamos. Deveriam fazer mais um ginásio para nós e colocar aparelhos mais modernos”.

Rosana afirma que os aparelhos que estão no local são os mesmos desde a inauguração do ginásio, que aconteceu em 1992. “O tablado a CBG doou para nós, mas já está desgastado. Teria que fazer uma nova compra de aparelhos para nós”. A quantidade crescente de alunas desgasta cada vez mais rápido os materiais.

Questionada, a prefeitura de Guarulhos afirma que “a última intervenção no Ginásio Bonifácio Cardoso foi no ano de 2023: uma reforma em parceria com o Rotary Club de Guarulhos. Ela incluiu impermeabilização do telhado, instalação de exaustores, pintura interna e reforma dos vestiários masculino e feminino”. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o Rotary Club de Guarulhos. No entanto, uma matéria no site oficial da instituição lista as mesmas melhorias citadas pela assessoria da prefeitura. Não há indicações sobre uma nova reforma.

Sobre os aparelhos, a prefeitura diz que os renova periodicamente e também recebe aparelhos novos. “Ainda em 2024 serão adquiridos novos colchões e um novo tablado completo”, completa. Não há informações sobre compra dos demais aparelhos. Acerca do acompanhamento com outros profissionais, a nota afirma que “a prefeitura oferece, junto ao Cemmderoc (Centro Municipal de Medicina Desportiva Osvaldo de Carlos), serviços de fisioterapia, e, em parceria com a Faculdade Anhanguera, disponibiliza psicólogos, nutricionistas, dentistas e fisioterapeutas”.

Por fim, sobre a participação em campeonatos internacionais de grande porte, a prefeitura explica: “A verba destinada dentro do chamamento público para custeio de taxas federativas, transporte, alimentação, uniformes e material esportivo pode ser usada para qualquer competição, desde que prevista no plano de trabalho apresentado à Prefeitura de Guarulhos. Caso a verba seja insuficiente, a administração ainda tem o recurso do adiantamento de verba, por meio do qual é pleiteada a complementação de valores diretamente ao gabinete do prefeito”.

A assessoria esclarece também que é permitido às entidades esportivas buscar apoio por meio de patrocínios. Porém, ainda que procurem, as ginastas responsáveis não conseguiram encontrar empresas responsáveis — mesmo com a grande visibilidade trazida pelo nome de Rebeca Andrade.

“É muito difícil. Vamos atrás, fazemos o projeto, mas nenhuma empresa patrocina. Mesmo na outra Olimpíada, em que a Rebeca se destacou, fomos atrás de patrocínio e também nenhuma empresa quis patrocinar. Vamos ver agora, se com toda essa repercussão alguma empresa se interessa”, conta Rosana.

As novas ‘Rebecas’

Não só para as novas crianças que decidiram se aventurar no esporte graças a medalhista olímpica, Rebeca é inspiração também para as meninas que estão no Ginásio Bonifácio Cardoso por quase toda a vida. É o caso de Beatriz Targino, de 13 anos. Só de ginástica, já tem quase uma década. Treina desde os quatro anos de idade no grande galpão em Guarulhos e tem o salto como aparelho preferido — assim como Rebeca, que domina a prova.

Ela conta que quis participar da modalidade por ser uma criança agitada. “Quando eu era criança, pulava muito. Eu tinha um computador no meu quarto, em que eu ficava a madrugada inteira assistindo ginástica, a rítmica também. A minha mãe tinha uma amiga que tinha o contato aqui do ginásio e falou ‘olha, leva sua filha lá’”, conta sobre seu começo.

Ainda que na época que começou Rebeca sequer tivesse participado de seus primeiros Jogos Olímpicos, Beatriz também a considera um exemplo. “Eu sempre soube que quando eu tinha muitas dificuldades, ela [Rebeca] também teria passado por tudo aquilo. Saber que ela passou por tudo que eu posso estar passando agora me dá uma inspiração”, explica.

A mãe da ginasta, Vanessa de Oliveira, relata os desafios que passa para que a filha possa treinar. “Para nós não é fácil. Eu não moro aqui em Guarulhos, eu moro em São Paulo, na Freguesia do Ó. É uma hora e meia, quase duas [de viagem até o Ginásio]. São nove anos nesse trajeto, trazendo ela todos os dias”. A longa distância era um problema também enfrentado por Rebeca: a atleta andava por quase duas horas até o mesmo local de treino, acompanhada por um dos irmãos, quando faltava dinheiro para a condução.

