A Adidas vetou que torcedores comprem camisas da seleção alemã personalizadas com o número 44. A tipologia do modelo lançado em março para a Eurocopa 2024, a ser disputada na Alemanha, remete ao símbolo “SS”, da tropa de elite do exército nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Integrantes do grupo trabalharam diretamente ao lado de lideranças do partido de Adolf Hitler e foram guardas nos campos de concentração.
Para evitar que o número fosse aplicado a camisas, a Adidas bloqueou a possibilidade de personalização das camisas vendidas no seu site ou cuja venda é feita pela empresa em outros e-commerces. O Estadão testou a personalização no uniforme de outras seleções patrocinadas pela Adidas, como a Bélgica, e também não foi possível. A polêmica começou quando o historiador alemão Michael König publicou uma imagem da camisa com o número 44, semelhante à sigla SS, e disse que era “questionável” a permissão para o uniforme.
O porta-voz da Adidas Oliver Brüggen confirmou o bloqueio a personalizações à BBC britânica e negou que houvesse intenção na semelhança na tipologia. “Nós, enquanto empresa, somos compromissados contra xenofobia, antissemitismo, violência e ódio em todas as formas”, disse.
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O símbolo da SS era uma runa, sistema de escrita e leitura atribuído historicamente aos povos germânicos, projetada para as unidades nazistas em 1929. Os campos de concentração, um dos locais de atuação de agentes da SS, foram responsáveis pelas mortes de seis milhões de pessoas, aponta o Museu do Holocausto de Curitiba, o primeiro no Brasil.
A Adidas produz os uniformes da seleção alemã desde 1950. Também para o kit da Eurocopa, a fornecedora esportiva lançou um segundo uniforme da cor rosa, com a ideia de remeter a diversidade. O lançamento foi criticado por parte de torcedores, argumentando não ser uma cor tradicional da equipe.
A crise envolvendo a seleção alemã e a Adidas ganha repercussão pouco depois de um anúncio feito por dirigentes da Federação Alemã de Futebol (DFB) sobre trocar a marca pela norte-americana Nike. Ministros alemães se manifestaram contra a decisão. Responsável pela Economia, Robert Habeck, disse que teria “gostado de um pouco mais de patriotismo local”.
Em outro sentido, mas também com críticas, o primeiro-ministro da Baviera, Markus Soeder, enfatizou a relação próxima da seleção com o uniforme de três listras. “A história de sucesso começou em 1954 com a inesquecível vitória na Copa do Mundo, que devolveu ao nosso país a autoconfiança. É por isso que é errado (a troca), uma pena e também incompreensível que esta história termine agora. O comércio não é tudo”. O título que Soeder se refere é o primeiro mundial da Alemanha, que voltou a vencer em 1974, 1990 e 2014.
A DFB defendeu que foi necessário fazer a mudança do ponto de vista econômico. Além disso, a federação garantiu que houve um processo licitatório sem discriminação entre as empresas candidatas. A Nike, que já patrocina seleções como a do Brasil, vai atender a Alemanha entre 2027 e 2024. Conforme a imprensa alemã, o contrato envolveria o pagamento de 100 milhões de euros por ano (R$ 540 milhões), mas os valores não foram divulgados oficialmente.
A Eurocopa começa em junho. A partida de estreia terá a anfitriã Alemanha diante da Hungria. A final está prevista para ocorrer em 14 de julho, no Estádio Olímpico de Berlim. Veja aqui os grupos do torneio.