‘As mulheres me parabenizam. Os homens só querem saber de reforços’, afirma Leila Pereira


Presidente do Palmeiras é única mulher na função entre os clubes da Série A do Brasileiro

Por Glauco de Pierri
Atualização:
Foto: Marcelo Chello / Estdão
Entrevista comLeila PereiraPresidente do Palmeiras

Leila Pereira é uma mulher com a confiança em alta. Presidente do Palmeiras, e única a ocupar o posto em um clube nas Série A e B do Campeonato Brasileiro e com sua equipe sempre na luta pelos principais títulos do continente, ela sabe bem a representatividade de seu cargo para as mulheres e prega o respeito. “O que difere uma pessoa da outra não é o gênero, mas sim a capacidade, a vontade e o desejo de alcançar os seus objetivos”, diz.

A mandatária do Palmeiras recebeu a reportagem do Estadão na terça-feira, na sede da sua empresa, a Crefisa, patrocinadora do clube desde 2015. Na conversa, Leila falou sobre o seu papel como mulher e dirigente, prometeu para a torcida reforços que não sejam apenas apostas e ainda falou sobre a formação de uma liga no País.

Leila Pereira, você é a única presidente de um grande clube no Brasil. Você já sentiu preconceito?

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Primeiro, para mim, é um grande orgulho estar neste cargo. E eu tenho certeza que eu represento todas as mulheres, a força que nós temos... nós podemos estar onde quisermos. O futebol é um ambiente muito masculino, mas eu falo por mim: nunca me senti discriminada porque eu me posiciono sempre. O que diferencia uma pessoa da outra não é o gênero. É a capacidade, a vontade e o desejo de alcançar os objetivos. E eu sei o que eu quero e onde eu quero chegar. Torço para que meu exemplo sirva de força para que outras mulheres lutem para chegar onde quiserem, sem vitimismo. Que a gente consiga alcançar nossos objetivos com muita luta. Não vai cair do céu. Não estou no futebol por causa de cota. Estou porque lutei por isso.

As torcedoras cobram a presidente da mesma forma que os homens?

Sabe que as mulheres chegam para mim e falam ‘Leila, parabéns. Obrigada por representar tão bem a todas nós’. Sejam palmeirenses ou torcedoras rivais, todas se sentem orgulhosas de ter uma mulher como presidente em um clube tão gigante, com resultados tão expressivos. Já os homens me cobram de outra forma: ‘Leila contratação... Leila, quem você vai contratar?’.

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O Palmeiras vai reforçar o time? Qual é a dificuldade?

Não tem dificuldade, o que tem é tranquilidade. Eu dou valor enorme aos atletas que estão conosco, que conquistaram todos os nossos títulos nesses últimos anos. Quanto mais títulos você conquista, maior é o investimento nesses atletas. Fiz diversas renovações, reajustes de valores pagos a esses atletas, pois preciso valorizar esse elenco. Não quero perder mais nenhum jogador e para vir algum atleta, é para agregar. Não vou mais fazer apostas. Às vezes, queremos o jogador, ele quer vir, mas o clube não quer liberar... E eu não vou sair que nem uma desesperada contratando apenas para dar satisfação para o torcedor que está insatisfeito. O torcedor tem que ficar tranquilo e orgulhoso, porque o nosso time é competitivo e muito forte e a presidente está atenta. Mas ela só vai contratar para resolver e agregar. E não estou falando de nomes, medalhões. Nomes não trazem títulos, o que traz título é o suor.

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Você é a favor de uma Liga de clubes no Brasil?

Eu acho fundamental pois dará mais liberdade aos clubes definirem o que é melhor para eles. Mas antes disso tudo, nós precisamos nos entender. Temos duas ligas... Estamos conversando para ver onde podemos chegar. Achei que fôssemos caminhar com mais celeridade, mas ainda não.

A divisão justa das cotas de TV ajudaria os clubes a ter equilíbrio financeiro?

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Sim, mas não é só isso. O dirigente precisa ter os pés no chão e saber administrar. Clube de futebol é muito caro, se você não tiver responsabilidade... Mas é um grande passo. Outro passo muito interessante seria o fair play financeiro, mas isso ainda não é discutido aqui no Brasil.

