As imagens do desastre que toma parte da Espanha desde o final de outubro remetem a um drama vivido no Brasil pelo Rio Grande do Sul no começo do ano. A causa das tragédias são diferentes tecnicamente, mas levar a imagens semelhantes, como fortes chuvas, rios fora dos leitos e cidades inundadas. No futebol, houve mobilização para ajudar pessoas atingidas. Quando o assunto é paralisar campeonatos, a unanimidade fica mais distante.
No Brasil, foram adiados inicialmente jogos que envolviam clubes gaúchos, no Rio Grande do Sul ou fora do Estado. Na Espanha, o que se tornou na maior tragédia natural do país nos últimos 50 anos devastou Valência e chegou a Albacete, Andaluzia e Catalunha. Os clubes Villareal, Eldense, Almería, Castellón e Levante tiveram partidas remarcadas. A situação mais trágica é do Valencia, sediado no centro do desastre, que ainda não sabe quando irá retomar as atividades.
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De 29 de outubro a 7 de novembro, a Espanha contabiliza 219 mortos e 93 desaparecidos. Ainda não se fala em suspender a LaLiga. Aqui, o Brasileirão foi paralisado em 15 de maio, quando eram 149 óbitos e 108 desaparecidos. Na época, Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Flamengo e Red Bull Bragantino eram contrários, mas foram minoria diante do aceite dos outros 15 clubes da Série A. Foram adiadas duas rodadas.
Ainda não é possível mensurar como será o retorno do Valencia, que foca em esforços de ajuda humanitária, junto de outros clubes. No caso do trio gaúcho do Brasileirão, o Juventude sofreu menos, em decorrência de Caxias do Sul ter sido menos afetada que Porto Alegre. Na capital, antes de os CTs de Grêmio e Internacional terem sido drenados, as equipes retomaram atividades da maneira que foi possível, migrando de local e treinando em outras cidades.
O clube colorado retornou ao Beira-Rio em 45 dias. O desempenho esportivo voltou abaixo, mas a mudança na comissão técnica, com a chegada de Roger Machado, elevou o nível do time, que atualmente tem sequência de 11 jogos de invencibilidade e briga por uma vaga direta na Libertadores 2025.
O impacto das enchentes representou uma perda financeira significativa, com estimativas que chegam a 90 milhões de reais, considerando danos patrimoniais, perda de sócios e aumento dos custos operacionais. Diante desses desafios, o Presidente Alessandro Barcellos e o Conselho de Gestão tomaram medidas estratégicas para manter o clube estável, reforçando o controle de despesas e buscando novas fontes de receita. “Estamos comprometidos em assegurar a sustentabilidade financeira do Internacional, superando os desafios e construindo um futuro sólido,” afirma Barcellos.
Já o Grêmio não evoluiu após a retomada. O clube tricolor amargou as eliminações na Libertadores, na Copa do Brasil e ainda briga para não cair no Campeonato Brasileiro. Até hoje, o técnico Renato Gaúcho atribui o baixo desempenho à enchente.
A Agência Meteorológica da Espanha (Aemet, na sigla em espanhol) explica que o bloqueio atmosférico que causou as chuvas é comum na região. Entretanto, isso foi intensificado por um sistema de baixa pressão em médias e alta atitudes chamado Dana, que impede a locomoção das nuvens. No Rio Grande do Sul, o mecanismo foi o mesmo, mas na superfície. Os volumes de chuva foram semelhantes, mas em período mais espaçado no Brasil.
Nos dois países, a ocorrência foi nos respectivos meses de outono. É quando o tempo quente e úmido do verão transiciona para frio e seco. Mesmo que a precipitação tenha sido prevista, os modelos meteorológicos erraram a quantidade de chuva, algo atribuído a mudanças climáticas.
Entre os afetados na Espanha, estava Jose Ignacio Ponce. Morador de Valência, ele é um colecionador de camisas de futebol. No sábado, 2, Ponce resgatou cerca de 60 itens que ficaram em meio à lama deixada pela tragédia na sua residência.
“Tive uma imensa sorte de não ter perdido ninguém próximo. Mas todos nós conhecemos pessoas que ficaram sem familiares. Essa tragédia é duríssima. O que perdi é parte da minha vida, no porão estavam memórias da minha infância: fotografias, discos dos meus pais, cartas. Estou tentando recuperar as camisas, porque o material têxtil é o único recuperável”, contou Ponce ao jornal valenciano Superdeporte, após justificar que se arriscou a buscar os itens por medo de que o roubassem.
“Quero denunciar a insegurança que temos vivido depois de suportar algo dramático. Não se apagam os gritos de desespero das pessoas... E ainda há quem rouba o pouco que restou. A gestão tem sido uma vergonha”, desabafou Ponce. Nisso, ele relata outro cenário que se repetiu no Sul do Brasil.
Real Madrid arrecada fundos e Vini Jr. comanda doações entre jogadores
O atacante brasileiro comandou a arrecadação de doações junto a companheiros de clube. Conforme a rádio Cadena Ser, isso foi feito de modo sigiloso. Um dos lugares em que Vini Jr. mais sofreu com casos de racismo foi justamente em Valência. Isso não importou para ele neste momento.
O Real Madrid doou 1 milhão de euros (R$ 6,2 milhões). “A Fundação Real Madrid e a Cruz Vermelha lançaram hoje uma campanha de angariação de fundos destinada a apoiar as pessoas afetadas pela tempestade”, anunciou o clube em suas redes sociais.
MotoGP muda etapa final para Barcelona e doará valor dos ingressos
A organização da MotoGP decidiu realizar a última etapa da temporada em Barcelona, após cancelar a disputa que seria em Valência. A etapa final, que decidirá o campeonato, será disputada entre os dias 15 e 17 deste mês.
A organização do campeonato prometeu referências e homenagens à Valência em razão das enchentes. “Em vez de correr em Valência, a MotoGP correrá por Valência. Para todos os afetados e para toda a comunidade”. O valor total dos ingressos será doado. Nos locais das provas, serão coletadas doações para a Cruz Vermelha.