Fred Lúcio, antropólogo da ESPM fala sobre o atacante Juninho, do Sport, que negocia com o Corinthians e a torcida alvinegra protesta contra sua chegada, pelo fato dele ter agredido a namorada no ano passado.
O caso do Juninho é algo típico do que acontece no País. Isso tem mais a ver com a cultura brasileira do que com a origem dele. Temos o hábito de pegar uma mão de obra, em qualquer área, projetar essa pessoa e não dar o menor preparo. Existe uma preocupação técnica muito forte, mas esquecemos do aspecto psicológico. Isso acontece na engenharia, no curso de administração, no curso de garçom e também no futebol. Atribuo o comportamento do jogador mais à falta de preparo do que características do sujeito.
Falamos de futebol, mas, nesse ponto, o esporte não tem nada de diferente em relação a uma empresa ou um negócio qualquer. A diferença é que a repercussão de um comportamento como a do garoto é muito maior por ser o futebol.
Pelo que se fala, o jogador teve outros problemas além do relacionamento com a namorada. Isso reforça a tese de que ele tem dificuldades de relacionamento com pessoas. Ele não obedece hierarquias, o que é algo previsível para um menino de 18, 19 anos. O fato de vir de uma família humilde não é motivo para fazer essas coisas, mas potencializa a falta de preparo.
Em relação aos protestos dos torcedores em redes sociais, é questão bem conhecida, chamada comportamento de massa. A pessoa se deixa levar pela opinião da maioria e acaba agindo de forma um pouco diferente do que faria caso não estivesse em grupo. Por exemplo, aquele caso da briga de torcidas de São Paulo e Palmeiras, no Pacaembu (em 1995), quando um são-paulino morreu. Mostraram que o menino que matou o outro era um sujeito pacato, tranquilo e que ninguém imaginava que faria aquilo. Assim como a torcedora que chamou o Aranha de macaco. Ela não é racista, vide as suas redes sociais e o que os amigos diziam dela, mas naquele momento foi. É comum essa ação das pessoas.