Clubes brasileiros apostam no ‘blokecore’ para ganhar dinheiro; entenda o que é isso


Lançamento do Bangu, notado até fora do País, é exemplo do elo entre o futebol e a moda urbana; camisas do Guarani, em outras cores, também foram assumidas pela turma do k-pop

Por Bruno Accorsi
Atualização:

Camisa do Bangu, cabelo “na régua”, calça social e sapato. As imagens do modelo Leandro Vianna vestido desta forma fizeram sucesso nas redes sociais e trouxeram visibilidade ao time carioca. Objetivo concluído, pois trata-se da campanha de lançamento da camisa banguense para a temporada 2024, que alinha a tradição do clube à contemporânea tendência do blokecore, a assimilação dos trajes esportivos à moda urbana.

No bairro de Bangu, no Rio, diferentes versões da camisa branca e vermelha são vistas aos montes, adotadas em massa pelos orgulhosos moradores. Ao lançar a nova peça, junto à Kappa, o clube adicionou elementos bem particulares de sua história, como a gola que remete aos anos 80, época do vice-brasileiro, e uma referência a Castor de Andrade, folclórico patrono do time nos tempos de glória.

Às costas, há o logo da antiga Fábrica de Tecidos Bangu, um dos berços da equipe de origem proletária. “Traz essa essência de onde nasceu e a essência de moda, porque o Bangu nasceu da moda. Os primeiros jogadores trabalhavam na fábrica de tecidos. Então, a camisa entrega conceito histórico e conceito casual, sem abandonar a tradição”, explica Bryan Clem, diretor de marketing da Twelve, responsável pela campanha de lançamento.

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Nova camisa do Bangu fez sucesso nas redes sociais e alcançou público fora do país. Foto: Pepê Rodrigues/Twelve/Bangu AC

De fato, pessoas que não reúnem todas as referências inerentes ao banguense também se encantaram pela camisa, fora do bairro, do Rio e do Brasil. A peça foi notada pela curadoria da Hypebeast, empresa de comunicação focada em estilo de vida, com pautas fortemente voltadas à moda.

Em sua página com mais de 10 milhões de seguidores no Instagram, a Hypebeast incluiu a camisa do Bangu em uma lista de destaques, ao lado de outros produtos brasileiros, como o desfile de Ronaldinho Gaúcho na Semana de Moda de Paris e o documentário “Terror Mandelão”, que aborda o som, a tecnologia e o mercado de trabalho dos bailes funk de São Paulo, onde, aliás, as camisas de time imperam.

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“Pode aposentar o terno, a nova camisa 1 do Bangu chegou”, é o mote da campanha desenvolvida em um ambiente urbano pelo fotógrafo e diretor de arte Pepê Rodrigues. “Você pode usar num baile, no trabalho, no cotidiano. É o que trouxemos, fotos urbanas no centro do Rio, no Teatro Municipal, em um café na Cinelândia. Não é só um item para quem gosta de futebol. É para quem gosta de moda, lifestyle e comportamento como um todo”, destaca Bryan Clem.

Usar camisa de futebol no dia a dia não é novidade, ainda mais no Brasil, mas entender a peça como um recurso de estilo é um movimento que vem se consolidando de uns anos para cá, sob a alcunha de blokecore. O Reino Unido reivindica a origem da tendência, relacionada à estética das subculturas do britpop, das raves britânicas e dos hooligans, embora não seja difícil rastrear o dedo brasileiro nessa história. É certo que há ares de nostalgia na tendência, pois é forte a preferência pelo vintage, caso do lançamento banguense.

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O blokecore está disseminado pelo mundo. No desfile de verão 2024 da Semana de Moda de Paris, o multifacetado músico Pharrell Williams se lançou como diretor criativo da linha masculina da Louis Vuitton. Entre as peças, lá estava a camisa de futebol: preta e amarela com padrões quadriculados, como a camisa da Croácia, e estampada com as iniciais da grife.

Quem quiser encontrar a referência blokecore um pouco mais perto de Bangu, pode ter alguma noção ao entrar no perfil do Tik Tok da carioca Malu Borges. Aos seus 5,5 milhões de seguidores, a influencer de moda já flertou com o estilo ao compartilhar mais de uma vez looks compostos por peças do Vasco, como uma combinação de salto e jaqueta corta-vento do cruzmaltino.

