Prometendo ser uma das edições mais equilibradas da sua história recente, o Brasileirão 2023 começa neste fim de semana e os clubes da Série A já se movimentam na comercialização de ingressos para contar com a força da torcida nas arquibancadas. Mais do que isso, visam as boas receitas com bilheteria em todas as partidas. As entradas estão mais caras em relação ao ano passado, em parte por causa da nova determinação da CBF sobre imposto na venda dos bilhetes, reduzindo a arrecadação dos clubes. O ticket médio mais caro é o do Corinthians, enquanto o Palmeiras lidera o ranking de sócios-torcedores, uma das principais ferramentas para alavancar a presença nas arenas.
Segundo levantamento do Estadão, entre janeiro e abril — período que os clubes brasileiros da Série A disputaram os seus respectivos Campeonatos Estaduais — o custo do ingresso médio no Brasil foi de R$ 36,18. Torcedores corintianos precisam despender, em média, de R$ 59,28. Palmeiras, Grêmio e Vasco, recém-promovido à primeira divisão, completam o ranking das entradas mais caras.
Os preços variam entre cada setor dos estádios — e devem sofrer um aumento a partir do início do Brasileirão. Ao Estadão, Goiás, Cuiabá, Coritiba e América-MG afirmaram que ainda não definiram o valor das entradas para a competição nacional. Outros clubes, como Red Bull Bragantino, São Paulo, Santos e Fortaleza adotam uma política de preços variáveis. De acordo com o adversário e a fase do time na competição, o valor dos ingressos pode ter um acréscimo ou decréscimo.
Novamente, o Corinthians se destaca em um fator pouco convidativo ao seu torcedor. Sem considerar descontos de meia-entrada ou de associados do clube, o setor oeste inferior central tem ingressos avaliados em R$ 440. Em comparação, camarotes do rival São Paulo, no Morumbi, custaram R$ 400 no último jogo contra o Ituano, pela Copa do Brasil.
Em 14 de fevereiro, a CBF aprovou o novo Regimento Geral de Competições (RGC) e impôs aos clubes um custo extra que não estava previsto no orçamento inicial para 2023, na realização de partidas organizadas pela entidade, como o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Com a nova regra, qualquer desconto nos ingressos que ultrapasse 50% do valor será desconsiderado pela entidade para fins de relatório financeiro e cobranças de taxas.
Isso ocorre porque, pelo novo regulamento, a diferença do valor a ser pago terá de constar no borderô dos jogos, aumentando a renda bruta e, consequentemente, a taxa de 5% para a federação local e mais 5% ao INSS, ambas incidindo sobre a arrecadação da bilheteria. Na prática, clubes que oferecem descontos acima de 50% nos ingressos terão de arcar com as taxas dos impostos dessa diferença.
Os clubes pedem a revisão da medida porque, na prática, estão deixando de arrecadar. Agremiações que oferecem descontos elevados em seus planos de sócio-torcedor, como Palmeiras, Flamengo, Botafogo, Internacional, Grêmio e Bahia, serão as mais afetadas. Recentemente, o Vasco apresentou uma renda bruta de aproximadamente R$ 1 milhão no jogo da Copa do Brasil contra o ABC, mas terminou com um prejuízo de quase R$ 290 mil — valor somatório da renda real obtida, menos os custos operacionais e valor pago ao time potiguar.
O aumento nos custos operacionais de uma partida também é sentido no bolso do torcedor. Visando manter o estádio com grande ocupação, alguns clubes oferecem em determinados planos de sócio a opção de o torcedor fazer check-in — desconto de 100% no valor do ingresso. Em contrapartida, os altos valores dos bilhetes têm sido criticados pelos torcedores, especialmente quem não adere a nenhum programa de sócio e paga o preço integral ofertado. Vale ressaltar que nem todas as pessoas que fazem o check-in online decidem comparecer à partida.
Protestos contra a alta no valor dos ingressos
No duelo do Vasco com o ABC, a diretoria cruzmaltina elevou consideravelmente o preço dos ingressos. O valor mais barato, na arquibancada comum, custou R$ 150 e o mais caro, R$ 250. Cerca de 15 dias antes, no Cariocão, os ingressos ofertados variaram entre R$ 70 e R$ 150. O resultado foi a ausência das torcidas organizadas, que não foram à partida em forma de protesto. O time acabou sendo eliminado, nos pênaltis, em pleno São Januário.
Cena parecida deve ocorrer neste sábado no duelo entre Botafogo e São Paulo. Torcidas organizadas do time carioca comunicaram que não vão comparecer ao jogo e vão promover um protesto do lado de fora do estádio Nilton Santos contra os altos preços cobrados nesta primeira rodada do Brasileirão. O setor popular, atrás do gol, custa R$ 60, enquanto os demais lugares custam R$ 200.