Fair Play financeiro como o adotado na Europa?

Acredito que como na Europa não seria possível, pois a maioria dos clubes estaria inviabilizados. Mas acho muito injusto um clube que paga tudo, como o Palmeiras, que procura andar dentro das suas possibilidades, disputar com outro clube totalmente irresponsável, que sai contratando e não paga ninguém e pode caminhar nos campeonatos, vence, e o outro que está pagando suas responsabilidades corretamente acaba prejudicado.

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Leila Pereira é a única mulher no comando de um clube na Série A do Brasileirão Foto: Marcelo Chello / Estadão

A CBF impôs uma regra em seus torneios, de punição para os clubes em casos de racismo. O que achou?

Certíssimo. Isso é inadmissível. E vou te falar uma coisa, é possível o clube identificar esse tipo de gente. No Allianz Parque, temos câmeras em todos os lugares. Essa legislação o clube não é penalizado imediatamente, então tem que ter essa responsabilidade de denunciar, proibir a entrada desse indivíduo no estádio. E claro, as autoridades precisam processar e condenar.

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Como surgiu a ideia de comprar um avião para o deslocamento do elenco?

Eu já tenho o meu avião para o meu uso e nos deslocamentos do Palmeiras, nós fretamos as aeronaves. Mas ficamos à mercê das companhias aéreas. Conversei com o meu marido (José Roberto Lamacchia, conselheiro do Palmeiras e também dono da Crefisa) e decidimos comprar um avião da Embraer, que chega ao Brasil nos próximos dias. Será um ganho muito grande em logística e também no aspecto financeiro, além do ganho técnico da recuperação física dos atletas. O Palmeiras só vai pagar as taxas e o combustível do avião. Mas vou submeter tudo ao COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) e eles é que vão decidir se a equipe usará ou não a aeronave.

Quando assumiu a presidência, mexeu apenas no departamento de marketing do clube. O que havia de errado?

O Palmeiras e qualquer clube do mundo precisa de investimento para se manter. Não se faz um time de alta performance, que conquistou muitos títulos nos últimos tempos, sem dinheiro. E o dinheiro vem de direitos de transmissão, patrocínios, venda de jogadores, sócio-torcedor, que é uma receita muito importante no nosso clube. O nosso departamento de marketing estava muito acomodado com o patrocínio da Crefisa, mas temos outras possibilidades para conseguir verbas. Já conseguimos para o time feminino, por exemplo.

O Palmeiras jogou no Morumbi e o São Paulo vai jogar no Allianz Parque. Essa parceria causou algum problema?

Essa decisão não foi minha. No jogo contra o Santos, não poderíamos usar o Allianz. Então perguntei para a comissão técnica qual era o melhor lugar e eles me responderam que seria o Morumbi. Então fui atrás, me reuni com o Julio Casares (presidente do São Paulo) e não tivemos problema nenhum nesse jogo. Combinei com o Julio que se o São Paulo precisasse, poderia sim usar o nosso estádio. Nós comprovamos que a rivalidade é apenas dentro de campo. Precisamos valorizar o produto futebol.

E como está a dívida do Palmeiras com a Crefisa? Qual é o valor atual?

O Palmeiras vem pagando sistematicamente os jogadores que foram contratados pela Crefisa. A dívida hoje é de R$ 65 milhões, e chegou a ser de R$ 130 milhões e o Palmeiras vai pagar tranquilamente. Quando a equipe conquista um título, o nosso contrato de patrocínio prevê premiações para o clube. O presidente Maurício Galiotte decidiu em sua gestão que esses valores seriam abatidos dessa dívida. E o Palmeiras tem dois anos para pagar essa conta após a saída dos jogadores. E vamos quitar esse valor da mesma forma como foi feito com o ex-presidente (Paulo Nobre).

Leila Pereira afirma que outras mulheres dão os parabéns por representá-las Foto: Marcelo Chello / Estadão

Você rompeu o relacionamento com a Mancha Alviverde. Voltaria a ter diálogo com a organizada?

