Antero Greco e o meu segundo 7 a 1


O Italiano me irritava, porque em 95% das vezes ele estava certo em seus apontamentos

Por Almir Leite
Atualização:

O Italiano é fogo! Acostumei-me a ouvir, e a falar, esta frase sempre que Antero Greco vinha com uma de suas tiradas, a visão sobre um fato que ninguém havia tido, um ensinamento às vezes simples, porém sábio, prático e preciso, e os esporros dados e momentos de irritação. Às vezes como um passe de Gerson, o canhotinha; noutras como um bicão de beque de fazenda.

Com Antero, aqui neste Estadão, foram anos e anos de convivência. Concordâncias, discordâncias, debates acalorados e muitas brigas, principalmente quando ele era editor de Esportes e eu estava na pauta. O Italiano me irritava, porque em 95% das vezes ele estava certo em seus apontamentos.

Antero Greco exerceu diversos cargos em seus mais de 40 anos no Estadão. Foto: Felipe Rau/AE
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Antero sempre sabia o que falar, o que escrever, com seu jeito de italiano do Bom Retiro, o tradicional bairro da capital paulista que luta para manter sua história nos difíceis dias atuais. Fomos juntos a três Copas do Mundo. Ou seja, histórias não faltam. Mas neste dia triste, em que ele passará a comentar as Copas do céu, a que mais me vem à memória foi uma passagem do dia mais triste do futebol brasileiro dentro de campo, o dia do 7 a 1. Por ter sido a única vez que eu vi Antero, o que sempre sabia o que escrever, admitir, ainda que por alguns momentos, não saber o que iria escrever.

Naquele fatídico 8 de julho de 2014, a gente já havia acordado pessimista. O Brasil não estava jogando nada, havia perdido Neymar, o time pouco treinava, Felipão achava que o embalo da torcida e os feitos do passado seriam suficientes, e o adversário era a Alemanha, que se divertia em Cabrália, treinava muito e jogava bem mais que a gente. Em situação normal, sabíamos que não ia dar. Mas sabe como é, sempre há esperança.

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Esperança que acabou exatamente às 15 horas daquele dia, quando saiu a escalação e Felipão prenunciou a tristeza por que os brasileiros passariam ao escalar a alegria nas pernas do frágil Bernard contra o forte e entrosado time alemão.

Na tribuna de imprensa do Mineirão, todos nos olhamos. Todos incrédulos. Alguns até pálidos. Olhei em direção a Antero, e decretei: Perdemos o jogo! “Eu ia te dizer exatamente isso”, devolveu-me ele. Mas, em seguida, completou com o humor que o caracterizava em momentos difíceis. “Felipão queria surpreender os alemães, mas exagerou. Surpreendeu a gente também.” Os caras devem estar é morrendo de rir no vestiário, encerrei, p... (indignado).

Claro que o pior estava por vir – e ninguém imaginava que seria 7, fora o baile. E só não foi pior porque os caras tiveram pena da gente e pararam, essa é a verdade. Jogo começado, um gol aqui, outro ali, três em sequência... Olhei novamente em direção a Antero, que, mirando em minha direção, parecia querer ajuda. “Nem vem. Não olha para mim não, que eu nem imagino o que você pode escrever sobre esse jogo”, falei. (Antero às vezes pedia sugestões ou trocava ideias com os mais próximos sobre os temas de suas colunas.) “É, nem eu”, admitiu.

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Mas o jogo foi passando, as bolas foram entrando, o Brasil foi apanhando e o torcedor no Mineirão chorando.

Terminada a coça, ainda que cambaleando, eu, como um dos repórteres da cobertura do massacre pelo Estadão, pus-me a trabalhar. Segui embalado por outro ensinamento de Antero, este aprendido por ele em outro dia triste para o futebol brasileiro, o 5 de julho de 1982, com outro mestre, Luiz Carlos Ramos, e que o Italiano não cansava de lembrar e repassar: “É chato, é triste, mas no outro dia o jornal tem de estar na banca”. Portanto, vamos trabalhar. Antero também já havia encontrado o tema de sua coluna. E o fez com o brilhantismo, a dureza e o respeito de sempre às figuras de 2014, e aos injustiçados de 1950.

