Alemanha quer apagar fracassos em campo enquanto se preocupa com terrorismo ao sediar Eurocopa


País conta com operação de segurança inédita e tem cenário político conturbado; torcedores reconquistam confiança no time às vésperas da estreia

Por Leonardo Catto

Dez anos depois de conquistar a Copa do Mundo no Brasil, a seleção alemã precisa se provar enquanto o país sedia a Eurocopa 2024. A Alemanha vem de duas eliminações na fase de grupos dos mundiais. Os torcedores, porém, estão confiantes de que o desempenho no torneio será diferente - e melhor. Fora de campo, a preocupação do governo federal, UEFA e órgãos de segurança são possíveis ataques terroristas e brigas de torcida, enquanto a política vive um ambiente inflamado.

Após a definição dos grupos da Eurocopa, a demanda por ingressos fora da Alemanha foi de 35% do total de vendas, para 59%, segundo a UEFA. A maior procura vem de Turquia, Hungria, Inglaterra, Albânia e Croácia. A expectativa do governo alemão é que 2,7 milhões de pessoas vão aos estádios, e 12 milhões participem dos eventos públicos nas 10 cidades-sede.

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Como na Copa do Mundo 2006, o país estabeleceu um controle fronteiriço temporário. Segundo a ministra do Interior, Nancy Faeser, a preocupação não foi motivada por um ataque acontecido em Moscou em março e pelo qual o ISIS assumiu responsabilidade. Na época, contudo, Faeser disse que “o terrosismo islâmico continua agudo” ao se referir ao atentado. Ela já citou também uma preocupação especial com a segurança da delegação ucraniana, cujo país está em guerra com a Rússia.

O estado de atenção é semelhante ao vivido na França às vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris. O país germânico, porém, não trabalha com níveis de alerta de terrorismo como os vizinhos, ou a Itália. “A situação pode variar de região para região e até em uma única cidade”, afirma o Ministério do Interior em seu site. O objetivo em evitar lidar com alerta é driblar uma possível “sensação imprecisa de que o perigo é o mesmo em todos os lugares”. O Ministério argumenta ainda que não pretende “aumentar desnecessariamente o sentimento de insegurança” e que o Departamento Federal de Polícia Criminal (BKA) fará avaliações sobre os riscos periodicamente.

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Alemanha Ocidental, com Beckenbauer, venceu a Eurocopa pela primeira vez em 1972. Foto: UEFA/Divulgação

Uma operação inédita reúne especialistas em segurança de todos os 24 países participantes da Eurocopa. São cerca de 300 integrantes no Centro de Cooperação Internacional de Polícia (IPPC), em Neuss, no Oeste da Alemanha, à 567 km de Berlim. “Cada país conhece melhor que qualquer outro seus causadores de problemas”, explicou Oliver Strudthoff, diretor do IPCC. “As delegações estarão mais ou menos reforçadas em função do número e da periculosidade de seus torcedores. A Inglaterra, por exemplo, terá muitos mais representantes que a Suíça”, exemplificou.

Segurança foi a maior das nossas prioridades

Philipp Lahm, presidente do comitê organizador da Euro 2024 e campeão mundial com a Alemanha

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O presidente do comitê organizador da Eurocopa 2024 é conhecido dos gramados. O ex-lateral capitão do time campeão do mundo em 2014, Philipp Lahm, teve um papel político em ser “o cara” da Euro. “Desde o início, a segurança foi a maior das nossas prioridades, afirmou Lahm. “Pretendemos aproveitar o poder do futebol para fortalecer a nossa sociedade e celebrar uma Europa forte e unida”, projeta o ex-jogador.

Em abril, Lahm participou do Congresso Europeu de Polícia, em Berlim, como representante da organização da Eurocopa 2024. Foto: @philipplahm via X

Nos estádios e entornos, serão entre 800 e 1.300 agentes de segurança mobilizados. Como prevenção de brigas, o Reino Unido proibiu cerca de 1,6 mil torcedores de Inglaterra e País de Gales de viajar para o torneio. Os países são conhecidos pelos “hooligans” (torcedores que buscam tumultuar o ambiente esportivo com violência).

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A própria Alemanha, contudo, vive um cenário político inflamado. Em 2006, quando o país sediou a copa, a pátria foi celebrada. Isso era um tabu para o país que evitava o nacionalismo com receio de evocar referência ao nazismo, ideologia de extrema-direita nascida lá e que tomou conta de boa parte da Europa no entre-guerras. Agora, contudo, os símbolos nacionais são exaltados, mas não somente pelo esporte. Muitas vezes, isso é aliado à xenofobia. Campeão do mundo em 2014, o meia Mesut Özil acusou a federação alemã de discriminação quando anunciou a aposentadoria, em 2018. Ele tem ascendência turca. Recentemente, 21% de 1,3 mil entrevistados disseram que gostariam de ver mais atletas de origem caucasiana na seleção.

No campo político, forças como o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) cresceram a após a crise de 2008 e defendem ideias contrárias à migração, por exemplo, ainda que não sejam identificadas com extremismo. O crescimento é verificado nas eleições para o Parlamento europeu, no começo da semana, em que o AfD conquistou 16,2% dos votos, o maior percentual registrado pela sigla. Bandeiras alemãs tomavam conta da comemoração.

