Comerciantes do entorno da Arena do Grêmio vivem insegurança: ‘Não posso esperar jogos voltarem’


Bares ficaram submersos e agora lidam com reconstrução, mas sem público consumidor

Por Leonardo Catto
Atualização:

As ruas do bairro Humaitá, na Zona Norte de Porto Alegre, ainda são caminho até a Arena do Grêmio. Diferente dos dias de jogos, em que as vias são tomadas por gremistas, há entulhos de lixo e sujeira levada até ali pelas águas do Guaíba, no que foi a maior enchente da história do Rio Grande do Sul. Quem trabalha no entorno do estádio e vive do movimento dos jogos encara agora a insegurança de não ter renda.

Um dos locais mais tradicionais de concentração pré-jogo é o Bar D’Julia, bem em frente à Arena. Lá, a água alcançou cerca de 2,15 metros. Os engradados de cerveja fechados estão sujos de barro. O local é administrado por Jéssica da Silva Bueno, de 33 anos. Além dela, outras sete pessoas da família dependem da renda do estabelecimento, um deles é um idoso de 97 anos, além de duas crianças. Em dias de jogos considerados grandes, Jéssica aponta que o faturamento chega em até R$ 15 mil, mas a média gira entre R$ 3 mil e R$ 4 mil.

O bar virou um ponto de produção e distribuição de marmitas. São 500 “quentinhas” doadas diariamente junto à Associação Comunitária Quintana. Enquanto participa de ações voluntárias, Jéssica se vê sem ideia sobre o que vai acontecer. “Não posso esperar o jogo voltar. Não tenho ideia de renda para o próximo mês. E não se sabe nem como vamos retomar”, conta.

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Retroescavadeira atua na limpeza da região, que ainda concentra lixo deixado pela enchente e resíduos descartados das casas atingidas. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Na quadra ao lado, o casal Denilson Braga, 29, e Taís Silva, 30, trabalhava em dias de jogos com venda de bebidas. Eles também alugavam a churrasqueira da própria casa por R$ 250 para grupos de torcedores que faziam o chamado “alentaço” antes das partidas. Ele trabalha como pintor, e ela é caixa de loja. A mobilização a cada partida era renda extra e entregava um faturamento entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil, em média. Em jogos decisivos, isso chegava em até R$ 5 mil.

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Quando questionados se pretendem retomar o negócio, ambos respondem em uníssono que sim. “Por enquanto, não é a renda principal, mas queremos que seja”, conta Denilson. As vendas são feitas em uma parte externa, próxima à churrasqueira. Atrás, é a casa onde eles moram, que ficou submersa. Eles ainda não voltaram para lá de fato, já que perderam móveis, inclusive cama.

O relato é de abandono da região. “Falta olhar para cá, tanto das empresas, quanto poder público”, desabafa Jessica.

Tais e Denilson querem retomar trabalhos em dias de jogos, mas têm como desafio reconstruir o interior da casa. Foto: Leonardo Catto/Estadão
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Cenário próximo da Arena ainda é caótico

Diferente de regiões centrais e na Zona Sul ainda há muito lixo nas ruas e avenidas da Zona Norte. Elas continuam tomadas por barro e forte cheiro de esgoto. A região historicamente tem infraestrutura pior em relação a outros locais da capital gaúcha e abriga, em boa parte, população mais vulnerável.

Nesta terça-feira, 11, retroescavadeiras e caminhões do Exército Brasileiro atuavam na limpeza. O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) indicou três locais do Humaitá que receberam ações ainda pela manhã. O órgão tem 400 agentes, além de outros 3,5 mil cooperados da Cootravipa e 500 funcionários de uma empresa privada.

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(Avançamos) em outros bairros como Cidade Baixa, Menino Deus, Centro Histórico. Estão praticamente concluídos. Essa força de trabalho, estamos colocando toda na Zona Norte. Foi a última área que a água baixou. Já passamos pelo Humaitá, mas pessoas precisaram fazer novos descartes. Lá na Zona Norte, as pessoas não perderam só objetos, perderam casas”, explicou o diretor-geral do DMLU, Carlos Alberto Hundertmarker.

