Franz Beckenbauer, lenda do futebol e bicampeão mundial com a seleção alemã, morreu neste domingo, 7, aos 78 anos, enquanto dormia. Jogador de vasta qualidade técnica, o zagueiro se destacou também em funções no meio de campo e marcou época no Bayern de Munique. Fora das quatro linhas, o Kaiser, como era chamada, criou uma relação próxima com o Brasil – apesar da distância geográfica e cultural.
Campeão mundial e capitão da Alemanha em 1974, Beckenbauer foi companheiro de Pelé no New York Cosmos, dos Estados Unidos, por uma temporada. Chegou em 1977 e foi lá que jogou ao lado do Rei do Futebol, em parceria que durou pouco tempo, pois o camisa 10 se aposentou no ano seguinte. Mesmo assim, conquistaram juntos a liga americana, e foi alemão o eleito o melhor jogador dos Estados Unidos naquele ano.
Desde esses primeiros contatos com Pelé, Beckenbauer se aproximou do Brasil: na década de 1980, não era raro avistar o zagueiro, que ainda atuava nos Cosmos, celebrando o carnaval no Rio. O mesmo ocorreu após sua aposentadoria. Um desses registros foi feito pelo Estadão, em 1989, ao lado de Terezinha Sodré, no Sambódromo Marquês de Sapucaí. Ela era mulher de Carlos Alberto Torres, capitão do Brasil no tricampeonato, no México.
Esse é só um dos vários registros de Beckenbauer no País nos anos finais de sua carreira. Amigo de Carlos Alberto Torres, também foi à ‘folia’ nos anos anteriores, acompanhado pelo zagueiro e sua mulher, Terezinha. Foram companheiros no Cosmos, no fim da década de 1970. Um dos momentos dessa amizade se deu em 1982 – e rendeu a Beckenbauer um registro com a camisa do Flamengo.
Na partida de despedida de Carlos Alberto Torres do futebol, realizada nos Estados Unidos, Beckenbauer atuou ao lado do zagueiro. O jogo festivo, contra o Flamengo, foi uma das exigências feitas pelo “Capita” para assinar seu contrato com o New York Cosmos para a temporada de 1982. “Ele, como poucos, merece a festa de despedida”, afirmou Steve Ross, um dos diretores da Warner Bros e fundador do New York Cosmos, à época.
A partida, que terminou em um empate por 3 a 3, teve vários propósitos. Para Carlos Alberto Torres, uma despedida à altura de sua carreira, contra o time que o lançaria na carreira como treinador no ano seguinte; para o Flamengo, celebrar a conquista do Mundial de 1981 nos Estados Unidos, com seu time titular. Paulo Cesar Carpegianni, treinador rubro-negro, só não levou Mozer, Leandro e Tita. Já para Beckenbauer, serviu para estreitar os laços com o Brasil e retornar ao Cosmos para a temporada de 1983 – defendeu o Hamburgo, entre 1980 e 1982.
Ao fim da partida, o zagueiro vestiu a camisa rubro-negra, para atender o pedido de um torcedor no Giants Stadium, em Nova York. “Para a grande torcida do Flamengo, fica a frustração de não ter Beckenbauer como atleta”, disse Orlando Brito, autor da foto, em 2018. Em homenagem à morte do jogador, o Flamengo publicou, em suas redes sociais, o registro daquele dia.
Começava ali um carinho pelo Rio. Em 1987, voltou a utilizar, ainda que por algumas poucas horas, a camisa do Flamengo, novamente em uma de suas visitas ao carnaval brasileiro; ele acompanhou o amigos Carlos Alberto Torres no Baile Preto e Vermelho, do Flamengo. Mesmo já aposentado, a torcida botafoguense acreditara que Beckenbauer poderia defender o clube naquela temporada – fato que não ocorreu. Em 2006, quando era presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo, foi presenteado com uma camisa da escola de samba da Mangueira e deixou seus pés na calçada da fama do Maracanã.
A vontade da torcida botafoguense, por sua vez, não era infundada. Em 2013, Beckenbauer revelou seu amor e carinho pelo clube carioca. “O Botafogo, quando eu era jovem, era fantástico. E sempre torci pelo Botafogo. Parabéns, tudo de melhor e boa sorte no futuro”, disse, após a conquista do clube da Taça Guanabara daquele ano.
Beckenbauer é um dos três únicos nomes da história que venceram a Copa do Mundo como jogador e técnico. Nesta seleta lista, tem a companhia de Zagallo, morto na última sexta-feira. O “Velho Lobo” foi duas vezes campeão como atleta, uma como técnico e ainda outra como coordenador. Além do brasileiro e do alemão, o feito também foi alcançado por Didier Deschamps, campeão do Mundo com a França em 1998 como volante e em 2018 como comandante.