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A doutoranda em Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR) Natali Hoff explica um ponto importante na ascensão desses movimentos. “A Copa aconteceu dois anos antes da crise de 2008, que gerou impactos bastante significativos em relação à União Europeia”, pontua, mas pondera: “A gente tem assistido a um momento de mobilizações nas ruas da Alemanha contrárias a esses grupos de extrema-direita, pensando nas eleições do ano que vem”.

Esses movimentos políticos encontram uma base no na região oriental, que sofre mais com a pobreza. Há também cooptação de jovens. A faixa-etária, antes, era majoritariamente progressista. Para Natali, contudo, o flerte de partidos como o AfD com o extremismo pode levar eleitores para uma direita mais moderada.

Segundo o professor de História Contemporânea, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Vinícius Liebel, a democracia alemã tende a rejeitar o nacionalismo, pautada na memória. Entretanto, ele reflete que isso não significa que não haja preocupação com o crescimento de grupos discriminatórios. “Essa resistência (ao extremismo) é ativa e consistente. O projeto da AfD, por sua vez, é de longo prazo. Ela busca se manter visível até se tornar aceitável para a maioria da população”, avalia.

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Seleção vive recuperação em campo

No futebol, enquanto as demais seleções europeias disputavam as Eliminatórias, a Alemanha tinha amistosos nas Datas Fifa. O desempenho, contudo, não era motivo de empolgação. Em 2023, o retrospecto contou com derrotas para Bélgica, Polônia, Colômbia e Japão. Esta última custou o cargo de Hansi Flick, que agora substituirá Xavi no Barcelona. Para o lugar dele, a federação alemã contratou Julian Nagelsmann. Com apenas 36 anos, ele comandaria o selecionado alemão apenas até a Eurocopa.

Com o zagueiro Horts Hrubesch, Aleamanhã foi a primeira seleção bicampeã da Eurocopa, em 1980. Foto: UEFA/Divulgação

O começo foi ruim, com derrotas para Turquia e Áustria, além de um empate com o México. Em março, porém, a seleção alemã bateu a França e a Holanda. No mês seguinte, o seu contrato foi renovado até a Copa do Mundo de 2026. No comando do time, são sete jogos - três vitórias, dois empates e duas derrotas. “Era importante dar ao povo o sentimento de que, depois de duas Copas do Mundo ruins, poderíamos dar a volta por cima e fazer uma boa Eurocopa”, disse o diretor esportivo da seleção alemã, Rudi Völler, após os triunfos.

O tri veio em 1996, em Wembley, consagrando a seleção alemã como maior campeã da Eurocopa, igualada pela Espanha apenas em 2012. Foto: UEFA/Divulgação

A virada de chave passou por escolhas de Nagelsmann. Ele convenceu Toni Kroos, aposentado da seleção desde 2021, a voltar para o time. Kimmich saiu do meio-campo e foi deslocado para a lateral direita, mais parecido com o posicionamento que tem no Bayern de Munique. Veteranos como o zagueiro Hummels e o meia Goretzka deram passagem a novos nomes.

O time base ainda conta com experiência do goleiro Manuel Neuer, Rüdiger e Jonathan Tah na defesa, e Gündogan, com a faixa de capitão - o primeiro com histórico de migração na história da seleção alemã. Junto deles, estão jovens promessas: Jamal Musiala e Florian Wirtz, estrela do Bayer Leverkusen campeão da Bundesliga.

Wirtz e Kroos marcam o encontro de duas gerações na seleção alemã que disputa a Eurocopa 2024. Foto: Philipp Reinhard/Federação Alemã de Futebol

Melhora no desempenho aquece torcida, que sonha com título

A preparação do grupo começou no final de maio, com apoio do torcedor. Cerca de 15 mil pessoas acompanharam treinos em Jena, à 263 km de Berlim. “O objetivo principal é criar uma motivação no país, se possível desde o jogo de abertura”, disse o zagueiro Rüdiger.

E isso tem funcionado. A plataforma de pesquisa FanQ e a Universidade de Wurtzburgo publicaram um estudo que entrevistou 3 mil pessoas após vitórias contra França e Holanda. 61,9% dos entrevistados deram quatro ou cinco estrelas (nota máxima) para responder a pergunta “Quanto você espera pela Euro 2024 na Alemanha?”. O mesmo dado, em junho de 2023, era 23,8% do público total. Os números da pesquisa foram divulgados na revista semanal Der Spiegel, de Hamburgo. “O feedback é instantâneo. Se a seleção jogar bem, o apoio vem junto, mas também tem o lado negativo se não apresentarmos um bom futebol. Mas o que eu posso dizer é que será uma grande honra e alegria poder disputar a Eurocopa em casa”, afirmou Kroos, dias antes da estreia.

Oito anos depois do primeiro título, a Alemanha, com o zagueiro Horst Hrubesch, tornou-se a primeira bicampeã da Eurocopa. Foto: UEFA/Divulgação

Quanto ao elenco, são 57,6% dos torcedores que avaliam bem o plantel convocado por Nagelsmann. Entretanto, há 17,9% que deram as duas piores notas. Foram citadas as ausências de Hummels, Goretzka e Julian Brandt - este último vice-campeão da Champions League com o Borussia Dortmund. Ainda assim, 13,6% acreditam no título. A maioria (20%), otimista, mas comedida, crê em uma eliminação na semifinal.