Rua Frederico Mentz, em frente ao estádio, tem bares fechados e sem perspectiva de reabertura. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Ele afirma que entende a “sensação de abandono” citada por moradores da região, mas garante a atuação efetiva. “As pessoas veem muito volume e acham que o poder público não esteve lá. Mas já fomos e estamos voltando. É uma sensação visual e de perda dos objetos, psicólogo abalado. Perderam memórias afetivas”, refletiu

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No último domingo, dia 8, a Arena do Grêmio sediou um mutirão para facilitar acesso a serviços sociais para moradores dos bairros Humaitá, Anchieta e Farrapos. Além de a água ter tomado grande parte da região, o escoamento foi mais demorado que em outros pontos da cidade. Na ação feita na casa do tricolor gaúcho, 2 mil pessoas foram atendidas, e o serviço mais procurado foi a confecção de novas carteiras de identidade pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), já que o desastre fez com que documentos fossem perdidos. No sábado, Grêmio e ONGs, junto da marca de produtos de limpezas Ypê esperam reunir 2 mil voluntários para limpeza próximo da Arena.

Último lugar a ver água baixar

O Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) foi criticado sobre o atendimento na Zona Norte da capital gaúcha. A demora para ações de escoamento foi um dos pontos apontados. Em uma publicação no dia 27 de maio, o órgão afirmou que “a comunidade do Humaitá não estava desassistida”. Foi citado que uma bomba de drenagem cedida pela Sabesp seria especialmente deslocada para a região.

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Dois dias depois, a operação acelerou com o equipamento extra. A falha no abastecimento de geradores da casa de bombeamento do Humaitá, porém, mostrou a fragilidade do sistema de drenagem, como já havia sido evidenciado em outros pontos da cidade. O diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, informou o caso quando já havia sido solucionado. “Esses geradores pararam de funcionar, mas já abastecemos de maneira manual. A bomba da Sabesp já está funcionando. Temos duas bombas aqui na casa, faltando apenas mais um gerador em operação para funcionar o terceiro grupo e seguir bombeando água aqui do Humaitá”, disse em vídeo publicado nas redes sociais do órgão.

O Grêmio não tem previsão de voltar a mandar jogos na Arena. O time encontrou acolhimento no Couto Pereira. Os CTs de Grêmio e Internacional também sofreram e ficaram embaixo d’água. Os jogadores colorados têm atividades em outra instalação, o CT de Alvorada, normalmente utilizado pelas categorias de base. Já os gremistas treinam nas instalações do Corinthians. O próximo compromisso do tricolor gaúcho é nesta quinta-feira, 13, contra o Flamengo, no Maracanã.

A enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio foi a pior da história do Estado. Dos 497 municípios gaúchos, 478 foram afetados. Até o momento, conforme o último boletim da Defesa Civil, atualizado na segunda-feira, 9, 423 mil pessoas continuam desalojadas, e 38, desaparecidas. Ao todo, foram 173 mortes em decorrência da tragédia.

As ruas do bairro Humaitá, na Zona Norte de Porto Alegre, ainda são caminho até a Arena do Grêmio. Diferente dos dias de jogos, em que as vias são tomadas por gremistas, há entulhos de lixo e sujeira levada até ali pelas águas do Guaíba, no que foi a maior enchente da história do Rio Grande do Sul. Quem trabalha no entorno do estádio e vive do movimento dos jogos encara agora a insegurança de não ter renda.

Um dos locais mais tradicionais de concentração pré-jogo é o Bar D’Julia, bem em frente à Arena. Lá, a água alcançou cerca de 2,15 metros. Os engradados de cerveja fechados estão sujos de barro. O local é administrado por Jéssica da Silva Bueno, de 33 anos. Além dela, outras sete pessoas da família dependem da renda do estabelecimento, um deles é um idoso de 97 anos, além de duas crianças. Em dias de jogos considerados grandes, Jéssica aponta que o faturamento chega em até R$ 15 mil, mas a média gira entre R$ 3 mil e R$ 4 mil.

O bar virou um ponto de produção e distribuição de marmitas. São 500 “quentinhas” doadas diariamente junto à Associação Comunitária Quintana. Enquanto participa de ações voluntárias, Jéssica se vê sem ideia sobre o que vai acontecer. “Não posso esperar o jogo voltar. Não tenho ideia de renda para o próximo mês. E não se sabe nem como vamos retomar”, conta.

