Brasileirão 2025 começa com menos SAFs, investimentos bilionários e sem fair play financeiro


Apontada como sexta liga mais forte do mundo, competição tem início com grandes aportes em contratações e atrapalhada pelos mesmos problemas de sempre

Por Ricardo Magatti
Atualização:

O Brasileirão 2025 começa neste sábado com a promessa de ser uma das edições mais fortes da história. A postura agressiva que os clubes vêm tendo nas últimas janelas de transferências, com investimentos em grandes reforços, e a repatriação ou manutenção de atletas que estavam atuando na Europa são alguns dos elementos que reforçam essa teoria. Neste ano, há, entre os 20 clubes, menos clubes-empresa. Seis equipes são SAFs, número menor em relação à edição anterior porque o Cuiabá foi rebaixado.

Conforme recente avaliação feita pela SportingPedia, o Brasileirão tem valor de mercado de 1,6 bilhão de euros (R$ 9,8 bilhões) e é apontada como a sexta liga mais valiosa do mundo, superando ligas europeias, como a de Portugal, e se consolidando como a mais valiosa da Conmebol.

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Entre os brasileiros com história na seleção e vasta experiência na Europa, destacam-se nomes como Hulk, Lucas, Oscar, Thiago Silva, Coutinho e Neymar, este que é o maior dos astros, embora continue longe de sua melhor forma física. Dimitri Payet, Martin Braithwaite e Memphis Depay são os europeus de maior brilho.

“O nível de competitividade do Campeonato Brasileiro tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, com um impacto importante em cada nova edição que se inicia”, acredita Pedro Martins, CEO do Santos. “É fundamental uma regulação para este momento. Os clubes estão sendo forçados a aumentar consideravelmente o nível de investimento e a se profissionalizarem para se manterem competitivos”.

Botafogo é o atual campeão brasileiro; maior competição do País começa neste sábado Foto: Pedro Kirilos/Estadão
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Ele é um dos que defende a implementação de um fair play financeiro, o que melhoraria a liga brasileira e tornaria o torneio mais justo e equilibrado. A maioria dos 20 times são favoráveis a uma regulamentação sobre o tema no País, como mostrou reportagem recente do Estadão. Nenhum deles, porém, se mexeu para pôr a medida em votação na CBF. Gramados melhores e investimento na arbitragem são outros pontos que exigem melhoras. Tudo continua dependendo da CBF enquanto os clubes não se entendem para criar e organizar uma liga unificada.

Esses fatores fazem com que Alex Bourgeois, sócio-investidor e presidente da Portuguesa SAF, não seja tão otimista. Ele não crê que o Brasileirão será, no futuro, uma das cinco maiores ligas do mundo.

Não acho que o Brasileirão tem potencial para estar entre as maiores. Acho que tem potencial para ser muito maior do que é hoje. As ligas na Europa também crescem muito e rapidamente.

Alex Bourgeois, sócio-investidor da Portuguesa SAF

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Vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Mauro Silva entende que o Brasileirão precisa aprender com as ligas mais importantes do futebol mundial e replicar as medidas bem-sucedidas no Brasil. “Desde a venda de direitos centralizada, eles (europeus) estão na nossa frente. A gente tem que aproveitar o conhecimento deles, ver o que são boas ideias e replicar no Brasil”, afirma, citando LaLiga, na Espanha, como uma referência.

Além dos nomes de peso, as cifras gastas pelos clubes para montar seus elencos também impressionam. Somente na primeira janela de transferências de 2025, as equipes da elite do futebol nacional investiram perto de R$ 3 bilhões. A compra do centroavante Vitor Roque pelo Palmeiras, por R$ 154 milhões, foi a mais cara da história.

Para Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa que gerencia a carreira de centenas de atletas, tal movimento era esperado principalmente por clubes como o Botafogo, após a valorização do elenco com os títulos em 2024 e a necessidade de reposição dos atletas que saíram, e o Palmeiras, que tem em vista a disputa do novo Mundial de Clubes neste ano. “Chegou o momento de reinvestir parte considerável do arrecadado com suas revelações recentes”..

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Pujança financeira

Um dos fatores que impulsionou a arrecadação dentro do mundo esportivo nos últimos anos foi o aumento no valor dos patrocínios, com domínios das chamadas bets, as casas de apostas. No Brasileirão 2025, todos os 20 times são patrocinados por empresas desse setor, em 18 deles em posição de master. Atualmente, as empresas do segmento investem mais de R$ 1 bilhão por ano nas equipes da Série A.