A Alemanha abre a Eurocopa 2024 diante da Escócia, na Allianz Arena, em Munique, nesta sexta-feira, dia 14, às 16h (horário de Brasília). O Grupo A ainda é composto por Hungria e Suíça, que se enfrentam neste sábado, às 10h (de Brasília), em Colônia.

Dez anos depois de conquistar a Copa do Mundo no Brasil, a seleção alemã precisa se provar enquanto o país sedia a Eurocopa 2024. A Alemanha vem de duas eliminações na fase de grupos dos mundiais. Os torcedores, porém, estão confiantes de que o desempenho no torneio será diferente - e melhor. Fora de campo, a preocupação do governo federal, UEFA e órgãos de segurança são possíveis ataques terroristas e brigas de torcida, enquanto a política vive um ambiente inflamado.

Após a definição dos grupos da Eurocopa, a demanda por ingressos fora da Alemanha foi de 35% do total de vendas, para 59%, segundo a UEFA. A maior procura vem de Turquia, Hungria, Inglaterra, Albânia e Croácia. A expectativa do governo alemão é que 2,7 milhões de pessoas vão aos estádios, e 12 milhões participem dos eventos públicos nas 10 cidades-sede.

Como na Copa do Mundo 2006, o país estabeleceu um controle fronteiriço temporário. Segundo a ministra do Interior, Nancy Faeser, a preocupação não foi motivada por um ataque acontecido em Moscou em março e pelo qual o ISIS assumiu responsabilidade. Na época, contudo, Faeser disse que “o terrosismo islâmico continua agudo” ao se referir ao atentado. Ela já citou também uma preocupação especial com a segurança da delegação ucraniana, cujo país está em guerra com a Rússia.

O estado de atenção é semelhante ao vivido na França às vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris. O país germânico, porém, não trabalha com níveis de alerta de terrorismo como os vizinhos, ou a Itália. “A situação pode variar de região para região e até em uma única cidade”, afirma o Ministério do Interior em seu site. O objetivo em evitar lidar com alerta é driblar uma possível “sensação imprecisa de que o perigo é o mesmo em todos os lugares”. O Ministério argumenta ainda que não pretende “aumentar desnecessariamente o sentimento de insegurança” e que o Departamento Federal de Polícia Criminal (BKA) fará avaliações sobre os riscos periodicamente.

Alemanha Ocidental, com Beckenbauer, venceu a Eurocopa pela primeira vez em 1972. Foto: UEFA/Divulgação

Uma operação inédita reúne especialistas em segurança de todos os 24 países participantes da Eurocopa. São cerca de 300 integrantes no Centro de Cooperação Internacional de Polícia (IPPC), em Neuss, no Oeste da Alemanha, à 567 km de Berlim. “Cada país conhece melhor que qualquer outro seus causadores de problemas”, explicou Oliver Strudthoff, diretor do IPCC. “As delegações estarão mais ou menos reforçadas em função do número e da periculosidade de seus torcedores. A Inglaterra, por exemplo, terá muitos mais representantes que a Suíça”, exemplificou.

Segurança foi a maior das nossas prioridades

Philipp Lahm, presidente do comitê organizador da Euro 2024 e campeão mundial com a Alemanha

O presidente do comitê organizador da Eurocopa 2024 é conhecido dos gramados. O ex-lateral capitão do time campeão do mundo em 2014, Philipp Lahm, teve um papel político em ser “o cara” da Euro. “Desde o início, a segurança foi a maior das nossas prioridades, afirmou Lahm. “Pretendemos aproveitar o poder do futebol para fortalecer a nossa sociedade e celebrar uma Europa forte e unida”, projeta o ex-jogador.

Em abril, Lahm participou do Congresso Europeu de Polícia, em Berlim, como representante da organização da Eurocopa 2024. Foto: @philipplahm via X

Nos estádios e entornos, serão entre 800 e 1.300 agentes de segurança mobilizados. Como prevenção de brigas, o Reino Unido proibiu cerca de 1,6 mil torcedores de Inglaterra e País de Gales de viajar para o torneio. Os países são conhecidos pelos “hooligans” (torcedores que buscam tumultuar o ambiente esportivo com violência).

A própria Alemanha, contudo, vive um cenário político inflamado. Em 2006, quando o país sediou a copa, a pátria foi celebrada. Isso era um tabu para o país que evitava o nacionalismo com receio de evocar referência ao nazismo, ideologia de extrema-direita nascida lá e que tomou conta de boa parte da Europa no entre-guerras. Agora, contudo, os símbolos nacionais são exaltados, mas não somente pelo esporte. Muitas vezes, isso é aliado à xenofobia. Campeão do mundo em 2014, o meia Mesut Özil acusou a federação alemã de discriminação quando anunciou a aposentadoria, em 2018. Ele tem ascendência turca. Recentemente, 21% de 1,3 mil entrevistados disseram que gostariam de ver mais atletas de origem caucasiana na seleção.

No campo político, forças como o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) cresceram a após a crise de 2008 e defendem ideias contrárias à migração, por exemplo, ainda que não sejam identificadas com extremismo. O crescimento é verificado nas eleições para o Parlamento europeu, no começo da semana, em que o AfD conquistou 16,2% dos votos, o maior percentual registrado pela sigla. Bandeiras alemãs tomavam conta da comemoração.

