Como o Palmeiras deixou os rivais para trás também na prevenção a contusões


Time de Abel Ferreira leva vantagem sobre os rivais Corinthians, São Paulo e Santos por ter a melhor infraestrutura na área de saúde, equipamentos modernos e métodos científicos mais eficientes entre os paulistas

Por Eugenio Goussinsky
Atualização:

Quando o futebol era muito mais baseado no improviso, muitos clássicos eram definidos por um lance genial, um pique mais rápido, uma contribuição do acaso. Hoje, a disputa se transferiu também para os bastidores da preparação. A rivalidade se tornou científica e tecnológica. Nesta nova “modalidade”, quem investe mais em equipamentos e infraestrutura, para tratamento e prevenção de lesões doa atletas, costuma ser vitorioso em campo.

No Estado de São Paulo, isso tem ficado nítido com o trabalho do Palmeiras, clube que mais tem conquistado títulos nos últimos anos. A equipe alviverde tem sido o time que tem a maior quantidade de equipamentos modernos instalados em relação aos rivais Corinthians, São Paulo e Santos.

Quem afirma isso é ninguém menos do que o fisiologista Turíbio Leite de Barros que, por anos, foi uma figura fundamental na estruturação e manutenção da área de saúde do São Paulo. E que não nega ser torcedor são-paulino. “O Palmeiras, em São Paulo, é o número um. Tem funcionado como uma empresa. Tem se preocupado em trabalhar em áreas fundamentais para o seu êxito. Em seguida está o Corinthians. Depois, acredito que São Paulo e Santos estão em um nível similar”, afirma.

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Câmara hiperbárica

Uma das mais recentes aquisições palmeirenses foi a câmara hiperbárica. Além do Palmeiras, nos últimos três anos, o equipamento tem sido utilizado por clubes como Corinthians, Flamengo, Santos, Red Bull Bragantino, Cuiabá e vários jogadores que o adquiriram para trabalhar em casa, numa espécie de investimento pessoal. O processo se baseia na utilização de oxigênio pressurizado, que enriquece a carga de oxigênio no sangue, acelerando a recuperação de lesões, cicatrizes e infecções dos atletas. Recentemente, Vinícius Júnior postou uma foto com o aparelho em sua casa.

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Outro equipamento que, aos poucos, começa a ser utilizado no Brasil é o laser de alta intensidade, que chega a 40 watts.

Turíbio, que por 35 anos foi professor da Universidade Federal de São Paulo, afirma que, em termos de capacidade de profissionais e de equipamentos, os clubes brasileiros mais bem estruturados se equiparam aos europeus e a outros dos Estados Unidos, em outras modalidades. A diferença, porém, segundo ele, é que, no Brasil, alguns, por resistência, demoram mais a aceitar novas tecnologias.

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A situação de São Paulo

Turíbio ressalta que, tão ou mais do que os recursos materiais, a capacidade dos profissionais é fundamental para a eficiência nos resultados. Ele cita o seu caso como exemplo da maneira com que o São Paulo, nos anos 1980 e 1990, se tornou vanguarda em inovação tecnológica e científica. Era o clube onde todos os jogadores queriam se tratar.

Tendo atuado no clube do Morumbi por 25 anos, Turíbio fez parte daquele processo, que incluiu a construção do Centro de Treinamento, e foi fundamental para as conquistas do time naquela época. “Com o suporte do São Paulo naqueles anos, fiz viagens para acompanhar congressos, para me atualizar sobre as novidades médicas, de equipamentos e de métodos de trabalho. Isso foi fundamental. Atualmente, para os clubes, esse investimento nos profissionais se torna decisivo para que todo o setor ligado à manutenção e prevenção dos atletas funcione bem”, observa.

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Turíbio afirma que, durante anos, o Reffis do São Paulo manteve-se estagnado, o que fez o clube perder a liderança neste setor.

Neste contexto, o São Paulo criou, há cerca de dois anos, um grupo de voluntários, especialistas na área, em busca de uma solução. Em 45 dias, segundo nota enviada ao Estadão, a diretoria constatou que, além dos problemas na estrutura física, havia algo muito maior que residia na área de gestão.

Surgiu, então, o DEM (Departamento de Excelência Médica), com representantes institucionais e da administração, além de especialistas na área de saúde, para dar um diagnóstico sobre as necessidades do setor. “Para adequar as nossas áreas de saúde, prestando melhor assistência aos atletas, em recuperação após desgaste físico ou contundidos, o primeiro passo foi rever e aprimorar o quadro de recursos humanos onde pudéssemos estar seguros sobre competência nos serviços prestados, a melhor indicação dos equipamentos a serem adquiridos, além da definição de protocolos sustentados por medicina baseada em evidências científicas”, explicou o São Paulo, em nota.

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O São Paulo não utiliza câmaras hiperbáricas e o laser de 40 watts. O argumento, em relação à hiperbárica, é que, após análises de estudos e parecer de um professor titular da UNIFESP, não ficou comprovado benefício na utilização deste equipamento. Em relação ao laser, segundo a nota, durante a fase de negociação com a empresa BTL, a própria gerência da empresa informou ao clube que havia um pequeno detalhe “relacionado à contraindicação de seu uso em pessoas tatuadas”.

Turíbio, que chegou a fazer parte do grupo de notáveis montado para reestruturar o São Paulo, mas saiu em função de divergências, rebate dizendo que essa contraindicação é direcionada ao laser dermatológico. O laser a ser utilizado, ressalta ele, é o ortopédico, que, segundo o fisiologista, não tem essa contraindicação.

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O São Paulo, por sua vez, garante que possui a infraestrutura adequada para tratamentos e prevenção médica de seus atletas. “Atualmente, o Reffis Plus encontra-se totalmente equipado e tem seis novos protocolos em utilização em todos os Centros de Treinamentos. A área de fisioterapia apresenta menor tempo de recuperação de lesões musculares em relação à média mundial, maior porcentagem de disponibilização do atleta aos jogos em relação aos dados da Uefa. A grande maioria dos casos hoje em tratamento são decorrentes de procedimentos cirúrgicos, também com tempos de recuperações abaixo das médias de referência mundial. Em relação à prevenção, estamos investindo em novas tecnologias com previsão de aquisição de equipamentos inovadores e implantação de protocolos de ‘recovery’ (recuperação) em curto prazo”.

Tratamento e prevenção

Outros métodos citados por Turíbio como básicos para uma recuperação e prevenção são a eletroterapia, por meio de ondas de choques, a utilização de equipamentos de analgesia e a própria regeneração com aparelhos a laser.

O fisiologista ressalta que esses avançados equipamentos, aplicados também no fortalecimento muscular, têm feito a recuperação de um atleta ser cada vez mais rápida. “Há gerações fantásticas de máquinas de academia. Outra área importante é a de biomecânica, fundamental para a prevenção de lesões. Os clubes também já têm à disposição, alguns deles já utilizando, recursos de análises de movimento com o sistema compatível com diagnósticos sobre a predisposição de lesões”.