O maior aporte quem recebe é o Flamengo, com R$ 115 milhões por ano pagos pela PixBet, seguido de Corinthians, que ganha R$ 105 milhões anuais da Esportes da Sorte, e Palmeiras, cuja parceria com a Sportingbet rende R$ 100 milhões.

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Os acordos com bets viabilizaram a contratação de nomes de peso no cenário esportivo mundial. Foi o que aconteceu com Memphis Depay, holandês astro do Corinthians, cuja contratação foi bancada pela Esportes da Sorte, e a volta de Oscar para o São Paulo, fruto do acordo com a Superbet.

Existem ainda os patrocínios e vendas de naming rights a campeonatos e estádios, como é o caso do Brasileirão Betano e da Casa de Apostas Arena Fonte Nova, onde o Bahia manda seus jogos.

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“O forte processo de profissionalização do futebol baiano que fomos capazes de acompanhar nos últimos anos e o potencial de crescimento das receitas do espaço foram dois fatores cruciais na decisão de adquirirmos os naming rights da Arena Fonte Nova”, comenta Anderson Nunes, Head de Negócios da Casa de Apostas.

Investimento nas categorias de base

As categorias de base também têm sido fundamentais para turbinar as finanças dos clubes, de modo que o Brasil segue sendo importante exportador de talentos para clubes do mundo todo. Protagonista nesse segmento, o Palmeiras lucrou mais de R$ 1 bilhão com apenas com a venda quatro jovens na Academia de Futebol: Endrick, Luis Guilherme, Vitor Reis e Estêvão.

“O Brasil é, e sempre foi, um dos maiores exportadores de atletas para o futebol europeu. Por isso, desde que estabelecemos nossa base no país, em 2020, o objetivo tem sido levar a mentalidade europeia para os jogadores em formação, para que eles possam se destacar em um ambiente competitivo, assim como fizemos com o Vitor Reis”, aponta Claudio Fiorito, CEO da P&P Sport Management no Brasil, empresa que administra a carreira do ex-zagueiro do Palmeiras e de outros 150 jogadores nas principais ligas do mundo.

‘Terceira onda’ das SAFs ainda não chegou

O Brasileirão começa com seis clubes consolidados como Sociedade Anônima do Futebol (SAF): Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Cruzeiro, Fortaleza e Vasco, este que suspendeu o contrato com a 777. O Fluminense tem uma parceria com o BTG Pactual para procurar investidores, mas não recebeu nenhuma proposta por enquanto.

Em 2024, após o ‘boom’ dos investimentos feitos principalmente em Botafogo, Cruzeiro, Vasco e Bahia, esperava-se que o Brasil entrasse numa ‘Terceira Onda’ da Era das SAFs, fato este que, na prática, não aconteceu entre os chamados clubes de elite. De acordo com o Instituto Brasileiro de Estudos e Desenvolvimento da Sociedade Anônima do Futebol (IBESAF), o Brasil tem 95 SAFs, sendo que 71 não estão qualificadas para o Campeonato Brasileiro.

“Os clubes grandes tem características próprias e cada um deles pode ter suas razões internas para terem, ou não terem, aderido ao modelo. Alguns podem entender que estão muito bem administrados e com bons resultados como associação. Outros, podem entender que o momento político interno não seja propício para um modelo no qual os dirigentes e conselheiros atuais percam poder a partir da criação da SAF”, analisa José Francisco Manssur, sócio do escritório CSMV Advogados, que teve papel importante neste movimento ao participar da autoria da Lei da SAF, em vigor no País desde agosto de 2021.

Cristiano Caús, sócio-fundador responsável pela área de Direito Desportivo na CCLA Advogados, entende que, ate o momento, a avaliação sobre as SAFs no País é positiva. “São diversas as motivações para que uma SAF seja constituída por um clube. Num primeiro momento, as dívidas foram o fator de convencimento, mas hoje já percebemos movimentos mais cautelosos, com propósitos voltados à melhoria da infraestrutura, incremento da equipe e até objetivos esportivos a curto e médio prazo”, afirma.

