Assédio a Jéssica Dias volta a provocar repulsa no futebol: clubes devem ser responsabilizados?


Assediador Marcelo Benevides Silva teve de pagar fiança para ser liberado da delegacia no Rio após ser preso no Maracanã em jogo do mandante Flamengo

Por Robson Morelli
Atualização:

Volto a um tema recorrente em minhas análises sobre preconceitos e assédios em estádios: a responsabilidade dos clubes mandantes quando esses casos absurdos e criminosos acontecem em meio à festa do futebol, como ocorreu com a jornalista da ESPN, Jéssica Dias, quando ela estava fazendo seu trabalho no Maracanã, em jogo do time carioca com o Vélez pela Libertadores.

Ela foi beijada sem seu consentimento quando fazia uma passagem ao vivo pela emissora. Marcelo Benevides da Silva invadiu o trabalho da repórter, entrou abruptamente em cena e beijou a jornalista no rosto, provocando constrangimento nela e em quem estava assistindo a transmissão. Isso não é brincadeira.

A própria CBF viveu um sério problema de assédio contra seu presidente, Rogério Caboclo: ele foi banido Foto: Wilton Junior / Estadão
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O cidadão e torcedor do Flamengo foi preso. A lei diz que não cabe prisão nesse caso. Toques em mulheres sem autorização, cantadas ofensivas e passadas de mão, como a repórter relatou, são considerados contravenções penais, mas não há previsão de prisão. A lei determina apenas pagamento de multa. Ou seja: Marcelo Benevides da Silva, com nome e sobrenome, teve de desembolsar um dinheiro para voltar à rua, para sua casa, para a companhia da mulher (se tiver uma) e do filho (que estava com ele, e se disse envergonhado com a atitude machista e desrespeitosa do pai, para dizer o mínimo).

Quando há violência no assédio, o ato é enquadrado como estupro, aí sim tem pena de seis a dez anos de prisão. Existe uma terceira situação, que são os xingamentos de um homem contra uma mulher em qualquer lugar. Neste caso, a ação entra na categoria da injúria, também com prisão e pagamento de fiança.

Tirando a vergonha que o tal cidadão deve passar ao menos diante de seus familiares, ele terá de responder por processo. Mas isso ainda é pouco no Brasil. Pouco e demorado, quando as vítimas levam a denúncia até o fim. A morosidade, por vezes, faz com que ações sejam esquecidas por parte de quem acusa.

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A questão é saber se o clube mandante, no caso o Flamengo, não deveria ser responsabilizado pelos atos criminosos ou de injúrias ou de qualquer outro problema quando está organizando uma partida de futebol. Imagine se fosse num show? Quem seria processado? No caso do futebol, essa lógica também deve ser seguida e a responsabilidade deve recair aos organizadores. No caso, ao Flamengo, CBF e Conmebol. Talvez a Federação Carioca de Futebol também. Por que não?

Penso que esse tipo de comportamento, assédio, e outros mais, como qualquer preconceito, só vai diminuir e acabar no futebol quando os times perderem pontos, tiverem seus portões fechados ao público por mais de cinco partidas e forem excluídos de competições, dependendo da gravidade e da reincidência. Vale a lei do uso do cinto de segurança, em São Paulo, determinada pelo então prefeito Paulo Maluf. Ninguém usava até virar punição e pagamento.

O futebol precisa limpar alguns desses comportamentos e varrer esses torcedores. Já que eles não são punidos, o clube tem de pagar por sua gente. A CBF acena com essa possibilidade nos torneios que organiza já para 2023. Já não era sem tempo. Ela quer punir os times pelos atos de seus torcedores, com perda de pontos, inclusive.

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Prefiro o caminho da educação e conscientização, mas isso não é possível, como temos visto. Perdi as esperanças. Perdemos esse bonde. O ideal era prender os caras, deixá-los por anos atrás das grades, sem fiança, pagando a pena de atos criminosos e desrespeitosos, como ocorre com a jornalista. O problema é que isso não acontece, ou se acontece, não tem efeito na multidão, e os atos vão sendo repetidos frequentemente.