A doutoranda em Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR) Natali Hoff explica um ponto importante na ascensão desses movimentos. “A Copa aconteceu dois anos antes da crise de 2008, que gerou impactos bastante significativos em relação à União Europeia”, pontua, mas pondera: “A gente tem assistido a um momento de mobilizações nas ruas da Alemanha contrárias a esses grupos de extrema-direita, pensando nas eleições do ano que vem”.

Esses movimentos políticos encontram uma base no na região oriental, que sofre mais com a pobreza. Há também cooptação de jovens. A faixa-etária, antes, era majoritariamente progressista. Para Natali, contudo, o flerte de partidos como o AfD com o extremismo pode levar eleitores para uma direita mais moderada.

Segundo o professor de História Contemporânea, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Vinícius Liebel, a democracia alemã tende a rejeitar o nacionalismo, pautada na memória. Entretanto, ele reflete que isso não significa que não haja preocupação com o crescimento de grupos discriminatórios. “Essa resistência (ao extremismo) é ativa e consistente. O projeto da AfD, por sua vez, é de longo prazo. Ela busca se manter visível até se tornar aceitável para a maioria da população”, avalia.

Seleção vive recuperação em campo

No futebol, enquanto as demais seleções europeias disputavam as Eliminatórias, a Alemanha tinha amistosos nas Datas Fifa. O desempenho, contudo, não era motivo de empolgação. Em 2023, o retrospecto contou com derrotas para Bélgica, Polônia, Colômbia e Japão. Esta última custou o cargo de Hansi Flick, que agora substituirá Xavi no Barcelona. Para o lugar dele, a federação alemã contratou Julian Nagelsmann. Com apenas 36 anos, ele comandaria o selecionado alemão apenas até a Eurocopa.

Com o zagueiro Horts Hrubesch, Aleamanhã foi a primeira seleção bicampeã da Eurocopa, em 1980. Foto: UEFA/Divulgação

O começo foi ruim, com derrotas para Turquia e Áustria, além de um empate com o México. Em março, porém, a seleção alemã bateu a França e a Holanda. No mês seguinte, o seu contrato foi renovado até a Copa do Mundo de 2026. No comando do time, são sete jogos - três vitórias, dois empates e duas derrotas. “Era importante dar ao povo o sentimento de que, depois de duas Copas do Mundo ruins, poderíamos dar a volta por cima e fazer uma boa Eurocopa”, disse o diretor esportivo da seleção alemã, Rudi Völler, após os triunfos.

O tri veio em 1996, em Wembley, consagrando a seleção alemã como maior campeã da Eurocopa, igualada pela Espanha apenas em 2012. Foto: UEFA/Divulgação

A virada de chave passou por escolhas de Nagelsmann. Ele convenceu Toni Kroos, aposentado da seleção desde 2021, a voltar para o time. Kimmich saiu do meio-campo e foi deslocado para a lateral direita, mais parecido com o posicionamento que tem no Bayern de Munique. Veteranos como o zagueiro Hummels e o meia Goretzka deram passagem a novos nomes.

O time base ainda conta com experiência do goleiro Manuel Neuer, Rüdiger e Jonathan Tah na defesa, e Gündogan, com a faixa de capitão - o primeiro com histórico de migração na história da seleção alemã. Junto deles, estão jovens promessas: Jamal Musiala e Florian Wirtz, estrela do Bayer Leverkusen campeão da Bundesliga.

Wirtz e Kroos marcam o encontro de duas gerações na seleção alemã que disputa a Eurocopa 2024. Foto: Philipp Reinhard/Federação Alemã de Futebol

Melhora no desempenho aquece torcida, que sonha com título

A preparação do grupo começou no final de maio, com apoio do torcedor. Cerca de 15 mil pessoas acompanharam treinos em Jena, à 263 km de Berlim. “O objetivo principal é criar uma motivação no país, se possível desde o jogo de abertura”, disse o zagueiro Rüdiger.

E isso tem funcionado. A plataforma de pesquisa FanQ e a Universidade de Wurtzburgo publicaram um estudo que entrevistou 3 mil pessoas após vitórias contra França e Holanda. 61,9% dos entrevistados deram quatro ou cinco estrelas (nota máxima) para responder a pergunta “Quanto você espera pela Euro 2024 na Alemanha?”. O mesmo dado, em junho de 2023, era 23,8% do público total. Os números da pesquisa foram divulgados na revista semanal Der Spiegel, de Hamburgo. “O feedback é instantâneo. Se a seleção jogar bem, o apoio vem junto, mas também tem o lado negativo se não apresentarmos um bom futebol. Mas o que eu posso dizer é que será uma grande honra e alegria poder disputar a Eurocopa em casa”, afirmou Kroos, dias antes da estreia.

Oito anos depois do primeiro título, a Alemanha, com o zagueiro Horst Hrubesch, tornou-se a primeira bicampeã da Eurocopa. Foto: UEFA/Divulgação

Quanto ao elenco, são 57,6% dos torcedores que avaliam bem o plantel convocado por Nagelsmann. Entretanto, há 17,9% que deram as duas piores notas. Foram citadas as ausências de Hummels, Goretzka e Julian Brandt - este último vice-campeão da Champions League com o Borussia Dortmund. Ainda assim, 13,6% acreditam no título. A maioria (20%), otimista, mas comedida, crê em uma eliminação na semifinal.

A Alemanha abre a Eurocopa 2024 diante da Escócia, na Allianz Arena, em Munique, nesta sexta-feira, dia 14, às 16h (horário de Brasília). O Grupo A ainda é composto por Hungria e Suíça, que se enfrentam neste sábado, às 10h (de Brasília), em Colônia.

