Prestes a chancelar a transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), em assembleia marcada para terça-feira, a Portuguesa ainda tem debates internos sobre o contrato da venda de 80% de suas ações à Tauá Futebol. O Conselho de Orientação e Fiscalização do Clube (COF) fez algumas ressalvas sobre o acordo, entre elas o temor de que o clube social fique endividado por causa de alguns termos, os quais a Tauá, contudo, garante que não vão onerar a associação.
A dívida levantada pelo grupo de investidores, por auditoria, está na casa de R$ 550 milhões, valor que foi levado para recuperação judicial. Cofistas dizem que a dívida real seria de R$ 900 milhões, mas não apresentaram nenhum documento que comprove isso.
O COF afirma que chegou a tal valor com base em um diagnóstico contábil realizado pela empresa BDO, após o balanço das contas do clube referente a 2023 ter sido reprovado. A reportagem teve acesso e analisou os documentos da BDO e não encontrou a discriminação dessa diferença. De acordo com a avaliação do órgão, a diferença de R$ 350 milhões oneraria os cofres do clube social da Portuguesa, que vai manter 20% das ações.

O posicionamento do COF de que o clube social pode ser onerado repousa sobre outros pontos. O COF encomendou pareceres junto à CDSB, empresa de consultoria de Sérgio Santos Rodrigues, ex-presidente do Cruzeiro que participou da implementação da SAF no clube mineiro, vendido para Ronaldo Fenômeno em 2021 - posteriormente, o ex-jogador negociou suas ações com o empresário Pedro Lourenço.
Em um primeiro documento, é sugerida que seja criada uma margem extra, além dos cerca de R$ 523 milhões até então calculados como divida total, no caso do surgimento de um passivo oculto posterior. Em novo parecer, após o compromisso de pagamento da Tauá ser atualizado para R$ 550 mil, é destacado que o próximo passo seria “entender se esta é uma margem suficiente para proteger” o clube.
Procurada pela reportagem, a Tauá Futebol pontua que, se novas dívidas forem descobertas, serão incluídas no processo de recuperação judicial (RJ) pelo qual o clube passa neste momento. O grupo também garante ter mapeado e conversado com todos os credores da Lusa para inclui-los na RJ.
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O COF diz ser favorável à SAF e que tem feito pontuações para que a associação não seja prejudicada. Nos relatórios, o órgão também vê nova dívida sendo originada a partir dos investimentos prometidos ao departamento de futebol do clube. O compromisso é de investir R$ 12 milhões, captados no mercado, de forma que o COF entende que a SAF já nasce devendo empréstimos.
Esse primeiro aporte já está em andamento e, segundo a Tauá, já foram investidos R$ 10 milhões no clube até o momento. O plano era que os R$ 12 milhões fossem injetados até setembro, para quando está previsto um segundo aporte de R$ 18 milhões, quando devem se concluir os trâmites da recuperação judicial. Como restam ainda seis meses, a tendência é que o valor do primeiro aporte passe da quantia original.
Os investidores argumentam que a interpretação do COF está equivocada, porque não se trata de um empréstimo e sim de um investimento. Além disso, garantem que o clube social não será onerado por causa de dívidas e receberá 20% dos dividendos, como é seu direito frente à fatia que possui das ações.
Embora a transformação em SAF tenha sido aprovada em novembro do ano passado, e o contrato tenha sido assinado, as ressalvas apontadas pelo COF foram consideradas pelo presidente da Assembleia, Marcos Lico, que alegava que o resultado só seria homologado se as ressalvas levantadas pelo COF fossem aceitas pelos investidores.
Eles defenderam que essas recomendações foram contempladas no contrato assinado entre as partes. O COF entende que o documento continua com “pontos de atenção” que precisam ser observados para “resguardar os interesses do clube”.
A pressão fez Lico mudar de ideia, e ele decidiu retificar a ata da assembleia no último dia 10. Só que o cartório não reconheceu a ata retificada e sugeriu a realização de uma nova assembleia. A Portuguesa chegou a ir à Justiça e os investidores enviaram uma notificação alertando para um possível fim da parceria. Uma nova assembleia, a ser realizada nesta terça, 18, deve chancelar a ata da SAF.
Na prática, sem a oficialização da SAF, a Portuguesa não pode registrar novos atletas, nem receber cotas de televisão, valores de premiação etc. A Portuguesa SAF, para a Federação Paulista de Futebol (FPF) e para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), não existe, mesmo após R$ 10 milhões investidos pelos acionistas em três meses.