Nadadores profissionais costumam fazer dois treinos por dia ao longo de meses, com direito a atividades dentro e fora da piscina, para melhorar suas performances em um mísero segundo. Alguns precisam de anos para reduzir seus tempos em dois ou três segundos. Maria Fernanda Costa precisou de apenas um ano e um mês para evoluir incríveis 15 segundos nos 400 metros livre.
Na manhã deste sábado, ela foi uma das primeiras nadadoras brasileiras a cair na água na Olimpíada de Paris-2024. Classificada à final, que será disputada às 15h52, Mafê está se tornando uma surpresa da natação do País logo em sua estreia em Jogos Olímpicos, a julgar pela forte evolução que vem apresentando nos últimos dois anos.
“Chances de medalha todo mundo tem, porque ‘é uma raia, é uma chance’. Todo mundo que está com uma oportunidade ali tem chance de fazer história. Mas como é uma Olimpíada, não vou dizer que é certeza ou que é fácil porque é difícil para todo mundo, até para quem bate recorde mundial”, disse Mafê, como é mais conhecida, ao Estadão.
A nadadora piorou um pouco seu tempo, 4min03s47 contra 4min02s86 do quarto lugar no Mundial de Doha no começo do ano, mas foi o suficiente para terminar com a sétima melhor marca e garantir a raia 1 na final.
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A disputa dos 400m livre foi a primeira de três provas que a nadadora de 21 anos vai participar na capital francesa. Depois, ela vai disputar os 200m e o revezamento 4x200m livre.
“Precisamos estar no nosso melhor tanto mentalmente como fisicamente. Todo mundo passa por altos e baixos e a gente não sabe como os atletas vão estar lá, como a gente vai estar lá. Mas eu sei que tá todo mundo treinando e fazendo pra dar o seu melhor”, comenta a atleta, que fala com propriedade sobre oscilações físicas e até mentais.
Antes de alcançar esse grande momento esportivo, Mafê precisou superar uma fase de desânimo, que ela ainda tem dificuldade de classificar. “Eu não sei dizer ao certo porque eu nunca aceitei muito isso. As pessoas chegaram a me perguntar: ‘você acha que você teve depressão ou passou por algo que possa ter sido depressão?’. Eu passei por um momento muito forte, de uma baixa muito grande, mas eu não nomeio isso. Eu só sei que eu passei por isso, foi muito difícil para mim, mas, com muita paciência e com pessoas muito boas no meu lado, eu consegui passar por isso.”
A nadadora tinha 19 anos quando sofreu esse momento de desânimo. A saída contou com dois caminhos diferentes: terapia e o início de trabalho com o consagrado técnico Fernando Possenti, que já trabalhou com Ana Marcela Cunha. “Antes de eu começar a trabalhar com o Fernando, eu tinha perdido totalmente o meu gosto de competir. Eu chegava numa viagem para competir e começava a chorar antes da competição, porque eu não queria estar ali e eu não entendia o porquê que eu não queria estar ali, se eu gostava tanto de treinar”, lembra.
“Eu tenho muita dificuldade de me expressar em diversas formas e o Fernando não teve dificuldade nenhuma e não botou obstáculo nenhum para me entender, para me ajudar. Eu me cobro muito e ele me ajuda a entender o processo, faz eu passar por tudo com muita calma e falar que vai ficar tudo bem. Acho que tudo tem que ter muito equilíbrio e o Fernando me ajudou a encontrar esse equilíbrio.”
O sucesso da parceria apareceu rapidamente. “Comecei a evoluir nos treinos e a gente começou a competir. Antes da seletiva olímpica (em maio deste ano), eu já estava me divertindo, já estava gostando mais. Comecei a trabalhar com o Fernando em janeiro do ano passado e dei resultado em fevereiro deste ano. Então foi um ano e um mês. Nos 200, eu melhorei cinco segundos. Foi tudo no mesmo período. E, nos 100m, foram três segundos”, enumera a atleta.
INÍCIO TARDIO
A evolução de Mafê surpreende também porque a atleta fez um início tardio de carreira, em comparação aos nadadores que costumam brilhar em nível internacional. “Eu sempre soube nadar, mas a natação competitiva começou em 2016. Desde então eu peguei a disciplina e o amor pelo esporte e decidi ir para o alto rendimento.”
A maior conexão de Mafê com as competições era sua irmã Mariana Costa, três anos mais nova e que já estava no alto rendimento. “Ela se destacou primeiro e foi meio que a ponte de tudo. Quando os clubes e técnicos de equipes começaram a chamar a minha irmã, o meu pai, por questões de logística e de rotina, falava que ‘se você for levar a mais nova, vai ter que levar a mais velha também’. Então eu ia por tabela assim com ela para as equipes e aí eu comecei a me destacar pelo meu esforço e minha disciplina”, lembra.
Recentemente, a situação se inverteu. E Mafê trouxe sua irmã para perto. “Eu e minha irmã sempre andávamos juntas. Mas quando fui chamada por um clube, a minha irmã é que veio comigo”, lembra, entre risos. “Andamos juntas até o ano passado. De 2022 para 2023, quando eu decidi treinar com o Fernando, ela decidiu continuar no Flamengo”, explica a atleta, que defende as cores da Unisanta