Vá em paz, Antero. Os Pelés da bola e das letras o esperam!

O Italiano é fogo! Acostumei-me a ouvir, e a falar, esta frase sempre que Antero Greco vinha com uma de suas tiradas, a visão sobre um fato que ninguém havia tido, um ensinamento às vezes simples, porém sábio, prático e preciso, e os esporros dados e momentos de irritação. Às vezes como um passe de Gerson, o canhotinha; noutras como um bicão de beque de fazenda.

Com Antero, aqui neste Estadão, foram anos e anos de convivência. Concordâncias, discordâncias, debates acalorados e muitas brigas, principalmente quando ele era editor de Esportes e eu estava na pauta. O Italiano me irritava, porque em 95% das vezes ele estava certo em seus apontamentos.

Antero Greco exerceu diversos cargos em seus mais de 40 anos no Estadão. Foto: Felipe Rau/AE

Antero sempre sabia o que falar, o que escrever, com seu jeito de italiano do Bom Retiro, o tradicional bairro da capital paulista que luta para manter sua história nos difíceis dias atuais. Fomos juntos a três Copas do Mundo. Ou seja, histórias não faltam. Mas neste dia triste, em que ele passará a comentar as Copas do céu, a que mais me vem à memória foi uma passagem do dia mais triste do futebol brasileiro dentro de campo, o dia do 7 a 1. Por ter sido a única vez que eu vi Antero, o que sempre sabia o que escrever, admitir, ainda que por alguns momentos, não saber o que iria escrever.

Naquele fatídico 8 de julho de 2014, a gente já havia acordado pessimista. O Brasil não estava jogando nada, havia perdido Neymar, o time pouco treinava, Felipão achava que o embalo da torcida e os feitos do passado seriam suficientes, e o adversário era a Alemanha, que se divertia em Cabrália, treinava muito e jogava bem mais que a gente. Em situação normal, sabíamos que não ia dar. Mas sabe como é, sempre há esperança.

Esperança que acabou exatamente às 15 horas daquele dia, quando saiu a escalação e Felipão prenunciou a tristeza por que os brasileiros passariam ao escalar a alegria nas pernas do frágil Bernard contra o forte e entrosado time alemão.

Na tribuna de imprensa do Mineirão, todos nos olhamos. Todos incrédulos. Alguns até pálidos. Olhei em direção a Antero, e decretei: Perdemos o jogo! “Eu ia te dizer exatamente isso”, devolveu-me ele. Mas, em seguida, completou com o humor que o caracterizava em momentos difíceis. “Felipão queria surpreender os alemães, mas exagerou. Surpreendeu a gente também.” Os caras devem estar é morrendo de rir no vestiário, encerrei, p... (indignado).

Claro que o pior estava por vir – e ninguém imaginava que seria 7, fora o baile. E só não foi pior porque os caras tiveram pena da gente e pararam, essa é a verdade. Jogo começado, um gol aqui, outro ali, três em sequência... Olhei novamente em direção a Antero, que, mirando em minha direção, parecia querer ajuda. “Nem vem. Não olha para mim não, que eu nem imagino o que você pode escrever sobre esse jogo”, falei. (Antero às vezes pedia sugestões ou trocava ideias com os mais próximos sobre os temas de suas colunas.) “É, nem eu”, admitiu.

Mas o jogo foi passando, as bolas foram entrando, o Brasil foi apanhando e o torcedor no Mineirão chorando.

Terminada a coça, ainda que cambaleando, eu, como um dos repórteres da cobertura do massacre pelo Estadão, pus-me a trabalhar. Segui embalado por outro ensinamento de Antero, este aprendido por ele em outro dia triste para o futebol brasileiro, o 5 de julho de 1982, com outro mestre, Luiz Carlos Ramos, e que o Italiano não cansava de lembrar e repassar: “É chato, é triste, mas no outro dia o jornal tem de estar na banca”. Portanto, vamos trabalhar. Antero também já havia encontrado o tema de sua coluna. E o fez com o brilhantismo, a dureza e o respeito de sempre às figuras de 2014, e aos injustiçados de 1950.

