O novo estádio do Sevilla está ainda apenas no papel. A obra começa em 2026 e tem previsão de ser concluída em 2028. Mas o projeto do time espanhol já pode ser usado de exemplo pelos clubes brasileiros, sobretudo quanto ao valor dos ingressos.
No projeto, o clube espanhol fez a promessa de que a maior parte dos setores não terá aumento no preço das entradas, mesmo com a entrega de uma arena multiuso moderna. José María Del Nido Carrasco, presidente do Sevilla, explicou, em entrevista ao Estadão, que o dinheiro que entrará graças a acordo de patrocínios, novas fontes de receita advindas com o estádio e a área vip, com 5,5 mil lugares, farão com que os torcedores menos abonados não sejam penalizados e continuem frequentando o novo Ramón Sánchez Pizjuán, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, no Allianz Parque e na Neo Química Arena, estádios dos quais foram alijados palmeirenses e corintianos menos abastados.
“Será produzido um incremento na receita, com as novas áreas VIP’s, com mais de 11 mil lugares, também teremos receita com o funcionamento de diferentes negócios, 365 dias por ano, e por meio de acordos de patrocínio que esperamos assinar. Tudo isso significa que não teremos que penalizar os torcedores, que cobrar mais caro pelos ingressos”, afirma Carrasco ao Estadão. O mandatário faz a projeção de arrecadar entre 26 e 40 milhões de euros (R$ 144 milhões e R$ 222 milhões) a mais com a venda de ingressos por temporada.
Ele esteve em São Paulo no início do mês para participar do Sports Summit, evento que reuniu profissionais, investidores e empresários de várias modalidades esportivas. Aproveitou a estada para visitar as instalações do Palmeiras e saiu da Academia de Futebol impressionado.
Serão investidos 350 milhões de euros para a construção do novo Ramón Sánchez Pizjuán. Parte desse montante virá do LaLiga Impulso, projeto firmado entre a liga espanhola e o fundo de investimento inglês CVC Capital Partner. A iniciativa nasceu há dois anos com o objetivo principal de transformar centros de treinamento e estádios dos times do Campeonato Espanhol.
O novo Ramón Sánchez-Pizjuán terá capacidade para comportar 55 mil torcedores - 11 mil a mais do que a capacidade atual - e será erguido no mesmo local onde está o estádio desde setembro de 1958. A ideia é que as instalações estejam adequadas aos novos tempos, sem, porém, ignorar as memórias e história do local e do bairro de Nervión.
“Nós, quando pedimos à construtora responsável pelo projeto que fizesse um estudo sobre como deveria ser o novo estádio nos próximos 50 anos, não definimos nenhuma premissa. A única coisa que lhe dissemos foi que queríamos que fosse mantida a acústica, o som da ‘Bombonera’ do Ramón Sánchez Pizjuán, porque é verdade que o nosso estádio é muito apaixonante, onde se ouve muito os nossos adeptos quando torcem”, diz o dirigente, citando, orgulhoso, o apelido de ‘Bombonera de Nervión’ que o local ganhou graças à estridente e apaixonada torcida e as características do estádio, que virou um caldeirão por causa desses dois fatores.
Conforme Carrasco, que diz ter visitado estádios dentro e fora da Espanha, a nova casa do Sevilla terá melhor conectividade, assentos maiores, arquibancadas mais próximas do gramado, dois andares para estacionamento, espaços para organização de eventos, área para gastronomia e outras ofertas de serviços, um novo museu e vai combinar tradição com modernidade.
O projeto prevê o rebaixamento do gramado e construção de um anel inferior, com a ambição de ser um novo marco arquitetônico para a cidade de Sevilha. “O primeiro anel vai para baixo para não incomodar a vizinhança”, explica Carrasco, de acordo com o qual o objetivo, com o remodelado estádio, é ter receitas recorrentes, que reduzam a dependência de venda de jogadores e do sucesso esportivo da equipe.
José María Carrasco, presidente do Sevilla
O Sevilla recorrerá, além do projeto LaLiga Impulso, a financiamentos bancários para levar adiante a remodelação do estádio, que está em fase de anteprojeto. A expectativa de amortização é entre 10 e 16 anos. Enquanto a sua casa estiver em reformas, o time jogará no La Cartuja, que pertence à Junta de Andaluzia, para manter a receita proveniente de jogos.
O plano é que as futuras instalações do Sevilla sejam sustentáveis. Localizado na região central da cidade, o Ramón Sánchez Pizjuán estará “conectado com a cidade”, diz Carrasco, segundo o qual os carros serão a última alternativa de transporte dos torcedores para irem ao estádio.
“Ter o estádio em Nervión nos permite que uma parte muito importante dos fãs venha ao estádio de bicicleta, andando, de metrô, de ônibus, ou seja, em transporte público, o que também torna mais sustentável porque utilizam menos o carro”.