No caso de Beatriz, é Vanessa quem a acompanha diariamente. “Eu abdiquei da minha vida para sonhar o sonho dela. De segunda a sábado, ela sai da escola meio-dia, malemá come. A gente sai, pega o trânsito imenso na marginal, na Dutra, para chegar aqui todos os dias e treinar até seis horas da tarde. Enquanto ela quiser permanecer, ela vai estar”, conta.

O esforço dá resultados. Em um campeonato nacional, no ano passado, Beatriz ficou em sexto lugar. Neste ano, participará de novo. E a pequena ginasta almeja voos ainda maiores: quer chegar onde Rebeca chegou. “É bem difícil chegar no nível olímpico, mas a gente vai tentando, treinando, se dedicando. Queira ou não, a nossa vida é aqui no ginásio. A gente vai treinando cada vez mais para chegar onde ela chegou”.

As demais crianças, além da dedicação, compartilham a admiração pela ginasta olímpica. “Nas competições, a gente se reuniu, e elas [crianças] estavam ali naquela torcida. Elas se espelham muito, conseguem enxergar que é real, que a Rebeca saiu daqui com as dificuldades todas que ela teve. É uma lição de vida para as meninas que estão aqui, em termos de saber que é possível chegar no alto e de que a Rebeca também passou por momentos difíceis”, conta Mônica. “Ela virou um ícone como um Pelé, um Ayrton Senna”.

Entre conhecidos aparelhos de ginástica artística e sob os olhos concentrados de um grafite de Rebeca Andrade, dezenas de pequenas meninas fazem acrobacias em um ginásio. Responsáveis por acolher os incontáveis troféus conquistados pela equipe da cidade em décadas, as paredes do grande galpão expõem também fotos que contam aos mais atentos um pouco da história daquele local — e um dos motivos pelo qual ele está cada vez mais famoso.

Foi ali que a ginasta brasileira, agora maior medalhista olímpica da história do País, deu seus primeiros passos na modalidade. Sediado próximo ao centro de Guarulhos, o Ginásio Bonifácio Cardoso recebe semanalmente, além de suas atletas, equipes de jornalistas interessados em contar o início da trajetória daquela que já é uma das mais importantes figuras brasileiras de todos os tempos.

A influência de Rebeca é inegável. Apenas neste ano, 425 meninas conseguiram sua tão sonhada vaga no projeto, que é subsidiado pela prefeitura, após passar horas em uma fila de inscrições. O caso se torna mais impressionante quando se descobre as outras centenas de crianças que ainda estão na lista de espera. Somadas, as novas e antigas atletas já são cerca de 800, conta Rosana Marques Araújo, professora e coordenadora do local.

Uma das alunas treina nas barras assimétricas. Ao fundo, o graffiti de Rebeca Andrade, pintado em homenagem à atuação da atleta nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, quando se tornou a primeira medalhista olímpica da ginástica artística feminina Foto: Júlia Pereira/Estadão

Dentre elas, algumas são responsáveis por trazer à cidade seus títulos mais recentes. Guarulhos conquistou pódios nos Jogos da Juventude deste ano (foi campeão geral por equipes e levou 12 medalhas no total na competição), foi ouro no nível intermediário do Torneio Nacional de 2023 e conseguiram outras medalhas individuais e por equipes no Campeonato Estadual da Federação Paulista, também no ano passado.

O histórico de excelência, no entanto, é construído em meio a algumas dificuldades. Apesar da visibilidade internacional de Rebeca Andrade (que é inspiração para as meninas que treinam ali) e da sequência de bons resultados, as garotas ainda não possuem todas as condições estruturais para alcançar seu ápice esportivo, afirmam professoras.

A antiga Rebeca

Mônica Barroso dos Anjos ainda se lembra do momento em que viu Rebeca Andrade pela primeira vez. Foi ela quem aprovou a então aspirante a ginasta e permitiu que ela começasse a treinar no ginásio. Desde sempre, enxergou potencial na garota. “A gente fazia um teste duas vezes por ano, e a Rebeca tinha perdido esse teste. A Cida era funcionária do ginásio, trabalhava na cozinha e chegou na Rose [coordenadora do ginásio à época] e perguntou se ela podia abrir uma exceção. A Rose abriu uma exceção e falou para falar comigo antes. Eu estava na sala dos professores, chega a Cida e me fala: ‘Mônica, eu trouxe minha sobrinha. Queria que você desse uma olhada nela’”.