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Oportunidade para expandir a marca e fazer dinheiro

A percepção do potencial dessa tendência fez o Bangu se mexer para dar o próximo passo. Após inaugurar a sua primeira loja própria, no Shopping Bangu, local da extinta Fábrica de Tecidos, a diretoria começou a trabalhar no lançamento de um site para vendas, e agora está mais animada ainda. “A gente conseguiu furar a bolha. A gente conseguiu criar expectativa em torcedores de outros clubes com relação ao nosso uniforme”, diz Thiago Abrantes, diretor geral do clube carioca.

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Times de menor projeção nacional estão percebendo que podem valorizar suas marcas, mesmo em momentos nos quais não estão nas principais divisões do futebol. A comercialização de camisas está alinhada a isso. Há outros exemplos, como do Juventus da Mooca, que fez muito sucesso com sua camisa do centenário lançada neste ano, e o Guarani, que prepara uma coleção voltada a fãs de K-Pop, gênero musical sul-coreano, após descobrir uma febre envolvendo suas camisas no país asiático.

“As áreas de marketing das instituições precisam muito conhecer seus fãs para conectar produtos para as dezenas de comunidades que existem dentro de suas bases. Isto vale para tudo, desde uma linha de produtos para bebês quanto uma conta bancária. Isso acontecerá de forma verdadeiramente “escalável” quando enxergarem de verdade a área de marketing como investimento”, comenta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.

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Bangu valoriza união do urbano ao esportivo em campanha de lançamento da camisa desta temporada. Foto: Pepê Rodrigues/Twelve/AC Bangu

Os times menores têm a seu favor a possibilidade de ser consumidos mais facilmente por torcedores de outras equipes, já que suas rivalidades são mais limitadas geograficamente. “O brasileiro é apaixonado e consumidor do futebol, ofertar camisetas de clubes menores e coleções especiais é muito importante para fomentar o futebol brasileiro”, afirma Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo

No próprio bairro de Bangu, flamenguistas, vascaínos, tricolores e botafoguenses consomem o clube. Em São Paulo, a paixão por um dos quatro grandes não impede o carinho por Juventus ou Nacional, por exemplo. De qualquer forma, explorar o mundo da moda está ao alcance de todos os times, menores ou maiores, e há potencial para ir além dos fãs de futebol.

Camisa do Vitória, parte de coleção especial da Volt inspirada na moda urbana. Foto: Divulgação/Volt

Existe outra corrente em que os times estão apostando, a de criar camisas com detalhes bem calcados na casualidade. É o caso da camisa em homenagem à banda Charlie Brown Jr. lançada pelo Santos, em parceria com a Umbro, e das coleções desenvolvidas pela Volt para times como Vitória, Criciúma, Botafogo-SP, América-MG, Figueirense, Remo, CSA e Santa Cruz.

“O universo streetwear está cada vez mais conectado com o futebol. Na Volt, fizemos algumas coleções específicas, com detalhes e referências que deixaram as peças de jogo com aspectos mais casuais. É uma tendência do futebol brasileiro, pois são produtos que rompem a barreira do campo de jogo e atingem um público que, em alguns casos, não acompanham o esporte também”, comenta Fernando Kleimmann, sócio-diretor da Volt.

Camisa do Bangu, cabelo “na régua”, calça social e sapato. As imagens do modelo Leandro Vianna vestido desta forma fizeram sucesso nas redes sociais e trouxeram visibilidade ao time carioca. Objetivo concluído, pois trata-se da campanha de lançamento da camisa banguense para a temporada 2024, que alinha a tradição do clube à contemporânea tendência do blokecore, a assimilação dos trajes esportivos à moda urbana.

No bairro de Bangu, no Rio, diferentes versões da camisa branca e vermelha são vistas aos montes, adotadas em massa pelos orgulhosos moradores. Ao lançar a nova peça, junto à Kappa, o clube adicionou elementos bem particulares de sua história, como a gola que remete aos anos 80, época do vice-brasileiro, e uma referência a Castor de Andrade, folclórico patrono do time nos tempos de glória.