O assédio a jornalistas tinha desaparecido do cenário, mas voltou nesta partida do Flamengo: um jogo de festa porque o time já tinha feito 4 a 0 na ida. Esse episódio foi o ponto negativo de todos os outros positivos do Maracanã. Ainda há assédio contra mulheres que frequentam estádios. No Rio, desde 2019, há uma lei que visa campanhas permanentes no combate ao assédio e violência sexual. O projeto de lei 984/2019, de autoria da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ), foi sancionado pelo então governador Wilson Witzel. Deveria haver campanhas educativas nos telões e nos alto falantes nos estádios.

Há uma Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, que atende no 180. O telefone recebe denúncias de assédio e violência. A central funciona 24h e garante o anonimato do denunciante. O futebol não pode ficar à mercê de regras e comportamentos próprios. Seus participantes estão sujeitos às leis do Brasil. E assim deve ser. Só assim vamos melhorar nesse quesito. Algumas iniciativas são louváveis, mas elas não trazem muito efeito prático ou duradoura, como uma cartilha lançada no Recife sobre o tema, que ganhou o nome de “pequeno manual prático de como não ser um babaca no campo de futebol”. Não podia ter batismo melhor. Não seja um babaca.

Volto a um tema recorrente em minhas análises sobre preconceitos e assédios em estádios: a responsabilidade dos clubes mandantes quando esses casos absurdos e criminosos acontecem em meio à festa do futebol, como ocorreu com a jornalista da ESPN, Jéssica Dias, quando ela estava fazendo seu trabalho no Maracanã, em jogo do time carioca com o Vélez pela Libertadores.

Ela foi beijada sem seu consentimento quando fazia uma passagem ao vivo pela emissora. Marcelo Benevides da Silva invadiu o trabalho da repórter, entrou abruptamente em cena e beijou a jornalista no rosto, provocando constrangimento nela e em quem estava assistindo a transmissão. Isso não é brincadeira.

A própria CBF viveu um sério problema de assédio contra seu presidente, Rogério Caboclo: ele foi banido Foto: Wilton Junior / Estadão

O cidadão e torcedor do Flamengo foi preso. A lei diz que não cabe prisão nesse caso. Toques em mulheres sem autorização, cantadas ofensivas e passadas de mão, como a repórter relatou, são considerados contravenções penais, mas não há previsão de prisão. A lei determina apenas pagamento de multa. Ou seja: Marcelo Benevides da Silva, com nome e sobrenome, teve de desembolsar um dinheiro para voltar à rua, para sua casa, para a companhia da mulher (se tiver uma) e do filho (que estava com ele, e se disse envergonhado com a atitude machista e desrespeitosa do pai, para dizer o mínimo).

Quando há violência no assédio, o ato é enquadrado como estupro, aí sim tem pena de seis a dez anos de prisão. Existe uma terceira situação, que são os xingamentos de um homem contra uma mulher em qualquer lugar. Neste caso, a ação entra na categoria da injúria, também com prisão e pagamento de fiança.

Tirando a vergonha que o tal cidadão deve passar ao menos diante de seus familiares, ele terá de responder por processo. Mas isso ainda é pouco no Brasil. Pouco e demorado, quando as vítimas levam a denúncia até o fim. A morosidade, por vezes, faz com que ações sejam esquecidas por parte de quem acusa.

A questão é saber se o clube mandante, no caso o Flamengo, não deveria ser responsabilizado pelos atos criminosos ou de injúrias ou de qualquer outro problema quando está organizando uma partida de futebol. Imagine se fosse num show? Quem seria processado? No caso do futebol, essa lógica também deve ser seguida e a responsabilidade deve recair aos organizadores. No caso, ao Flamengo, CBF e Conmebol. Talvez a Federação Carioca de Futebol também. Por que não?

Penso que esse tipo de comportamento, assédio, e outros mais, como qualquer preconceito, só vai diminuir e acabar no futebol quando os times perderem pontos, tiverem seus portões fechados ao público por mais de cinco partidas e forem excluídos de competições, dependendo da gravidade e da reincidência. Vale a lei do uso do cinto de segurança, em São Paulo, determinada pelo então prefeito Paulo Maluf. Ninguém usava até virar punição e pagamento.

