Casal de veterinários brasileiros no Catar atende desde pets até os cavalos do emir


Cultura em ter um animal de estimação é diferente do Brasil e alto índice de abandono de cães e gatos é um lado pouco glamouroso de parte da sociedade catariana

Por Elcio Padovez

Brasil e Catar possuem muitas diferenças culturais e quando se fala em animais de estimação, alguns hábitos dos catarianos podem chamar atenção para quem visita o país. O primeiro deles é que os locais têm predileção por pets pouco comuns a nós, como camelos, falcões e pombos. Outro deles é que, por seguirem o islamismo, os nativos do país costumam ter gatos, considerados sagrados na religião, como companhia. Cachorros são menos populares e para o muçulmano ter um, é preciso haver uma razão, como para proteger a casa, caçar e não para ser tratado como um membro da família, algo comum em muitas famílias brasileiras.

O mercado de cuidados com animais no país da Copa está cheio de particularidades também, como contam o casal de veterinários brasileiros Julieta e Paulo Cavalcante, que vivem há quatro anos no Catar e trabalham em dois extremos: Enquanto a cearense exerce a profissão em uma clínica de gatos e cães em Doha, o potiguar é o veterinário responsável pelos cavalos que o emir, Tamim bin Hamad Al Thani, possui em uma fazenda que o mandatário da nação comprou do tio, Abdullah bin Hamad, e pretende transformar a propriedade, localizada ao norte da cidade de Al-Khor, em referência para as corridas equestres com animais de pedigree.

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Espaço exclusivo para gatos na clínica Parkview Foto: Elcio Padovez/ Estadão

Trabalho multiuso e setor em desenvolvimento

Julieta conta que, após se mudar para o Catar, seis meses depois do marido, não tinha emprego e decidiu aprender melhor o inglês para ter mais chances. Em setembro de 2019, foi convidada para trabalhar na Clínica Parkview, que conta com três unidades no país. A unidade em que ela trabalha possui 30 funcionários e a maioria dos clientes são gatos e a veterinária cearense precisou retomar os conhecimentos aprendidos na faculdade para atender mais felinos, pois ela cuidava de mais cachorros no Brasil.

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O gato é preferido pelos muçulmanos pois, segundo a lenda, o profeta Maomé, criador do islamismo, teria um. Ela também atende cachorros, mas a maioria de clientes estrangeiros. No dia da visita do Estadão à clínica, Julieta atendeu um lulu da Pomerânia cuja dona é catariana e a cliente confirmou que possui o animal para proteger a casa em que vive e não o vê como filho. Ele dorme em uma área fora da casa. O enfermeiro argelino Benosmane Abderraouf, que trabalha na Parkview, explica que, na religião muçulmana, humanos e animais são diferentes e o cachorro é mais sujo que o gato e possui mais bactérias na boca. Se o dono entrar em contato ele, precisa higienizar todas as partes tocadas antes de ir rezar. Com os gatos, não é necessário fazer a higienização.

Julieta e Benosmane durante atendimento veterinário Foto: Elcio Padovez/ Estadão

A veterinária brasileira também ressalta que medicina veterinária para pequenos animais ainda engatinha por lá e que precisa desenvolver várias funções dentro da clínica, como fazer pequenas cirurgias, parte odontológica. Outro fator é que, no caso de atendimentos 24h, o profissional deve ser procurado pelo celular e ir para a clínica fazer o atendimento, já que não há lugares que fiquem abertos todo o dia. Mas Julieta é otimista e se sente feliz em poder ajudar a desenvolver o setor, apesar das limitações. “Se o animal de pequeno porte precisa fazer uma tomografia, por exemplo, temos que enviá-lo para outros países, como Turquia, Bélgica e Itália, pois não existe aqui ainda. Para um cavalo, você encontra. Há limitação de alguns remédios, seja por conta da fórmula, que não é aceita pelas leis islâmicas do país, e ter que importar, pois a produção interna para medicações de pets ser pequena”.