O goleiro João Paulo recebe atenção especial no Santos Foto: Santos FC / Divulgação

Os recursos são diversos e incluem também padrões de movimentos filmados e realizados por meio de sensores capazes de detectar desequilíbrios biomecânicos (que apontam para a necessidade de fortalecimento ou relaxamento muscular, entre outros).

Para Charles Costa, coordenador do Departamento de Saúde e Performance do Santos FC, os clubes, de maneira geral, vêm se estruturando para enfrentar o desafio de conciliar questões técnicas, físicas, táticas e cognitivas com o calendário repleto de jogos. “Houve um investimento grande em pessoas, processos e tecnologia que permite realizar uma análise mais aprofundada neste setor. Basta avaliar como os grandes clubes têm investido montando Centros de Treinamentos e Núcleos de Saúde e performance”, ressalta Costa, que atuou com a seleção olímpica medalha de ouro na última Olimpíada e com a seleção brasileira na última Copa do Mundo.

Costa, inclusive, enviou para o Estadão um mapeamento sobre os processos de prevenção e recuperação de jogadores, que, na prática, podem funcionar como um manual para os clubes. Nesta análise, ele divide a tecnologia disponível nos clubes em três categorias.

A primeira é composta pela Avaliação de Performance, em que são utilizados GPS (equipamentos que medem distância percorrida, movimentos e desgaste), plataforma de salto (que permitem verificar o condicionamento físico por meio da potência e força de membros inferiores), acelerômetros (dispositivos que medem a aceleração de objetos e sistemas), dinamômetro isocinético (avaliação de possíveis desequilíbrios musculares).

Na segunda etapa, o objetivo é a análise da resposta biológica após exposição à carga de trabalho. Para tanto são utilizados, entre outros, a Termografia (exame que capta a luz infravermelha emitida pelo corpo após desgaste e analisa mudanças de temperatura ligadas a mudanças no fluxo sanguíneo, em busca de detectar eventuais alterações fisiológicas); a análise CK (enzima ligada ao desgaste físico) e de hormônios (liberados com a atividade física).

Já na terceira fase, são utilizados os equipamentos para aceleração de processo reparador de tecidos e de recuperação. Entre estes estão a bota pneumática (que comprime membros inferiores, para trabalhar a drenagem de contusões e a circulação sanguínea), a câmara fria (que ajuda na recuperação do desgaste físico) e os equipamentos de fisioterapia.

Desfalques nos clubes

Os excessos de desfalques dos clubes nos últimos anos, em função de lesões, têm sido constantes entre boa parte dos clubes. “Me parece equivocada a ideia de comparação do número de lesões entre os times. São grupos de indivíduos diferentes. Eles se submetem a metodologias diferentes de treinamento, apresentam distintos comportamentos táticos e técnicos, além de haver uma disparidade no número de partidas entre um clube e outro”, ressalta Costa.

Para Turíbio, há vários fatores que contribuem para isso, inclusive a infraestrutura defasada. “Isso tem inúmeras causas, depende de equipamento, competência de profissionais, o foco que o departamento tem em prevenção. Mas, uma delas, claro, é a falta de equipamentos adequados para fazer a prevenção, uma atitude mais focada em prevenção é fundamental. Às vezes também há lesões mal curadas, desta forma o atleta fica mais vulnerável para uma próxima lesão. Tudo isso interfere.”

Clubes, como o Santos, adotaram modernos métodos de tratamento e prevenção de lesões Foto: Santos FC / Divulgação

Turíbio ressalta, por fim, que o termo investimento não necessariamente significa, neste caso, desembolso de grandes quantias em dinheiro. Para ele, o clube tem propriedades de marca que interessam aos fornecedores e, com isso, pode compensar um menor valor pago com contrapartidas de marketing e visibilidade no futebol.

Acompanhando toda a evolução do Flamengo nos últimos anos, Turíbio cita o trabalho da equipe do médico Márcio Tannure, do clube carioca. “O Flamengo se modernizou, reformulou toda sua estrutura porque o Tannure teve carta branca. Ele fez uma tabela minuciosa de quanto vale cada propriedade de marketing do clube e modernizou o departamento sem colocar dinheiro. Essa é uma solução que está ao alcance dos clubes, com a popularidade que o futebol tem no País”, disse.

Não é à toa, segundo Turíbio, que o Palmeiras e o Flamengo têm sido os clubes com maiores conquistas recentes dentro de campo. Mas, no futebol de alto rendimento, nem sempre as exigências são benéficas para o organismo dos atletas. A evolução científica traz ao futebol uma rivalidade, literalmente, saudável. Na visão de especialistas, ela caminha para atenuar também possíveis sequelas.

Quando o futebol era muito mais baseado no improviso, muitos clássicos eram definidos por um lance genial, um pique mais rápido, uma contribuição do acaso. Hoje, a disputa se transferiu também para os bastidores da preparação. A rivalidade se tornou científica e tecnológica. Nesta nova “modalidade”, quem investe mais em equipamentos e infraestrutura, para tratamento e prevenção de lesões doa atletas, costuma ser vitorioso em campo.

No Estado de São Paulo, isso tem ficado nítido com o trabalho do Palmeiras, clube que mais tem conquistado títulos nos últimos anos. A equipe alviverde tem sido o time que tem a maior quantidade de equipamentos modernos instalados em relação aos rivais Corinthians, São Paulo e Santos.

Quem afirma isso é ninguém menos do que o fisiologista Turíbio Leite de Barros que, por anos, foi uma figura fundamental na estruturação e manutenção da área de saúde do São Paulo. E que não nega ser torcedor são-paulino. “O Palmeiras, em São Paulo, é o número um. Tem funcionado como uma empresa. Tem se preocupado em trabalhar em áreas fundamentais para o seu êxito. Em seguida está o Corinthians. Depois, acredito que São Paulo e Santos estão em um nível similar”, afirma.

Câmara hiperbárica

Uma das mais recentes aquisições palmeirenses foi a câmara hiperbárica. Além do Palmeiras, nos últimos três anos, o equipamento tem sido utilizado por clubes como Corinthians, Flamengo, Santos, Red Bull Bragantino, Cuiabá e vários jogadores que o adquiriram para trabalhar em casa, numa espécie de investimento pessoal. O processo se baseia na utilização de oxigênio pressurizado, que enriquece a carga de oxigênio no sangue, acelerando a recuperação de lesões, cicatrizes e infecções dos atletas. Recentemente, Vinícius Júnior postou uma foto com o aparelho em sua casa.

Outro equipamento que, aos poucos, começa a ser utilizado no Brasil é o laser de alta intensidade, que chega a 40 watts.

Turíbio, que por 35 anos foi professor da Universidade Federal de São Paulo, afirma que, em termos de capacidade de profissionais e de equipamentos, os clubes brasileiros mais bem estruturados se equiparam aos europeus e a outros dos Estados Unidos, em outras modalidades. A diferença, porém, segundo ele, é que, no Brasil, alguns, por resistência, demoram mais a aceitar novas tecnologias.