Já no teste, Mônica notou a habilidade da garota e seu corpo apto para a prática da ginástica artística. Não tinha como ser diferente: quis a pequena menina na sua equipe. “Acho que caiu uma futura Daiane dos Santos aqui no nosso ginásio”, disse a uma das professoras. Tempos depois, Rebeca seria chamada de “Daianinha de Guarulhos”.

A primeira professora de Rebeca não esconde o orgulho que sente da excepcional aluna. Ela não só esteve presente nos Jogos do Rio, como também atuou como voluntária nos Pan-Americanos que classificaram a atleta para os Jogos de Tóquio. De longe, no Brasil, acompanhou a ginasta conquistar o posto de maior olímpica do País.

“Quando eu vi a nota, fiquei muito feliz, muito emocionada. Passa todo um filme na cabeça de quando ela entrou. Foi uma felicidade enorme, um ouro que ela ganhou em cima de uma Biles. E a Biles fazendo tudo: não errou, não caiu, ela deu alguns passos. Foi muito emocionante”, relembra a final do solo, quando Rebeca derrotou uma das maiores ginastas da história.

Rosana se sente da mesma maneira: “É muito gratificante. Sabendo que aqui em Guarulhos tem talentos não só na ginástica, mas em outras modalidades, e em pensar que ela chegou a tanto. Ela é considerada uma estrela no mundo do esporte”.

O ginásio

Por meio do programa Guarulhos Campeão, o governo guarulhense subsidia boa parte dos gastos necessários. “Aqui é um projeto da prefeitura. Eles dão o ginásio, os professores, é tudo mantido pela prefeitura. Eles pagam as taxas da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), da federação”, conta Mônica.

É também a prefeitura que sustenta os valores dos campeonatos que as atletas participam. “Como é um órgão público, tem um chamamento. Vem uma verba para as equipes de competição. E com esse chamamento a gente paga o Troféu São Paulo, campeonato paulista, brasileiro, transporte e alimentação”, explica Rosana.

Nem tudo, porém, é perfeito. Ainda faltam para as garotas algumas coisas essenciais para atletas de alto rendimento. “Se a gente quiser participar de mais, Pan-americanos, mundiais, já tem que fazer as ações. As mães montam cantina. Tudo porque é órgão público, tem que dividir com todas as outras modalidades, tem as outras prioridades”, continua a coordenadora, sobre os campeonatos.

“A psicóloga que vem é uma voluntária, ela faz um trabalho com as meninas de 15 em 15 dias. E hoje não tem esse acompanhamento de nutricionista. Não temos fisioterapeuta no ginásio, mas tem um departamento da prefeitura que elas vão até lá para tratar”, conta Mônica, sobre outros acompanhamentos que atletas devem ter. “Professora de balé a gente tem, mas também é uma escola de dança, a Rita Camilo, que cedeu para a gente. Vamos fazendo parcerias para conseguir as coisas, porque a prefeitura dá uma parte, mas não tem condições de dar tudo”.

Ambas afirmam que apesar de o ginásio ter condições, pode melhorar. “Os equipamentos precisam dar uma melhorada. Nosso fosso, precisa ter um fosso de mais qualidade”, diz a coordenadora. “Eu acho que tem que fazer um outro ginásio, porque aqui tem que comportar as equipes que treinam, mais a turma de massificação e mais essas oficinas dessas 425 crianças que nós pegamos. Deveriam fazer mais um ginásio para nós e colocar aparelhos mais modernos”.

Rosana afirma que os aparelhos que estão no local são os mesmos desde a inauguração do ginásio, que aconteceu em 1992. “O tablado a CBG doou para nós, mas já está desgastado. Teria que fazer uma nova compra de aparelhos para nós”. A quantidade crescente de alunas desgasta cada vez mais rápido os materiais.

Questionada, a prefeitura de Guarulhos afirma que “a última intervenção no Ginásio Bonifácio Cardoso foi no ano de 2023: uma reforma em parceria com o Rotary Club de Guarulhos. Ela incluiu impermeabilização do telhado, instalação de exaustores, pintura interna e reforma dos vestiários masculino e feminino”. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o Rotary Club de Guarulhos. No entanto, uma matéria no site oficial da instituição lista as mesmas melhorias citadas pela assessoria da prefeitura. Não há indicações sobre uma nova reforma.