John Textor, magnata americano dono da SAF do Botafogo  Foto: Vitor Silva/Botafogo

A Lei da SAF permite que um clube se estruture como empresa e tenha dono. O modelo é adotado, geralmente, com o pensamento de salvar as agremiações de graves crises financeiras e torná-las competitivas, liberando a renegociação de dívidas. Foi o que ocorreu com o Botafogo. Campeão brasileiro e da Libertadores em 2024, o time alvinegro consagrou o modelo empresarial. O clube foi comprado em 2022 pelo Eagle Group, do magnata americano John Textor.

“Desde a implementação das SAFs, observamos um aumento significativo nos aportes de capital local e internacional nos clubes brasileiros. A rentabilidade potencial é imensa, dado o mercado brasileiro de futebol, que é um dos mais apaixonados e engajados do mundo”, analisa Fernando Lamounier, educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios.

Para Freitas, o dinheiro somente não garante sucesso. “Já tivemos muitas provas de que os aportes das SAFs podem gerar resultados já no curto prazo no Brasil, mas nem sempre isso vai acontecer. Dinheiro pode mudar o número de pessoas às quais você tem acesso, mas se não souber as escolher, pode fracassar com muito”.

Clubes da Série A que viraram SAF, seus donos e a porcentagem das ações de cada um

  • Atlético-MG - Galo Holding (75%);
  • Bahia - City Football Group (90%);
  • Botafogo - John Textor (90%);
  • Cruzeiro - Ronaldo Fenômeno (90%);
  • Fortaleza - Próprio clube é dono de 100% das ações;
  • Vasco - 777 Partners (70%) (contrato suspenso)

*O Red Bull Bragantino é clube-empresa desde antes da aprovação da Lei da SAF, de 2021, e se estrutura como uma limitada (LTDA).

O Brasileirão 2025 começa neste sábado com a promessa de ser uma das edições mais fortes da história. A postura agressiva que os clubes vêm tendo nas últimas janelas de transferências, com investimentos em grandes reforços, e a repatriação ou manutenção de atletas que estavam atuando na Europa são alguns dos elementos que reforçam essa teoria. Neste ano, há, entre os 20 clubes, menos clubes-empresa. Seis equipes são SAFs, número menor em relação à edição anterior porque o Cuiabá foi rebaixado.

Conforme recente avaliação feita pela SportingPedia, o Brasileirão tem valor de mercado de 1,6 bilhão de euros (R$ 9,8 bilhões) e é apontada como a sexta liga mais valiosa do mundo, superando ligas europeias, como a de Portugal, e se consolidando como a mais valiosa da Conmebol.

Entre os brasileiros com história na seleção e vasta experiência na Europa, destacam-se nomes como Hulk, Lucas, Oscar, Thiago Silva, Coutinho e Neymar, este que é o maior dos astros, embora continue longe de sua melhor forma física. Dimitri Payet, Martin Braithwaite e Memphis Depay são os europeus de maior brilho.

“O nível de competitividade do Campeonato Brasileiro tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, com um impacto importante em cada nova edição que se inicia”, acredita Pedro Martins, CEO do Santos. “É fundamental uma regulação para este momento. Os clubes estão sendo forçados a aumentar consideravelmente o nível de investimento e a se profissionalizarem para se manterem competitivos”.

Botafogo é o atual campeão brasileiro; maior competição do País começa neste sábado Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Ele é um dos que defende a implementação de um fair play financeiro, o que melhoraria a liga brasileira e tornaria o torneio mais justo e equilibrado. A maioria dos 20 times são favoráveis a uma regulamentação sobre o tema no País, como mostrou reportagem recente do Estadão. Nenhum deles, porém, se mexeu para pôr a medida em votação na CBF. Gramados melhores e investimento na arbitragem são outros pontos que exigem melhoras. Tudo continua dependendo da CBF enquanto os clubes não se entendem para criar e organizar uma liga unificada.

Esses fatores fazem com que Alex Bourgeois, sócio-investidor e presidente da Portuguesa SAF, não seja tão otimista. Ele não crê que o Brasileirão será, no futuro, uma das cinco maiores ligas do mundo.

Não acho que o Brasileirão tem potencial para estar entre as maiores. Acho que tem potencial para ser muito maior do que é hoje. As ligas na Europa também crescem muito e rapidamente.