Dez anos depois de conquistar a Copa do Mundo no Brasil, a seleção alemã precisa se provar enquanto o país sedia a Eurocopa 2024. A Alemanha vem de duas eliminações na fase de grupos dos mundiais. Os torcedores, porém, estão confiantes de que o desempenho no torneio será diferente - e melhor. Fora de campo, a preocupação do governo federal, UEFA e órgãos de segurança são possíveis ataques terroristas e brigas de torcida, enquanto a política vive um ambiente inflamado.

Após a definição dos grupos da Eurocopa, a demanda por ingressos fora da Alemanha foi de 35% do total de vendas, para 59%, segundo a UEFA. A maior procura vem de Turquia, Hungria, Inglaterra, Albânia e Croácia. A expectativa do governo alemão é que 2,7 milhões de pessoas vão aos estádios, e 12 milhões participem dos eventos públicos nas 10 cidades-sede.

Como na Copa do Mundo 2006, o país estabeleceu um controle fronteiriço temporário. Segundo a ministra do Interior, Nancy Faeser, a preocupação não foi motivada por um ataque acontecido em Moscou em março e pelo qual o ISIS assumiu responsabilidade. Na época, contudo, Faeser disse que “o terrosismo islâmico continua agudo” ao se referir ao atentado. Ela já citou também uma preocupação especial com a segurança da delegação ucraniana, cujo país está em guerra com a Rússia.

O estado de atenção é semelhante ao vivido na França às vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris. O país germânico, porém, não trabalha com níveis de alerta de terrorismo como os vizinhos, ou a Itália. “A situação pode variar de região para região e até em uma única cidade”, afirma o Ministério do Interior em seu site. O objetivo em evitar lidar com alerta é driblar uma possível “sensação imprecisa de que o perigo é o mesmo em todos os lugares”. O Ministério argumenta ainda que não pretende “aumentar desnecessariamente o sentimento de insegurança” e que o Departamento Federal de Polícia Criminal (BKA) fará avaliações sobre os riscos periodicamente.

Alemanha Ocidental, com Beckenbauer, venceu a Eurocopa pela primeira vez em 1972. Foto: UEFA/Divulgação

Uma operação inédita reúne especialistas em segurança de todos os 24 países participantes da Eurocopa. São cerca de 300 integrantes no Centro de Cooperação Internacional de Polícia (IPPC), em Neuss, no Oeste da Alemanha, à 567 km de Berlim. “Cada país conhece melhor que qualquer outro seus causadores de problemas”, explicou Oliver Strudthoff, diretor do IPCC. “As delegações estarão mais ou menos reforçadas em função do número e da periculosidade de seus torcedores. A Inglaterra, por exemplo, terá muitos mais representantes que a Suíça”, exemplificou.

Segurança foi a maior das nossas prioridades

Philipp Lahm, presidente do comitê organizador da Euro 2024 e campeão mundial com a Alemanha

O presidente do comitê organizador da Eurocopa 2024 é conhecido dos gramados. O ex-lateral capitão do time campeão do mundo em 2014, Philipp Lahm, teve um papel político em ser “o cara” da Euro. “Desde o início, a segurança foi a maior das nossas prioridades, afirmou Lahm. “Pretendemos aproveitar o poder do futebol para fortalecer a nossa sociedade e celebrar uma Europa forte e unida”, projeta o ex-jogador.

Em abril, Lahm participou do Congresso Europeu de Polícia, em Berlim, como representante da organização da Eurocopa 2024. Foto: @philipplahm via X

Nos estádios e entornos, serão entre 800 e 1.300 agentes de segurança mobilizados. Como prevenção de brigas, o Reino Unido proibiu cerca de 1,6 mil torcedores de Inglaterra e País de Gales de viajar para o torneio. Os países são conhecidos pelos “hooligans” (torcedores que buscam tumultuar o ambiente esportivo com violência).

A própria Alemanha, contudo, vive um cenário político inflamado. Em 2006, quando o país sediou a copa, a pátria foi celebrada. Isso era um tabu para o país que evitava o nacionalismo com receio de evocar referência ao nazismo, ideologia de extrema-direita nascida lá e que tomou conta de boa parte da Europa no entre-guerras. Agora, contudo, os símbolos nacionais são exaltados, mas não somente pelo esporte. Muitas vezes, isso é aliado à xenofobia. Campeão do mundo em 2014, o meia Mesut Özil acusou a federação alemã de discriminação quando anunciou a aposentadoria, em 2018. Ele tem ascendência turca. Recentemente, 21% de 1,3 mil entrevistados disseram que gostariam de ver mais atletas de origem caucasiana na seleção.

No campo político, forças como o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) cresceram a após a crise de 2008 e defendem ideias contrárias à migração, por exemplo, ainda que não sejam identificadas com extremismo. O crescimento é verificado nas eleições para o Parlamento europeu, no começo da semana, em que o AfD conquistou 16,2% dos votos, o maior percentual registrado pela sigla. Bandeiras alemãs tomavam conta da comemoração.

A doutoranda em Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR) Natali Hoff explica um ponto importante na ascensão desses movimentos. “A Copa aconteceu dois anos antes da crise de 2008, que gerou impactos bastante significativos em relação à União Europeia”, pontua, mas pondera: “A gente tem assistido a um momento de mobilizações nas ruas da Alemanha contrárias a esses grupos de extrema-direita, pensando nas eleições do ano que vem”.