Sobre os aparelhos, a prefeitura diz que os renova periodicamente e também recebe aparelhos novos. “Ainda em 2024 serão adquiridos novos colchões e um novo tablado completo”, completa. Não há informações sobre compra dos demais aparelhos. Acerca do acompanhamento com outros profissionais, a nota afirma que “a prefeitura oferece, junto ao Cemmderoc (Centro Municipal de Medicina Desportiva Osvaldo de Carlos), serviços de fisioterapia, e, em parceria com a Faculdade Anhanguera, disponibiliza psicólogos, nutricionistas, dentistas e fisioterapeutas”.

Por fim, sobre a participação em campeonatos internacionais de grande porte, a prefeitura explica: “A verba destinada dentro do chamamento público para custeio de taxas federativas, transporte, alimentação, uniformes e material esportivo pode ser usada para qualquer competição, desde que prevista no plano de trabalho apresentado à Prefeitura de Guarulhos. Caso a verba seja insuficiente, a administração ainda tem o recurso do adiantamento de verba, por meio do qual é pleiteada a complementação de valores diretamente ao gabinete do prefeito”.

A assessoria esclarece também que é permitido às entidades esportivas buscar apoio por meio de patrocínios. Porém, ainda que procurem, as ginastas responsáveis não conseguiram encontrar empresas responsáveis — mesmo com a grande visibilidade trazida pelo nome de Rebeca Andrade.

“É muito difícil. Vamos atrás, fazemos o projeto, mas nenhuma empresa patrocina. Mesmo na outra Olimpíada, em que a Rebeca se destacou, fomos atrás de patrocínio e também nenhuma empresa quis patrocinar. Vamos ver agora, se com toda essa repercussão alguma empresa se interessa”, conta Rosana.

As novas ‘Rebecas’

Não só para as novas crianças que decidiram se aventurar no esporte graças a medalhista olímpica, Rebeca é inspiração também para as meninas que estão no Ginásio Bonifácio Cardoso por quase toda a vida. É o caso de Beatriz Targino, de 13 anos. Só de ginástica, já tem quase uma década. Treina desde os quatro anos de idade no grande galpão em Guarulhos e tem o salto como aparelho preferido — assim como Rebeca, que domina a prova.

Ela conta que quis participar da modalidade por ser uma criança agitada. “Quando eu era criança, pulava muito. Eu tinha um computador no meu quarto, em que eu ficava a madrugada inteira assistindo ginástica, a rítmica também. A minha mãe tinha uma amiga que tinha o contato aqui do ginásio e falou ‘olha, leva sua filha lá’”, conta sobre seu começo.

Ainda que na época que começou Rebeca sequer tivesse participado de seus primeiros Jogos Olímpicos, Beatriz também a considera um exemplo. “Eu sempre soube que quando eu tinha muitas dificuldades, ela [Rebeca] também teria passado por tudo aquilo. Saber que ela passou por tudo que eu posso estar passando agora me dá uma inspiração”, explica.

A mãe da ginasta, Vanessa de Oliveira, relata os desafios que passa para que a filha possa treinar. “Para nós não é fácil. Eu não moro aqui em Guarulhos, eu moro em São Paulo, na Freguesia do Ó. É uma hora e meia, quase duas [de viagem até o Ginásio]. São nove anos nesse trajeto, trazendo ela todos os dias”. A longa distância era um problema também enfrentado por Rebeca: a atleta andava por quase duas horas até o mesmo local de treino, acompanhada por um dos irmãos, quando faltava dinheiro para a condução.

No caso de Beatriz, é Vanessa quem a acompanha diariamente. “Eu abdiquei da minha vida para sonhar o sonho dela. De segunda a sábado, ela sai da escola meio-dia, malemá come. A gente sai, pega o trânsito imenso na marginal, na Dutra, para chegar aqui todos os dias e treinar até seis horas da tarde. Enquanto ela quiser permanecer, ela vai estar”, conta.

O esforço dá resultados. Em um campeonato nacional, no ano passado, Beatriz ficou em sexto lugar. Neste ano, participará de novo. E a pequena ginasta almeja voos ainda maiores: quer chegar onde Rebeca chegou. “É bem difícil chegar no nível olímpico, mas a gente vai tentando, treinando, se dedicando. Queira ou não, a nossa vida é aqui no ginásio. A gente vai treinando cada vez mais para chegar onde ela chegou”.

