Problemas envolvendo venda de ingressos irregulares e dificuldades de acesso aos estádios, principalmente em jogos de grande apelo, fazem parte da realidade do futebol brasileiro. Para combater a atuação de cambistas e melhorar a entrada dos torcedores, os clubes apostam no desenvolvimento de novas tecnologias, capazes de diminuir falhas nos sistemas e dificultar ações ilegais.
Neste mês, o Palmeiras divulgou um comunicado sobre a venda irregular de ingressos no entorno do Allianz Parque. Na nota, o clube disse que estuda soluções tecnológicas para combater práticas ilegais, como biometria, reconhecimento facial e modernização do ticket eletrônico. O Alviverde também anunciou que expulsou 200 cambistas que se passavam por sócios-torcedores do programa Avanti, ao investigar que eles obtinham vantagens na compra e revenda dos bilhetes.
Corinthians, Palmeiras e São Paulo já possuem o bilhete digital e permitem a entrada de torcedores por meio das carteiras de sócio e QR Codes. Contudo, ainda há relatos de problemas envolvendo a comercialização de ingressos por parte dos próprios sócios, que “emprestam” as suas carteirinhas, além de dificuldades envolvendo a identificação dos torcedores nas catracas dos estádios.
Nos últimos dias, o Flamengo também deu um passo importante para dificultar a prática do cambismo no futebol. Em reunião com o Ministério Público, demonstrou interesse em voltar a utilizar e-ticket em vez do ingresso físico, prática que vinha sendo adotada até então.
No Rio Grande do Sul, o Internacional migrou do ingresso holográfico para o digital, um e-ticket com QR Code estático, aumentando a praticidade na aquisição dos bilhetes. Apesar de facilitar a vida da torcida, o clube identificou um aumento no índice de falsificação e precisou desenvolver mecanismos tecnológicos para bloquear ações criminosas, como o repasse por valores bem mais acima dos praticados no mercado.
“Migramos para o ingresso digital e, infelizmente, constatamos um aumento significativo no número de falsificações. Com isso, passamos a barrar muitas pessoas nas catracas, o que ocasionou um retardamento grande na vazão dos torcedores ao interior do Beira-Rio. Alertamos a torcida por meio das nossas redes sobre os riscos de comprar ingressos fora do sistema de vendas oficial, e a nossa equipe de TI montou uma operação para bloquear essas ações criminosas. Uma das medidas foi a de cruzar os dados do comprador com os da Receita Federal no momento da emissão dos E-tickets”, afirma Victor Grunberg, vice-presidente de administração e patrimônio do Internacional.
Ainda de acordo com o dirigente, mesmo com a facilidade para falsificações, o objetivo do clube gaúcho é aprimorar a segurança em relação aos ingressos digitais e modernizar cada vez mais o processo de entrada dos torcedores. “Acreditamos que o QR Code dinâmico nos permitirá uma maior segurança em relação a aplicativos e ao digital, e este recurso, junto com a carteira digital, é o que teremos em um futuro bem próximo no Beira-Rio”, completa.
Na opinião de Renê Salviano, especialista em gestão esportiva e CEO da Heatmap, empresa que tem realizado algumas iniciativas focadas em arenas, a venda digital é mais segura do que bilhetes em papel e ajuda a combater práticas cambistas. “Papel facilita o cambismo, enquanto a venda digital traz segurança, reduz custos, ajuda a operação e obviamente gera dados automáticos e rápidos, que podem trazer muitos benefícios aos administradores das arenas e instituições desportivas”, defende. “A tecnologia pode ser utilizada inclusive com o foco em segurança, auxiliando na identificação dos indivíduos presentes no evento com o intuito de diminuir os índices de violência nos estádios”.
De acordo com Samuel Ferreira, CEO da Meep, empresa de soluções tecnológicas para meios de pagamento que prestou serviços ao Allianz Parque, ao Mineirão, e será responsável por todo o sistema de atendimento e pagamentos da Arena MRV, futuro estádio do Atlético-MG., facilitar o consumo em um negócio é essencial para fidelizar clientes e atrair novos consumidores. É por isso que, mais do que nunca, as instituições precisam garantir que o processo de venda seja seguro e eficaz, além de lícito.
“Antes de tudo, é necessário conhecer as opções que melhor se adaptam às necessidades do cliente, o torcedor. Já surgiram inúmeras novidades no mercado que garantem segurança tanto para o consumidor quanto para o empresário. Garantir uma boa experiência na hora da compra é tão importante quanto o evento em si”, ressalta Samuel.
Para o executivo, cada evento tem sua particularidade, exigindo estratégias diferentes. “É possível criar soluções exclusivas que atendam à demanda do projeto. Com tantas facilidades digitais hoje, o público tende a deixar antigos hábitos de lado para aderir a soluções mais práticas, inovadoras e, sobretudo, seguras”.
No Recife, o Sport tem promovido algumas mudanças estruturais e de inovação relacionadas a entrada dos torcedores no estádio, e isso já tem trazido efeito prático com agilidade de acesso aos jogos do time na Série B. “O torcedor é o nosso cliente e temos de facilitar sua ida ao estádio. Essa é uma preocupação constante da nossa gestão e a tecnologia pode ajudar. Precisamos tratar o torcedor bem para que ele sinta prazer de ir ao estádio, volte outras vezes e o clube até possa ter uma previsibilidade de sua chegada. A vida é muito corrida, então poder utilizar um app, por exemplo, para pagar um estacionamento, comprar um ingresso ou um lanche, com certeza torna a ida ao estádio mais agradável e prática”, analisou Yuri Romão, presidente do clube pernambucano.