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Corridas de cavalos sem apostas, mas com prêmios enormes

Já a situação de Paulo é outra em relação à esposa. Ele, que chegou ao Catar em 2018 por meio de convite de amigos brasileiros, cuida de cavalos árabes e desde 2020, trabalha como veterinário exclusivo na fazenda Umm Qarm, de propriedade do emir do país. O profissional do Rio Grande do Norte já possuía experiência com animais de grande porte e só se dedica a cavalos no emirado, sendo que hoje o foco são os de corrida.

Paulo (à esq) é veterinário exclusivo dos cavalos do emir Foto: Arquivo Pessoal
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No Brasil, Paulo dava aulas na universidade e fazia atendimentos particulares em fazendas. Já no Catar, vive outra situação. “Cuido de 180 cavalos e tenho acesso a muitas tecnologias e equipamentos que existem no Brasil, mas não em abundância e de fácil acesso para todos. Temos um hospital de primeiro mundo aqui para atender os equinos e é uma estrutura fantástica”.

Ele conta que a Umm Qarn é a fazenda mais tradicional de cavalos de corrida do Catar e que, por hoje pertencer ao emir, há grandes expectativas na gerência dela e isso passa pelos cuidados aos animais, que competem às quartas e quintas-feiras, e no jockey onde acontecem as disputas, em Doha, não se pode apostar, por conta da religião islâmica, mas há premiações em dinheiro para os vencedores. “Começo meu dia às 3h30 da manhã e aproveito essas primeiras horas, até cerca de 8h30, para fazer o check-up nos animais, treino e reavalio para liberar os que estão em melhores condições para as corridas. Só vou à fazenda na parte da tarde em caso de emergência, mas é difícil acontecer por conta da organização que existe lá”.

Cultura da performance e do abandono

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Se os profissionais brasileiros podem cuidar de animais que recebem bons tratos, eles também convivem com uma realidade menos açucarada no Catar. É comum ver cachorros e gatos perambulando por Doha e outras cidades do país e sem dono. São animais que foram abandonados por não terem mais poder competitivo ou pelo fato de o tutor achar que o tratamento que deve ser feito no pet é caro e simplesmente decide por largá-lo em algum ponto distante ou até mesmo, no deserto, como é o caso dos cachorros da raça saluki, que participam de corridas e caças esportivas. Mas, ao ficarem doentes ou velhos, perdem o status de animal “útil”.

O Catar, nos últimos meses, também sofreu acusações por ter feito uma matança de cachorros de rua por conta da Copa do Mundo e de 29 animais em um canil nos arredores de Doha, por conta do suposto ataque de um deles a uma criança. Como no país há pouca transparência, os casos só foram descobertos tempos depois e ganharam as manchetes de veículos do mundo todo.

Para Julieta e algumas brasileiras que vivem no país e possuem animais resgatados da rua, essa é uma situação bastante triste, mas não pode ser generalizada a todos os catarianos. A veterinária conta que já presenciou locais aparecerem com bichos na clínica em que trabalha dizendo que estava abandonado e que querem cuidar, dar as vacinas e adotar. “Mas não tem essa coisa de o animal ser filho deles, apesar de eu ter percebido leves mudanças de uns tempos para cá”.

Brasil e Catar possuem muitas diferenças culturais e quando se fala em animais de estimação, alguns hábitos dos catarianos podem chamar atenção para quem visita o país. O primeiro deles é que os locais têm predileção por pets pouco comuns a nós, como camelos, falcões e pombos. Outro deles é que, por seguirem o islamismo, os nativos do país costumam ter gatos, considerados sagrados na religião, como companhia. Cachorros são menos populares e para o muçulmano ter um, é preciso haver uma razão, como para proteger a casa, caçar e não para ser tratado como um membro da família, algo comum em muitas famílias brasileiras.

O mercado de cuidados com animais no país da Copa está cheio de particularidades também, como contam o casal de veterinários brasileiros Julieta e Paulo Cavalcante, que vivem há quatro anos no Catar e trabalham em dois extremos: Enquanto a cearense exerce a profissão em uma clínica de gatos e cães em Doha, o potiguar é o veterinário responsável pelos cavalos que o emir, Tamim bin Hamad Al Thani, possui em uma fazenda que o mandatário da nação comprou do tio, Abdullah bin Hamad, e pretende transformar a propriedade, localizada ao norte da cidade de Al-Khor, em referência para as corridas equestres com animais de pedigree.