A situação de São Paulo

Turíbio ressalta que, tão ou mais do que os recursos materiais, a capacidade dos profissionais é fundamental para a eficiência nos resultados. Ele cita o seu caso como exemplo da maneira com que o São Paulo, nos anos 1980 e 1990, se tornou vanguarda em inovação tecnológica e científica. Era o clube onde todos os jogadores queriam se tratar.

Tendo atuado no clube do Morumbi por 25 anos, Turíbio fez parte daquele processo, que incluiu a construção do Centro de Treinamento, e foi fundamental para as conquistas do time naquela época. “Com o suporte do São Paulo naqueles anos, fiz viagens para acompanhar congressos, para me atualizar sobre as novidades médicas, de equipamentos e de métodos de trabalho. Isso foi fundamental. Atualmente, para os clubes, esse investimento nos profissionais se torna decisivo para que todo o setor ligado à manutenção e prevenção dos atletas funcione bem”, observa.

Turíbio afirma que, durante anos, o Reffis do São Paulo manteve-se estagnado, o que fez o clube perder a liderança neste setor.

Neste contexto, o São Paulo criou, há cerca de dois anos, um grupo de voluntários, especialistas na área, em busca de uma solução. Em 45 dias, segundo nota enviada ao Estadão, a diretoria constatou que, além dos problemas na estrutura física, havia algo muito maior que residia na área de gestão.

Surgiu, então, o DEM (Departamento de Excelência Médica), com representantes institucionais e da administração, além de especialistas na área de saúde, para dar um diagnóstico sobre as necessidades do setor. “Para adequar as nossas áreas de saúde, prestando melhor assistência aos atletas, em recuperação após desgaste físico ou contundidos, o primeiro passo foi rever e aprimorar o quadro de recursos humanos onde pudéssemos estar seguros sobre competência nos serviços prestados, a melhor indicação dos equipamentos a serem adquiridos, além da definição de protocolos sustentados por medicina baseada em evidências científicas”, explicou o São Paulo, em nota.

O São Paulo não utiliza câmaras hiperbáricas e o laser de 40 watts. O argumento, em relação à hiperbárica, é que, após análises de estudos e parecer de um professor titular da UNIFESP, não ficou comprovado benefício na utilização deste equipamento. Em relação ao laser, segundo a nota, durante a fase de negociação com a empresa BTL, a própria gerência da empresa informou ao clube que havia um pequeno detalhe “relacionado à contraindicação de seu uso em pessoas tatuadas”.

Turíbio, que chegou a fazer parte do grupo de notáveis montado para reestruturar o São Paulo, mas saiu em função de divergências, rebate dizendo que essa contraindicação é direcionada ao laser dermatológico. O laser a ser utilizado, ressalta ele, é o ortopédico, que, segundo o fisiologista, não tem essa contraindicação.

O São Paulo, por sua vez, garante que possui a infraestrutura adequada para tratamentos e prevenção médica de seus atletas. “Atualmente, o Reffis Plus encontra-se totalmente equipado e tem seis novos protocolos em utilização em todos os Centros de Treinamentos. A área de fisioterapia apresenta menor tempo de recuperação de lesões musculares em relação à média mundial, maior porcentagem de disponibilização do atleta aos jogos em relação aos dados da Uefa. A grande maioria dos casos hoje em tratamento são decorrentes de procedimentos cirúrgicos, também com tempos de recuperações abaixo das médias de referência mundial. Em relação à prevenção, estamos investindo em novas tecnologias com previsão de aquisição de equipamentos inovadores e implantação de protocolos de ‘recovery’ (recuperação) em curto prazo”.

Tratamento e prevenção

Outros métodos citados por Turíbio como básicos para uma recuperação e prevenção são a eletroterapia, por meio de ondas de choques, a utilização de equipamentos de analgesia e a própria regeneração com aparelhos a laser.

O fisiologista ressalta que esses avançados equipamentos, aplicados também no fortalecimento muscular, têm feito a recuperação de um atleta ser cada vez mais rápida. “Há gerações fantásticas de máquinas de academia. Outra área importante é a de biomecânica, fundamental para a prevenção de lesões. Os clubes também já têm à disposição, alguns deles já utilizando, recursos de análises de movimento com o sistema compatível com diagnósticos sobre a predisposição de lesões”.

O goleiro João Paulo recebe atenção especial no Santos Foto: Santos FC / Divulgação

Os recursos são diversos e incluem também padrões de movimentos filmados e realizados por meio de sensores capazes de detectar desequilíbrios biomecânicos (que apontam para a necessidade de fortalecimento ou relaxamento muscular, entre outros).

Para Charles Costa, coordenador do Departamento de Saúde e Performance do Santos FC, os clubes, de maneira geral, vêm se estruturando para enfrentar o desafio de conciliar questões técnicas, físicas, táticas e cognitivas com o calendário repleto de jogos. “Houve um investimento grande em pessoas, processos e tecnologia que permite realizar uma análise mais aprofundada neste setor. Basta avaliar como os grandes clubes têm investido montando Centros de Treinamentos e Núcleos de Saúde e performance”, ressalta Costa, que atuou com a seleção olímpica medalha de ouro na última Olimpíada e com a seleção brasileira na última Copa do Mundo.

Costa, inclusive, enviou para o Estadão um mapeamento sobre os processos de prevenção e recuperação de jogadores, que, na prática, podem funcionar como um manual para os clubes. Nesta análise, ele divide a tecnologia disponível nos clubes em três categorias.

A primeira é composta pela Avaliação de Performance, em que são utilizados GPS (equipamentos que medem distância percorrida, movimentos e desgaste), plataforma de salto (que permitem verificar o condicionamento físico por meio da potência e força de membros inferiores), acelerômetros (dispositivos que medem a aceleração de objetos e sistemas), dinamômetro isocinético (avaliação de possíveis desequilíbrios musculares).

Na segunda etapa, o objetivo é a análise da resposta biológica após exposição à carga de trabalho. Para tanto são utilizados, entre outros, a Termografia (exame que capta a luz infravermelha emitida pelo corpo após desgaste e analisa mudanças de temperatura ligadas a mudanças no fluxo sanguíneo, em busca de detectar eventuais alterações fisiológicas); a análise CK (enzima ligada ao desgaste físico) e de hormônios (liberados com a atividade física).

Já na terceira fase, são utilizados os equipamentos para aceleração de processo reparador de tecidos e de recuperação. Entre estes estão a bota pneumática (que comprime membros inferiores, para trabalhar a drenagem de contusões e a circulação sanguínea), a câmara fria (que ajuda na recuperação do desgaste físico) e os equipamentos de fisioterapia.

Desfalques nos clubes

Os excessos de desfalques dos clubes nos últimos anos, em função de lesões, têm sido constantes entre boa parte dos clubes. “Me parece equivocada a ideia de comparação do número de lesões entre os times. São grupos de indivíduos diferentes. Eles se submetem a metodologias diferentes de treinamento, apresentam distintos comportamentos táticos e técnicos, além de haver uma disparidade no número de partidas entre um clube e outro”, ressalta Costa.