Retroescavadeira atua na limpeza da região, que ainda concentra lixo deixado pela enchente e resíduos descartados das casas atingidas. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Na quadra ao lado, o casal Denilson Braga, 29, e Taís Silva, 30, trabalhava em dias de jogos com venda de bebidas. Eles também alugavam a churrasqueira da própria casa por R$ 250 para grupos de torcedores que faziam o chamado “alentaço” antes das partidas. Ele trabalha como pintor, e ela é caixa de loja. A mobilização a cada partida era renda extra e entregava um faturamento entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil, em média. Em jogos decisivos, isso chegava em até R$ 5 mil.

Quando questionados se pretendem retomar o negócio, ambos respondem em uníssono que sim. “Por enquanto, não é a renda principal, mas queremos que seja”, conta Denilson. As vendas são feitas em uma parte externa, próxima à churrasqueira. Atrás, é a casa onde eles moram, que ficou submersa. Eles ainda não voltaram para lá de fato, já que perderam móveis, inclusive cama.

O relato é de abandono da região. “Falta olhar para cá, tanto das empresas, quanto poder público”, desabafa Jessica.

Tais e Denilson querem retomar trabalhos em dias de jogos, mas têm como desafio reconstruir o interior da casa. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Cenário próximo da Arena ainda é caótico

Diferente de regiões centrais e na Zona Sul ainda há muito lixo nas ruas e avenidas da Zona Norte. Elas continuam tomadas por barro e forte cheiro de esgoto. A região historicamente tem infraestrutura pior em relação a outros locais da capital gaúcha e abriga, em boa parte, população mais vulnerável.

Nesta terça-feira, 11, retroescavadeiras e caminhões do Exército Brasileiro atuavam na limpeza. O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) indicou três locais do Humaitá que receberam ações ainda pela manhã. O órgão tem 400 agentes, além de outros 3,5 mil cooperados da Cootravipa e 500 funcionários de uma empresa privada.

(Avançamos) em outros bairros como Cidade Baixa, Menino Deus, Centro Histórico. Estão praticamente concluídos. Essa força de trabalho, estamos colocando toda na Zona Norte. Foi a última área que a água baixou. Já passamos pelo Humaitá, mas pessoas precisaram fazer novos descartes. Lá na Zona Norte, as pessoas não perderam só objetos, perderam casas”, explicou o diretor-geral do DMLU, Carlos Alberto Hundertmarker.

Rua Frederico Mentz, em frente ao estádio, tem bares fechados e sem perspectiva de reabertura. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Ele afirma que entende a “sensação de abandono” citada por moradores da região, mas garante a atuação efetiva. “As pessoas veem muito volume e acham que o poder público não esteve lá. Mas já fomos e estamos voltando. É uma sensação visual e de perda dos objetos, psicólogo abalado. Perderam memórias afetivas”, refletiu

No último domingo, dia 8, a Arena do Grêmio sediou um mutirão para facilitar acesso a serviços sociais para moradores dos bairros Humaitá, Anchieta e Farrapos. Além de a água ter tomado grande parte da região, o escoamento foi mais demorado que em outros pontos da cidade. Na ação feita na casa do tricolor gaúcho, 2 mil pessoas foram atendidas, e o serviço mais procurado foi a confecção de novas carteiras de identidade pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), já que o desastre fez com que documentos fossem perdidos. No sábado, Grêmio e ONGs, junto da marca de produtos de limpezas Ypê esperam reunir 2 mil voluntários para limpeza próximo da Arena.

Último lugar a ver água baixar

O Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) foi criticado sobre o atendimento na Zona Norte da capital gaúcha. A demora para ações de escoamento foi um dos pontos apontados. Em uma publicação no dia 27 de maio, o órgão afirmou que “a comunidade do Humaitá não estava desassistida”. Foi citado que uma bomba de drenagem cedida pela Sabesp seria especialmente deslocada para a região.

Dois dias depois, a operação acelerou com o equipamento extra. A falha no abastecimento de geradores da casa de bombeamento do Humaitá, porém, mostrou a fragilidade do sistema de drenagem, como já havia sido evidenciado em outros pontos da cidade. O diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, informou o caso quando já havia sido solucionado. “Esses geradores pararam de funcionar, mas já abastecemos de maneira manual. A bomba da Sabesp já está funcionando. Temos duas bombas aqui na casa, faltando apenas mais um gerador em operação para funcionar o terceiro grupo e seguir bombeando água aqui do Humaitá”, disse em vídeo publicado nas redes sociais do órgão.