Espaço exclusivo para gatos na clínica Parkview Foto: Elcio Padovez/ Estadão

Trabalho multiuso e setor em desenvolvimento

Julieta conta que, após se mudar para o Catar, seis meses depois do marido, não tinha emprego e decidiu aprender melhor o inglês para ter mais chances. Em setembro de 2019, foi convidada para trabalhar na Clínica Parkview, que conta com três unidades no país. A unidade em que ela trabalha possui 30 funcionários e a maioria dos clientes são gatos e a veterinária cearense precisou retomar os conhecimentos aprendidos na faculdade para atender mais felinos, pois ela cuidava de mais cachorros no Brasil.

O gato é preferido pelos muçulmanos pois, segundo a lenda, o profeta Maomé, criador do islamismo, teria um. Ela também atende cachorros, mas a maioria de clientes estrangeiros. No dia da visita do Estadão à clínica, Julieta atendeu um lulu da Pomerânia cuja dona é catariana e a cliente confirmou que possui o animal para proteger a casa em que vive e não o vê como filho. Ele dorme em uma área fora da casa. O enfermeiro argelino Benosmane Abderraouf, que trabalha na Parkview, explica que, na religião muçulmana, humanos e animais são diferentes e o cachorro é mais sujo que o gato e possui mais bactérias na boca. Se o dono entrar em contato ele, precisa higienizar todas as partes tocadas antes de ir rezar. Com os gatos, não é necessário fazer a higienização.

Julieta e Benosmane durante atendimento veterinário Foto: Elcio Padovez/ Estadão

A veterinária brasileira também ressalta que medicina veterinária para pequenos animais ainda engatinha por lá e que precisa desenvolver várias funções dentro da clínica, como fazer pequenas cirurgias, parte odontológica. Outro fator é que, no caso de atendimentos 24h, o profissional deve ser procurado pelo celular e ir para a clínica fazer o atendimento, já que não há lugares que fiquem abertos todo o dia. Mas Julieta é otimista e se sente feliz em poder ajudar a desenvolver o setor, apesar das limitações. “Se o animal de pequeno porte precisa fazer uma tomografia, por exemplo, temos que enviá-lo para outros países, como Turquia, Bélgica e Itália, pois não existe aqui ainda. Para um cavalo, você encontra. Há limitação de alguns remédios, seja por conta da fórmula, que não é aceita pelas leis islâmicas do país, e ter que importar, pois a produção interna para medicações de pets ser pequena”.

Corridas de cavalos sem apostas, mas com prêmios enormes

Já a situação de Paulo é outra em relação à esposa. Ele, que chegou ao Catar em 2018 por meio de convite de amigos brasileiros, cuida de cavalos árabes e desde 2020, trabalha como veterinário exclusivo na fazenda Umm Qarm, de propriedade do emir do país. O profissional do Rio Grande do Norte já possuía experiência com animais de grande porte e só se dedica a cavalos no emirado, sendo que hoje o foco são os de corrida.

Paulo (à esq) é veterinário exclusivo dos cavalos do emir Foto: Arquivo Pessoal

No Brasil, Paulo dava aulas na universidade e fazia atendimentos particulares em fazendas. Já no Catar, vive outra situação. “Cuido de 180 cavalos e tenho acesso a muitas tecnologias e equipamentos que existem no Brasil, mas não em abundância e de fácil acesso para todos. Temos um hospital de primeiro mundo aqui para atender os equinos e é uma estrutura fantástica”.

Ele conta que a Umm Qarn é a fazenda mais tradicional de cavalos de corrida do Catar e que, por hoje pertencer ao emir, há grandes expectativas na gerência dela e isso passa pelos cuidados aos animais, que competem às quartas e quintas-feiras, e no jockey onde acontecem as disputas, em Doha, não se pode apostar, por conta da religião islâmica, mas há premiações em dinheiro para os vencedores. “Começo meu dia às 3h30 da manhã e aproveito essas primeiras horas, até cerca de 8h30, para fazer o check-up nos animais, treino e reavalio para liberar os que estão em melhores condições para as corridas. Só vou à fazenda na parte da tarde em caso de emergência, mas é difícil acontecer por conta da organização que existe lá”.