Às costas, há o logo da antiga Fábrica de Tecidos Bangu, um dos berços da equipe de origem proletária. “Traz essa essência de onde nasceu e a essência de moda, porque o Bangu nasceu da moda. Os primeiros jogadores trabalhavam na fábrica de tecidos. Então, a camisa entrega conceito histórico e conceito casual, sem abandonar a tradição”, explica Bryan Clem, diretor de marketing da Twelve, responsável pela campanha de lançamento.

Nova camisa do Bangu fez sucesso nas redes sociais e alcançou público fora do país. Foto: Pepê Rodrigues/Twelve/Bangu AC

De fato, pessoas que não reúnem todas as referências inerentes ao banguense também se encantaram pela camisa, fora do bairro, do Rio e do Brasil. A peça foi notada pela curadoria da Hypebeast, empresa de comunicação focada em estilo de vida, com pautas fortemente voltadas à moda.

Em sua página com mais de 10 milhões de seguidores no Instagram, a Hypebeast incluiu a camisa do Bangu em uma lista de destaques, ao lado de outros produtos brasileiros, como o desfile de Ronaldinho Gaúcho na Semana de Moda de Paris e o documentário “Terror Mandelão”, que aborda o som, a tecnologia e o mercado de trabalho dos bailes funk de São Paulo, onde, aliás, as camisas de time imperam.

“Pode aposentar o terno, a nova camisa 1 do Bangu chegou”, é o mote da campanha desenvolvida em um ambiente urbano pelo fotógrafo e diretor de arte Pepê Rodrigues. “Você pode usar num baile, no trabalho, no cotidiano. É o que trouxemos, fotos urbanas no centro do Rio, no Teatro Municipal, em um café na Cinelândia. Não é só um item para quem gosta de futebol. É para quem gosta de moda, lifestyle e comportamento como um todo”, destaca Bryan Clem.

Usar camisa de futebol no dia a dia não é novidade, ainda mais no Brasil, mas entender a peça como um recurso de estilo é um movimento que vem se consolidando de uns anos para cá, sob a alcunha de blokecore. O Reino Unido reivindica a origem da tendência, relacionada à estética das subculturas do britpop, das raves britânicas e dos hooligans, embora não seja difícil rastrear o dedo brasileiro nessa história. É certo que há ares de nostalgia na tendência, pois é forte a preferência pelo vintage, caso do lançamento banguense.

O blokecore está disseminado pelo mundo. No desfile de verão 2024 da Semana de Moda de Paris, o multifacetado músico Pharrell Williams se lançou como diretor criativo da linha masculina da Louis Vuitton. Entre as peças, lá estava a camisa de futebol: preta e amarela com padrões quadriculados, como a camisa da Croácia, e estampada com as iniciais da grife.

Quem quiser encontrar a referência blokecore um pouco mais perto de Bangu, pode ter alguma noção ao entrar no perfil do Tik Tok da carioca Malu Borges. Aos seus 5,5 milhões de seguidores, a influencer de moda já flertou com o estilo ao compartilhar mais de uma vez looks compostos por peças do Vasco, como uma combinação de salto e jaqueta corta-vento do cruzmaltino.

Oportunidade para expandir a marca e fazer dinheiro

A percepção do potencial dessa tendência fez o Bangu se mexer para dar o próximo passo. Após inaugurar a sua primeira loja própria, no Shopping Bangu, local da extinta Fábrica de Tecidos, a diretoria começou a trabalhar no lançamento de um site para vendas, e agora está mais animada ainda. “A gente conseguiu furar a bolha. A gente conseguiu criar expectativa em torcedores de outros clubes com relação ao nosso uniforme”, diz Thiago Abrantes, diretor geral do clube carioca.

Times de menor projeção nacional estão percebendo que podem valorizar suas marcas, mesmo em momentos nos quais não estão nas principais divisões do futebol. A comercialização de camisas está alinhada a isso. Há outros exemplos, como do Juventus da Mooca, que fez muito sucesso com sua camisa do centenário lançada neste ano, e o Guarani, que prepara uma coleção voltada a fãs de K-Pop, gênero musical sul-coreano, após descobrir uma febre envolvendo suas camisas no país asiático.