Alex Bourgeois, sócio-investidor da Portuguesa SAF

Vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Mauro Silva entende que o Brasileirão precisa aprender com as ligas mais importantes do futebol mundial e replicar as medidas bem-sucedidas no Brasil. “Desde a venda de direitos centralizada, eles (europeus) estão na nossa frente. A gente tem que aproveitar o conhecimento deles, ver o que são boas ideias e replicar no Brasil”, afirma, citando LaLiga, na Espanha, como uma referência.

Além dos nomes de peso, as cifras gastas pelos clubes para montar seus elencos também impressionam. Somente na primeira janela de transferências de 2025, as equipes da elite do futebol nacional investiram perto de R$ 3 bilhões. A compra do centroavante Vitor Roque pelo Palmeiras, por R$ 154 milhões, foi a mais cara da história.

Para Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa que gerencia a carreira de centenas de atletas, tal movimento era esperado principalmente por clubes como o Botafogo, após a valorização do elenco com os títulos em 2024 e a necessidade de reposição dos atletas que saíram, e o Palmeiras, que tem em vista a disputa do novo Mundial de Clubes neste ano. “Chegou o momento de reinvestir parte considerável do arrecadado com suas revelações recentes”..

Pujança financeira

Um dos fatores que impulsionou a arrecadação dentro do mundo esportivo nos últimos anos foi o aumento no valor dos patrocínios, com domínios das chamadas bets, as casas de apostas. No Brasileirão 2025, todos os 20 times são patrocinados por empresas desse setor, em 18 deles em posição de master. Atualmente, as empresas do segmento investem mais de R$ 1 bilhão por ano nas equipes da Série A.

O maior aporte quem recebe é o Flamengo, com R$ 115 milhões por ano pagos pela PixBet, seguido de Corinthians, que ganha R$ 105 milhões anuais da Esportes da Sorte, e Palmeiras, cuja parceria com a Sportingbet rende R$ 100 milhões.

Os acordos com bets viabilizaram a contratação de nomes de peso no cenário esportivo mundial. Foi o que aconteceu com Memphis Depay, holandês astro do Corinthians, cuja contratação foi bancada pela Esportes da Sorte, e a volta de Oscar para o São Paulo, fruto do acordo com a Superbet.

Existem ainda os patrocínios e vendas de naming rights a campeonatos e estádios, como é o caso do Brasileirão Betano e da Casa de Apostas Arena Fonte Nova, onde o Bahia manda seus jogos.

“O forte processo de profissionalização do futebol baiano que fomos capazes de acompanhar nos últimos anos e o potencial de crescimento das receitas do espaço foram dois fatores cruciais na decisão de adquirirmos os naming rights da Arena Fonte Nova”, comenta Anderson Nunes, Head de Negócios da Casa de Apostas.

Investimento nas categorias de base

As categorias de base também têm sido fundamentais para turbinar as finanças dos clubes, de modo que o Brasil segue sendo importante exportador de talentos para clubes do mundo todo. Protagonista nesse segmento, o Palmeiras lucrou mais de R$ 1 bilhão com apenas com a venda quatro jovens na Academia de Futebol: Endrick, Luis Guilherme, Vitor Reis e Estêvão.

“O Brasil é, e sempre foi, um dos maiores exportadores de atletas para o futebol europeu. Por isso, desde que estabelecemos nossa base no país, em 2020, o objetivo tem sido levar a mentalidade europeia para os jogadores em formação, para que eles possam se destacar em um ambiente competitivo, assim como fizemos com o Vitor Reis”, aponta Claudio Fiorito, CEO da P&P Sport Management no Brasil, empresa que administra a carreira do ex-zagueiro do Palmeiras e de outros 150 jogadores nas principais ligas do mundo.

‘Terceira onda’ das SAFs ainda não chegou

O Brasileirão começa com seis clubes consolidados como Sociedade Anônima do Futebol (SAF): Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Cruzeiro, Fortaleza e Vasco, este que suspendeu o contrato com a 777. O Fluminense tem uma parceria com o BTG Pactual para procurar investidores, mas não recebeu nenhuma proposta por enquanto.

Em 2024, após o ‘boom’ dos investimentos feitos principalmente em Botafogo, Cruzeiro, Vasco e Bahia, esperava-se que o Brasil entrasse numa ‘Terceira Onda’ da Era das SAFs, fato este que, na prática, não aconteceu entre os chamados clubes de elite. De acordo com o Instituto Brasileiro de Estudos e Desenvolvimento da Sociedade Anônima do Futebol (IBESAF), o Brasil tem 95 SAFs, sendo que 71 não estão qualificadas para o Campeonato Brasileiro.