Para Turíbio, há vários fatores que contribuem para isso, inclusive a infraestrutura defasada. “Isso tem inúmeras causas, depende de equipamento, competência de profissionais, o foco que o departamento tem em prevenção. Mas, uma delas, claro, é a falta de equipamentos adequados para fazer a prevenção, uma atitude mais focada em prevenção é fundamental. Às vezes também há lesões mal curadas, desta forma o atleta fica mais vulnerável para uma próxima lesão. Tudo isso interfere.”

Clubes, como o Santos, adotaram modernos métodos de tratamento e prevenção de lesões Foto: Santos FC / Divulgação

Turíbio ressalta, por fim, que o termo investimento não necessariamente significa, neste caso, desembolso de grandes quantias em dinheiro. Para ele, o clube tem propriedades de marca que interessam aos fornecedores e, com isso, pode compensar um menor valor pago com contrapartidas de marketing e visibilidade no futebol.

Acompanhando toda a evolução do Flamengo nos últimos anos, Turíbio cita o trabalho da equipe do médico Márcio Tannure, do clube carioca. “O Flamengo se modernizou, reformulou toda sua estrutura porque o Tannure teve carta branca. Ele fez uma tabela minuciosa de quanto vale cada propriedade de marketing do clube e modernizou o departamento sem colocar dinheiro. Essa é uma solução que está ao alcance dos clubes, com a popularidade que o futebol tem no País”, disse.

Não é à toa, segundo Turíbio, que o Palmeiras e o Flamengo têm sido os clubes com maiores conquistas recentes dentro de campo. Mas, no futebol de alto rendimento, nem sempre as exigências são benéficas para o organismo dos atletas. A evolução científica traz ao futebol uma rivalidade, literalmente, saudável. Na visão de especialistas, ela caminha para atenuar também possíveis sequelas.

Quando o futebol era muito mais baseado no improviso, muitos clássicos eram definidos por um lance genial, um pique mais rápido, uma contribuição do acaso. Hoje, a disputa se transferiu também para os bastidores da preparação. A rivalidade se tornou científica e tecnológica. Nesta nova “modalidade”, quem investe mais em equipamentos e infraestrutura, para tratamento e prevenção de lesões doa atletas, costuma ser vitorioso em campo.

No Estado de São Paulo, isso tem ficado nítido com o trabalho do Palmeiras, clube que mais tem conquistado títulos nos últimos anos. A equipe alviverde tem sido o time que tem a maior quantidade de equipamentos modernos instalados em relação aos rivais Corinthians, São Paulo e Santos.

Quem afirma isso é ninguém menos do que o fisiologista Turíbio Leite de Barros que, por anos, foi uma figura fundamental na estruturação e manutenção da área de saúde do São Paulo. E que não nega ser torcedor são-paulino. “O Palmeiras, em São Paulo, é o número um. Tem funcionado como uma empresa. Tem se preocupado em trabalhar em áreas fundamentais para o seu êxito. Em seguida está o Corinthians. Depois, acredito que São Paulo e Santos estão em um nível similar”, afirma.

Câmara hiperbárica

Uma das mais recentes aquisições palmeirenses foi a câmara hiperbárica. Além do Palmeiras, nos últimos três anos, o equipamento tem sido utilizado por clubes como Corinthians, Flamengo, Santos, Red Bull Bragantino, Cuiabá e vários jogadores que o adquiriram para trabalhar em casa, numa espécie de investimento pessoal. O processo se baseia na utilização de oxigênio pressurizado, que enriquece a carga de oxigênio no sangue, acelerando a recuperação de lesões, cicatrizes e infecções dos atletas. Recentemente, Vinícius Júnior postou uma foto com o aparelho em sua casa.

Outro equipamento que, aos poucos, começa a ser utilizado no Brasil é o laser de alta intensidade, que chega a 40 watts.

Turíbio, que por 35 anos foi professor da Universidade Federal de São Paulo, afirma que, em termos de capacidade de profissionais e de equipamentos, os clubes brasileiros mais bem estruturados se equiparam aos europeus e a outros dos Estados Unidos, em outras modalidades. A diferença, porém, segundo ele, é que, no Brasil, alguns, por resistência, demoram mais a aceitar novas tecnologias.

A situação de São Paulo

Turíbio ressalta que, tão ou mais do que os recursos materiais, a capacidade dos profissionais é fundamental para a eficiência nos resultados. Ele cita o seu caso como exemplo da maneira com que o São Paulo, nos anos 1980 e 1990, se tornou vanguarda em inovação tecnológica e científica. Era o clube onde todos os jogadores queriam se tratar.

Tendo atuado no clube do Morumbi por 25 anos, Turíbio fez parte daquele processo, que incluiu a construção do Centro de Treinamento, e foi fundamental para as conquistas do time naquela época. “Com o suporte do São Paulo naqueles anos, fiz viagens para acompanhar congressos, para me atualizar sobre as novidades médicas, de equipamentos e de métodos de trabalho. Isso foi fundamental. Atualmente, para os clubes, esse investimento nos profissionais se torna decisivo para que todo o setor ligado à manutenção e prevenção dos atletas funcione bem”, observa.

Turíbio afirma que, durante anos, o Reffis do São Paulo manteve-se estagnado, o que fez o clube perder a liderança neste setor.

Neste contexto, o São Paulo criou, há cerca de dois anos, um grupo de voluntários, especialistas na área, em busca de uma solução. Em 45 dias, segundo nota enviada ao Estadão, a diretoria constatou que, além dos problemas na estrutura física, havia algo muito maior que residia na área de gestão.

Surgiu, então, o DEM (Departamento de Excelência Médica), com representantes institucionais e da administração, além de especialistas na área de saúde, para dar um diagnóstico sobre as necessidades do setor. “Para adequar as nossas áreas de saúde, prestando melhor assistência aos atletas, em recuperação após desgaste físico ou contundidos, o primeiro passo foi rever e aprimorar o quadro de recursos humanos onde pudéssemos estar seguros sobre competência nos serviços prestados, a melhor indicação dos equipamentos a serem adquiridos, além da definição de protocolos sustentados por medicina baseada em evidências científicas”, explicou o São Paulo, em nota.

O São Paulo não utiliza câmaras hiperbáricas e o laser de 40 watts. O argumento, em relação à hiperbárica, é que, após análises de estudos e parecer de um professor titular da UNIFESP, não ficou comprovado benefício na utilização deste equipamento. Em relação ao laser, segundo a nota, durante a fase de negociação com a empresa BTL, a própria gerência da empresa informou ao clube que havia um pequeno detalhe “relacionado à contraindicação de seu uso em pessoas tatuadas”.

Turíbio, que chegou a fazer parte do grupo de notáveis montado para reestruturar o São Paulo, mas saiu em função de divergências, rebate dizendo que essa contraindicação é direcionada ao laser dermatológico. O laser a ser utilizado, ressalta ele, é o ortopédico, que, segundo o fisiologista, não tem essa contraindicação.

