A Federação Paulista de Futebol (FPF) vistoriou, os jogadores do Palmeiras aprovaram, bem como o técnico Abel Ferreira, e a Fifa passou cinco horas fazendo testes até certificar o gramado sintético do Allianz Parque. Depois de dois meses de reforma, o campo está pronto para o time alviverde poder voltar à sua casa. A reabertura do estádio será na semifinal do Paulistão contra o Novorizontino, nesta quinta-feira, às 21h35.
Na quarta-feira, véspera da semifinal, um profissional francês e outro americano de um laboratório credenciado pela Fifa, com sede na Inglaterra, passaram mais de cinco horas realizando testes de todos os tipos no gramado até aprová-lo e certificá-lo.
Nos 13 testes feitos pelos técnicos dos laboratórios credenciados pela Fifa, foram analisados fatores como rolagem e quique da bola, absorção de impacto, planicidade e drenagem do gramado. Foi usado, entre vários equipamentos, um que simula o movimento da chuteira do jogador para certificar se o pé do atleta pode ficar preso no campo. Nem a chuva intervalada atrapalhou os profissionais, que deixaram o estádio de noite, perto das 20h.
Essa inspeção é feita todo ano, geralmente em fevereiro ou março. É uma exigência da Fifa para liberar jogos em gramados sintéticos em competições internacionais, como a Libertadores e Sul-Americana, ambas organizadas pela Conmebol. O mesmo não acontece de forma tão frequente nos campos naturais.
22 toneladas de cortiça portuguesa
O termoplástico, de material sintético e oriundo da indústria petrolífera, derreteu devido às ondas de calor e à poluição e deu lugar à cortiça importada de Portugal. Trata-se de um material orgânico, natural, de origem vegetal, com capacidade de isolamento térmico e que pode ser obtido na natureza, da casca da árvore conhecida como sobreiro, típica da Península Ibérica.
A primeira etapa do processo foi a retirada de 50 toneladas do antigo composto termoplástico. Depois, foram removidas 100 toneladas de areia. O passo seguinte foi repor a areia retirada. Só depois disso é que foram instaladas as 22 toneladas de cortiça, mesmo material que sobra na produção das rolhas de vinho. Abel Ferreira gostou do novo gramado, bem como os jogadores, que acharam o piso “mais leve”, segundou ouviu o Estadão de uma fonte ligada ao clube.
Todo esse processo aconteceu sem a remoção da grama. Trata-se do mesmo gramado sintético que está no Allianz Parque desde 2020. Não foi necessário mexer na grama porque a cortiça é colocada por cima dela, até que nivele e assente.
“A grama é a mesma, tem memória, fica em pé. Foi feita na Holanda. É uma baita tecnologia”, diz ao Estadão Alessandro Oliveira, CEO da Soccer Grass, empresa responsável pelo gramado da arena palmeirense. “É mais confortável do que antes”, prossegue o empresário, enquanto caminha pelo campo.
Sua empresa também era responsável pelo sintético da Academia de Futebol, mas o contrato foi rescindido no fim de janeiro por iniciativa do Palmeiras depois que clube subiu o tom em razão da piora da qualidade da grama do Allianz Parque.
O problema, diz a Soccer Grass, não era o gramado em si. A empresa constatou que a grama continua com a mesma altura original dos fios instalados em fevereiro de 2020, não havendo necessidade de reposição dos fios.
Oliveira diz que a reforma no piso do estádio do Palmeiras deveria ter sido concluída em 20 dias, mas se estendeu a quase dois meses porque parte do carregamento de cortiça ficou semanas aguardando a liberação das autoridades alfandegárias nos aeroportos de Viracopos e Guarulhos.
No ano passado, a arena palmeirense recebeu 39 partidas e 39 apresentações musicais. Foi o estádio com o maior número de megaeventos no mundo. O CEO da Soccer Grass calcula que este no piso dure, ao menos, oito anos, e está certo de que será capaz de suportar a grande quantidade de shows e jogos. “O campo está preparado. Não tenho dúvida”.
Campo quase natural
Segundo a Soccer Grass, o gramado sintético do Allianz Parque é o mais próximo de um campo natural em toda os estádios da América Latina porque utiliza fios de grama na base do sistema de tecelagem dos tufos, contribuindo para a manutenção, regularidade do jogo, permeabilidade e drenagem do campo.
“Esse sistema, com esse tipo de grama e esse shock pad (estrutura flexível que absorve e drena a grama sintética) fazem com que chegue mais próximo ao natural”, ressalta oliveira.
O CEO da empresa afirma ter encomendado um estudo para entender o motivo do superaquecimento do termoplástico, que, ao derreter, se transformou numa espécie de pasta que grudava nas chuteiras dos jogadores. O calor e a poluição são apontados como as razões da deterioração do material, mas a Soccer Grass busca saber se houve outros problemas. As avaliações estão na fase final.