“As áreas de marketing das instituições precisam muito conhecer seus fãs para conectar produtos para as dezenas de comunidades que existem dentro de suas bases. Isto vale para tudo, desde uma linha de produtos para bebês quanto uma conta bancária. Isso acontecerá de forma verdadeiramente “escalável” quando enxergarem de verdade a área de marketing como investimento”, comenta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.

Bangu valoriza união do urbano ao esportivo em campanha de lançamento da camisa desta temporada. Foto: Pepê Rodrigues/Twelve/AC Bangu

Os times menores têm a seu favor a possibilidade de ser consumidos mais facilmente por torcedores de outras equipes, já que suas rivalidades são mais limitadas geograficamente. “O brasileiro é apaixonado e consumidor do futebol, ofertar camisetas de clubes menores e coleções especiais é muito importante para fomentar o futebol brasileiro”, afirma Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo

No próprio bairro de Bangu, flamenguistas, vascaínos, tricolores e botafoguenses consomem o clube. Em São Paulo, a paixão por um dos quatro grandes não impede o carinho por Juventus ou Nacional, por exemplo. De qualquer forma, explorar o mundo da moda está ao alcance de todos os times, menores ou maiores, e há potencial para ir além dos fãs de futebol.

Camisa do Vitória, parte de coleção especial da Volt inspirada na moda urbana. Foto: Divulgação/Volt

Existe outra corrente em que os times estão apostando, a de criar camisas com detalhes bem calcados na casualidade. É o caso da camisa em homenagem à banda Charlie Brown Jr. lançada pelo Santos, em parceria com a Umbro, e das coleções desenvolvidas pela Volt para times como Vitória, Criciúma, Botafogo-SP, América-MG, Figueirense, Remo, CSA e Santa Cruz.

“O universo streetwear está cada vez mais conectado com o futebol. Na Volt, fizemos algumas coleções específicas, com detalhes e referências que deixaram as peças de jogo com aspectos mais casuais. É uma tendência do futebol brasileiro, pois são produtos que rompem a barreira do campo de jogo e atingem um público que, em alguns casos, não acompanham o esporte também”, comenta Fernando Kleimmann, sócio-diretor da Volt.

Camisa do Bangu, cabelo “na régua”, calça social e sapato. As imagens do modelo Leandro Vianna vestido desta forma fizeram sucesso nas redes sociais e trouxeram visibilidade ao time carioca. Objetivo concluído, pois trata-se da campanha de lançamento da camisa banguense para a temporada 2024, que alinha a tradição do clube à contemporânea tendência do blokecore, a assimilação dos trajes esportivos à moda urbana.

No bairro de Bangu, no Rio, diferentes versões da camisa branca e vermelha são vistas aos montes, adotadas em massa pelos orgulhosos moradores. Ao lançar a nova peça, junto à Kappa, o clube adicionou elementos bem particulares de sua história, como a gola que remete aos anos 80, época do vice-brasileiro, e uma referência a Castor de Andrade, folclórico patrono do time nos tempos de glória.

Às costas, há o logo da antiga Fábrica de Tecidos Bangu, um dos berços da equipe de origem proletária. “Traz essa essência de onde nasceu e a essência de moda, porque o Bangu nasceu da moda. Os primeiros jogadores trabalhavam na fábrica de tecidos. Então, a camisa entrega conceito histórico e conceito casual, sem abandonar a tradição”, explica Bryan Clem, diretor de marketing da Twelve, responsável pela campanha de lançamento.

Nova camisa do Bangu fez sucesso nas redes sociais e alcançou público fora do país. Foto: Pepê Rodrigues/Twelve/Bangu AC

De fato, pessoas que não reúnem todas as referências inerentes ao banguense também se encantaram pela camisa, fora do bairro, do Rio e do Brasil. A peça foi notada pela curadoria da Hypebeast, empresa de comunicação focada em estilo de vida, com pautas fortemente voltadas à moda.