Em nota, o Botafogo incentivou os torcedores a aderirem ao plano de sócio para contar com os descontos e afirmou que os valores “consideraram os custos operacionais do Nilton Santos e é fruto de um estudo de benchmarking com os principais clubes do futebol brasileiro, sendo os preços praticados em linha com as grandes arenas do País.”
Em São Paulo, palmeirenses alegam dificuldades até mesmo para tentar adquirir as entradas, uma vez que os associados têm prioridade na compra e, por vezes, esgotam rapidamente os bilhetes. O clube alega que os ingressos que não são vendidos por meio do seu programa de fidelidade vão para a venda geral, uma vez que não podem ser vendidos com desconto do programa de sócio.
SÓCIO-TORCEDOR
O Palmeiras lidera o ranking de sócios-torcedores entre os clubes da Série A. Em levantamento do Estadão, o alviverde conta com quase 180 mil torcedores em seu quadro de associados, que têm prioridade na compra de ingressos, além de descontos. Essa é a prática mais comum nesses planos e repetida pela maioria dos clubes do Brasileirão.
Segundo clube com o maior número de sócios, o Internacional tenta reverter os mais de 100 mil torcedores em seu quadro em público no Beira-Rio — a equipe teve média de 22 mil presentes em 2022. Ações promocionais e produtos exclusivos são algumas das formas, além dos descontos em ingressos, para levar o torcedor colorado ao estádio. “Acreditamos que o Inter pode ser muito mais do que oferece dentro de campo. Ao prevermos a nova plataforma já pensamos em algo que pudesse servir para recompensar a nossa torcida”, afirma Victor Grunberg, vice-presidente de Administração e Patrimônio do clube.
Atual campeão cearense, o Fortaleza é um dos clubes que mais se destacam com seu programa de associados. No ranking da Série A, é o sétimo com mais sócios (cerca de 40,5 mil) e planeja chegar à meta de 50 mil em breve. Gigliani Maia, gestor do programa, revela que 15% da renda do clube é proveniente do sócio-torcedor.
Procurados, Corinthians e Red Bull Bragantino optaram por não divulgar o número de associados em seus programas. Recentemente, o Corinthians anunciou uma reestruturação em seu sócio-torcedor, que deve ser lançada ainda em 2023, integrado ao Universo SCCP, aplicativo oficial do clube paulista.
Athletico-PR e Flamengo, foram procurados pelo Estadão, mas não responderam à reportagem. Vasco, Goiás e América-MG foram consultados, mas não divulgaram o numero de associados em seu quadro. O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) também foi procurado para responder sobre o respaldo aos consumidores comuns na cobrança de preços abusivos, mas não respondeu. Caso haja resposta, a matéria será atualizada.
MÉDIA DE PÚBLICO
Em 2022, os times levaram, em média, 25 mil torcedores ao estádio. O Flamengo liderou a média de público no Brasileirão com sobras. Em média, 54 mil torcedores lotaram o Maracanã em cada um dos 19 jogos do time rubro-negro no Rio. Não à toa, a equipe conseguiu se reerguer da parte de baixo da tabela até o vice-campeonato após a chegada do técnico Dorival Júnior. A tendência, apesar do alto custo dos ingressos (R$ 49,61, em média) e da má fase da equipe sem um técnico, é de que o estádio siga lotado na edição deste ano, apesar do momento difícil do time e da sua procura por um novo treinador.
Campeão do Brasileirão no ano passado, o Palmeiras foi a terceira equipe que mais levou torcedores ao estádio no último Campeonato Brasileiro da Série A — ficou atrás do rival Corinthians, impulsionado pelo sucesso paralelo na Copa do Brasil. Estádios lotados e o programa de sócios com o maior número de adimplentes do País ajudam a explicar o sucesso da equipe. Red Bull Bragantino e América-MG são os lanternas do Brasileirão quanto ao público, com 4,7 mil e 3,8 mil de média, respectivamente.
De volta à elite do futebol brasileiro depois de três temporadas, o Cruzeiro teve média de 41 mil torcedores na Série B do ano passado, quando faturou o título nadando de braçadas. Combinados os times da primeira e da segunda divisão em 2022, o time mineiro, cuja SAF é comandada por Ronaldo Fenômeno, teve a segunda maior média, atrás apenas do Flamengo.
CONFIRA OS JOGOS DA 1ª RODADA DO BRASILEIRÃO
Sábado 15/04
16h
- Palmeiras x Cuiabá
- América-MG x Fluminense
18h30
- Botafogo x São Paulo
- Red Bull Bragantino x Bahia
- Athletico x Goiás
- Fortaleza x Internacional
21h
- Atlético-MG x Vasco
Domingo 16/04
16h
- Flamengo x Coritiba
- Corinthians x Cruzeiro
18h30
- Grêmio x Santos