“Os clubes grandes tem características próprias e cada um deles pode ter suas razões internas para terem, ou não terem, aderido ao modelo. Alguns podem entender que estão muito bem administrados e com bons resultados como associação. Outros, podem entender que o momento político interno não seja propício para um modelo no qual os dirigentes e conselheiros atuais percam poder a partir da criação da SAF”, analisa José Francisco Manssur, sócio do escritório CSMV Advogados, que teve papel importante neste movimento ao participar da autoria da Lei da SAF, em vigor no País desde agosto de 2021.

Cristiano Caús, sócio-fundador responsável pela área de Direito Desportivo na CCLA Advogados, entende que, ate o momento, a avaliação sobre as SAFs no País é positiva. “São diversas as motivações para que uma SAF seja constituída por um clube. Num primeiro momento, as dívidas foram o fator de convencimento, mas hoje já percebemos movimentos mais cautelosos, com propósitos voltados à melhoria da infraestrutura, incremento da equipe e até objetivos esportivos a curto e médio prazo”, afirma.

John Textor, magnata americano dono da SAF do Botafogo  Foto: Vitor Silva/Botafogo

A Lei da SAF permite que um clube se estruture como empresa e tenha dono. O modelo é adotado, geralmente, com o pensamento de salvar as agremiações de graves crises financeiras e torná-las competitivas, liberando a renegociação de dívidas. Foi o que ocorreu com o Botafogo. Campeão brasileiro e da Libertadores em 2024, o time alvinegro consagrou o modelo empresarial. O clube foi comprado em 2022 pelo Eagle Group, do magnata americano John Textor.

“Desde a implementação das SAFs, observamos um aumento significativo nos aportes de capital local e internacional nos clubes brasileiros. A rentabilidade potencial é imensa, dado o mercado brasileiro de futebol, que é um dos mais apaixonados e engajados do mundo”, analisa Fernando Lamounier, educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios.

Para Freitas, o dinheiro somente não garante sucesso. “Já tivemos muitas provas de que os aportes das SAFs podem gerar resultados já no curto prazo no Brasil, mas nem sempre isso vai acontecer. Dinheiro pode mudar o número de pessoas às quais você tem acesso, mas se não souber as escolher, pode fracassar com muito”.

Clubes da Série A que viraram SAF, seus donos e a porcentagem das ações de cada um

  • Atlético-MG - Galo Holding (75%);
  • Bahia - City Football Group (90%);
  • Botafogo - John Textor (90%);
  • Cruzeiro - Ronaldo Fenômeno (90%);
  • Fortaleza - Próprio clube é dono de 100% das ações;
  • Vasco - 777 Partners (70%) (contrato suspenso)

*O Red Bull Bragantino é clube-empresa desde antes da aprovação da Lei da SAF, de 2021, e se estrutura como uma limitada (LTDA).

O Brasileirão 2025 começa neste sábado com a promessa de ser uma das edições mais fortes da história. A postura agressiva que os clubes vêm tendo nas últimas janelas de transferências, com investimentos em grandes reforços, e a repatriação ou manutenção de atletas que estavam atuando na Europa são alguns dos elementos que reforçam essa teoria. Neste ano, há, entre os 20 clubes, menos clubes-empresa. Seis equipes são SAFs, número menor em relação à edição anterior porque o Cuiabá foi rebaixado.

Conforme recente avaliação feita pela SportingPedia, o Brasileirão tem valor de mercado de 1,6 bilhão de euros (R$ 9,8 bilhões) e é apontada como a sexta liga mais valiosa do mundo, superando ligas europeias, como a de Portugal, e se consolidando como a mais valiosa da Conmebol.

Entre os brasileiros com história na seleção e vasta experiência na Europa, destacam-se nomes como Hulk, Lucas, Oscar, Thiago Silva, Coutinho e Neymar, este que é o maior dos astros, embora continue longe de sua melhor forma física. Dimitri Payet, Martin Braithwaite e Memphis Depay são os europeus de maior brilho.

“O nível de competitividade do Campeonato Brasileiro tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, com um impacto importante em cada nova edição que se inicia”, acredita Pedro Martins, CEO do Santos. “É fundamental uma regulação para este momento. Os clubes estão sendo forçados a aumentar consideravelmente o nível de investimento e a se profissionalizarem para se manterem competitivos”.