Em sua página com mais de 10 milhões de seguidores no Instagram, a Hypebeast incluiu a camisa do Bangu em uma lista de destaques, ao lado de outros produtos brasileiros, como o desfile de Ronaldinho Gaúcho na Semana de Moda de Paris e o documentário “Terror Mandelão”, que aborda o som, a tecnologia e o mercado de trabalho dos bailes funk de São Paulo, onde, aliás, as camisas de time imperam.

“Pode aposentar o terno, a nova camisa 1 do Bangu chegou”, é o mote da campanha desenvolvida em um ambiente urbano pelo fotógrafo e diretor de arte Pepê Rodrigues. “Você pode usar num baile, no trabalho, no cotidiano. É o que trouxemos, fotos urbanas no centro do Rio, no Teatro Municipal, em um café na Cinelândia. Não é só um item para quem gosta de futebol. É para quem gosta de moda, lifestyle e comportamento como um todo”, destaca Bryan Clem.

Usar camisa de futebol no dia a dia não é novidade, ainda mais no Brasil, mas entender a peça como um recurso de estilo é um movimento que vem se consolidando de uns anos para cá, sob a alcunha de blokecore. O Reino Unido reivindica a origem da tendência, relacionada à estética das subculturas do britpop, das raves britânicas e dos hooligans, embora não seja difícil rastrear o dedo brasileiro nessa história. É certo que há ares de nostalgia na tendência, pois é forte a preferência pelo vintage, caso do lançamento banguense.

O blokecore está disseminado pelo mundo. No desfile de verão 2024 da Semana de Moda de Paris, o multifacetado músico Pharrell Williams se lançou como diretor criativo da linha masculina da Louis Vuitton. Entre as peças, lá estava a camisa de futebol: preta e amarela com padrões quadriculados, como a camisa da Croácia, e estampada com as iniciais da grife.

Quem quiser encontrar a referência blokecore um pouco mais perto de Bangu, pode ter alguma noção ao entrar no perfil do Tik Tok da carioca Malu Borges. Aos seus 5,5 milhões de seguidores, a influencer de moda já flertou com o estilo ao compartilhar mais de uma vez looks compostos por peças do Vasco, como uma combinação de salto e jaqueta corta-vento do cruzmaltino.

Oportunidade para expandir a marca e fazer dinheiro

A percepção do potencial dessa tendência fez o Bangu se mexer para dar o próximo passo. Após inaugurar a sua primeira loja própria, no Shopping Bangu, local da extinta Fábrica de Tecidos, a diretoria começou a trabalhar no lançamento de um site para vendas, e agora está mais animada ainda. “A gente conseguiu furar a bolha. A gente conseguiu criar expectativa em torcedores de outros clubes com relação ao nosso uniforme”, diz Thiago Abrantes, diretor geral do clube carioca.

Times de menor projeção nacional estão percebendo que podem valorizar suas marcas, mesmo em momentos nos quais não estão nas principais divisões do futebol. A comercialização de camisas está alinhada a isso. Há outros exemplos, como do Juventus da Mooca, que fez muito sucesso com sua camisa do centenário lançada neste ano, e o Guarani, que prepara uma coleção voltada a fãs de K-Pop, gênero musical sul-coreano, após descobrir uma febre envolvendo suas camisas no país asiático.

“As áreas de marketing das instituições precisam muito conhecer seus fãs para conectar produtos para as dezenas de comunidades que existem dentro de suas bases. Isto vale para tudo, desde uma linha de produtos para bebês quanto uma conta bancária. Isso acontecerá de forma verdadeiramente “escalável” quando enxergarem de verdade a área de marketing como investimento”, comenta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.

Bangu valoriza união do urbano ao esportivo em campanha de lançamento da camisa desta temporada. Foto: Pepê Rodrigues/Twelve/AC Bangu

Os times menores têm a seu favor a possibilidade de ser consumidos mais facilmente por torcedores de outras equipes, já que suas rivalidades são mais limitadas geograficamente. “O brasileiro é apaixonado e consumidor do futebol, ofertar camisetas de clubes menores e coleções especiais é muito importante para fomentar o futebol brasileiro”, afirma Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo

No próprio bairro de Bangu, flamenguistas, vascaínos, tricolores e botafoguenses consomem o clube. Em São Paulo, a paixão por um dos quatro grandes não impede o carinho por Juventus ou Nacional, por exemplo. De qualquer forma, explorar o mundo da moda está ao alcance de todos os times, menores ou maiores, e há potencial para ir além dos fãs de futebol.