Cultura da performance e do abandono

Se os profissionais brasileiros podem cuidar de animais que recebem bons tratos, eles também convivem com uma realidade menos açucarada no Catar. É comum ver cachorros e gatos perambulando por Doha e outras cidades do país e sem dono. São animais que foram abandonados por não terem mais poder competitivo ou pelo fato de o tutor achar que o tratamento que deve ser feito no pet é caro e simplesmente decide por largá-lo em algum ponto distante ou até mesmo, no deserto, como é o caso dos cachorros da raça saluki, que participam de corridas e caças esportivas. Mas, ao ficarem doentes ou velhos, perdem o status de animal “útil”.

O Catar, nos últimos meses, também sofreu acusações por ter feito uma matança de cachorros de rua por conta da Copa do Mundo e de 29 animais em um canil nos arredores de Doha, por conta do suposto ataque de um deles a uma criança. Como no país há pouca transparência, os casos só foram descobertos tempos depois e ganharam as manchetes de veículos do mundo todo.

Para Julieta e algumas brasileiras que vivem no país e possuem animais resgatados da rua, essa é uma situação bastante triste, mas não pode ser generalizada a todos os catarianos. A veterinária conta que já presenciou locais aparecerem com bichos na clínica em que trabalha dizendo que estava abandonado e que querem cuidar, dar as vacinas e adotar. “Mas não tem essa coisa de o animal ser filho deles, apesar de eu ter percebido leves mudanças de uns tempos para cá”.

Brasil e Catar possuem muitas diferenças culturais e quando se fala em animais de estimação, alguns hábitos dos catarianos podem chamar atenção para quem visita o país. O primeiro deles é que os locais têm predileção por pets pouco comuns a nós, como camelos, falcões e pombos. Outro deles é que, por seguirem o islamismo, os nativos do país costumam ter gatos, considerados sagrados na religião, como companhia. Cachorros são menos populares e para o muçulmano ter um, é preciso haver uma razão, como para proteger a casa, caçar e não para ser tratado como um membro da família, algo comum em muitas famílias brasileiras.

O mercado de cuidados com animais no país da Copa está cheio de particularidades também, como contam o casal de veterinários brasileiros Julieta e Paulo Cavalcante, que vivem há quatro anos no Catar e trabalham em dois extremos: Enquanto a cearense exerce a profissão em uma clínica de gatos e cães em Doha, o potiguar é o veterinário responsável pelos cavalos que o emir, Tamim bin Hamad Al Thani, possui em uma fazenda que o mandatário da nação comprou do tio, Abdullah bin Hamad, e pretende transformar a propriedade, localizada ao norte da cidade de Al-Khor, em referência para as corridas equestres com animais de pedigree.

Espaço exclusivo para gatos na clínica Parkview Foto: Elcio Padovez/ Estadão

Trabalho multiuso e setor em desenvolvimento

Julieta conta que, após se mudar para o Catar, seis meses depois do marido, não tinha emprego e decidiu aprender melhor o inglês para ter mais chances. Em setembro de 2019, foi convidada para trabalhar na Clínica Parkview, que conta com três unidades no país. A unidade em que ela trabalha possui 30 funcionários e a maioria dos clientes são gatos e a veterinária cearense precisou retomar os conhecimentos aprendidos na faculdade para atender mais felinos, pois ela cuidava de mais cachorros no Brasil.

O gato é preferido pelos muçulmanos pois, segundo a lenda, o profeta Maomé, criador do islamismo, teria um. Ela também atende cachorros, mas a maioria de clientes estrangeiros. No dia da visita do Estadão à clínica, Julieta atendeu um lulu da Pomerânia cuja dona é catariana e a cliente confirmou que possui o animal para proteger a casa em que vive e não o vê como filho. Ele dorme em uma área fora da casa. O enfermeiro argelino Benosmane Abderraouf, que trabalha na Parkview, explica que, na religião muçulmana, humanos e animais são diferentes e o cachorro é mais sujo que o gato e possui mais bactérias na boca. Se o dono entrar em contato ele, precisa higienizar todas as partes tocadas antes de ir rezar. Com os gatos, não é necessário fazer a higienização.