O futebol precisa limpar alguns desses comportamentos e varrer esses torcedores. Já que eles não são punidos, o clube tem de pagar por sua gente. A CBF acena com essa possibilidade nos torneios que organiza já para 2023. Já não era sem tempo. Ela quer punir os times pelos atos de seus torcedores, com perda de pontos, inclusive.

Prefiro o caminho da educação e conscientização, mas isso não é possível, como temos visto. Perdi as esperanças. Perdemos esse bonde. O ideal era prender os caras, deixá-los por anos atrás das grades, sem fiança, pagando a pena de atos criminosos e desrespeitosos, como ocorre com a jornalista. O problema é que isso não acontece, ou se acontece, não tem efeito na multidão, e os atos vão sendo repetidos frequentemente.

O assédio a jornalistas tinha desaparecido do cenário, mas voltou nesta partida do Flamengo: um jogo de festa porque o time já tinha feito 4 a 0 na ida. Esse episódio foi o ponto negativo de todos os outros positivos do Maracanã. Ainda há assédio contra mulheres que frequentam estádios. No Rio, desde 2019, há uma lei que visa campanhas permanentes no combate ao assédio e violência sexual. O projeto de lei 984/2019, de autoria da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ), foi sancionado pelo então governador Wilson Witzel. Deveria haver campanhas educativas nos telões e nos alto falantes nos estádios.

Há uma Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, que atende no 180. O telefone recebe denúncias de assédio e violência. A central funciona 24h e garante o anonimato do denunciante. O futebol não pode ficar à mercê de regras e comportamentos próprios. Seus participantes estão sujeitos às leis do Brasil. E assim deve ser. Só assim vamos melhorar nesse quesito. Algumas iniciativas são louváveis, mas elas não trazem muito efeito prático ou duradoura, como uma cartilha lançada no Recife sobre o tema, que ganhou o nome de “pequeno manual prático de como não ser um babaca no campo de futebol”. Não podia ter batismo melhor. Não seja um babaca.

Volto a um tema recorrente em minhas análises sobre preconceitos e assédios em estádios: a responsabilidade dos clubes mandantes quando esses casos absurdos e criminosos acontecem em meio à festa do futebol, como ocorreu com a jornalista da ESPN, Jéssica Dias, quando ela estava fazendo seu trabalho no Maracanã, em jogo do time carioca com o Vélez pela Libertadores.

Ela foi beijada sem seu consentimento quando fazia uma passagem ao vivo pela emissora. Marcelo Benevides da Silva invadiu o trabalho da repórter, entrou abruptamente em cena e beijou a jornalista no rosto, provocando constrangimento nela e em quem estava assistindo a transmissão. Isso não é brincadeira.

A própria CBF viveu um sério problema de assédio contra seu presidente, Rogério Caboclo: ele foi banido Foto: Wilton Junior / Estadão

O cidadão e torcedor do Flamengo foi preso. A lei diz que não cabe prisão nesse caso. Toques em mulheres sem autorização, cantadas ofensivas e passadas de mão, como a repórter relatou, são considerados contravenções penais, mas não há previsão de prisão. A lei determina apenas pagamento de multa. Ou seja: Marcelo Benevides da Silva, com nome e sobrenome, teve de desembolsar um dinheiro para voltar à rua, para sua casa, para a companhia da mulher (se tiver uma) e do filho (que estava com ele, e se disse envergonhado com a atitude machista e desrespeitosa do pai, para dizer o mínimo).

Quando há violência no assédio, o ato é enquadrado como estupro, aí sim tem pena de seis a dez anos de prisão. Existe uma terceira situação, que são os xingamentos de um homem contra uma mulher em qualquer lugar. Neste caso, a ação entra na categoria da injúria, também com prisão e pagamento de fiança.

Tirando a vergonha que o tal cidadão deve passar ao menos diante de seus familiares, ele terá de responder por processo. Mas isso ainda é pouco no Brasil. Pouco e demorado, quando as vítimas levam a denúncia até o fim. A morosidade, por vezes, faz com que ações sejam esquecidas por parte de quem acusa.

A questão é saber se o clube mandante, no caso o Flamengo, não deveria ser responsabilizado pelos atos criminosos ou de injúrias ou de qualquer outro problema quando está organizando uma partida de futebol. Imagine se fosse num show? Quem seria processado? No caso do futebol, essa lógica também deve ser seguida e a responsabilidade deve recair aos organizadores. No caso, ao Flamengo, CBF e Conmebol. Talvez a Federação Carioca de Futebol também. Por que não?