Eu sempre tive muito respeito por qualquer torcedor do Palmeiras, organizado e não organizado. Quem foi eleita presidente foi eu, para administrar o Palmeiras. Nunca tive problemas com críticas, mas não posso admitir exigências. E por isso estava desgastando o nosso relacionamento. Deixamos de investir no carnaval... e esse investimento não seria eterno. Essa minha decisão foi uma boa. Assim eles ficam com mais liberdade para se manifestarem e eu também fico mais à vontade. E eu já imaginava que no dia que terminasse esse investimento eu teria problema. Agora acho melhor o torcedor torcer e o administrador administrar.

Pensa em montar um setor popular no Allianz Parque?

Tudo o que for para popularizar o futebol estou de acordo, mas o Palmeiras decide junto com a WTorre. Temos uma questão de arbitragem e estamos tentando encerrar esse litígio. Hoje o relacionamento é espetacular com a WTorre e isso está vinculado a essa arbitragem. Mas temos feito jogos com valores mais populares. Acho injusto essa reclamação, temos oferecido valores mais populares.

Você vai reativar o basquete profissional do Palmeiras?

O grande problema é o investimento. Hoje o nosso clube é equilibrado, mas temos problemas ainda de caixa. Não posso migrar dinheiro do futebol para o esporte amador. Preciso fortalecer cada vez mais o futebol, nossa grande estrela. Mas estou sempre atenta, tenho pessoas que cuidam do basquete que sempre estão em busca de investimentos. Hoje não tem condição financeira para arcar com o basquete profissional. Se encontrarmos patrocinadores, parceiros sérios para o que queiram ser parceiros do nosso no basquete, estou de portas abertas para conversar. O que não posso é tirar dinheiro do futebol para colocar em outras modalidades.

Seu grupo político elegeu presidente e vice-presidente do Conselho Deliberativo nesta semana...

Fiquei muito feliz com a eleição do Alcyr Ramos e do Maurício Camargo. Enxergo como ratificação a aprovação do nosso projeto, são pessoas dedicadas e focadas aquilo que pretendemos ao Palmeiras: um clube profissional, moderno. O presidente do Conselho vai trabalhar para o que é melhor para o Palmeiras, queremos a harmonia entre os poderes. Não poderia deixar voltar a velha política. Foi a maior demonstração de que estamos no caminho certo, nosso projeto é extremamente vencedor. É difícil criticar qualquer ponto do Palmeiras. Futebol, clube social, vou reformar todo parque aquático sem nenhum custo ao associado, vamos fazer em partes, primeiro piscina olímpica, depois a de saltos, depois a ilha, a sauna. Eu gosto do clube social, estou lá para atender o associado dentro das possibilidades.

Você está no meio do seu primeiro mandato. Depois, poderá tentar ser reeleita. Já pensou em um terceiro mandato?

Não, de jeito nenhum. Estamos em outra era. Essa antiga política, que ia reformando o estatuto para que o presidente se perpetuar no poder, não existe mais. Três anos é o prazo ideal para se administrar um clube de futebol, com uma única reeleição. Quero ficar três anos, se o associado quiser, vou mais uma reeleição e depois quem o nosso grupo decidir eu vou apoiar. Mas eu não vou sair do Palmeiras nunca mais.

Leila Pereira é uma mulher com a confiança em alta. Presidente do Palmeiras, e única a ocupar o posto em um clube nas Série A e B do Campeonato Brasileiro e com sua equipe sempre na luta pelos principais títulos do continente, ela sabe bem a representatividade de seu cargo para as mulheres e prega o respeito. “O que difere uma pessoa da outra não é o gênero, mas sim a capacidade, a vontade e o desejo de alcançar os seus objetivos”, diz.

A mandatária do Palmeiras recebeu a reportagem do Estadão na terça-feira, na sede da sua empresa, a Crefisa, patrocinadora do clube desde 2015. Na conversa, Leila falou sobre o seu papel como mulher e dirigente, prometeu para a torcida reforços que não sejam apenas apostas e ainda falou sobre a formação de uma liga no País.

Leila Pereira, você é a única presidente de um grande clube no Brasil. Você já sentiu preconceito?