O Grêmio não tem previsão de voltar a mandar jogos na Arena. O time encontrou acolhimento no Couto Pereira. Os CTs de Grêmio e Internacional também sofreram e ficaram embaixo d’água. Os jogadores colorados têm atividades em outra instalação, o CT de Alvorada, normalmente utilizado pelas categorias de base. Já os gremistas treinam nas instalações do Corinthians. O próximo compromisso do tricolor gaúcho é nesta quinta-feira, 13, contra o Flamengo, no Maracanã.

A enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio foi a pior da história do Estado. Dos 497 municípios gaúchos, 478 foram afetados. Até o momento, conforme o último boletim da Defesa Civil, atualizado na segunda-feira, 9, 423 mil pessoas continuam desalojadas, e 38, desaparecidas. Ao todo, foram 173 mortes em decorrência da tragédia.

As ruas do bairro Humaitá, na Zona Norte de Porto Alegre, ainda são caminho até a Arena do Grêmio. Diferente dos dias de jogos, em que as vias são tomadas por gremistas, há entulhos de lixo e sujeira levada até ali pelas águas do Guaíba, no que foi a maior enchente da história do Rio Grande do Sul. Quem trabalha no entorno do estádio e vive do movimento dos jogos encara agora a insegurança de não ter renda.

Um dos locais mais tradicionais de concentração pré-jogo é o Bar D’Julia, bem em frente à Arena. Lá, a água alcançou cerca de 2,15 metros. Os engradados de cerveja fechados estão sujos de barro. O local é administrado por Jéssica da Silva Bueno, de 33 anos. Além dela, outras sete pessoas da família dependem da renda do estabelecimento, um deles é um idoso de 97 anos, além de duas crianças. Em dias de jogos considerados grandes, Jéssica aponta que o faturamento chega em até R$ 15 mil, mas a média gira entre R$ 3 mil e R$ 4 mil.

O bar virou um ponto de produção e distribuição de marmitas. São 500 “quentinhas” doadas diariamente junto à Associação Comunitária Quintana. Enquanto participa de ações voluntárias, Jéssica se vê sem ideia sobre o que vai acontecer. “Não posso esperar o jogo voltar. Não tenho ideia de renda para o próximo mês. E não se sabe nem como vamos retomar”, conta.

Retroescavadeira atua na limpeza da região, que ainda concentra lixo deixado pela enchente e resíduos descartados das casas atingidas. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Na quadra ao lado, o casal Denilson Braga, 29, e Taís Silva, 30, trabalhava em dias de jogos com venda de bebidas. Eles também alugavam a churrasqueira da própria casa por R$ 250 para grupos de torcedores que faziam o chamado “alentaço” antes das partidas. Ele trabalha como pintor, e ela é caixa de loja. A mobilização a cada partida era renda extra e entregava um faturamento entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil, em média. Em jogos decisivos, isso chegava em até R$ 5 mil.

Quando questionados se pretendem retomar o negócio, ambos respondem em uníssono que sim. “Por enquanto, não é a renda principal, mas queremos que seja”, conta Denilson. As vendas são feitas em uma parte externa, próxima à churrasqueira. Atrás, é a casa onde eles moram, que ficou submersa. Eles ainda não voltaram para lá de fato, já que perderam móveis, inclusive cama.

O relato é de abandono da região. “Falta olhar para cá, tanto das empresas, quanto poder público”, desabafa Jessica.

Tais e Denilson querem retomar trabalhos em dias de jogos, mas têm como desafio reconstruir o interior da casa. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Cenário próximo da Arena ainda é caótico

Diferente de regiões centrais e na Zona Sul ainda há muito lixo nas ruas e avenidas da Zona Norte. Elas continuam tomadas por barro e forte cheiro de esgoto. A região historicamente tem infraestrutura pior em relação a outros locais da capital gaúcha e abriga, em boa parte, população mais vulnerável.

Nesta terça-feira, 11, retroescavadeiras e caminhões do Exército Brasileiro atuavam na limpeza. O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) indicou três locais do Humaitá que receberam ações ainda pela manhã. O órgão tem 400 agentes, além de outros 3,5 mil cooperados da Cootravipa e 500 funcionários de uma empresa privada.