Esses movimentos políticos encontram uma base no na região oriental, que sofre mais com a pobreza. Há também cooptação de jovens. A faixa-etária, antes, era majoritariamente progressista. Para Natali, contudo, o flerte de partidos como o AfD com o extremismo pode levar eleitores para uma direita mais moderada.

Segundo o professor de História Contemporânea, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Vinícius Liebel, a democracia alemã tende a rejeitar o nacionalismo, pautada na memória. Entretanto, ele reflete que isso não significa que não haja preocupação com o crescimento de grupos discriminatórios. “Essa resistência (ao extremismo) é ativa e consistente. O projeto da AfD, por sua vez, é de longo prazo. Ela busca se manter visível até se tornar aceitável para a maioria da população”, avalia.

Seleção vive recuperação em campo

No futebol, enquanto as demais seleções europeias disputavam as Eliminatórias, a Alemanha tinha amistosos nas Datas Fifa. O desempenho, contudo, não era motivo de empolgação. Em 2023, o retrospecto contou com derrotas para Bélgica, Polônia, Colômbia e Japão. Esta última custou o cargo de Hansi Flick, que agora substituirá Xavi no Barcelona. Para o lugar dele, a federação alemã contratou Julian Nagelsmann. Com apenas 36 anos, ele comandaria o selecionado alemão apenas até a Eurocopa.

Com o zagueiro Horts Hrubesch, Aleamanhã foi a primeira seleção bicampeã da Eurocopa, em 1980. Foto: UEFA/Divulgação

O começo foi ruim, com derrotas para Turquia e Áustria, além de um empate com o México. Em março, porém, a seleção alemã bateu a França e a Holanda. No mês seguinte, o seu contrato foi renovado até a Copa do Mundo de 2026. No comando do time, são sete jogos - três vitórias, dois empates e duas derrotas. “Era importante dar ao povo o sentimento de que, depois de duas Copas do Mundo ruins, poderíamos dar a volta por cima e fazer uma boa Eurocopa”, disse o diretor esportivo da seleção alemã, Rudi Völler, após os triunfos.

O tri veio em 1996, em Wembley, consagrando a seleção alemã como maior campeã da Eurocopa, igualada pela Espanha apenas em 2012. Foto: UEFA/Divulgação

A virada de chave passou por escolhas de Nagelsmann. Ele convenceu Toni Kroos, aposentado da seleção desde 2021, a voltar para o time. Kimmich saiu do meio-campo e foi deslocado para a lateral direita, mais parecido com o posicionamento que tem no Bayern de Munique. Veteranos como o zagueiro Hummels e o meia Goretzka deram passagem a novos nomes.

O time base ainda conta com experiência do goleiro Manuel Neuer, Rüdiger e Jonathan Tah na defesa, e Gündogan, com a faixa de capitão - o primeiro com histórico de migração na história da seleção alemã. Junto deles, estão jovens promessas: Jamal Musiala e Florian Wirtz, estrela do Bayer Leverkusen campeão da Bundesliga.

Wirtz e Kroos marcam o encontro de duas gerações na seleção alemã que disputa a Eurocopa 2024. Foto: Philipp Reinhard/Federação Alemã de Futebol

Melhora no desempenho aquece torcida, que sonha com título

A preparação do grupo começou no final de maio, com apoio do torcedor. Cerca de 15 mil pessoas acompanharam treinos em Jena, à 263 km de Berlim. “O objetivo principal é criar uma motivação no país, se possível desde o jogo de abertura”, disse o zagueiro Rüdiger.

E isso tem funcionado. A plataforma de pesquisa FanQ e a Universidade de Wurtzburgo publicaram um estudo que entrevistou 3 mil pessoas após vitórias contra França e Holanda. 61,9% dos entrevistados deram quatro ou cinco estrelas (nota máxima) para responder a pergunta “Quanto você espera pela Euro 2024 na Alemanha?”. O mesmo dado, em junho de 2023, era 23,8% do público total. Os números da pesquisa foram divulgados na revista semanal Der Spiegel, de Hamburgo. “O feedback é instantâneo. Se a seleção jogar bem, o apoio vem junto, mas também tem o lado negativo se não apresentarmos um bom futebol. Mas o que eu posso dizer é que será uma grande honra e alegria poder disputar a Eurocopa em casa”, afirmou Kroos, dias antes da estreia.

Oito anos depois do primeiro título, a Alemanha, com o zagueiro Horst Hrubesch, tornou-se a primeira bicampeã da Eurocopa. Foto: UEFA/Divulgação

Quanto ao elenco, são 57,6% dos torcedores que avaliam bem o plantel convocado por Nagelsmann. Entretanto, há 17,9% que deram as duas piores notas. Foram citadas as ausências de Hummels, Goretzka e Julian Brandt - este último vice-campeão da Champions League com o Borussia Dortmund. Ainda assim, 13,6% acreditam no título. A maioria (20%), otimista, mas comedida, crê em uma eliminação na semifinal.

A Alemanha abre a Eurocopa 2024 diante da Escócia, na Allianz Arena, em Munique, nesta sexta-feira, dia 14, às 16h (horário de Brasília). O Grupo A ainda é composto por Hungria e Suíça, que se enfrentam neste sábado, às 10h (de Brasília), em Colônia.