Camisa do Vitória, parte de coleção especial da Volt inspirada na moda urbana. Foto: Divulgação/Volt

Existe outra corrente em que os times estão apostando, a de criar camisas com detalhes bem calcados na casualidade. É o caso da camisa em homenagem à banda Charlie Brown Jr. lançada pelo Santos, em parceria com a Umbro, e das coleções desenvolvidas pela Volt para times como Vitória, Criciúma, Botafogo-SP, América-MG, Figueirense, Remo, CSA e Santa Cruz.

“O universo streetwear está cada vez mais conectado com o futebol. Na Volt, fizemos algumas coleções específicas, com detalhes e referências que deixaram as peças de jogo com aspectos mais casuais. É uma tendência do futebol brasileiro, pois são produtos que rompem a barreira do campo de jogo e atingem um público que, em alguns casos, não acompanham o esporte também”, comenta Fernando Kleimmann, sócio-diretor da Volt.

Camisa do Bangu, cabelo “na régua”, calça social e sapato. As imagens do modelo Leandro Vianna vestido desta forma fizeram sucesso nas redes sociais e trouxeram visibilidade ao time carioca. Objetivo concluído, pois trata-se da campanha de lançamento da camisa banguense para a temporada 2024, que alinha a tradição do clube à contemporânea tendência do blokecore, a assimilação dos trajes esportivos à moda urbana.

No bairro de Bangu, no Rio, diferentes versões da camisa branca e vermelha são vistas aos montes, adotadas em massa pelos orgulhosos moradores. Ao lançar a nova peça, junto à Kappa, o clube adicionou elementos bem particulares de sua história, como a gola que remete aos anos 80, época do vice-brasileiro, e uma referência a Castor de Andrade, folclórico patrono do time nos tempos de glória.

Às costas, há o logo da antiga Fábrica de Tecidos Bangu, um dos berços da equipe de origem proletária. “Traz essa essência de onde nasceu e a essência de moda, porque o Bangu nasceu da moda. Os primeiros jogadores trabalhavam na fábrica de tecidos. Então, a camisa entrega conceito histórico e conceito casual, sem abandonar a tradição”, explica Bryan Clem, diretor de marketing da Twelve, responsável pela campanha de lançamento.

Nova camisa do Bangu fez sucesso nas redes sociais e alcançou público fora do país. Foto: Pepê Rodrigues/Twelve/Bangu AC

De fato, pessoas que não reúnem todas as referências inerentes ao banguense também se encantaram pela camisa, fora do bairro, do Rio e do Brasil. A peça foi notada pela curadoria da Hypebeast, empresa de comunicação focada em estilo de vida, com pautas fortemente voltadas à moda.

Em sua página com mais de 10 milhões de seguidores no Instagram, a Hypebeast incluiu a camisa do Bangu em uma lista de destaques, ao lado de outros produtos brasileiros, como o desfile de Ronaldinho Gaúcho na Semana de Moda de Paris e o documentário “Terror Mandelão”, que aborda o som, a tecnologia e o mercado de trabalho dos bailes funk de São Paulo, onde, aliás, as camisas de time imperam.

“Pode aposentar o terno, a nova camisa 1 do Bangu chegou”, é o mote da campanha desenvolvida em um ambiente urbano pelo fotógrafo e diretor de arte Pepê Rodrigues. “Você pode usar num baile, no trabalho, no cotidiano. É o que trouxemos, fotos urbanas no centro do Rio, no Teatro Municipal, em um café na Cinelândia. Não é só um item para quem gosta de futebol. É para quem gosta de moda, lifestyle e comportamento como um todo”, destaca Bryan Clem.

Usar camisa de futebol no dia a dia não é novidade, ainda mais no Brasil, mas entender a peça como um recurso de estilo é um movimento que vem se consolidando de uns anos para cá, sob a alcunha de blokecore. O Reino Unido reivindica a origem da tendência, relacionada à estética das subculturas do britpop, das raves britânicas e dos hooligans, embora não seja difícil rastrear o dedo brasileiro nessa história. É certo que há ares de nostalgia na tendência, pois é forte a preferência pelo vintage, caso do lançamento banguense.