Primeiro, para mim, é um grande orgulho estar neste cargo. E eu tenho certeza que eu represento todas as mulheres, a força que nós temos... nós podemos estar onde quisermos. O futebol é um ambiente muito masculino, mas eu falo por mim: nunca me senti discriminada porque eu me posiciono sempre. O que diferencia uma pessoa da outra não é o gênero. É a capacidade, a vontade e o desejo de alcançar os objetivos. E eu sei o que eu quero e onde eu quero chegar. Torço para que meu exemplo sirva de força para que outras mulheres lutem para chegar onde quiserem, sem vitimismo. Que a gente consiga alcançar nossos objetivos com muita luta. Não vai cair do céu. Não estou no futebol por causa de cota. Estou porque lutei por isso.

As torcedoras cobram a presidente da mesma forma que os homens?

Sabe que as mulheres chegam para mim e falam ‘Leila, parabéns. Obrigada por representar tão bem a todas nós’. Sejam palmeirenses ou torcedoras rivais, todas se sentem orgulhosas de ter uma mulher como presidente em um clube tão gigante, com resultados tão expressivos. Já os homens me cobram de outra forma: ‘Leila contratação... Leila, quem você vai contratar?’.

O Palmeiras vai reforçar o time? Qual é a dificuldade?

Não tem dificuldade, o que tem é tranquilidade. Eu dou valor enorme aos atletas que estão conosco, que conquistaram todos os nossos títulos nesses últimos anos. Quanto mais títulos você conquista, maior é o investimento nesses atletas. Fiz diversas renovações, reajustes de valores pagos a esses atletas, pois preciso valorizar esse elenco. Não quero perder mais nenhum jogador e para vir algum atleta, é para agregar. Não vou mais fazer apostas. Às vezes, queremos o jogador, ele quer vir, mas o clube não quer liberar... E eu não vou sair que nem uma desesperada contratando apenas para dar satisfação para o torcedor que está insatisfeito. O torcedor tem que ficar tranquilo e orgulhoso, porque o nosso time é competitivo e muito forte e a presidente está atenta. Mas ela só vai contratar para resolver e agregar. E não estou falando de nomes, medalhões. Nomes não trazem títulos, o que traz título é o suor.

Você é a favor de uma Liga de clubes no Brasil?

Eu acho fundamental pois dará mais liberdade aos clubes definirem o que é melhor para eles. Mas antes disso tudo, nós precisamos nos entender. Temos duas ligas... Estamos conversando para ver onde podemos chegar. Achei que fôssemos caminhar com mais celeridade, mas ainda não.

A divisão justa das cotas de TV ajudaria os clubes a ter equilíbrio financeiro?

Sim, mas não é só isso. O dirigente precisa ter os pés no chão e saber administrar. Clube de futebol é muito caro, se você não tiver responsabilidade... Mas é um grande passo. Outro passo muito interessante seria o fair play financeiro, mas isso ainda não é discutido aqui no Brasil.

Fair Play financeiro como o adotado na Europa?

Acredito que como na Europa não seria possível, pois a maioria dos clubes estaria inviabilizados. Mas acho muito injusto um clube que paga tudo, como o Palmeiras, que procura andar dentro das suas possibilidades, disputar com outro clube totalmente irresponsável, que sai contratando e não paga ninguém e pode caminhar nos campeonatos, vence, e o outro que está pagando suas responsabilidades corretamente acaba prejudicado.

Leila Pereira é a única mulher no comando de um clube na Série A do Brasileirão Foto: Marcelo Chello / Estadão

A CBF impôs uma regra em seus torneios, de punição para os clubes em casos de racismo. O que achou?

Certíssimo. Isso é inadmissível. E vou te falar uma coisa, é possível o clube identificar esse tipo de gente. No Allianz Parque, temos câmeras em todos os lugares. Essa legislação o clube não é penalizado imediatamente, então tem que ter essa responsabilidade de denunciar, proibir a entrada desse indivíduo no estádio. E claro, as autoridades precisam processar e condenar.

Como surgiu a ideia de comprar um avião para o deslocamento do elenco?

Eu já tenho o meu avião para o meu uso e nos deslocamentos do Palmeiras, nós fretamos as aeronaves. Mas ficamos à mercê das companhias aéreas. Conversei com o meu marido (José Roberto Lamacchia, conselheiro do Palmeiras e também dono da Crefisa) e decidimos comprar um avião da Embraer, que chega ao Brasil nos próximos dias. Será um ganho muito grande em logística e também no aspecto financeiro, além do ganho técnico da recuperação física dos atletas. O Palmeiras só vai pagar as taxas e o combustível do avião. Mas vou submeter tudo ao COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) e eles é que vão decidir se a equipe usará ou não a aeronave.