Penso que esse tipo de comportamento, assédio, e outros mais, como qualquer preconceito, só vai diminuir e acabar no futebol quando os times perderem pontos, tiverem seus portões fechados ao público por mais de cinco partidas e forem excluídos de competições, dependendo da gravidade e da reincidência. Vale a lei do uso do cinto de segurança, em São Paulo, determinada pelo então prefeito Paulo Maluf. Ninguém usava até virar punição e pagamento.

O futebol precisa limpar alguns desses comportamentos e varrer esses torcedores. Já que eles não são punidos, o clube tem de pagar por sua gente. A CBF acena com essa possibilidade nos torneios que organiza já para 2023. Já não era sem tempo. Ela quer punir os times pelos atos de seus torcedores, com perda de pontos, inclusive.

Prefiro o caminho da educação e conscientização, mas isso não é possível, como temos visto. Perdi as esperanças. Perdemos esse bonde. O ideal era prender os caras, deixá-los por anos atrás das grades, sem fiança, pagando a pena de atos criminosos e desrespeitosos, como ocorre com a jornalista. O problema é que isso não acontece, ou se acontece, não tem efeito na multidão, e os atos vão sendo repetidos frequentemente.

O assédio a jornalistas tinha desaparecido do cenário, mas voltou nesta partida do Flamengo: um jogo de festa porque o time já tinha feito 4 a 0 na ida. Esse episódio foi o ponto negativo de todos os outros positivos do Maracanã. Ainda há assédio contra mulheres que frequentam estádios. No Rio, desde 2019, há uma lei que visa campanhas permanentes no combate ao assédio e violência sexual. O projeto de lei 984/2019, de autoria da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ), foi sancionado pelo então governador Wilson Witzel. Deveria haver campanhas educativas nos telões e nos alto falantes nos estádios.

Há uma Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, que atende no 180. O telefone recebe denúncias de assédio e violência. A central funciona 24h e garante o anonimato do denunciante. O futebol não pode ficar à mercê de regras e comportamentos próprios. Seus participantes estão sujeitos às leis do Brasil. E assim deve ser. Só assim vamos melhorar nesse quesito. Algumas iniciativas são louváveis, mas elas não trazem muito efeito prático ou duradoura, como uma cartilha lançada no Recife sobre o tema, que ganhou o nome de “pequeno manual prático de como não ser um babaca no campo de futebol”. Não podia ter batismo melhor. Não seja um babaca.

Volto a um tema recorrente em minhas análises sobre preconceitos e assédios em estádios: a responsabilidade dos clubes mandantes quando esses casos absurdos e criminosos acontecem em meio à festa do futebol, como ocorreu com a jornalista da ESPN, Jéssica Dias, quando ela estava fazendo seu trabalho no Maracanã, em jogo do time carioca com o Vélez pela Libertadores.

Ela foi beijada sem seu consentimento quando fazia uma passagem ao vivo pela emissora. Marcelo Benevides da Silva invadiu o trabalho da repórter, entrou abruptamente em cena e beijou a jornalista no rosto, provocando constrangimento nela e em quem estava assistindo a transmissão. Isso não é brincadeira.

A própria CBF viveu um sério problema de assédio contra seu presidente, Rogério Caboclo: ele foi banido Foto: Wilton Junior / Estadão

O cidadão e torcedor do Flamengo foi preso. A lei diz que não cabe prisão nesse caso. Toques em mulheres sem autorização, cantadas ofensivas e passadas de mão, como a repórter relatou, são considerados contravenções penais, mas não há previsão de prisão. A lei determina apenas pagamento de multa. Ou seja: Marcelo Benevides da Silva, com nome e sobrenome, teve de desembolsar um dinheiro para voltar à rua, para sua casa, para a companhia da mulher (se tiver uma) e do filho (que estava com ele, e se disse envergonhado com a atitude machista e desrespeitosa do pai, para dizer o mínimo).

