Bruno Carneiro Nunes tinha 25 anos quando gravou um vídeo para participar da seleção do canal Desimpedidos, em 2015, para suprir a saída de Felipe Andreoli. Os apresentadores responsáveis por avaliar os candidatos o acharam parecido com o atacante Fred, à época, no Fluminense. Daí, o apelido nasceu, e Bruno virou Fred, do Desimpedidos. Foi naquele ano que o canal chegou a 1 milhão de inscritos.
Hoje, são quase 10 milhões no YouTube. Fred tem 12,3 milhões de seguidores no Instagram. Em nove anos de parceria, a vida de Bruno virou e revirou algumas vezes. Em junho, aos 35 anos, Fred decidiu dar mais uma volta. Deixou o canal, mas não conseguiu mais deixar de ser Fred, assumindo a assinatura de “Fred Bruno”.
Na trajetória, carrega a participação no que foi, por muito tempo, o maior canal de esporte do YouTube na América Latina. Do quadro Fred+10 à Supercopa Desimpedidos, foram criados produtos que conquistaram diferentes gerações de fãs. O sonho de ser jogador de futebol, realizou como pôde, sendo protagonista da série Vai Pra Cima, Fred! em que virou jogador do Magnus Futsal. Além disso, Viveu em meio a boleiros e conheceu o ídolo Cristiano Ronaldo.
A fama o levou também para o BBB 23. Na vida de famoso, conheceu Bianca Andrade, a Boca Rosa, com quem namorou e tem um filho, chamado Cris, em homenagem ao jogador português. Torcedor do Palmeiras, Fred acompanhou de perto as glórias recentes do clube do coração.
Além do vídeo de candidatura, ele cumpriu um desafio. Tatuou a palavra “zueira” no braço, como símbolo do espírito do canal. O mundo passou por mudanças no entendimento sobre limites de piadas e discursos desde então. Fred e o Desimpedidos acompanharam. A zueira não ficou para trás, mas se adequou, e o apresentador foi e é voz ativa contra discriminação e preconceitos. Foi, ainda, um dos poucos nomes vinculados ao futebol a se manifestar sobre prisões de Daniel Alves e Robinho, ambas por crimes sexuais.
Quando perguntado sobre uma curiosidade, lembra da despedida. O último Desafio do Fred, em que disputava algum jogo contra nomes do futebol, foi ao lado de Rogério Ceni. “Se eu acertasse a última cobrança, eu viraria e ganharia dele. Então, naquele momento eu me concentrei, fechei os olhos e lembrei que era meu último chute pelo Desimpedidos. Me concentrei e mirei na gaveta... Resultado? Bati longe para caramba (risos). Foi melhor ter uma derrota a altura, perder para o Rogério foi uma honra”, conta.
O primeiro trabalho fora do canal foi já com a sequência de grandes eventos deste ano. Fred acompanhou a Copa América, nos Estados Unidos, e foi a Paris, onde cobriu os Jogos Olímpicos no seu próprio perfil.
Afinal, por que você deixou o Desimpedidos?
O que define a minha decisão é o encerramento de um ciclo. Foram nove anos mágicos, realizando quase todos os sonhos possíveis, mas eu tomei essa decisão embasado nisso. Foi concluído tudo o que tinha para concluir, saí de lá amando fazer o que eu fazia e gravar desafios, Fred+10 e tudo mais. É importante sair no momento de sair, e foi um momento que as coisas estavam andando bem, com bons números de views e com conteúdos exclusivos. Acho que eu nunca imaginei sair do Desimpedidos, mas, do jeito que foi planejado e saindo praticamente no auge, vejo que deu certo esse planejamento. Até porque eu guardo um carinho muito grande pelo canal, e o público ficou com a sensação de que o trabalho foi bem feito. Eu praticamente entreguei minha vida inteira, foram anos me dedicando 100% ao Desimpedidos... acho que o ciclo foi encerrado da melhor maneira possível.
Entre tantos momentos, como gravar com o Cristiano Ronaldo, as finais de Champions, Copa do Mundo... Qual foi o seu ponto alto neste período, em termos de trabalho?
Eu tenho dois momentos que são os maiores no Desimpedidos - é como se fossem dois filhos muito importantes para mim. A primeira é a entrevista com o Cristiano Ronaldo, que teve uma proporção e projeção muito grande para a minha carreira. O YouTube sempre sofreu com muita desconfiança, as pessoas não davam muita credibilidade para o trabalho na internet, e eu sabia que estava representando não só a mim, mas também vários youtubers, para passar credibilidade e profissionalismo com um projeto com tamanha grandeza. O “Vai Pra Cima, Fred”, a série, foi o desafio mais difícil que eu tive. Foi um ano de preparação que abri mão de uma série de coisas, passando por uma série de sacrifícios, principalmente físicos - que sofro até hoje para você ter uma ideia. Não me arrependo porque foi um dos momentos mais mágicos da minha vida ter participado da série, ter realizado o meu sonho de ser jogador profissional.