(Avançamos) em outros bairros como Cidade Baixa, Menino Deus, Centro Histórico. Estão praticamente concluídos. Essa força de trabalho, estamos colocando toda na Zona Norte. Foi a última área que a água baixou. Já passamos pelo Humaitá, mas pessoas precisaram fazer novos descartes. Lá na Zona Norte, as pessoas não perderam só objetos, perderam casas”, explicou o diretor-geral do DMLU, Carlos Alberto Hundertmarker.

Rua Frederico Mentz, em frente ao estádio, tem bares fechados e sem perspectiva de reabertura. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Ele afirma que entende a “sensação de abandono” citada por moradores da região, mas garante a atuação efetiva. “As pessoas veem muito volume e acham que o poder público não esteve lá. Mas já fomos e estamos voltando. É uma sensação visual e de perda dos objetos, psicólogo abalado. Perderam memórias afetivas”, refletiu

No último domingo, dia 8, a Arena do Grêmio sediou um mutirão para facilitar acesso a serviços sociais para moradores dos bairros Humaitá, Anchieta e Farrapos. Além de a água ter tomado grande parte da região, o escoamento foi mais demorado que em outros pontos da cidade. Na ação feita na casa do tricolor gaúcho, 2 mil pessoas foram atendidas, e o serviço mais procurado foi a confecção de novas carteiras de identidade pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), já que o desastre fez com que documentos fossem perdidos. No sábado, Grêmio e ONGs, junto da marca de produtos de limpezas Ypê esperam reunir 2 mil voluntários para limpeza próximo da Arena.

Último lugar a ver água baixar

O Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) foi criticado sobre o atendimento na Zona Norte da capital gaúcha. A demora para ações de escoamento foi um dos pontos apontados. Em uma publicação no dia 27 de maio, o órgão afirmou que “a comunidade do Humaitá não estava desassistida”. Foi citado que uma bomba de drenagem cedida pela Sabesp seria especialmente deslocada para a região.

Dois dias depois, a operação acelerou com o equipamento extra. A falha no abastecimento de geradores da casa de bombeamento do Humaitá, porém, mostrou a fragilidade do sistema de drenagem, como já havia sido evidenciado em outros pontos da cidade. O diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, informou o caso quando já havia sido solucionado. “Esses geradores pararam de funcionar, mas já abastecemos de maneira manual. A bomba da Sabesp já está funcionando. Temos duas bombas aqui na casa, faltando apenas mais um gerador em operação para funcionar o terceiro grupo e seguir bombeando água aqui do Humaitá”, disse em vídeo publicado nas redes sociais do órgão.

O Grêmio não tem previsão de voltar a mandar jogos na Arena. O time encontrou acolhimento no Couto Pereira. Os CTs de Grêmio e Internacional também sofreram e ficaram embaixo d’água. Os jogadores colorados têm atividades em outra instalação, o CT de Alvorada, normalmente utilizado pelas categorias de base. Já os gremistas treinam nas instalações do Corinthians. O próximo compromisso do tricolor gaúcho é nesta quinta-feira, 13, contra o Flamengo, no Maracanã.

A enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio foi a pior da história do Estado. Dos 497 municípios gaúchos, 478 foram afetados. Até o momento, conforme o último boletim da Defesa Civil, atualizado na segunda-feira, 9, 423 mil pessoas continuam desalojadas, e 38, desaparecidas. Ao todo, foram 173 mortes em decorrência da tragédia.

As ruas do bairro Humaitá, na Zona Norte de Porto Alegre, ainda são caminho até a Arena do Grêmio. Diferente dos dias de jogos, em que as vias são tomadas por gremistas, há entulhos de lixo e sujeira levada até ali pelas águas do Guaíba, no que foi a maior enchente da história do Rio Grande do Sul. Quem trabalha no entorno do estádio e vive do movimento dos jogos encara agora a insegurança de não ter renda.

Um dos locais mais tradicionais de concentração pré-jogo é o Bar D’Julia, bem em frente à Arena. Lá, a água alcançou cerca de 2,15 metros. Os engradados de cerveja fechados estão sujos de barro. O local é administrado por Jéssica da Silva Bueno, de 33 anos. Além dela, outras sete pessoas da família dependem da renda do estabelecimento, um deles é um idoso de 97 anos, além de duas crianças. Em dias de jogos considerados grandes, Jéssica aponta que o faturamento chega em até R$ 15 mil, mas a média gira entre R$ 3 mil e R$ 4 mil.