O São Paulo, por sua vez, garante que possui a infraestrutura adequada para tratamentos e prevenção médica de seus atletas. “Atualmente, o Reffis Plus encontra-se totalmente equipado e tem seis novos protocolos em utilização em todos os Centros de Treinamentos. A área de fisioterapia apresenta menor tempo de recuperação de lesões musculares em relação à média mundial, maior porcentagem de disponibilização do atleta aos jogos em relação aos dados da Uefa. A grande maioria dos casos hoje em tratamento são decorrentes de procedimentos cirúrgicos, também com tempos de recuperações abaixo das médias de referência mundial. Em relação à prevenção, estamos investindo em novas tecnologias com previsão de aquisição de equipamentos inovadores e implantação de protocolos de ‘recovery’ (recuperação) em curto prazo”.

Tratamento e prevenção

Outros métodos citados por Turíbio como básicos para uma recuperação e prevenção são a eletroterapia, por meio de ondas de choques, a utilização de equipamentos de analgesia e a própria regeneração com aparelhos a laser.

O fisiologista ressalta que esses avançados equipamentos, aplicados também no fortalecimento muscular, têm feito a recuperação de um atleta ser cada vez mais rápida. “Há gerações fantásticas de máquinas de academia. Outra área importante é a de biomecânica, fundamental para a prevenção de lesões. Os clubes também já têm à disposição, alguns deles já utilizando, recursos de análises de movimento com o sistema compatível com diagnósticos sobre a predisposição de lesões”.

O goleiro João Paulo recebe atenção especial no Santos Foto: Santos FC / Divulgação

Os recursos são diversos e incluem também padrões de movimentos filmados e realizados por meio de sensores capazes de detectar desequilíbrios biomecânicos (que apontam para a necessidade de fortalecimento ou relaxamento muscular, entre outros).

Para Charles Costa, coordenador do Departamento de Saúde e Performance do Santos FC, os clubes, de maneira geral, vêm se estruturando para enfrentar o desafio de conciliar questões técnicas, físicas, táticas e cognitivas com o calendário repleto de jogos. “Houve um investimento grande em pessoas, processos e tecnologia que permite realizar uma análise mais aprofundada neste setor. Basta avaliar como os grandes clubes têm investido montando Centros de Treinamentos e Núcleos de Saúde e performance”, ressalta Costa, que atuou com a seleção olímpica medalha de ouro na última Olimpíada e com a seleção brasileira na última Copa do Mundo.

Costa, inclusive, enviou para o Estadão um mapeamento sobre os processos de prevenção e recuperação de jogadores, que, na prática, podem funcionar como um manual para os clubes. Nesta análise, ele divide a tecnologia disponível nos clubes em três categorias.

A primeira é composta pela Avaliação de Performance, em que são utilizados GPS (equipamentos que medem distância percorrida, movimentos e desgaste), plataforma de salto (que permitem verificar o condicionamento físico por meio da potência e força de membros inferiores), acelerômetros (dispositivos que medem a aceleração de objetos e sistemas), dinamômetro isocinético (avaliação de possíveis desequilíbrios musculares).

Na segunda etapa, o objetivo é a análise da resposta biológica após exposição à carga de trabalho. Para tanto são utilizados, entre outros, a Termografia (exame que capta a luz infravermelha emitida pelo corpo após desgaste e analisa mudanças de temperatura ligadas a mudanças no fluxo sanguíneo, em busca de detectar eventuais alterações fisiológicas); a análise CK (enzima ligada ao desgaste físico) e de hormônios (liberados com a atividade física).

Já na terceira fase, são utilizados os equipamentos para aceleração de processo reparador de tecidos e de recuperação. Entre estes estão a bota pneumática (que comprime membros inferiores, para trabalhar a drenagem de contusões e a circulação sanguínea), a câmara fria (que ajuda na recuperação do desgaste físico) e os equipamentos de fisioterapia.

Desfalques nos clubes

Os excessos de desfalques dos clubes nos últimos anos, em função de lesões, têm sido constantes entre boa parte dos clubes. “Me parece equivocada a ideia de comparação do número de lesões entre os times. São grupos de indivíduos diferentes. Eles se submetem a metodologias diferentes de treinamento, apresentam distintos comportamentos táticos e técnicos, além de haver uma disparidade no número de partidas entre um clube e outro”, ressalta Costa.

Para Turíbio, há vários fatores que contribuem para isso, inclusive a infraestrutura defasada. “Isso tem inúmeras causas, depende de equipamento, competência de profissionais, o foco que o departamento tem em prevenção. Mas, uma delas, claro, é a falta de equipamentos adequados para fazer a prevenção, uma atitude mais focada em prevenção é fundamental. Às vezes também há lesões mal curadas, desta forma o atleta fica mais vulnerável para uma próxima lesão. Tudo isso interfere.”

Clubes, como o Santos, adotaram modernos métodos de tratamento e prevenção de lesões Foto: Santos FC / Divulgação

Turíbio ressalta, por fim, que o termo investimento não necessariamente significa, neste caso, desembolso de grandes quantias em dinheiro. Para ele, o clube tem propriedades de marca que interessam aos fornecedores e, com isso, pode compensar um menor valor pago com contrapartidas de marketing e visibilidade no futebol.

Acompanhando toda a evolução do Flamengo nos últimos anos, Turíbio cita o trabalho da equipe do médico Márcio Tannure, do clube carioca. “O Flamengo se modernizou, reformulou toda sua estrutura porque o Tannure teve carta branca. Ele fez uma tabela minuciosa de quanto vale cada propriedade de marketing do clube e modernizou o departamento sem colocar dinheiro. Essa é uma solução que está ao alcance dos clubes, com a popularidade que o futebol tem no País”, disse.

Não é à toa, segundo Turíbio, que o Palmeiras e o Flamengo têm sido os clubes com maiores conquistas recentes dentro de campo. Mas, no futebol de alto rendimento, nem sempre as exigências são benéficas para o organismo dos atletas. A evolução científica traz ao futebol uma rivalidade, literalmente, saudável. Na visão de especialistas, ela caminha para atenuar também possíveis sequelas.

Quando o futebol era muito mais baseado no improviso, muitos clássicos eram definidos por um lance genial, um pique mais rápido, uma contribuição do acaso. Hoje, a disputa se transferiu também para os bastidores da preparação. A rivalidade se tornou científica e tecnológica. Nesta nova “modalidade”, quem investe mais em equipamentos e infraestrutura, para tratamento e prevenção de lesões doa atletas, costuma ser vitorioso em campo.

No Estado de São Paulo, isso tem ficado nítido com o trabalho do Palmeiras, clube que mais tem conquistado títulos nos últimos anos. A equipe alviverde tem sido o time que tem a maior quantidade de equipamentos modernos instalados em relação aos rivais Corinthians, São Paulo e Santos.

Quem afirma isso é ninguém menos do que o fisiologista Turíbio Leite de Barros que, por anos, foi uma figura fundamental na estruturação e manutenção da área de saúde do São Paulo. E que não nega ser torcedor são-paulino. “O Palmeiras, em São Paulo, é o número um. Tem funcionado como uma empresa. Tem se preocupado em trabalhar em áreas fundamentais para o seu êxito. Em seguida está o Corinthians. Depois, acredito que São Paulo e Santos estão em um nível similar”, afirma.