Quando assumiu a presidência, mexeu apenas no departamento de marketing do clube. O que havia de errado?

O Palmeiras e qualquer clube do mundo precisa de investimento para se manter. Não se faz um time de alta performance, que conquistou muitos títulos nos últimos tempos, sem dinheiro. E o dinheiro vem de direitos de transmissão, patrocínios, venda de jogadores, sócio-torcedor, que é uma receita muito importante no nosso clube. O nosso departamento de marketing estava muito acomodado com o patrocínio da Crefisa, mas temos outras possibilidades para conseguir verbas. Já conseguimos para o time feminino, por exemplo.

O Palmeiras jogou no Morumbi e o São Paulo vai jogar no Allianz Parque. Essa parceria causou algum problema?

Essa decisão não foi minha. No jogo contra o Santos, não poderíamos usar o Allianz. Então perguntei para a comissão técnica qual era o melhor lugar e eles me responderam que seria o Morumbi. Então fui atrás, me reuni com o Julio Casares (presidente do São Paulo) e não tivemos problema nenhum nesse jogo. Combinei com o Julio que se o São Paulo precisasse, poderia sim usar o nosso estádio. Nós comprovamos que a rivalidade é apenas dentro de campo. Precisamos valorizar o produto futebol.

E como está a dívida do Palmeiras com a Crefisa? Qual é o valor atual?

O Palmeiras vem pagando sistematicamente os jogadores que foram contratados pela Crefisa. A dívida hoje é de R$ 65 milhões, e chegou a ser de R$ 130 milhões e o Palmeiras vai pagar tranquilamente. Quando a equipe conquista um título, o nosso contrato de patrocínio prevê premiações para o clube. O presidente Maurício Galiotte decidiu em sua gestão que esses valores seriam abatidos dessa dívida. E o Palmeiras tem dois anos para pagar essa conta após a saída dos jogadores. E vamos quitar esse valor da mesma forma como foi feito com o ex-presidente (Paulo Nobre).

Leila Pereira afirma que outras mulheres dão os parabéns por representá-las Foto: Marcelo Chello / Estadão

Você rompeu o relacionamento com a Mancha Alviverde. Voltaria a ter diálogo com a organizada?

Eu sempre tive muito respeito por qualquer torcedor do Palmeiras, organizado e não organizado. Quem foi eleita presidente foi eu, para administrar o Palmeiras. Nunca tive problemas com críticas, mas não posso admitir exigências. E por isso estava desgastando o nosso relacionamento. Deixamos de investir no carnaval... e esse investimento não seria eterno. Essa minha decisão foi uma boa. Assim eles ficam com mais liberdade para se manifestarem e eu também fico mais à vontade. E eu já imaginava que no dia que terminasse esse investimento eu teria problema. Agora acho melhor o torcedor torcer e o administrador administrar.

Pensa em montar um setor popular no Allianz Parque?

Tudo o que for para popularizar o futebol estou de acordo, mas o Palmeiras decide junto com a WTorre. Temos uma questão de arbitragem e estamos tentando encerrar esse litígio. Hoje o relacionamento é espetacular com a WTorre e isso está vinculado a essa arbitragem. Mas temos feito jogos com valores mais populares. Acho injusto essa reclamação, temos oferecido valores mais populares.

Você vai reativar o basquete profissional do Palmeiras?

O grande problema é o investimento. Hoje o nosso clube é equilibrado, mas temos problemas ainda de caixa. Não posso migrar dinheiro do futebol para o esporte amador. Preciso fortalecer cada vez mais o futebol, nossa grande estrela. Mas estou sempre atenta, tenho pessoas que cuidam do basquete que sempre estão em busca de investimentos. Hoje não tem condição financeira para arcar com o basquete profissional. Se encontrarmos patrocinadores, parceiros sérios para o que queiram ser parceiros do nosso no basquete, estou de portas abertas para conversar. O que não posso é tirar dinheiro do futebol para colocar em outras modalidades.