O bar virou um ponto de produção e distribuição de marmitas. São 500 “quentinhas” doadas diariamente junto à Associação Comunitária Quintana. Enquanto participa de ações voluntárias, Jéssica se vê sem ideia sobre o que vai acontecer. “Não posso esperar o jogo voltar. Não tenho ideia de renda para o próximo mês. E não se sabe nem como vamos retomar”, conta.

Retroescavadeira atua na limpeza da região, que ainda concentra lixo deixado pela enchente e resíduos descartados das casas atingidas. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Na quadra ao lado, o casal Denilson Braga, 29, e Taís Silva, 30, trabalhava em dias de jogos com venda de bebidas. Eles também alugavam a churrasqueira da própria casa por R$ 250 para grupos de torcedores que faziam o chamado “alentaço” antes das partidas. Ele trabalha como pintor, e ela é caixa de loja. A mobilização a cada partida era renda extra e entregava um faturamento entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil, em média. Em jogos decisivos, isso chegava em até R$ 5 mil.

Quando questionados se pretendem retomar o negócio, ambos respondem em uníssono que sim. “Por enquanto, não é a renda principal, mas queremos que seja”, conta Denilson. As vendas são feitas em uma parte externa, próxima à churrasqueira. Atrás, é a casa onde eles moram, que ficou submersa. Eles ainda não voltaram para lá de fato, já que perderam móveis, inclusive cama.

O relato é de abandono da região. “Falta olhar para cá, tanto das empresas, quanto poder público”, desabafa Jessica.

Tais e Denilson querem retomar trabalhos em dias de jogos, mas têm como desafio reconstruir o interior da casa. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Cenário próximo da Arena ainda é caótico

Diferente de regiões centrais e na Zona Sul ainda há muito lixo nas ruas e avenidas da Zona Norte. Elas continuam tomadas por barro e forte cheiro de esgoto. A região historicamente tem infraestrutura pior em relação a outros locais da capital gaúcha e abriga, em boa parte, população mais vulnerável.

Nesta terça-feira, 11, retroescavadeiras e caminhões do Exército Brasileiro atuavam na limpeza. O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) indicou três locais do Humaitá que receberam ações ainda pela manhã. O órgão tem 400 agentes, além de outros 3,5 mil cooperados da Cootravipa e 500 funcionários de uma empresa privada.

(Avançamos) em outros bairros como Cidade Baixa, Menino Deus, Centro Histórico. Estão praticamente concluídos. Essa força de trabalho, estamos colocando toda na Zona Norte. Foi a última área que a água baixou. Já passamos pelo Humaitá, mas pessoas precisaram fazer novos descartes. Lá na Zona Norte, as pessoas não perderam só objetos, perderam casas”, explicou o diretor-geral do DMLU, Carlos Alberto Hundertmarker.

Rua Frederico Mentz, em frente ao estádio, tem bares fechados e sem perspectiva de reabertura. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Ele afirma que entende a “sensação de abandono” citada por moradores da região, mas garante a atuação efetiva. “As pessoas veem muito volume e acham que o poder público não esteve lá. Mas já fomos e estamos voltando. É uma sensação visual e de perda dos objetos, psicólogo abalado. Perderam memórias afetivas”, refletiu

No último domingo, dia 8, a Arena do Grêmio sediou um mutirão para facilitar acesso a serviços sociais para moradores dos bairros Humaitá, Anchieta e Farrapos. Além de a água ter tomado grande parte da região, o escoamento foi mais demorado que em outros pontos da cidade. Na ação feita na casa do tricolor gaúcho, 2 mil pessoas foram atendidas, e o serviço mais procurado foi a confecção de novas carteiras de identidade pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), já que o desastre fez com que documentos fossem perdidos. No sábado, Grêmio e ONGs, junto da marca de produtos de limpezas Ypê esperam reunir 2 mil voluntários para limpeza próximo da Arena.