Câmara hiperbárica

Uma das mais recentes aquisições palmeirenses foi a câmara hiperbárica. Além do Palmeiras, nos últimos três anos, o equipamento tem sido utilizado por clubes como Corinthians, Flamengo, Santos, Red Bull Bragantino, Cuiabá e vários jogadores que o adquiriram para trabalhar em casa, numa espécie de investimento pessoal. O processo se baseia na utilização de oxigênio pressurizado, que enriquece a carga de oxigênio no sangue, acelerando a recuperação de lesões, cicatrizes e infecções dos atletas. Recentemente, Vinícius Júnior postou uma foto com o aparelho em sua casa.

Outro equipamento que, aos poucos, começa a ser utilizado no Brasil é o laser de alta intensidade, que chega a 40 watts.

Turíbio, que por 35 anos foi professor da Universidade Federal de São Paulo, afirma que, em termos de capacidade de profissionais e de equipamentos, os clubes brasileiros mais bem estruturados se equiparam aos europeus e a outros dos Estados Unidos, em outras modalidades. A diferença, porém, segundo ele, é que, no Brasil, alguns, por resistência, demoram mais a aceitar novas tecnologias.

A situação de São Paulo

Turíbio ressalta que, tão ou mais do que os recursos materiais, a capacidade dos profissionais é fundamental para a eficiência nos resultados. Ele cita o seu caso como exemplo da maneira com que o São Paulo, nos anos 1980 e 1990, se tornou vanguarda em inovação tecnológica e científica. Era o clube onde todos os jogadores queriam se tratar.

Tendo atuado no clube do Morumbi por 25 anos, Turíbio fez parte daquele processo, que incluiu a construção do Centro de Treinamento, e foi fundamental para as conquistas do time naquela época. “Com o suporte do São Paulo naqueles anos, fiz viagens para acompanhar congressos, para me atualizar sobre as novidades médicas, de equipamentos e de métodos de trabalho. Isso foi fundamental. Atualmente, para os clubes, esse investimento nos profissionais se torna decisivo para que todo o setor ligado à manutenção e prevenção dos atletas funcione bem”, observa.

Turíbio afirma que, durante anos, o Reffis do São Paulo manteve-se estagnado, o que fez o clube perder a liderança neste setor.

Neste contexto, o São Paulo criou, há cerca de dois anos, um grupo de voluntários, especialistas na área, em busca de uma solução. Em 45 dias, segundo nota enviada ao Estadão, a diretoria constatou que, além dos problemas na estrutura física, havia algo muito maior que residia na área de gestão.

Surgiu, então, o DEM (Departamento de Excelência Médica), com representantes institucionais e da administração, além de especialistas na área de saúde, para dar um diagnóstico sobre as necessidades do setor. “Para adequar as nossas áreas de saúde, prestando melhor assistência aos atletas, em recuperação após desgaste físico ou contundidos, o primeiro passo foi rever e aprimorar o quadro de recursos humanos onde pudéssemos estar seguros sobre competência nos serviços prestados, a melhor indicação dos equipamentos a serem adquiridos, além da definição de protocolos sustentados por medicina baseada em evidências científicas”, explicou o São Paulo, em nota.

O São Paulo não utiliza câmaras hiperbáricas e o laser de 40 watts. O argumento, em relação à hiperbárica, é que, após análises de estudos e parecer de um professor titular da UNIFESP, não ficou comprovado benefício na utilização deste equipamento. Em relação ao laser, segundo a nota, durante a fase de negociação com a empresa BTL, a própria gerência da empresa informou ao clube que havia um pequeno detalhe “relacionado à contraindicação de seu uso em pessoas tatuadas”.

Turíbio, que chegou a fazer parte do grupo de notáveis montado para reestruturar o São Paulo, mas saiu em função de divergências, rebate dizendo que essa contraindicação é direcionada ao laser dermatológico. O laser a ser utilizado, ressalta ele, é o ortopédico, que, segundo o fisiologista, não tem essa contraindicação.

O São Paulo, por sua vez, garante que possui a infraestrutura adequada para tratamentos e prevenção médica de seus atletas. “Atualmente, o Reffis Plus encontra-se totalmente equipado e tem seis novos protocolos em utilização em todos os Centros de Treinamentos. A área de fisioterapia apresenta menor tempo de recuperação de lesões musculares em relação à média mundial, maior porcentagem de disponibilização do atleta aos jogos em relação aos dados da Uefa. A grande maioria dos casos hoje em tratamento são decorrentes de procedimentos cirúrgicos, também com tempos de recuperações abaixo das médias de referência mundial. Em relação à prevenção, estamos investindo em novas tecnologias com previsão de aquisição de equipamentos inovadores e implantação de protocolos de ‘recovery’ (recuperação) em curto prazo”.

Tratamento e prevenção

Outros métodos citados por Turíbio como básicos para uma recuperação e prevenção são a eletroterapia, por meio de ondas de choques, a utilização de equipamentos de analgesia e a própria regeneração com aparelhos a laser.

O fisiologista ressalta que esses avançados equipamentos, aplicados também no fortalecimento muscular, têm feito a recuperação de um atleta ser cada vez mais rápida. “Há gerações fantásticas de máquinas de academia. Outra área importante é a de biomecânica, fundamental para a prevenção de lesões. Os clubes também já têm à disposição, alguns deles já utilizando, recursos de análises de movimento com o sistema compatível com diagnósticos sobre a predisposição de lesões”.

O goleiro João Paulo recebe atenção especial no Santos Foto: Santos FC / Divulgação

Os recursos são diversos e incluem também padrões de movimentos filmados e realizados por meio de sensores capazes de detectar desequilíbrios biomecânicos (que apontam para a necessidade de fortalecimento ou relaxamento muscular, entre outros).

Para Charles Costa, coordenador do Departamento de Saúde e Performance do Santos FC, os clubes, de maneira geral, vêm se estruturando para enfrentar o desafio de conciliar questões técnicas, físicas, táticas e cognitivas com o calendário repleto de jogos. “Houve um investimento grande em pessoas, processos e tecnologia que permite realizar uma análise mais aprofundada neste setor. Basta avaliar como os grandes clubes têm investido montando Centros de Treinamentos e Núcleos de Saúde e performance”, ressalta Costa, que atuou com a seleção olímpica medalha de ouro na última Olimpíada e com a seleção brasileira na última Copa do Mundo.

Costa, inclusive, enviou para o Estadão um mapeamento sobre os processos de prevenção e recuperação de jogadores, que, na prática, podem funcionar como um manual para os clubes. Nesta análise, ele divide a tecnologia disponível nos clubes em três categorias.

A primeira é composta pela Avaliação de Performance, em que são utilizados GPS (equipamentos que medem distância percorrida, movimentos e desgaste), plataforma de salto (que permitem verificar o condicionamento físico por meio da potência e força de membros inferiores), acelerômetros (dispositivos que medem a aceleração de objetos e sistemas), dinamômetro isocinético (avaliação de possíveis desequilíbrios musculares).