As demais crianças, além da dedicação, compartilham a admiração pela ginasta olímpica. “Nas competições, a gente se reuniu, e elas [crianças] estavam ali naquela torcida. Elas se espelham muito, conseguem enxergar que é real, que a Rebeca saiu daqui com as dificuldades todas que ela teve. É uma lição de vida para as meninas que estão aqui, em termos de saber que é possível chegar no alto e de que a Rebeca também passou por momentos difíceis”, conta Mônica. “Ela virou um ícone como um Pelé, um Ayrton Senna”.

Entre conhecidos aparelhos de ginástica artística e sob os olhos concentrados de um grafite de Rebeca Andrade, dezenas de pequenas meninas fazem acrobacias em um ginásio. Responsáveis por acolher os incontáveis troféus conquistados pela equipe da cidade em décadas, as paredes do grande galpão expõem também fotos que contam aos mais atentos um pouco da história daquele local — e um dos motivos pelo qual ele está cada vez mais famoso.

Foi ali que a ginasta brasileira, agora maior medalhista olímpica da história do País, deu seus primeiros passos na modalidade. Sediado próximo ao centro de Guarulhos, o Ginásio Bonifácio Cardoso recebe semanalmente, além de suas atletas, equipes de jornalistas interessados em contar o início da trajetória daquela que já é uma das mais importantes figuras brasileiras de todos os tempos.

A influência de Rebeca é inegável. Apenas neste ano, 425 meninas conseguiram sua tão sonhada vaga no projeto, que é subsidiado pela prefeitura, após passar horas em uma fila de inscrições. O caso se torna mais impressionante quando se descobre as outras centenas de crianças que ainda estão na lista de espera. Somadas, as novas e antigas atletas já são cerca de 800, conta Rosana Marques Araújo, professora e coordenadora do local.

Uma das alunas treina nas barras assimétricas. Ao fundo, o graffiti de Rebeca Andrade, pintado em homenagem à atuação da atleta nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, quando se tornou a primeira medalhista olímpica da ginástica artística feminina Foto: Júlia Pereira/Estadão

Dentre elas, algumas são responsáveis por trazer à cidade seus títulos mais recentes. Guarulhos conquistou pódios nos Jogos da Juventude deste ano (foi campeão geral por equipes e levou 12 medalhas no total na competição), foi ouro no nível intermediário do Torneio Nacional de 2023 e conseguiram outras medalhas individuais e por equipes no Campeonato Estadual da Federação Paulista, também no ano passado.

O histórico de excelência, no entanto, é construído em meio a algumas dificuldades. Apesar da visibilidade internacional de Rebeca Andrade (que é inspiração para as meninas que treinam ali) e da sequência de bons resultados, as garotas ainda não possuem todas as condições estruturais para alcançar seu ápice esportivo, afirmam professoras.

A antiga Rebeca

Mônica Barroso dos Anjos ainda se lembra do momento em que viu Rebeca Andrade pela primeira vez. Foi ela quem aprovou a então aspirante a ginasta e permitiu que ela começasse a treinar no ginásio. Desde sempre, enxergou potencial na garota. “A gente fazia um teste duas vezes por ano, e a Rebeca tinha perdido esse teste. A Cida era funcionária do ginásio, trabalhava na cozinha e chegou na Rose [coordenadora do ginásio à época] e perguntou se ela podia abrir uma exceção. A Rose abriu uma exceção e falou para falar comigo antes. Eu estava na sala dos professores, chega a Cida e me fala: ‘Mônica, eu trouxe minha sobrinha. Queria que você desse uma olhada nela’”.

Já no teste, Mônica notou a habilidade da garota e seu corpo apto para a prática da ginástica artística. Não tinha como ser diferente: quis a pequena menina na sua equipe. “Acho que caiu uma futura Daiane dos Santos aqui no nosso ginásio”, disse a uma das professoras. Tempos depois, Rebeca seria chamada de “Daianinha de Guarulhos”.

A primeira professora de Rebeca não esconde o orgulho que sente da excepcional aluna. Ela não só esteve presente nos Jogos do Rio, como também atuou como voluntária nos Pan-Americanos que classificaram a atleta para os Jogos de Tóquio. De longe, no Brasil, acompanhou a ginasta conquistar o posto de maior olímpica do País.