Último lugar a ver água baixar

O Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) foi criticado sobre o atendimento na Zona Norte da capital gaúcha. A demora para ações de escoamento foi um dos pontos apontados. Em uma publicação no dia 27 de maio, o órgão afirmou que “a comunidade do Humaitá não estava desassistida”. Foi citado que uma bomba de drenagem cedida pela Sabesp seria especialmente deslocada para a região.

Dois dias depois, a operação acelerou com o equipamento extra. A falha no abastecimento de geradores da casa de bombeamento do Humaitá, porém, mostrou a fragilidade do sistema de drenagem, como já havia sido evidenciado em outros pontos da cidade. O diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, informou o caso quando já havia sido solucionado. “Esses geradores pararam de funcionar, mas já abastecemos de maneira manual. A bomba da Sabesp já está funcionando. Temos duas bombas aqui na casa, faltando apenas mais um gerador em operação para funcionar o terceiro grupo e seguir bombeando água aqui do Humaitá”, disse em vídeo publicado nas redes sociais do órgão.

O Grêmio não tem previsão de voltar a mandar jogos na Arena. O time encontrou acolhimento no Couto Pereira. Os CTs de Grêmio e Internacional também sofreram e ficaram embaixo d’água. Os jogadores colorados têm atividades em outra instalação, o CT de Alvorada, normalmente utilizado pelas categorias de base. Já os gremistas treinam nas instalações do Corinthians. O próximo compromisso do tricolor gaúcho é nesta quinta-feira, 13, contra o Flamengo, no Maracanã.

A enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio foi a pior da história do Estado. Dos 497 municípios gaúchos, 478 foram afetados. Até o momento, conforme o último boletim da Defesa Civil, atualizado na segunda-feira, 9, 423 mil pessoas continuam desalojadas, e 38, desaparecidas. Ao todo, foram 173 mortes em decorrência da tragédia.

As ruas do bairro Humaitá, na Zona Norte de Porto Alegre, ainda são caminho até a Arena do Grêmio. Diferente dos dias de jogos, em que as vias são tomadas por gremistas, há entulhos de lixo e sujeira levada até ali pelas águas do Guaíba, no que foi a maior enchente da história do Rio Grande do Sul. Quem trabalha no entorno do estádio e vive do movimento dos jogos encara agora a insegurança de não ter renda.

Um dos locais mais tradicionais de concentração pré-jogo é o Bar D’Julia, bem em frente à Arena. Lá, a água alcançou cerca de 2,15 metros. Os engradados de cerveja fechados estão sujos de barro. O local é administrado por Jéssica da Silva Bueno, de 33 anos. Além dela, outras sete pessoas da família dependem da renda do estabelecimento, um deles é um idoso de 97 anos, além de duas crianças. Em dias de jogos considerados grandes, Jéssica aponta que o faturamento chega em até R$ 15 mil, mas a média gira entre R$ 3 mil e R$ 4 mil.

O bar virou um ponto de produção e distribuição de marmitas. São 500 “quentinhas” doadas diariamente junto à Associação Comunitária Quintana. Enquanto participa de ações voluntárias, Jéssica se vê sem ideia sobre o que vai acontecer. “Não posso esperar o jogo voltar. Não tenho ideia de renda para o próximo mês. E não se sabe nem como vamos retomar”, conta.

Retroescavadeira atua na limpeza da região, que ainda concentra lixo deixado pela enchente e resíduos descartados das casas atingidas. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Na quadra ao lado, o casal Denilson Braga, 29, e Taís Silva, 30, trabalhava em dias de jogos com venda de bebidas. Eles também alugavam a churrasqueira da própria casa por R$ 250 para grupos de torcedores que faziam o chamado “alentaço” antes das partidas. Ele trabalha como pintor, e ela é caixa de loja. A mobilização a cada partida era renda extra e entregava um faturamento entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil, em média. Em jogos decisivos, isso chegava em até R$ 5 mil.

Quando questionados se pretendem retomar o negócio, ambos respondem em uníssono que sim. “Por enquanto, não é a renda principal, mas queremos que seja”, conta Denilson. As vendas são feitas em uma parte externa, próxima à churrasqueira. Atrás, é a casa onde eles moram, que ficou submersa. Eles ainda não voltaram para lá de fato, já que perderam móveis, inclusive cama.

O relato é de abandono da região. “Falta olhar para cá, tanto das empresas, quanto poder público”, desabafa Jessica.