Na segunda etapa, o objetivo é a análise da resposta biológica após exposição à carga de trabalho. Para tanto são utilizados, entre outros, a Termografia (exame que capta a luz infravermelha emitida pelo corpo após desgaste e analisa mudanças de temperatura ligadas a mudanças no fluxo sanguíneo, em busca de detectar eventuais alterações fisiológicas); a análise CK (enzima ligada ao desgaste físico) e de hormônios (liberados com a atividade física).

Já na terceira fase, são utilizados os equipamentos para aceleração de processo reparador de tecidos e de recuperação. Entre estes estão a bota pneumática (que comprime membros inferiores, para trabalhar a drenagem de contusões e a circulação sanguínea), a câmara fria (que ajuda na recuperação do desgaste físico) e os equipamentos de fisioterapia.

Desfalques nos clubes

Os excessos de desfalques dos clubes nos últimos anos, em função de lesões, têm sido constantes entre boa parte dos clubes. “Me parece equivocada a ideia de comparação do número de lesões entre os times. São grupos de indivíduos diferentes. Eles se submetem a metodologias diferentes de treinamento, apresentam distintos comportamentos táticos e técnicos, além de haver uma disparidade no número de partidas entre um clube e outro”, ressalta Costa.

Para Turíbio, há vários fatores que contribuem para isso, inclusive a infraestrutura defasada. “Isso tem inúmeras causas, depende de equipamento, competência de profissionais, o foco que o departamento tem em prevenção. Mas, uma delas, claro, é a falta de equipamentos adequados para fazer a prevenção, uma atitude mais focada em prevenção é fundamental. Às vezes também há lesões mal curadas, desta forma o atleta fica mais vulnerável para uma próxima lesão. Tudo isso interfere.”

Clubes, como o Santos, adotaram modernos métodos de tratamento e prevenção de lesões Foto: Santos FC / Divulgação

Turíbio ressalta, por fim, que o termo investimento não necessariamente significa, neste caso, desembolso de grandes quantias em dinheiro. Para ele, o clube tem propriedades de marca que interessam aos fornecedores e, com isso, pode compensar um menor valor pago com contrapartidas de marketing e visibilidade no futebol.

Acompanhando toda a evolução do Flamengo nos últimos anos, Turíbio cita o trabalho da equipe do médico Márcio Tannure, do clube carioca. “O Flamengo se modernizou, reformulou toda sua estrutura porque o Tannure teve carta branca. Ele fez uma tabela minuciosa de quanto vale cada propriedade de marketing do clube e modernizou o departamento sem colocar dinheiro. Essa é uma solução que está ao alcance dos clubes, com a popularidade que o futebol tem no País”, disse.

Não é à toa, segundo Turíbio, que o Palmeiras e o Flamengo têm sido os clubes com maiores conquistas recentes dentro de campo. Mas, no futebol de alto rendimento, nem sempre as exigências são benéficas para o organismo dos atletas. A evolução científica traz ao futebol uma rivalidade, literalmente, saudável. Na visão de especialistas, ela caminha para atenuar também possíveis sequelas.

Quando o futebol era muito mais baseado no improviso, muitos clássicos eram definidos por um lance genial, um pique mais rápido, uma contribuição do acaso. Hoje, a disputa se transferiu também para os bastidores da preparação. A rivalidade se tornou científica e tecnológica. Nesta nova “modalidade”, quem investe mais em equipamentos e infraestrutura, para tratamento e prevenção de lesões doa atletas, costuma ser vitorioso em campo.

No Estado de São Paulo, isso tem ficado nítido com o trabalho do Palmeiras, clube que mais tem conquistado títulos nos últimos anos. A equipe alviverde tem sido o time que tem a maior quantidade de equipamentos modernos instalados em relação aos rivais Corinthians, São Paulo e Santos.

Quem afirma isso é ninguém menos do que o fisiologista Turíbio Leite de Barros que, por anos, foi uma figura fundamental na estruturação e manutenção da área de saúde do São Paulo. E que não nega ser torcedor são-paulino. “O Palmeiras, em São Paulo, é o número um. Tem funcionado como uma empresa. Tem se preocupado em trabalhar em áreas fundamentais para o seu êxito. Em seguida está o Corinthians. Depois, acredito que São Paulo e Santos estão em um nível similar”, afirma.

Câmara hiperbárica

Uma das mais recentes aquisições palmeirenses foi a câmara hiperbárica. Além do Palmeiras, nos últimos três anos, o equipamento tem sido utilizado por clubes como Corinthians, Flamengo, Santos, Red Bull Bragantino, Cuiabá e vários jogadores que o adquiriram para trabalhar em casa, numa espécie de investimento pessoal. O processo se baseia na utilização de oxigênio pressurizado, que enriquece a carga de oxigênio no sangue, acelerando a recuperação de lesões, cicatrizes e infecções dos atletas. Recentemente, Vinícius Júnior postou uma foto com o aparelho em sua casa.

Outro equipamento que, aos poucos, começa a ser utilizado no Brasil é o laser de alta intensidade, que chega a 40 watts.

Turíbio, que por 35 anos foi professor da Universidade Federal de São Paulo, afirma que, em termos de capacidade de profissionais e de equipamentos, os clubes brasileiros mais bem estruturados se equiparam aos europeus e a outros dos Estados Unidos, em outras modalidades. A diferença, porém, segundo ele, é que, no Brasil, alguns, por resistência, demoram mais a aceitar novas tecnologias.

A situação de São Paulo

Turíbio ressalta que, tão ou mais do que os recursos materiais, a capacidade dos profissionais é fundamental para a eficiência nos resultados. Ele cita o seu caso como exemplo da maneira com que o São Paulo, nos anos 1980 e 1990, se tornou vanguarda em inovação tecnológica e científica. Era o clube onde todos os jogadores queriam se tratar.

Tendo atuado no clube do Morumbi por 25 anos, Turíbio fez parte daquele processo, que incluiu a construção do Centro de Treinamento, e foi fundamental para as conquistas do time naquela época. “Com o suporte do São Paulo naqueles anos, fiz viagens para acompanhar congressos, para me atualizar sobre as novidades médicas, de equipamentos e de métodos de trabalho. Isso foi fundamental. Atualmente, para os clubes, esse investimento nos profissionais se torna decisivo para que todo o setor ligado à manutenção e prevenção dos atletas funcione bem”, observa.

Turíbio afirma que, durante anos, o Reffis do São Paulo manteve-se estagnado, o que fez o clube perder a liderança neste setor.

Neste contexto, o São Paulo criou, há cerca de dois anos, um grupo de voluntários, especialistas na área, em busca de uma solução. Em 45 dias, segundo nota enviada ao Estadão, a diretoria constatou que, além dos problemas na estrutura física, havia algo muito maior que residia na área de gestão.

Surgiu, então, o DEM (Departamento de Excelência Médica), com representantes institucionais e da administração, além de especialistas na área de saúde, para dar um diagnóstico sobre as necessidades do setor. “Para adequar as nossas áreas de saúde, prestando melhor assistência aos atletas, em recuperação após desgaste físico ou contundidos, o primeiro passo foi rever e aprimorar o quadro de recursos humanos onde pudéssemos estar seguros sobre competência nos serviços prestados, a melhor indicação dos equipamentos a serem adquiridos, além da definição de protocolos sustentados por medicina baseada em evidências científicas”, explicou o São Paulo, em nota.