O blokecore está disseminado pelo mundo. No desfile de verão 2024 da Semana de Moda de Paris, o multifacetado músico Pharrell Williams se lançou como diretor criativo da linha masculina da Louis Vuitton. Entre as peças, lá estava a camisa de futebol: preta e amarela com padrões quadriculados, como a camisa da Croácia, e estampada com as iniciais da grife.

Quem quiser encontrar a referência blokecore um pouco mais perto de Bangu, pode ter alguma noção ao entrar no perfil do Tik Tok da carioca Malu Borges. Aos seus 5,5 milhões de seguidores, a influencer de moda já flertou com o estilo ao compartilhar mais de uma vez looks compostos por peças do Vasco, como uma combinação de salto e jaqueta corta-vento do cruzmaltino.

Oportunidade para expandir a marca e fazer dinheiro

A percepção do potencial dessa tendência fez o Bangu se mexer para dar o próximo passo. Após inaugurar a sua primeira loja própria, no Shopping Bangu, local da extinta Fábrica de Tecidos, a diretoria começou a trabalhar no lançamento de um site para vendas, e agora está mais animada ainda. “A gente conseguiu furar a bolha. A gente conseguiu criar expectativa em torcedores de outros clubes com relação ao nosso uniforme”, diz Thiago Abrantes, diretor geral do clube carioca.

Times de menor projeção nacional estão percebendo que podem valorizar suas marcas, mesmo em momentos nos quais não estão nas principais divisões do futebol. A comercialização de camisas está alinhada a isso. Há outros exemplos, como do Juventus da Mooca, que fez muito sucesso com sua camisa do centenário lançada neste ano, e o Guarani, que prepara uma coleção voltada a fãs de K-Pop, gênero musical sul-coreano, após descobrir uma febre envolvendo suas camisas no país asiático.

“As áreas de marketing das instituições precisam muito conhecer seus fãs para conectar produtos para as dezenas de comunidades que existem dentro de suas bases. Isto vale para tudo, desde uma linha de produtos para bebês quanto uma conta bancária. Isso acontecerá de forma verdadeiramente “escalável” quando enxergarem de verdade a área de marketing como investimento”, comenta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.

Bangu valoriza união do urbano ao esportivo em campanha de lançamento da camisa desta temporada. Foto: Pepê Rodrigues/Twelve/AC Bangu

Os times menores têm a seu favor a possibilidade de ser consumidos mais facilmente por torcedores de outras equipes, já que suas rivalidades são mais limitadas geograficamente. “O brasileiro é apaixonado e consumidor do futebol, ofertar camisetas de clubes menores e coleções especiais é muito importante para fomentar o futebol brasileiro”, afirma Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo

No próprio bairro de Bangu, flamenguistas, vascaínos, tricolores e botafoguenses consomem o clube. Em São Paulo, a paixão por um dos quatro grandes não impede o carinho por Juventus ou Nacional, por exemplo. De qualquer forma, explorar o mundo da moda está ao alcance de todos os times, menores ou maiores, e há potencial para ir além dos fãs de futebol.

Camisa do Vitória, parte de coleção especial da Volt inspirada na moda urbana. Foto: Divulgação/Volt

Existe outra corrente em que os times estão apostando, a de criar camisas com detalhes bem calcados na casualidade. É o caso da camisa em homenagem à banda Charlie Brown Jr. lançada pelo Santos, em parceria com a Umbro, e das coleções desenvolvidas pela Volt para times como Vitória, Criciúma, Botafogo-SP, América-MG, Figueirense, Remo, CSA e Santa Cruz.

“O universo streetwear está cada vez mais conectado com o futebol. Na Volt, fizemos algumas coleções específicas, com detalhes e referências que deixaram as peças de jogo com aspectos mais casuais. É uma tendência do futebol brasileiro, pois são produtos que rompem a barreira do campo de jogo e atingem um público que, em alguns casos, não acompanham o esporte também”, comenta Fernando Kleimmann, sócio-diretor da Volt.

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