Vá em paz, Antero. Os Pelés da bola e das letras o esperam!

O Italiano é fogo! Acostumei-me a ouvir, e a falar, esta frase sempre que Antero Greco vinha com uma de suas tiradas, a visão sobre um fato que ninguém havia tido, um ensinamento às vezes simples, porém sábio, prático e preciso, e os esporros dados e momentos de irritação. Às vezes como um passe de Gerson, o canhotinha; noutras como um bicão de beque de fazenda.

Com Antero, aqui neste Estadão, foram anos e anos de convivência. Concordâncias, discordâncias, debates acalorados e muitas brigas, principalmente quando ele era editor de Esportes e eu estava na pauta. O Italiano me irritava, porque em 95% das vezes ele estava certo em seus apontamentos.

Antero Greco exerceu diversos cargos em seus mais de 40 anos no Estadão. Foto: Felipe Rau/AE

Antero sempre sabia o que falar, o que escrever, com seu jeito de italiano do Bom Retiro, o tradicional bairro da capital paulista que luta para manter sua história nos difíceis dias atuais. Fomos juntos a três Copas do Mundo. Ou seja, histórias não faltam. Mas neste dia triste, em que ele passará a comentar as Copas do céu, a que mais me vem à memória foi uma passagem do dia mais triste do futebol brasileiro dentro de campo, o dia do 7 a 1. Por ter sido a única vez que eu vi Antero, o que sempre sabia o que escrever, admitir, ainda que por alguns momentos, não saber o que iria escrever.

Naquele fatídico 8 de julho de 2014, a gente já havia acordado pessimista. O Brasil não estava jogando nada, havia perdido Neymar, o time pouco treinava, Felipão achava que o embalo da torcida e os feitos do passado seriam suficientes, e o adversário era a Alemanha, que se divertia em Cabrália, treinava muito e jogava bem mais que a gente. Em situação normal, sabíamos que não ia dar. Mas sabe como é, sempre há esperança.

Esperança que acabou exatamente às 15 horas daquele dia, quando saiu a escalação e Felipão prenunciou a tristeza por que os brasileiros passariam ao escalar a alegria nas pernas do frágil Bernard contra o forte e entrosado time alemão.

Na tribuna de imprensa do Mineirão, todos nos olhamos. Todos incrédulos. Alguns até pálidos. Olhei em direção a Antero, e decretei: Perdemos o jogo! “Eu ia te dizer exatamente isso”, devolveu-me ele. Mas, em seguida, completou com o humor que o caracterizava em momentos difíceis. “Felipão queria surpreender os alemães, mas exagerou. Surpreendeu a gente também.” Os caras devem estar é morrendo de rir no vestiário, encerrei, p... (indignado).

Claro que o pior estava por vir – e ninguém imaginava que seria 7, fora o baile. E só não foi pior porque os caras tiveram pena da gente e pararam, essa é a verdade. Jogo começado, um gol aqui, outro ali, três em sequência... Olhei novamente em direção a Antero, que, mirando em minha direção, parecia querer ajuda. “Nem vem. Não olha para mim não, que eu nem imagino o que você pode escrever sobre esse jogo”, falei. (Antero às vezes pedia sugestões ou trocava ideias com os mais próximos sobre os temas de suas colunas.) “É, nem eu”, admitiu.

Mas o jogo foi passando, as bolas foram entrando, o Brasil foi apanhando e o torcedor no Mineirão chorando.

Terminada a coça, ainda que cambaleando, eu, como um dos repórteres da cobertura do massacre pelo Estadão, pus-me a trabalhar. Segui embalado por outro ensinamento de Antero, este aprendido por ele em outro dia triste para o futebol brasileiro, o 5 de julho de 1982, com outro mestre, Luiz Carlos Ramos, e que o Italiano não cansava de lembrar e repassar: “É chato, é triste, mas no outro dia o jornal tem de estar na banca”. Portanto, vamos trabalhar. Antero também já havia encontrado o tema de sua coluna. E o fez com o brilhantismo, a dureza e o respeito de sempre às figuras de 2014, e aos injustiçados de 1950.