Quando há violência no assédio, o ato é enquadrado como estupro, aí sim tem pena de seis a dez anos de prisão. Existe uma terceira situação, que são os xingamentos de um homem contra uma mulher em qualquer lugar. Neste caso, a ação entra na categoria da injúria, também com prisão e pagamento de fiança.

Tirando a vergonha que o tal cidadão deve passar ao menos diante de seus familiares, ele terá de responder por processo. Mas isso ainda é pouco no Brasil. Pouco e demorado, quando as vítimas levam a denúncia até o fim. A morosidade, por vezes, faz com que ações sejam esquecidas por parte de quem acusa.

A questão é saber se o clube mandante, no caso o Flamengo, não deveria ser responsabilizado pelos atos criminosos ou de injúrias ou de qualquer outro problema quando está organizando uma partida de futebol. Imagine se fosse num show? Quem seria processado? No caso do futebol, essa lógica também deve ser seguida e a responsabilidade deve recair aos organizadores. No caso, ao Flamengo, CBF e Conmebol. Talvez a Federação Carioca de Futebol também. Por que não?

Penso que esse tipo de comportamento, assédio, e outros mais, como qualquer preconceito, só vai diminuir e acabar no futebol quando os times perderem pontos, tiverem seus portões fechados ao público por mais de cinco partidas e forem excluídos de competições, dependendo da gravidade e da reincidência. Vale a lei do uso do cinto de segurança, em São Paulo, determinada pelo então prefeito Paulo Maluf. Ninguém usava até virar punição e pagamento.

O futebol precisa limpar alguns desses comportamentos e varrer esses torcedores. Já que eles não são punidos, o clube tem de pagar por sua gente. A CBF acena com essa possibilidade nos torneios que organiza já para 2023. Já não era sem tempo. Ela quer punir os times pelos atos de seus torcedores, com perda de pontos, inclusive.

Prefiro o caminho da educação e conscientização, mas isso não é possível, como temos visto. Perdi as esperanças. Perdemos esse bonde. O ideal era prender os caras, deixá-los por anos atrás das grades, sem fiança, pagando a pena de atos criminosos e desrespeitosos, como ocorre com a jornalista. O problema é que isso não acontece, ou se acontece, não tem efeito na multidão, e os atos vão sendo repetidos frequentemente.

O assédio a jornalistas tinha desaparecido do cenário, mas voltou nesta partida do Flamengo: um jogo de festa porque o time já tinha feito 4 a 0 na ida. Esse episódio foi o ponto negativo de todos os outros positivos do Maracanã. Ainda há assédio contra mulheres que frequentam estádios. No Rio, desde 2019, há uma lei que visa campanhas permanentes no combate ao assédio e violência sexual. O projeto de lei 984/2019, de autoria da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ), foi sancionado pelo então governador Wilson Witzel. Deveria haver campanhas educativas nos telões e nos alto falantes nos estádios.

Há uma Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, que atende no 180. O telefone recebe denúncias de assédio e violência. A central funciona 24h e garante o anonimato do denunciante. O futebol não pode ficar à mercê de regras e comportamentos próprios. Seus participantes estão sujeitos às leis do Brasil. E assim deve ser. Só assim vamos melhorar nesse quesito. Algumas iniciativas são louváveis, mas elas não trazem muito efeito prático ou duradoura, como uma cartilha lançada no Recife sobre o tema, que ganhou o nome de “pequeno manual prático de como não ser um babaca no campo de futebol”. Não podia ter batismo melhor. Não seja um babaca.

Volto a um tema recorrente em minhas análises sobre preconceitos e assédios em estádios: a responsabilidade dos clubes mandantes quando esses casos absurdos e criminosos acontecem em meio à festa do futebol, como ocorreu com a jornalista da ESPN, Jéssica Dias, quando ela estava fazendo seu trabalho no Maracanã, em jogo do time carioca com o Vélez pela Libertadores.

Ela foi beijada sem seu consentimento quando fazia uma passagem ao vivo pela emissora. Marcelo Benevides da Silva invadiu o trabalho da repórter, entrou abruptamente em cena e beijou a jornalista no rosto, provocando constrangimento nela e em quem estava assistindo a transmissão. Isso não é brincadeira.