Seu grupo político elegeu presidente e vice-presidente do Conselho Deliberativo nesta semana...

Fiquei muito feliz com a eleição do Alcyr Ramos e do Maurício Camargo. Enxergo como ratificação a aprovação do nosso projeto, são pessoas dedicadas e focadas aquilo que pretendemos ao Palmeiras: um clube profissional, moderno. O presidente do Conselho vai trabalhar para o que é melhor para o Palmeiras, queremos a harmonia entre os poderes. Não poderia deixar voltar a velha política. Foi a maior demonstração de que estamos no caminho certo, nosso projeto é extremamente vencedor. É difícil criticar qualquer ponto do Palmeiras. Futebol, clube social, vou reformar todo parque aquático sem nenhum custo ao associado, vamos fazer em partes, primeiro piscina olímpica, depois a de saltos, depois a ilha, a sauna. Eu gosto do clube social, estou lá para atender o associado dentro das possibilidades.

Você está no meio do seu primeiro mandato. Depois, poderá tentar ser reeleita. Já pensou em um terceiro mandato?

Não, de jeito nenhum. Estamos em outra era. Essa antiga política, que ia reformando o estatuto para que o presidente se perpetuar no poder, não existe mais. Três anos é o prazo ideal para se administrar um clube de futebol, com uma única reeleição. Quero ficar três anos, se o associado quiser, vou mais uma reeleição e depois quem o nosso grupo decidir eu vou apoiar. Mas eu não vou sair do Palmeiras nunca mais.

Leila Pereira é uma mulher com a confiança em alta. Presidente do Palmeiras, e única a ocupar o posto em um clube nas Série A e B do Campeonato Brasileiro e com sua equipe sempre na luta pelos principais títulos do continente, ela sabe bem a representatividade de seu cargo para as mulheres e prega o respeito. “O que difere uma pessoa da outra não é o gênero, mas sim a capacidade, a vontade e o desejo de alcançar os seus objetivos”, diz.

A mandatária do Palmeiras recebeu a reportagem do Estadão na terça-feira, na sede da sua empresa, a Crefisa, patrocinadora do clube desde 2015. Na conversa, Leila falou sobre o seu papel como mulher e dirigente, prometeu para a torcida reforços que não sejam apenas apostas e ainda falou sobre a formação de uma liga no País.

Leila Pereira, você é a única presidente de um grande clube no Brasil. Você já sentiu preconceito?

Primeiro, para mim, é um grande orgulho estar neste cargo. E eu tenho certeza que eu represento todas as mulheres, a força que nós temos... nós podemos estar onde quisermos. O futebol é um ambiente muito masculino, mas eu falo por mim: nunca me senti discriminada porque eu me posiciono sempre. O que diferencia uma pessoa da outra não é o gênero. É a capacidade, a vontade e o desejo de alcançar os objetivos. E eu sei o que eu quero e onde eu quero chegar. Torço para que meu exemplo sirva de força para que outras mulheres lutem para chegar onde quiserem, sem vitimismo. Que a gente consiga alcançar nossos objetivos com muita luta. Não vai cair do céu. Não estou no futebol por causa de cota. Estou porque lutei por isso.

As torcedoras cobram a presidente da mesma forma que os homens?

Sabe que as mulheres chegam para mim e falam ‘Leila, parabéns. Obrigada por representar tão bem a todas nós’. Sejam palmeirenses ou torcedoras rivais, todas se sentem orgulhosas de ter uma mulher como presidente em um clube tão gigante, com resultados tão expressivos. Já os homens me cobram de outra forma: ‘Leila contratação... Leila, quem você vai contratar?’.

O Palmeiras vai reforçar o time? Qual é a dificuldade?

Não tem dificuldade, o que tem é tranquilidade. Eu dou valor enorme aos atletas que estão conosco, que conquistaram todos os nossos títulos nesses últimos anos. Quanto mais títulos você conquista, maior é o investimento nesses atletas. Fiz diversas renovações, reajustes de valores pagos a esses atletas, pois preciso valorizar esse elenco. Não quero perder mais nenhum jogador e para vir algum atleta, é para agregar. Não vou mais fazer apostas. Às vezes, queremos o jogador, ele quer vir, mas o clube não quer liberar... E eu não vou sair que nem uma desesperada contratando apenas para dar satisfação para o torcedor que está insatisfeito. O torcedor tem que ficar tranquilo e orgulhoso, porque o nosso time é competitivo e muito forte e a presidente está atenta. Mas ela só vai contratar para resolver e agregar. E não estou falando de nomes, medalhões. Nomes não trazem títulos, o que traz título é o suor.