O São Paulo não utiliza câmaras hiperbáricas e o laser de 40 watts. O argumento, em relação à hiperbárica, é que, após análises de estudos e parecer de um professor titular da UNIFESP, não ficou comprovado benefício na utilização deste equipamento. Em relação ao laser, segundo a nota, durante a fase de negociação com a empresa BTL, a própria gerência da empresa informou ao clube que havia um pequeno detalhe “relacionado à contraindicação de seu uso em pessoas tatuadas”.

Turíbio, que chegou a fazer parte do grupo de notáveis montado para reestruturar o São Paulo, mas saiu em função de divergências, rebate dizendo que essa contraindicação é direcionada ao laser dermatológico. O laser a ser utilizado, ressalta ele, é o ortopédico, que, segundo o fisiologista, não tem essa contraindicação.

O São Paulo, por sua vez, garante que possui a infraestrutura adequada para tratamentos e prevenção médica de seus atletas. “Atualmente, o Reffis Plus encontra-se totalmente equipado e tem seis novos protocolos em utilização em todos os Centros de Treinamentos. A área de fisioterapia apresenta menor tempo de recuperação de lesões musculares em relação à média mundial, maior porcentagem de disponibilização do atleta aos jogos em relação aos dados da Uefa. A grande maioria dos casos hoje em tratamento são decorrentes de procedimentos cirúrgicos, também com tempos de recuperações abaixo das médias de referência mundial. Em relação à prevenção, estamos investindo em novas tecnologias com previsão de aquisição de equipamentos inovadores e implantação de protocolos de ‘recovery’ (recuperação) em curto prazo”.

Tratamento e prevenção

Outros métodos citados por Turíbio como básicos para uma recuperação e prevenção são a eletroterapia, por meio de ondas de choques, a utilização de equipamentos de analgesia e a própria regeneração com aparelhos a laser.

O fisiologista ressalta que esses avançados equipamentos, aplicados também no fortalecimento muscular, têm feito a recuperação de um atleta ser cada vez mais rápida. “Há gerações fantásticas de máquinas de academia. Outra área importante é a de biomecânica, fundamental para a prevenção de lesões. Os clubes também já têm à disposição, alguns deles já utilizando, recursos de análises de movimento com o sistema compatível com diagnósticos sobre a predisposição de lesões”.

O goleiro João Paulo recebe atenção especial no Santos Foto: Santos FC / Divulgação

Os recursos são diversos e incluem também padrões de movimentos filmados e realizados por meio de sensores capazes de detectar desequilíbrios biomecânicos (que apontam para a necessidade de fortalecimento ou relaxamento muscular, entre outros).

Para Charles Costa, coordenador do Departamento de Saúde e Performance do Santos FC, os clubes, de maneira geral, vêm se estruturando para enfrentar o desafio de conciliar questões técnicas, físicas, táticas e cognitivas com o calendário repleto de jogos. “Houve um investimento grande em pessoas, processos e tecnologia que permite realizar uma análise mais aprofundada neste setor. Basta avaliar como os grandes clubes têm investido montando Centros de Treinamentos e Núcleos de Saúde e performance”, ressalta Costa, que atuou com a seleção olímpica medalha de ouro na última Olimpíada e com a seleção brasileira na última Copa do Mundo.

Costa, inclusive, enviou para o Estadão um mapeamento sobre os processos de prevenção e recuperação de jogadores, que, na prática, podem funcionar como um manual para os clubes. Nesta análise, ele divide a tecnologia disponível nos clubes em três categorias.

A primeira é composta pela Avaliação de Performance, em que são utilizados GPS (equipamentos que medem distância percorrida, movimentos e desgaste), plataforma de salto (que permitem verificar o condicionamento físico por meio da potência e força de membros inferiores), acelerômetros (dispositivos que medem a aceleração de objetos e sistemas), dinamômetro isocinético (avaliação de possíveis desequilíbrios musculares).

Na segunda etapa, o objetivo é a análise da resposta biológica após exposição à carga de trabalho. Para tanto são utilizados, entre outros, a Termografia (exame que capta a luz infravermelha emitida pelo corpo após desgaste e analisa mudanças de temperatura ligadas a mudanças no fluxo sanguíneo, em busca de detectar eventuais alterações fisiológicas); a análise CK (enzima ligada ao desgaste físico) e de hormônios (liberados com a atividade física).

Já na terceira fase, são utilizados os equipamentos para aceleração de processo reparador de tecidos e de recuperação. Entre estes estão a bota pneumática (que comprime membros inferiores, para trabalhar a drenagem de contusões e a circulação sanguínea), a câmara fria (que ajuda na recuperação do desgaste físico) e os equipamentos de fisioterapia.

Desfalques nos clubes

Os excessos de desfalques dos clubes nos últimos anos, em função de lesões, têm sido constantes entre boa parte dos clubes. “Me parece equivocada a ideia de comparação do número de lesões entre os times. São grupos de indivíduos diferentes. Eles se submetem a metodologias diferentes de treinamento, apresentam distintos comportamentos táticos e técnicos, além de haver uma disparidade no número de partidas entre um clube e outro”, ressalta Costa.

Para Turíbio, há vários fatores que contribuem para isso, inclusive a infraestrutura defasada. “Isso tem inúmeras causas, depende de equipamento, competência de profissionais, o foco que o departamento tem em prevenção. Mas, uma delas, claro, é a falta de equipamentos adequados para fazer a prevenção, uma atitude mais focada em prevenção é fundamental. Às vezes também há lesões mal curadas, desta forma o atleta fica mais vulnerável para uma próxima lesão. Tudo isso interfere.”

Clubes, como o Santos, adotaram modernos métodos de tratamento e prevenção de lesões Foto: Santos FC / Divulgação

Turíbio ressalta, por fim, que o termo investimento não necessariamente significa, neste caso, desembolso de grandes quantias em dinheiro. Para ele, o clube tem propriedades de marca que interessam aos fornecedores e, com isso, pode compensar um menor valor pago com contrapartidas de marketing e visibilidade no futebol.

Acompanhando toda a evolução do Flamengo nos últimos anos, Turíbio cita o trabalho da equipe do médico Márcio Tannure, do clube carioca. “O Flamengo se modernizou, reformulou toda sua estrutura porque o Tannure teve carta branca. Ele fez uma tabela minuciosa de quanto vale cada propriedade de marketing do clube e modernizou o departamento sem colocar dinheiro. Essa é uma solução que está ao alcance dos clubes, com a popularidade que o futebol tem no País”, disse.

Não é à toa, segundo Turíbio, que o Palmeiras e o Flamengo têm sido os clubes com maiores conquistas recentes dentro de campo. Mas, no futebol de alto rendimento, nem sempre as exigências são benéficas para o organismo dos atletas. A evolução científica traz ao futebol uma rivalidade, literalmente, saudável. Na visão de especialistas, ela caminha para atenuar também possíveis sequelas.

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