Tais e Denilson querem retomar trabalhos em dias de jogos, mas têm como desafio reconstruir o interior da casa. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Cenário próximo da Arena ainda é caótico

Diferente de regiões centrais e na Zona Sul ainda há muito lixo nas ruas e avenidas da Zona Norte. Elas continuam tomadas por barro e forte cheiro de esgoto. A região historicamente tem infraestrutura pior em relação a outros locais da capital gaúcha e abriga, em boa parte, população mais vulnerável.

Nesta terça-feira, 11, retroescavadeiras e caminhões do Exército Brasileiro atuavam na limpeza. O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) indicou três locais do Humaitá que receberam ações ainda pela manhã. O órgão tem 400 agentes, além de outros 3,5 mil cooperados da Cootravipa e 500 funcionários de uma empresa privada.

(Avançamos) em outros bairros como Cidade Baixa, Menino Deus, Centro Histórico. Estão praticamente concluídos. Essa força de trabalho, estamos colocando toda na Zona Norte. Foi a última área que a água baixou. Já passamos pelo Humaitá, mas pessoas precisaram fazer novos descartes. Lá na Zona Norte, as pessoas não perderam só objetos, perderam casas”, explicou o diretor-geral do DMLU, Carlos Alberto Hundertmarker.

Rua Frederico Mentz, em frente ao estádio, tem bares fechados e sem perspectiva de reabertura. Foto: Leonardo Catto/Estadão

Ele afirma que entende a “sensação de abandono” citada por moradores da região, mas garante a atuação efetiva. “As pessoas veem muito volume e acham que o poder público não esteve lá. Mas já fomos e estamos voltando. É uma sensação visual e de perda dos objetos, psicólogo abalado. Perderam memórias afetivas”, refletiu

No último domingo, dia 8, a Arena do Grêmio sediou um mutirão para facilitar acesso a serviços sociais para moradores dos bairros Humaitá, Anchieta e Farrapos. Além de a água ter tomado grande parte da região, o escoamento foi mais demorado que em outros pontos da cidade. Na ação feita na casa do tricolor gaúcho, 2 mil pessoas foram atendidas, e o serviço mais procurado foi a confecção de novas carteiras de identidade pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), já que o desastre fez com que documentos fossem perdidos. No sábado, Grêmio e ONGs, junto da marca de produtos de limpezas Ypê esperam reunir 2 mil voluntários para limpeza próximo da Arena.

Último lugar a ver água baixar

O Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) foi criticado sobre o atendimento na Zona Norte da capital gaúcha. A demora para ações de escoamento foi um dos pontos apontados. Em uma publicação no dia 27 de maio, o órgão afirmou que “a comunidade do Humaitá não estava desassistida”. Foi citado que uma bomba de drenagem cedida pela Sabesp seria especialmente deslocada para a região.

Dois dias depois, a operação acelerou com o equipamento extra. A falha no abastecimento de geradores da casa de bombeamento do Humaitá, porém, mostrou a fragilidade do sistema de drenagem, como já havia sido evidenciado em outros pontos da cidade. O diretor-geral do Dmae, Maurício Loss, informou o caso quando já havia sido solucionado. “Esses geradores pararam de funcionar, mas já abastecemos de maneira manual. A bomba da Sabesp já está funcionando. Temos duas bombas aqui na casa, faltando apenas mais um gerador em operação para funcionar o terceiro grupo e seguir bombeando água aqui do Humaitá”, disse em vídeo publicado nas redes sociais do órgão.

O Grêmio não tem previsão de voltar a mandar jogos na Arena. O time encontrou acolhimento no Couto Pereira. Os CTs de Grêmio e Internacional também sofreram e ficaram embaixo d’água. Os jogadores colorados têm atividades em outra instalação, o CT de Alvorada, normalmente utilizado pelas categorias de base. Já os gremistas treinam nas instalações do Corinthians. O próximo compromisso do tricolor gaúcho é nesta quinta-feira, 13, contra o Flamengo, no Maracanã.

A enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio foi a pior da história do Estado. Dos 497 municípios gaúchos, 478 foram afetados. Até o momento, conforme o último boletim da Defesa Civil, atualizado na segunda-feira, 9, 423 mil pessoas continuam desalojadas, e 38, desaparecidas. Ao todo, foram 173 mortes em decorrência da tragédia.

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