Você é a favor de uma Liga de clubes no Brasil?

Eu acho fundamental pois dará mais liberdade aos clubes definirem o que é melhor para eles. Mas antes disso tudo, nós precisamos nos entender. Temos duas ligas... Estamos conversando para ver onde podemos chegar. Achei que fôssemos caminhar com mais celeridade, mas ainda não.

A divisão justa das cotas de TV ajudaria os clubes a ter equilíbrio financeiro?

Sim, mas não é só isso. O dirigente precisa ter os pés no chão e saber administrar. Clube de futebol é muito caro, se você não tiver responsabilidade... Mas é um grande passo. Outro passo muito interessante seria o fair play financeiro, mas isso ainda não é discutido aqui no Brasil.

Fair Play financeiro como o adotado na Europa?

Acredito que como na Europa não seria possível, pois a maioria dos clubes estaria inviabilizados. Mas acho muito injusto um clube que paga tudo, como o Palmeiras, que procura andar dentro das suas possibilidades, disputar com outro clube totalmente irresponsável, que sai contratando e não paga ninguém e pode caminhar nos campeonatos, vence, e o outro que está pagando suas responsabilidades corretamente acaba prejudicado.

Leila Pereira é a única mulher no comando de um clube na Série A do Brasileirão Foto: Marcelo Chello / Estadão

A CBF impôs uma regra em seus torneios, de punição para os clubes em casos de racismo. O que achou?

Certíssimo. Isso é inadmissível. E vou te falar uma coisa, é possível o clube identificar esse tipo de gente. No Allianz Parque, temos câmeras em todos os lugares. Essa legislação o clube não é penalizado imediatamente, então tem que ter essa responsabilidade de denunciar, proibir a entrada desse indivíduo no estádio. E claro, as autoridades precisam processar e condenar.

Como surgiu a ideia de comprar um avião para o deslocamento do elenco?

Eu já tenho o meu avião para o meu uso e nos deslocamentos do Palmeiras, nós fretamos as aeronaves. Mas ficamos à mercê das companhias aéreas. Conversei com o meu marido (José Roberto Lamacchia, conselheiro do Palmeiras e também dono da Crefisa) e decidimos comprar um avião da Embraer, que chega ao Brasil nos próximos dias. Será um ganho muito grande em logística e também no aspecto financeiro, além do ganho técnico da recuperação física dos atletas. O Palmeiras só vai pagar as taxas e o combustível do avião. Mas vou submeter tudo ao COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) e eles é que vão decidir se a equipe usará ou não a aeronave.

Quando assumiu a presidência, mexeu apenas no departamento de marketing do clube. O que havia de errado?

O Palmeiras e qualquer clube do mundo precisa de investimento para se manter. Não se faz um time de alta performance, que conquistou muitos títulos nos últimos tempos, sem dinheiro. E o dinheiro vem de direitos de transmissão, patrocínios, venda de jogadores, sócio-torcedor, que é uma receita muito importante no nosso clube. O nosso departamento de marketing estava muito acomodado com o patrocínio da Crefisa, mas temos outras possibilidades para conseguir verbas. Já conseguimos para o time feminino, por exemplo.

O Palmeiras jogou no Morumbi e o São Paulo vai jogar no Allianz Parque. Essa parceria causou algum problema?

Essa decisão não foi minha. No jogo contra o Santos, não poderíamos usar o Allianz. Então perguntei para a comissão técnica qual era o melhor lugar e eles me responderam que seria o Morumbi. Então fui atrás, me reuni com o Julio Casares (presidente do São Paulo) e não tivemos problema nenhum nesse jogo. Combinei com o Julio que se o São Paulo precisasse, poderia sim usar o nosso estádio. Nós comprovamos que a rivalidade é apenas dentro de campo. Precisamos valorizar o produto futebol.