Julieta e Benosmane durante atendimento veterinário Foto: Elcio Padovez/ Estadão

A veterinária brasileira também ressalta que medicina veterinária para pequenos animais ainda engatinha por lá e que precisa desenvolver várias funções dentro da clínica, como fazer pequenas cirurgias, parte odontológica. Outro fator é que, no caso de atendimentos 24h, o profissional deve ser procurado pelo celular e ir para a clínica fazer o atendimento, já que não há lugares que fiquem abertos todo o dia. Mas Julieta é otimista e se sente feliz em poder ajudar a desenvolver o setor, apesar das limitações. “Se o animal de pequeno porte precisa fazer uma tomografia, por exemplo, temos que enviá-lo para outros países, como Turquia, Bélgica e Itália, pois não existe aqui ainda. Para um cavalo, você encontra. Há limitação de alguns remédios, seja por conta da fórmula, que não é aceita pelas leis islâmicas do país, e ter que importar, pois a produção interna para medicações de pets ser pequena”.

Corridas de cavalos sem apostas, mas com prêmios enormes

Já a situação de Paulo é outra em relação à esposa. Ele, que chegou ao Catar em 2018 por meio de convite de amigos brasileiros, cuida de cavalos árabes e desde 2020, trabalha como veterinário exclusivo na fazenda Umm Qarm, de propriedade do emir do país. O profissional do Rio Grande do Norte já possuía experiência com animais de grande porte e só se dedica a cavalos no emirado, sendo que hoje o foco são os de corrida.

Paulo (à esq) é veterinário exclusivo dos cavalos do emir Foto: Arquivo Pessoal

No Brasil, Paulo dava aulas na universidade e fazia atendimentos particulares em fazendas. Já no Catar, vive outra situação. “Cuido de 180 cavalos e tenho acesso a muitas tecnologias e equipamentos que existem no Brasil, mas não em abundância e de fácil acesso para todos. Temos um hospital de primeiro mundo aqui para atender os equinos e é uma estrutura fantástica”.

Ele conta que a Umm Qarn é a fazenda mais tradicional de cavalos de corrida do Catar e que, por hoje pertencer ao emir, há grandes expectativas na gerência dela e isso passa pelos cuidados aos animais, que competem às quartas e quintas-feiras, e no jockey onde acontecem as disputas, em Doha, não se pode apostar, por conta da religião islâmica, mas há premiações em dinheiro para os vencedores. “Começo meu dia às 3h30 da manhã e aproveito essas primeiras horas, até cerca de 8h30, para fazer o check-up nos animais, treino e reavalio para liberar os que estão em melhores condições para as corridas. Só vou à fazenda na parte da tarde em caso de emergência, mas é difícil acontecer por conta da organização que existe lá”.

Cultura da performance e do abandono

Se os profissionais brasileiros podem cuidar de animais que recebem bons tratos, eles também convivem com uma realidade menos açucarada no Catar. É comum ver cachorros e gatos perambulando por Doha e outras cidades do país e sem dono. São animais que foram abandonados por não terem mais poder competitivo ou pelo fato de o tutor achar que o tratamento que deve ser feito no pet é caro e simplesmente decide por largá-lo em algum ponto distante ou até mesmo, no deserto, como é o caso dos cachorros da raça saluki, que participam de corridas e caças esportivas. Mas, ao ficarem doentes ou velhos, perdem o status de animal “útil”.

O Catar, nos últimos meses, também sofreu acusações por ter feito uma matança de cachorros de rua por conta da Copa do Mundo e de 29 animais em um canil nos arredores de Doha, por conta do suposto ataque de um deles a uma criança. Como no país há pouca transparência, os casos só foram descobertos tempos depois e ganharam as manchetes de veículos do mundo todo.

Para Julieta e algumas brasileiras que vivem no país e possuem animais resgatados da rua, essa é uma situação bastante triste, mas não pode ser generalizada a todos os catarianos. A veterinária conta que já presenciou locais aparecerem com bichos na clínica em que trabalha dizendo que estava abandonado e que querem cuidar, dar as vacinas e adotar. “Mas não tem essa coisa de o animal ser filho deles, apesar de eu ter percebido leves mudanças de uns tempos para cá”.

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