Botafogo é o atual campeão brasileiro; maior competição do País começa neste sábado Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Ele é um dos que defende a implementação de um fair play financeiro, o que melhoraria a liga brasileira e tornaria o torneio mais justo e equilibrado. A maioria dos 20 times são favoráveis a uma regulamentação sobre o tema no País, como mostrou reportagem recente do Estadão. Nenhum deles, porém, se mexeu para pôr a medida em votação na CBF. Gramados melhores e investimento na arbitragem são outros pontos que exigem melhoras. Tudo continua dependendo da CBF enquanto os clubes não se entendem para criar e organizar uma liga unificada.

Esses fatores fazem com que Alex Bourgeois, sócio-investidor e presidente da Portuguesa SAF, não seja tão otimista. Ele não crê que o Brasileirão será, no futuro, uma das cinco maiores ligas do mundo.

Não acho que o Brasileirão tem potencial para estar entre as maiores. Acho que tem potencial para ser muito maior do que é hoje. As ligas na Europa também crescem muito e rapidamente.

Alex Bourgeois, sócio-investidor da Portuguesa SAF

Vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Mauro Silva entende que o Brasileirão precisa aprender com as ligas mais importantes do futebol mundial e replicar as medidas bem-sucedidas no Brasil. “Desde a venda de direitos centralizada, eles (europeus) estão na nossa frente. A gente tem que aproveitar o conhecimento deles, ver o que são boas ideias e replicar no Brasil”, afirma, citando LaLiga, na Espanha, como uma referência.

Além dos nomes de peso, as cifras gastas pelos clubes para montar seus elencos também impressionam. Somente na primeira janela de transferências de 2025, as equipes da elite do futebol nacional investiram perto de R$ 3 bilhões. A compra do centroavante Vitor Roque pelo Palmeiras, por R$ 154 milhões, foi a mais cara da história.

Para Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa que gerencia a carreira de centenas de atletas, tal movimento era esperado principalmente por clubes como o Botafogo, após a valorização do elenco com os títulos em 2024 e a necessidade de reposição dos atletas que saíram, e o Palmeiras, que tem em vista a disputa do novo Mundial de Clubes neste ano. “Chegou o momento de reinvestir parte considerável do arrecadado com suas revelações recentes”..

Pujança financeira

Um dos fatores que impulsionou a arrecadação dentro do mundo esportivo nos últimos anos foi o aumento no valor dos patrocínios, com domínios das chamadas bets, as casas de apostas. No Brasileirão 2025, todos os 20 times são patrocinados por empresas desse setor, em 18 deles em posição de master. Atualmente, as empresas do segmento investem mais de R$ 1 bilhão por ano nas equipes da Série A.

O maior aporte quem recebe é o Flamengo, com R$ 115 milhões por ano pagos pela PixBet, seguido de Corinthians, que ganha R$ 105 milhões anuais da Esportes da Sorte, e Palmeiras, cuja parceria com a Sportingbet rende R$ 100 milhões.

Os acordos com bets viabilizaram a contratação de nomes de peso no cenário esportivo mundial. Foi o que aconteceu com Memphis Depay, holandês astro do Corinthians, cuja contratação foi bancada pela Esportes da Sorte, e a volta de Oscar para o São Paulo, fruto do acordo com a Superbet.

Existem ainda os patrocínios e vendas de naming rights a campeonatos e estádios, como é o caso do Brasileirão Betano e da Casa de Apostas Arena Fonte Nova, onde o Bahia manda seus jogos.

“O forte processo de profissionalização do futebol baiano que fomos capazes de acompanhar nos últimos anos e o potencial de crescimento das receitas do espaço foram dois fatores cruciais na decisão de adquirirmos os naming rights da Arena Fonte Nova”, comenta Anderson Nunes, Head de Negócios da Casa de Apostas.

Investimento nas categorias de base

As categorias de base também têm sido fundamentais para turbinar as finanças dos clubes, de modo que o Brasil segue sendo importante exportador de talentos para clubes do mundo todo. Protagonista nesse segmento, o Palmeiras lucrou mais de R$ 1 bilhão com apenas com a venda quatro jovens na Academia de Futebol: Endrick, Luis Guilherme, Vitor Reis e Estêvão.

