Integrante da equipe de transmissão da Globo em dias de ginástica artística nas Olimpíadas de Paris-2024, Daiane dos Santos é uma personagem viva na memória dos brasileiros que têm idade suficiente pra tê-la acompanhado brilhando nos ginásios durante o início dos anos 2000. Brasileirinho, choro composto por Waldir Azevedo e utilizado na rotina de solo da gaúcha até 2004, é associado a ela até hoje.
Muitos podem não entender direito o que é um duplo twist carpado, mas não se esquecem da euforia que o movimento causou duas décadas atrás, em 2003, quando Daiane o executou com perfeição para ganhar a medalha de ouro no solo do Mundial de Ginástica de Anaheim, nos Estados Unidos. Foi a primeira vez que uma ginasta acertou a acrobacia com perfeição, por isso o movimento foi batizado também como “Dos Santos”. Também foi o primeiro pódio brasileiro em um Mundial da modalidade.
Faltou a Daiane uma medalha olímpica, informação que pode parecer surpreendente aos desmemoriados, mas as conquistas foram muitas e o legado é enorme. Especialista no solo, ela tem oito medalhas de ouro em etapas de Copa do Mundo, além de uma prata e quatro bronzes - um deles nas barras assimétricas.
Em Jogos Olímpicos, o mais perto que ficou do pódio foi em Atenas-2004, edição em que terminou na quinta colocação no solo, justamente com a rotina de Brasileirinho. No mesmo ano, foi nono lugar na disputa por equipes. Disputou ainda os Jogos de Pequim-2008 (8ª por equipes e 6º solo) e Londres-2012 (12ª por equipes).
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A importância de Daiane vai além dos resultados. Basta ver a forma como ela é reverenciada pelas ginastas da atual geração, inclusive a grande estrela Rebeca Andrade. Não é difícil notar a conexão da hoje comentarista com tudo que acontece durante as apresentações da equipe brasileira. Assim como foi durante os Jogos de Tóquio, nos quais ela já integrou a equipe de transmissão da Globo, as lágrimas costumam descer pelos olhos da ex-ginasta a cada conquista e evolução das brasileiras.
Daiane dos Santos também é um símbolo por sua representatividade. Percursora como ginasta negra, abriu caminho para nomes como Rebeca em um esporte predominado por pessoas brancas. Quando começou a treinar no Grêmio Náutico União, em Porto Alegre, era a única negra da equipe. Nesta semana, viu Rebeca e Lorrane Oliveira conquistarem o bronze por equipes em Paris ao lado de Júlia Soares, Flávia Saraiva e Jade Barbosa.
Em 2021, quando Rebeca foi ouro no salto durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, Daiane se emocionou na posição de comentarista. “A primeira medalha de ouro do Brasil foi negra e agora a gente tem a primeira medalha olímpica da ginástica artística, é uma negra. Durante muito tempo as pessoas disseram que não poderia ter uma ginasta, que as pessoas negras não poderiam fazer alguns esportes e a gente vê hoje a primeira medalha numa menina negra”, afirmou na época.