E como está a dívida do Palmeiras com a Crefisa? Qual é o valor atual?

O Palmeiras vem pagando sistematicamente os jogadores que foram contratados pela Crefisa. A dívida hoje é de R$ 65 milhões, e chegou a ser de R$ 130 milhões e o Palmeiras vai pagar tranquilamente. Quando a equipe conquista um título, o nosso contrato de patrocínio prevê premiações para o clube. O presidente Maurício Galiotte decidiu em sua gestão que esses valores seriam abatidos dessa dívida. E o Palmeiras tem dois anos para pagar essa conta após a saída dos jogadores. E vamos quitar esse valor da mesma forma como foi feito com o ex-presidente (Paulo Nobre).

Leila Pereira afirma que outras mulheres dão os parabéns por representá-las Foto: Marcelo Chello / Estadão

Você rompeu o relacionamento com a Mancha Alviverde. Voltaria a ter diálogo com a organizada?

Eu sempre tive muito respeito por qualquer torcedor do Palmeiras, organizado e não organizado. Quem foi eleita presidente foi eu, para administrar o Palmeiras. Nunca tive problemas com críticas, mas não posso admitir exigências. E por isso estava desgastando o nosso relacionamento. Deixamos de investir no carnaval... e esse investimento não seria eterno. Essa minha decisão foi uma boa. Assim eles ficam com mais liberdade para se manifestarem e eu também fico mais à vontade. E eu já imaginava que no dia que terminasse esse investimento eu teria problema. Agora acho melhor o torcedor torcer e o administrador administrar.

Pensa em montar um setor popular no Allianz Parque?

Tudo o que for para popularizar o futebol estou de acordo, mas o Palmeiras decide junto com a WTorre. Temos uma questão de arbitragem e estamos tentando encerrar esse litígio. Hoje o relacionamento é espetacular com a WTorre e isso está vinculado a essa arbitragem. Mas temos feito jogos com valores mais populares. Acho injusto essa reclamação, temos oferecido valores mais populares.

Você vai reativar o basquete profissional do Palmeiras?

O grande problema é o investimento. Hoje o nosso clube é equilibrado, mas temos problemas ainda de caixa. Não posso migrar dinheiro do futebol para o esporte amador. Preciso fortalecer cada vez mais o futebol, nossa grande estrela. Mas estou sempre atenta, tenho pessoas que cuidam do basquete que sempre estão em busca de investimentos. Hoje não tem condição financeira para arcar com o basquete profissional. Se encontrarmos patrocinadores, parceiros sérios para o que queiram ser parceiros do nosso no basquete, estou de portas abertas para conversar. O que não posso é tirar dinheiro do futebol para colocar em outras modalidades.

Seu grupo político elegeu presidente e vice-presidente do Conselho Deliberativo nesta semana...

Fiquei muito feliz com a eleição do Alcyr Ramos e do Maurício Camargo. Enxergo como ratificação a aprovação do nosso projeto, são pessoas dedicadas e focadas aquilo que pretendemos ao Palmeiras: um clube profissional, moderno. O presidente do Conselho vai trabalhar para o que é melhor para o Palmeiras, queremos a harmonia entre os poderes. Não poderia deixar voltar a velha política. Foi a maior demonstração de que estamos no caminho certo, nosso projeto é extremamente vencedor. É difícil criticar qualquer ponto do Palmeiras. Futebol, clube social, vou reformar todo parque aquático sem nenhum custo ao associado, vamos fazer em partes, primeiro piscina olímpica, depois a de saltos, depois a ilha, a sauna. Eu gosto do clube social, estou lá para atender o associado dentro das possibilidades.

Você está no meio do seu primeiro mandato. Depois, poderá tentar ser reeleita. Já pensou em um terceiro mandato?

Não, de jeito nenhum. Estamos em outra era. Essa antiga política, que ia reformando o estatuto para que o presidente se perpetuar no poder, não existe mais. Três anos é o prazo ideal para se administrar um clube de futebol, com uma única reeleição. Quero ficar três anos, se o associado quiser, vou mais uma reeleição e depois quem o nosso grupo decidir eu vou apoiar. Mas eu não vou sair do Palmeiras nunca mais.

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