“Quando eu vi a nota, fiquei muito feliz, muito emocionada. Passa todo um filme na cabeça de quando ela entrou. Foi uma felicidade enorme, um ouro que ela ganhou em cima de uma Biles. E a Biles fazendo tudo: não errou, não caiu, ela deu alguns passos. Foi muito emocionante”, relembra a final do solo, quando Rebeca derrotou uma das maiores ginastas da história.

Rosana se sente da mesma maneira: “É muito gratificante. Sabendo que aqui em Guarulhos tem talentos não só na ginástica, mas em outras modalidades, e em pensar que ela chegou a tanto. Ela é considerada uma estrela no mundo do esporte”.

O ginásio

Por meio do programa Guarulhos Campeão, o governo guarulhense subsidia boa parte dos gastos necessários. “Aqui é um projeto da prefeitura. Eles dão o ginásio, os professores, é tudo mantido pela prefeitura. Eles pagam as taxas da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), da federação”, conta Mônica.

É também a prefeitura que sustenta os valores dos campeonatos que as atletas participam. “Como é um órgão público, tem um chamamento. Vem uma verba para as equipes de competição. E com esse chamamento a gente paga o Troféu São Paulo, campeonato paulista, brasileiro, transporte e alimentação”, explica Rosana.

Nem tudo, porém, é perfeito. Ainda faltam para as garotas algumas coisas essenciais para atletas de alto rendimento. “Se a gente quiser participar de mais, Pan-americanos, mundiais, já tem que fazer as ações. As mães montam cantina. Tudo porque é órgão público, tem que dividir com todas as outras modalidades, tem as outras prioridades”, continua a coordenadora, sobre os campeonatos.

“A psicóloga que vem é uma voluntária, ela faz um trabalho com as meninas de 15 em 15 dias. E hoje não tem esse acompanhamento de nutricionista. Não temos fisioterapeuta no ginásio, mas tem um departamento da prefeitura que elas vão até lá para tratar”, conta Mônica, sobre outros acompanhamentos que atletas devem ter. “Professora de balé a gente tem, mas também é uma escola de dança, a Rita Camilo, que cedeu para a gente. Vamos fazendo parcerias para conseguir as coisas, porque a prefeitura dá uma parte, mas não tem condições de dar tudo”.

Ambas afirmam que apesar de o ginásio ter condições, pode melhorar. “Os equipamentos precisam dar uma melhorada. Nosso fosso, precisa ter um fosso de mais qualidade”, diz a coordenadora. “Eu acho que tem que fazer um outro ginásio, porque aqui tem que comportar as equipes que treinam, mais a turma de massificação e mais essas oficinas dessas 425 crianças que nós pegamos. Deveriam fazer mais um ginásio para nós e colocar aparelhos mais modernos”.

Rosana afirma que os aparelhos que estão no local são os mesmos desde a inauguração do ginásio, que aconteceu em 1992. “O tablado a CBG doou para nós, mas já está desgastado. Teria que fazer uma nova compra de aparelhos para nós”. A quantidade crescente de alunas desgasta cada vez mais rápido os materiais.

Questionada, a prefeitura de Guarulhos afirma que “a última intervenção no Ginásio Bonifácio Cardoso foi no ano de 2023: uma reforma em parceria com o Rotary Club de Guarulhos. Ela incluiu impermeabilização do telhado, instalação de exaustores, pintura interna e reforma dos vestiários masculino e feminino”. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o Rotary Club de Guarulhos. No entanto, uma matéria no site oficial da instituição lista as mesmas melhorias citadas pela assessoria da prefeitura. Não há indicações sobre uma nova reforma.

Sobre os aparelhos, a prefeitura diz que os renova periodicamente e também recebe aparelhos novos. “Ainda em 2024 serão adquiridos novos colchões e um novo tablado completo”, completa. Não há informações sobre compra dos demais aparelhos. Acerca do acompanhamento com outros profissionais, a nota afirma que “a prefeitura oferece, junto ao Cemmderoc (Centro Municipal de Medicina Desportiva Osvaldo de Carlos), serviços de fisioterapia, e, em parceria com a Faculdade Anhanguera, disponibiliza psicólogos, nutricionistas, dentistas e fisioterapeutas”.