“O Brasil é, e sempre foi, um dos maiores exportadores de atletas para o futebol europeu. Por isso, desde que estabelecemos nossa base no país, em 2020, o objetivo tem sido levar a mentalidade europeia para os jogadores em formação, para que eles possam se destacar em um ambiente competitivo, assim como fizemos com o Vitor Reis”, aponta Claudio Fiorito, CEO da P&P Sport Management no Brasil, empresa que administra a carreira do ex-zagueiro do Palmeiras e de outros 150 jogadores nas principais ligas do mundo.

‘Terceira onda’ das SAFs ainda não chegou

O Brasileirão começa com seis clubes consolidados como Sociedade Anônima do Futebol (SAF): Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Cruzeiro, Fortaleza e Vasco, este que suspendeu o contrato com a 777. O Fluminense tem uma parceria com o BTG Pactual para procurar investidores, mas não recebeu nenhuma proposta por enquanto.

Em 2024, após o ‘boom’ dos investimentos feitos principalmente em Botafogo, Cruzeiro, Vasco e Bahia, esperava-se que o Brasil entrasse numa ‘Terceira Onda’ da Era das SAFs, fato este que, na prática, não aconteceu entre os chamados clubes de elite. De acordo com o Instituto Brasileiro de Estudos e Desenvolvimento da Sociedade Anônima do Futebol (IBESAF), o Brasil tem 95 SAFs, sendo que 71 não estão qualificadas para o Campeonato Brasileiro.

“Os clubes grandes tem características próprias e cada um deles pode ter suas razões internas para terem, ou não terem, aderido ao modelo. Alguns podem entender que estão muito bem administrados e com bons resultados como associação. Outros, podem entender que o momento político interno não seja propício para um modelo no qual os dirigentes e conselheiros atuais percam poder a partir da criação da SAF”, analisa José Francisco Manssur, sócio do escritório CSMV Advogados, que teve papel importante neste movimento ao participar da autoria da Lei da SAF, em vigor no País desde agosto de 2021.

Cristiano Caús, sócio-fundador responsável pela área de Direito Desportivo na CCLA Advogados, entende que, ate o momento, a avaliação sobre as SAFs no País é positiva. “São diversas as motivações para que uma SAF seja constituída por um clube. Num primeiro momento, as dívidas foram o fator de convencimento, mas hoje já percebemos movimentos mais cautelosos, com propósitos voltados à melhoria da infraestrutura, incremento da equipe e até objetivos esportivos a curto e médio prazo”, afirma.

John Textor, magnata americano dono da SAF do Botafogo  Foto: Vitor Silva/Botafogo

A Lei da SAF permite que um clube se estruture como empresa e tenha dono. O modelo é adotado, geralmente, com o pensamento de salvar as agremiações de graves crises financeiras e torná-las competitivas, liberando a renegociação de dívidas. Foi o que ocorreu com o Botafogo. Campeão brasileiro e da Libertadores em 2024, o time alvinegro consagrou o modelo empresarial. O clube foi comprado em 2022 pelo Eagle Group, do magnata americano John Textor.

“Desde a implementação das SAFs, observamos um aumento significativo nos aportes de capital local e internacional nos clubes brasileiros. A rentabilidade potencial é imensa, dado o mercado brasileiro de futebol, que é um dos mais apaixonados e engajados do mundo”, analisa Fernando Lamounier, educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios.

Para Freitas, o dinheiro somente não garante sucesso. “Já tivemos muitas provas de que os aportes das SAFs podem gerar resultados já no curto prazo no Brasil, mas nem sempre isso vai acontecer. Dinheiro pode mudar o número de pessoas às quais você tem acesso, mas se não souber as escolher, pode fracassar com muito”.

Clubes da Série A que viraram SAF, seus donos e a porcentagem das ações de cada um

  • Atlético-MG - Galo Holding (75%);
  • Bahia - City Football Group (90%);
  • Botafogo - John Textor (90%);
  • Cruzeiro - Ronaldo Fenômeno (90%);
  • Fortaleza - Próprio clube é dono de 100% das ações;
  • Vasco - 777 Partners (70%) (contrato suspenso)

*O Red Bull Bragantino é clube-empresa desde antes da aprovação da Lei da SAF, de 2021, e se estrutura como uma limitada (LTDA).

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