Dez anos depois de conquistar a Copa do Mundo no Brasil, a seleção alemã precisa se provar enquanto o país sedia a Eurocopa 2024. A Alemanha vem de duas eliminações na fase de grupos dos mundiais. Os torcedores, porém, estão confiantes de que o desempenho no torneio será diferente - e melhor. Fora de campo, a preocupação do governo federal, UEFA e órgãos de segurança são possíveis ataques terroristas e brigas de torcida, enquanto a política vive um ambiente inflamado.

Após a definição dos grupos da Eurocopa, a demanda por ingressos fora da Alemanha foi de 35% do total de vendas, para 59%, segundo a UEFA. A maior procura vem de Turquia, Hungria, Inglaterra, Albânia e Croácia. A expectativa do governo alemão é que 2,7 milhões de pessoas vão aos estádios, e 12 milhões participem dos eventos públicos nas 10 cidades-sede.

Como na Copa do Mundo 2006, o país estabeleceu um controle fronteiriço temporário. Segundo a ministra do Interior, Nancy Faeser, a preocupação não foi motivada por um ataque acontecido em Moscou em março e pelo qual o ISIS assumiu responsabilidade. Na época, contudo, Faeser disse que “o terrosismo islâmico continua agudo” ao se referir ao atentado. Ela já citou também uma preocupação especial com a segurança da delegação ucraniana, cujo país está em guerra com a Rússia.

O estado de atenção é semelhante ao vivido na França às vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris. O país germânico, porém, não trabalha com níveis de alerta de terrorismo como os vizinhos, ou a Itália. “A situação pode variar de região para região e até em uma única cidade”, afirma o Ministério do Interior em seu site. O objetivo em evitar lidar com alerta é driblar uma possível “sensação imprecisa de que o perigo é o mesmo em todos os lugares”. O Ministério argumenta ainda que não pretende “aumentar desnecessariamente o sentimento de insegurança” e que o Departamento Federal de Polícia Criminal (BKA) fará avaliações sobre os riscos periodicamente.

Alemanha Ocidental, com Beckenbauer, venceu a Eurocopa pela primeira vez em 1972. Foto: UEFA/Divulgação

Uma operação inédita reúne especialistas em segurança de todos os 24 países participantes da Eurocopa. São cerca de 300 integrantes no Centro de Cooperação Internacional de Polícia (IPPC), em Neuss, no Oeste da Alemanha, à 567 km de Berlim. “Cada país conhece melhor que qualquer outro seus causadores de problemas”, explicou Oliver Strudthoff, diretor do IPCC. “As delegações estarão mais ou menos reforçadas em função do número e da periculosidade de seus torcedores. A Inglaterra, por exemplo, terá muitos mais representantes que a Suíça”, exemplificou.

Segurança foi a maior das nossas prioridades

Philipp Lahm, presidente do comitê organizador da Euro 2024 e campeão mundial com a Alemanha

O presidente do comitê organizador da Eurocopa 2024 é conhecido dos gramados. O ex-lateral capitão do time campeão do mundo em 2014, Philipp Lahm, teve um papel político em ser “o cara” da Euro. “Desde o início, a segurança foi a maior das nossas prioridades, afirmou Lahm. “Pretendemos aproveitar o poder do futebol para fortalecer a nossa sociedade e celebrar uma Europa forte e unida”, projeta o ex-jogador.

Em abril, Lahm participou do Congresso Europeu de Polícia, em Berlim, como representante da organização da Eurocopa 2024. Foto: @philipplahm via X

Nos estádios e entornos, serão entre 800 e 1.300 agentes de segurança mobilizados. Como prevenção de brigas, o Reino Unido proibiu cerca de 1,6 mil torcedores de Inglaterra e País de Gales de viajar para o torneio. Os países são conhecidos pelos “hooligans” (torcedores que buscam tumultuar o ambiente esportivo com violência).

A própria Alemanha, contudo, vive um cenário político inflamado. Em 2006, quando o país sediou a copa, a pátria foi celebrada. Isso era um tabu para o país que evitava o nacionalismo com receio de evocar referência ao nazismo, ideologia de extrema-direita nascida lá e que tomou conta de boa parte da Europa no entre-guerras. Agora, contudo, os símbolos nacionais são exaltados, mas não somente pelo esporte. Muitas vezes, isso é aliado à xenofobia. Campeão do mundo em 2014, o meia Mesut Özil acusou a federação alemã de discriminação quando anunciou a aposentadoria, em 2018. Ele tem ascendência turca. Recentemente, 21% de 1,3 mil entrevistados disseram que gostariam de ver mais atletas de origem caucasiana na seleção.

No campo político, forças como o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) cresceram a após a crise de 2008 e defendem ideias contrárias à migração, por exemplo, ainda que não sejam identificadas com extremismo. O crescimento é verificado nas eleições para o Parlamento europeu, no começo da semana, em que o AfD conquistou 16,2% dos votos, o maior percentual registrado pela sigla. Bandeiras alemãs tomavam conta da comemoração.

A doutoranda em Ciência Política na Universidade Federal do Paraná (UFPR) Natali Hoff explica um ponto importante na ascensão desses movimentos. “A Copa aconteceu dois anos antes da crise de 2008, que gerou impactos bastante significativos em relação à União Europeia”, pontua, mas pondera: “A gente tem assistido a um momento de mobilizações nas ruas da Alemanha contrárias a esses grupos de extrema-direita, pensando nas eleições do ano que vem”.