Vá em paz, Antero. Os Pelés da bola e das letras o esperam!

O Italiano é fogo! Acostumei-me a ouvir, e a falar, esta frase sempre que Antero Greco vinha com uma de suas tiradas, a visão sobre um fato que ninguém havia tido, um ensinamento às vezes simples, porém sábio, prático e preciso, e os esporros dados e momentos de irritação. Às vezes como um passe de Gerson, o canhotinha; noutras como um bicão de beque de fazenda.

Com Antero, aqui neste Estadão, foram anos e anos de convivência. Concordâncias, discordâncias, debates acalorados e muitas brigas, principalmente quando ele era editor de Esportes e eu estava na pauta. O Italiano me irritava, porque em 95% das vezes ele estava certo em seus apontamentos.

Antero Greco exerceu diversos cargos em seus mais de 40 anos no Estadão. Foto: Felipe Rau/AE

Antero sempre sabia o que falar, o que escrever, com seu jeito de italiano do Bom Retiro, o tradicional bairro da capital paulista que luta para manter sua história nos difíceis dias atuais. Fomos juntos a três Copas do Mundo. Ou seja, histórias não faltam. Mas neste dia triste, em que ele passará a comentar as Copas do céu, a que mais me vem à memória foi uma passagem do dia mais triste do futebol brasileiro dentro de campo, o dia do 7 a 1. Por ter sido a única vez que eu vi Antero, o que sempre sabia o que escrever, admitir, ainda que por alguns momentos, não saber o que iria escrever.

Naquele fatídico 8 de julho de 2014, a gente já havia acordado pessimista. O Brasil não estava jogando nada, havia perdido Neymar, o time pouco treinava, Felipão achava que o embalo da torcida e os feitos do passado seriam suficientes, e o adversário era a Alemanha, que se divertia em Cabrália, treinava muito e jogava bem mais que a gente. Em situação normal, sabíamos que não ia dar. Mas sabe como é, sempre há esperança.

Esperança que acabou exatamente às 15 horas daquele dia, quando saiu a escalação e Felipão prenunciou a tristeza por que os brasileiros passariam ao escalar a alegria nas pernas do frágil Bernard contra o forte e entrosado time alemão.

Na tribuna de imprensa do Mineirão, todos nos olhamos. Todos incrédulos. Alguns até pálidos. Olhei em direção a Antero, e decretei: Perdemos o jogo! “Eu ia te dizer exatamente isso”, devolveu-me ele. Mas, em seguida, completou com o humor que o caracterizava em momentos difíceis. “Felipão queria surpreender os alemães, mas exagerou. Surpreendeu a gente também.” Os caras devem estar é morrendo de rir no vestiário, encerrei, p... (indignado).

Claro que o pior estava por vir – e ninguém imaginava que seria 7, fora o baile. E só não foi pior porque os caras tiveram pena da gente e pararam, essa é a verdade. Jogo começado, um gol aqui, outro ali, três em sequência... Olhei novamente em direção a Antero, que, mirando em minha direção, parecia querer ajuda. “Nem vem. Não olha para mim não, que eu nem imagino o que você pode escrever sobre esse jogo”, falei. (Antero às vezes pedia sugestões ou trocava ideias com os mais próximos sobre os temas de suas colunas.) “É, nem eu”, admitiu.

Mas o jogo foi passando, as bolas foram entrando, o Brasil foi apanhando e o torcedor no Mineirão chorando.

Terminada a coça, ainda que cambaleando, eu, como um dos repórteres da cobertura do massacre pelo Estadão, pus-me a trabalhar. Segui embalado por outro ensinamento de Antero, este aprendido por ele em outro dia triste para o futebol brasileiro, o 5 de julho de 1982, com outro mestre, Luiz Carlos Ramos, e que o Italiano não cansava de lembrar e repassar: “É chato, é triste, mas no outro dia o jornal tem de estar na banca”. Portanto, vamos trabalhar. Antero também já havia encontrado o tema de sua coluna. E o fez com o brilhantismo, a dureza e o respeito de sempre às figuras de 2014, e aos injustiçados de 1950.

Vá em paz, Antero. Os Pelés da bola e das letras o esperam!

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