Supriu o sonho de ser jogador? Ou acabou ser experiência e emoção particulares?
A série foi a realização perfeita. O Fred permitiu que o Bruno realizasse o maior sonho da vida dele. Profissional e pessoalmente, foi um desafio e um sonho muito grande, porque eu tinha essa vontade de saber se eu poderia ser um jogador profissional - não queria morrer com essa dúvida. Felizmente pude sanar essa interrogação na minha cabeça da melhor maneira possível. Mostrou para mim como sou focado, determinado, dedicado e o quanto meu profissionalismo já me levou a lugares e conquistas incríveis. E, pessoalmente, saber que sou capaz de disputar de igual para igual com outros profissionais.
Imagino que, na vida pessoal, o ponto mais alto nesses anos tenha sido o nascimento do Cris.
Sem dúvidas foi o nascimento do Cris. É o momento mais especial da minha vida, já deixei claro o quanto é especial ter a oportunidade de sentir o amor mais puro e verdadeiro que um ser humano pode sentir. Até curioso porque, provavelmente, se eu não tivesse entrado no Desimpedidos, o Cris não teria nascido. O Desimpedidos é tão importante na minha vida que até no nascimento do meu filho eles têm ligação direta.
Como você avalia o cenário das transmissões de futebol hoje? Acha que a internet vai ‘derrubar’ a TV?
Com relação às transmissões, eu acho que estão crescendo muito. Não acho que a internet vá acabar com a TV - lembro que quando surgiu o You|Tube, disseram que ia acabar com a TV. Mas, eu acho que existe espaço para todo mundo. Existem transmissões exclusivas para internet, outras para streaming e por aí vai. Acho que estamos vivendo e experienciando o futuro. Não acho que vai ter uma dominância de um determinado veículo, vai ficar sempre nessa dança das cadeiras e quem tem a ganhar é o consumidor que pode diferenciar as transmissões das mais variadas maneiras possíveis.
O mundo boleiro muitas vezes reproduz preconceitos. Como você interage com discriminações sociais que se reproduzem no futebol?
Com relação às discriminações e todas as problemáticas que envolvem o futebol e as torcidas, eu acho que meu posicionamento sempre foi muito claro. Segurei por muito tempo expor as minhas posições até por orientações de outras pessoas, mas meu amadurecimento e minha responsabilidade, até pelo tamanho da minha figura, percebi a necessidade do meu posicionamento na maioria dos casos - e isso só tende a melhorar e evoluir como pessoa e como profissional. Hoje em dia tenho uma série de ferramentas que utilizo para me posicionar por conta do meu tamanho, público, lugares aonde vou e da voz que tenho. Vou querer me posicionar cada vez mais já que o futebol me deu tanto. Chegou a hora de eu devolver um pouco ajudando a formar torcedores melhores.
Qual o seu plano de carreira para agora?
Meu plano de carreira agora é priorizar minha equipe. Tenho 11 pessoas que trabalham comigo, então, a empresa está crescendo bastante e quero me aproximar também no relacionamento com as marcas. É algo que eu sou apaixonado em fazer, produzir conteúdos para marcas ou orgânico, sempre de uma forma que o público goste de assistir. Felizmente recebi boas propostas depois que saí do Desimpedidos, e a parte boa é que são boas propostas, então, eu vou ter como pensar e escolher aquelas que fazem mais sentido com o meu momento de vida e de carreira. No final do dia, eu sempre escolho o que alimenta os meus sonhos, que me trazem desafios novos e que me proporcionam mais qualidade de vida para ficar com o meu Neneco (Cris).
O que você diria para o Fred de 2015 que tatuou “zoeira” no braço? Aliás, a tatuagem continua aí?
Por fim, a mensagem que eu daria para o Fred de 2015 é que ele estava certo, que ele estava muito certo! Mesmo com pouquíssimas pessoas acreditando, mesmo com poucas esperanças que daria certo, deu muito certo! A tatuagem da zoeira ainda está no meu braço, vai ficar para sempre e, até o que define a minha fala para o Bruno de 2015 é a outra tatuagem que fiz em homenagem ao Kobe (Bryant). Nesta tatuagem diz: “Deixe o jogo melhor do que você encontrou”. Então, eu deixei o YouTube esportivo muito melhor do que eu encontrei e “quando for a hora de sair, deixa, lenda”. Eu acho que deixei meu legado no Desimpedidos e no YouTube. Acho que agora chegou a hora de fazer a história de uma nova maneira e me esforçar da mesma maneira que me esforcei para conquistar tudo o que conquistei.