Esses movimentos políticos encontram uma base no na região oriental, que sofre mais com a pobreza. Há também cooptação de jovens. A faixa-etária, antes, era majoritariamente progressista. Para Natali, contudo, o flerte de partidos como o AfD com o extremismo pode levar eleitores para uma direita mais moderada.

Segundo o professor de História Contemporânea, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Vinícius Liebel, a democracia alemã tende a rejeitar o nacionalismo, pautada na memória. Entretanto, ele reflete que isso não significa que não haja preocupação com o crescimento de grupos discriminatórios. “Essa resistência (ao extremismo) é ativa e consistente. O projeto da AfD, por sua vez, é de longo prazo. Ela busca se manter visível até se tornar aceitável para a maioria da população”, avalia.

Seleção vive recuperação em campo

No futebol, enquanto as demais seleções europeias disputavam as Eliminatórias, a Alemanha tinha amistosos nas Datas Fifa. O desempenho, contudo, não era motivo de empolgação. Em 2023, o retrospecto contou com derrotas para Bélgica, Polônia, Colômbia e Japão. Esta última custou o cargo de Hansi Flick, que agora substituirá Xavi no Barcelona. Para o lugar dele, a federação alemã contratou Julian Nagelsmann. Com apenas 36 anos, ele comandaria o selecionado alemão apenas até a Eurocopa.

Com o zagueiro Horts Hrubesch, Aleamanhã foi a primeira seleção bicampeã da Eurocopa, em 1980. Foto: UEFA/Divulgação

O começo foi ruim, com derrotas para Turquia e Áustria, além de um empate com o México. Em março, porém, a seleção alemã bateu a França e a Holanda. No mês seguinte, o seu contrato foi renovado até a Copa do Mundo de 2026. No comando do time, são sete jogos - três vitórias, dois empates e duas derrotas. “Era importante dar ao povo o sentimento de que, depois de duas Copas do Mundo ruins, poderíamos dar a volta por cima e fazer uma boa Eurocopa”, disse o diretor esportivo da seleção alemã, Rudi Völler, após os triunfos.

O tri veio em 1996, em Wembley, consagrando a seleção alemã como maior campeã da Eurocopa, igualada pela Espanha apenas em 2012. Foto: UEFA/Divulgação

A virada de chave passou por escolhas de Nagelsmann. Ele convenceu Toni Kroos, aposentado da seleção desde 2021, a voltar para o time. Kimmich saiu do meio-campo e foi deslocado para a lateral direita, mais parecido com o posicionamento que tem no Bayern de Munique. Veteranos como o zagueiro Hummels e o meia Goretzka deram passagem a novos nomes.

O time base ainda conta com experiência do goleiro Manuel Neuer, Rüdiger e Jonathan Tah na defesa, e Gündogan, com a faixa de capitão - o primeiro com histórico de migração na história da seleção alemã. Junto deles, estão jovens promessas: Jamal Musiala e Florian Wirtz, estrela do Bayer Leverkusen campeão da Bundesliga.

Wirtz e Kroos marcam o encontro de duas gerações na seleção alemã que disputa a Eurocopa 2024. Foto: Philipp Reinhard/Federação Alemã de Futebol

Melhora no desempenho aquece torcida, que sonha com título

A preparação do grupo começou no final de maio, com apoio do torcedor. Cerca de 15 mil pessoas acompanharam treinos em Jena, à 263 km de Berlim. “O objetivo principal é criar uma motivação no país, se possível desde o jogo de abertura”, disse o zagueiro Rüdiger.

E isso tem funcionado. A plataforma de pesquisa FanQ e a Universidade de Wurtzburgo publicaram um estudo que entrevistou 3 mil pessoas após vitórias contra França e Holanda. 61,9% dos entrevistados deram quatro ou cinco estrelas (nota máxima) para responder a pergunta “Quanto você espera pela Euro 2024 na Alemanha?”. O mesmo dado, em junho de 2023, era 23,8% do público total. Os números da pesquisa foram divulgados na revista semanal Der Spiegel, de Hamburgo. “O feedback é instantâneo. Se a seleção jogar bem, o apoio vem junto, mas também tem o lado negativo se não apresentarmos um bom futebol. Mas o que eu posso dizer é que será uma grande honra e alegria poder disputar a Eurocopa em casa”, afirmou Kroos, dias antes da estreia.

Oito anos depois do primeiro título, a Alemanha, com o zagueiro Horst Hrubesch, tornou-se a primeira bicampeã da Eurocopa. Foto: UEFA/Divulgação

Quanto ao elenco, são 57,6% dos torcedores que avaliam bem o plantel convocado por Nagelsmann. Entretanto, há 17,9% que deram as duas piores notas. Foram citadas as ausências de Hummels, Goretzka e Julian Brandt - este último vice-campeão da Champions League com o Borussia Dortmund. Ainda assim, 13,6% acreditam no título. A maioria (20%), otimista, mas comedida, crê em uma eliminação na semifinal.

A Alemanha abre a Eurocopa 2024 diante da Escócia, na Allianz Arena, em Munique, nesta sexta-feira, dia 14, às 16h (horário de Brasília). O Grupo A ainda é composto por Hungria e Suíça, que se enfrentam neste sábado, às 10h (de Brasília), em Colônia.

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