A própria CBF viveu um sério problema de assédio contra seu presidente, Rogério Caboclo: ele foi banido Foto: Wilton Junior / Estadão

O cidadão e torcedor do Flamengo foi preso. A lei diz que não cabe prisão nesse caso. Toques em mulheres sem autorização, cantadas ofensivas e passadas de mão, como a repórter relatou, são considerados contravenções penais, mas não há previsão de prisão. A lei determina apenas pagamento de multa. Ou seja: Marcelo Benevides da Silva, com nome e sobrenome, teve de desembolsar um dinheiro para voltar à rua, para sua casa, para a companhia da mulher (se tiver uma) e do filho (que estava com ele, e se disse envergonhado com a atitude machista e desrespeitosa do pai, para dizer o mínimo).

Quando há violência no assédio, o ato é enquadrado como estupro, aí sim tem pena de seis a dez anos de prisão. Existe uma terceira situação, que são os xingamentos de um homem contra uma mulher em qualquer lugar. Neste caso, a ação entra na categoria da injúria, também com prisão e pagamento de fiança.

Tirando a vergonha que o tal cidadão deve passar ao menos diante de seus familiares, ele terá de responder por processo. Mas isso ainda é pouco no Brasil. Pouco e demorado, quando as vítimas levam a denúncia até o fim. A morosidade, por vezes, faz com que ações sejam esquecidas por parte de quem acusa.

A questão é saber se o clube mandante, no caso o Flamengo, não deveria ser responsabilizado pelos atos criminosos ou de injúrias ou de qualquer outro problema quando está organizando uma partida de futebol. Imagine se fosse num show? Quem seria processado? No caso do futebol, essa lógica também deve ser seguida e a responsabilidade deve recair aos organizadores. No caso, ao Flamengo, CBF e Conmebol. Talvez a Federação Carioca de Futebol também. Por que não?

Penso que esse tipo de comportamento, assédio, e outros mais, como qualquer preconceito, só vai diminuir e acabar no futebol quando os times perderem pontos, tiverem seus portões fechados ao público por mais de cinco partidas e forem excluídos de competições, dependendo da gravidade e da reincidência. Vale a lei do uso do cinto de segurança, em São Paulo, determinada pelo então prefeito Paulo Maluf. Ninguém usava até virar punição e pagamento.

O futebol precisa limpar alguns desses comportamentos e varrer esses torcedores. Já que eles não são punidos, o clube tem de pagar por sua gente. A CBF acena com essa possibilidade nos torneios que organiza já para 2023. Já não era sem tempo. Ela quer punir os times pelos atos de seus torcedores, com perda de pontos, inclusive.

Prefiro o caminho da educação e conscientização, mas isso não é possível, como temos visto. Perdi as esperanças. Perdemos esse bonde. O ideal era prender os caras, deixá-los por anos atrás das grades, sem fiança, pagando a pena de atos criminosos e desrespeitosos, como ocorre com a jornalista. O problema é que isso não acontece, ou se acontece, não tem efeito na multidão, e os atos vão sendo repetidos frequentemente.

O assédio a jornalistas tinha desaparecido do cenário, mas voltou nesta partida do Flamengo: um jogo de festa porque o time já tinha feito 4 a 0 na ida. Esse episódio foi o ponto negativo de todos os outros positivos do Maracanã. Ainda há assédio contra mulheres que frequentam estádios. No Rio, desde 2019, há uma lei que visa campanhas permanentes no combate ao assédio e violência sexual. O projeto de lei 984/2019, de autoria da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ), foi sancionado pelo então governador Wilson Witzel. Deveria haver campanhas educativas nos telões e nos alto falantes nos estádios.

Há uma Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, que atende no 180. O telefone recebe denúncias de assédio e violência. A central funciona 24h e garante o anonimato do denunciante. O futebol não pode ficar à mercê de regras e comportamentos próprios. Seus participantes estão sujeitos às leis do Brasil. E assim deve ser. Só assim vamos melhorar nesse quesito. Algumas iniciativas são louváveis, mas elas não trazem muito efeito prático ou duradoura, como uma cartilha lançada no Recife sobre o tema, que ganhou o nome de “pequeno manual prático de como não ser um babaca no campo de futebol”. Não podia ter batismo melhor. Não seja um babaca.

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