Por fim, sobre a participação em campeonatos internacionais de grande porte, a prefeitura explica: “A verba destinada dentro do chamamento público para custeio de taxas federativas, transporte, alimentação, uniformes e material esportivo pode ser usada para qualquer competição, desde que prevista no plano de trabalho apresentado à Prefeitura de Guarulhos. Caso a verba seja insuficiente, a administração ainda tem o recurso do adiantamento de verba, por meio do qual é pleiteada a complementação de valores diretamente ao gabinete do prefeito”.

A assessoria esclarece também que é permitido às entidades esportivas buscar apoio por meio de patrocínios. Porém, ainda que procurem, as ginastas responsáveis não conseguiram encontrar empresas responsáveis — mesmo com a grande visibilidade trazida pelo nome de Rebeca Andrade.

“É muito difícil. Vamos atrás, fazemos o projeto, mas nenhuma empresa patrocina. Mesmo na outra Olimpíada, em que a Rebeca se destacou, fomos atrás de patrocínio e também nenhuma empresa quis patrocinar. Vamos ver agora, se com toda essa repercussão alguma empresa se interessa”, conta Rosana.

As novas ‘Rebecas’

Não só para as novas crianças que decidiram se aventurar no esporte graças a medalhista olímpica, Rebeca é inspiração também para as meninas que estão no Ginásio Bonifácio Cardoso por quase toda a vida. É o caso de Beatriz Targino, de 13 anos. Só de ginástica, já tem quase uma década. Treina desde os quatro anos de idade no grande galpão em Guarulhos e tem o salto como aparelho preferido — assim como Rebeca, que domina a prova.

Ela conta que quis participar da modalidade por ser uma criança agitada. “Quando eu era criança, pulava muito. Eu tinha um computador no meu quarto, em que eu ficava a madrugada inteira assistindo ginástica, a rítmica também. A minha mãe tinha uma amiga que tinha o contato aqui do ginásio e falou ‘olha, leva sua filha lá’”, conta sobre seu começo.

Ainda que na época que começou Rebeca sequer tivesse participado de seus primeiros Jogos Olímpicos, Beatriz também a considera um exemplo. “Eu sempre soube que quando eu tinha muitas dificuldades, ela [Rebeca] também teria passado por tudo aquilo. Saber que ela passou por tudo que eu posso estar passando agora me dá uma inspiração”, explica.

A mãe da ginasta, Vanessa de Oliveira, relata os desafios que passa para que a filha possa treinar. “Para nós não é fácil. Eu não moro aqui em Guarulhos, eu moro em São Paulo, na Freguesia do Ó. É uma hora e meia, quase duas [de viagem até o Ginásio]. São nove anos nesse trajeto, trazendo ela todos os dias”. A longa distância era um problema também enfrentado por Rebeca: a atleta andava por quase duas horas até o mesmo local de treino, acompanhada por um dos irmãos, quando faltava dinheiro para a condução.

No caso de Beatriz, é Vanessa quem a acompanha diariamente. “Eu abdiquei da minha vida para sonhar o sonho dela. De segunda a sábado, ela sai da escola meio-dia, malemá come. A gente sai, pega o trânsito imenso na marginal, na Dutra, para chegar aqui todos os dias e treinar até seis horas da tarde. Enquanto ela quiser permanecer, ela vai estar”, conta.

O esforço dá resultados. Em um campeonato nacional, no ano passado, Beatriz ficou em sexto lugar. Neste ano, participará de novo. E a pequena ginasta almeja voos ainda maiores: quer chegar onde Rebeca chegou. “É bem difícil chegar no nível olímpico, mas a gente vai tentando, treinando, se dedicando. Queira ou não, a nossa vida é aqui no ginásio. A gente vai treinando cada vez mais para chegar onde ela chegou”.

As demais crianças, além da dedicação, compartilham a admiração pela ginasta olímpica. “Nas competições, a gente se reuniu, e elas [crianças] estavam ali naquela torcida. Elas se espelham muito, conseguem enxergar que é real, que a Rebeca saiu daqui com as dificuldades todas que ela teve. É uma lição de vida para as meninas que estão aqui, em termos de saber que é possível chegar no alto e de que a Rebeca também passou por momentos difíceis”, conta Mônica. “Ela virou um ícone como um Pelé, um Ayrton Senna”.

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