Compra por até R$ 24 milhões e multa se não subir: Juventus analisa controversa venda de SAF


Três propostas tentam comprar participação no futebol do clube da Mooca; entre atritos, conselho critica a direção, que diz ter seguido os ritos necessários e espera celeridade

Por Leonardo Catto
Atualização:

O conselho do Juventus da Mooca analisa três propostas para a compra da SAF do seu futebol. A transformação para o modelo já avança desde os últimos meses do ano passado, em decisão divergente da assumida em 2022, quando a ideia foi rejeitada. Entretanto, protestos criticaram a condução da direção e motivaram a criação de uma comissão para análise das ofertas. A gestão do presidente Tadeu Deradeli diz ter seguido os ritos necessários e espera celeridade no trabalho de avaliação.

A reportagem do Estadão teve acesso a todas as ofertas, compartilhadas com os conselheiros com dever de sigilo. A expectativa inicial do presidente era que o negócio fosse concretizado até julho de 2024, ano do centenário do clube. No começo de agosto, a definição foi adiada para metade do mês, quando foi criada a comissão.

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“É para ontem. Não dá para esperar mais. Querem ver novamente o valuation, mas não podemos esperar muito tempo. Se for fazer ao pé da letra, acho que até diminui o valor”, justifica Deradeli, ao Estadão, falando sobre o aumento da dívida do Juventus.

Estádio da Rua Javari recebe manutenção, com o fim da temporada do time profissional; nos bastidores do clube, o jogo continua quente. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A principal crítica à direção envolve um movimento adiantado do presidente, ainda no ano passado. Ele assinou com uma empresa de assessoria para a SAF, a Way Sports. O acordo foi feito em outubro, um mês antes de ter aprovação de fato para a transformação.

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O contrato também previa diagnóstico e plano de estruturação do clube. Do total recebido em um eventual negócio, 6% iria para a Way Sports. A empresa ainda receberia R$ 80 mil pelo serviço de análise e 20% de futuros patrocínios do futebol. Tudo seria pago após a transição do Juventus para SAF e conclusão da venda.

O acordo foi desfeito neste ano. “A coisa estava muito demorada, enrolada”, justificou Deradeli, sobre o distrato, mas também explicou por que a assinatura aconteceu ainda antes da aprovação do conselho para a SAF: “Foi fechado porque a gente precisava de uma empresa que viesse assessorar. O nosso jurídico do é tributário, cível... A lei de SAF é uma coisa nova”.

Como são as propostas para compra da SAF do Juventus?

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Das três ofertas recebidas pelo Juventus, todas envolvem a concessão do estádio Rodolfo Crespi e exploração comercial da marca. Uma delas é uma é do grupo italiano AlmavivA, que tentou a compra do futebol do clube em 2022. Na época, foram oferecidos R$ 13 milhões por 90% das ações, o que foi barrado pelo conselho.

A AlmavivA trabalha com serviço e telemarketing e tem no Brasil um dos principais mercados fora da Itália. Também estão interessados na compra da SAF do Juventus: a Total Player, empresa de tecnologia ligada ao futebol, dos irmãos Paulo e Calucho Jamelli; e um consórcio entre o empresário do setor de RH Fernando Medina e a consultoria Outfiled.

Uma quarta oferta ainda chegou ao conselho, mas foi retirada pela empresa interessada. O Estadão apurou que há outro investidor com o desejo de participar da disputa, mas que ainda não apresentou de fato uma proposta.

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AlmavivA

  • Compra de 90% das ações da SAF
  • R$ 18 milhões (R$ 9 milhões seriam pagos à vista e R$ 9 milhões em parcelas anuais de R$ 2,25 milhões, sem correção monetária)
  • Do total, destinação exclusiva de R$ 2 milhões para reformas do estádio Conde Rodolfo Crespi
  • Concessão do estádio por 10 anos (renováveis mediante pagamento a ser acordado)
  • Investimento mínimo de R$ 52 milhões no futebol em 10 anos
  • Multa de R$ 10 milhões caso não haja acesso à Série A1 do Paulistão em três anos
  • Acesso gratuito a jogos em casa nos 2 primeiros anos
  • Reconstituição do time feminino
  • Dobrar o investimento na equipe juvenil
  • R$ 100 mil em projetos socioculturais no bairro da Mooca nos primeiros 3 anos
  • Direito de preferência ao Juventus para comprar participação da AlmaVivA em caso de ofertas

Total Player

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  • Compra de até 90% das ações da SAF
  • Fase 1: R$ 10 milhões no ato de compra de 30%
  • Do total da fase 1, R$ 2 milhões para o estádio e R$ 2 milhões melhorias no futebol
  • Fase 2: R$ 7 milhões por mais 30%, pagos em 30 meses ou no acesso à Série A1 do Paulistão (o que vier primeiro)
  • Fase 3: R$ 7 milhões por mais 30%, pagos em 60 meses ou no acesso à Série C do Brasileirão (o que vier primeiro)
  • Total: R$ 24 milhões por 90% das ações, mas com 100% da gestão e autonomia
  • Estádio sob concessão total da SAF por 30 anos, prorrogáveis por mais 30, sob pagamento de R$ 45 mil/mês
  • Estimativa de investimento total, incluindo a compra, de R$ 101 milhões em 10 anos

Fernando Medina e Outfiled

  • 90% das ações
  • R$ 16 milhões ao clube pela compra
  • 3 parcelas (R$ 8 milhões no ato; R$ 4 milhões em 24 meses e R$ 4 milhões em 36 meses); segunda e terceiras ajustadas pela Selic
  • R$ 1,8 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série A2 (projetado em 2025)
  • R$ 4,8 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série A1 (projetado em 2027)
  • R$ 9,5 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série C (projetado em 2030)
  • R$ 23,2 mínimo, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série B (projetado em 2032)
  • R$ 7,5 milhões para desenvolvimento da base até 2033
  • R$ 9,5 milhões para CT ou infraestrutura
  • Concessão do futebol profissional e amador
  • Concessão do estádio por 50 anos, renováveis por mais 50, por R$ 40 mil mensais, podendo ser ajustado por índice a ser acordado
  • R$ 101,1 milhões no futebol entre 2025 e 2033
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Presidente Tadeu Deradeli espera análise da comissão da SAF no conselho deliberativo para que negócio prossiga. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Parte das manifestações contrárias se dão pelo entendimento de que a atual gestão já tem a intenção em fechar com a AlmaViva, no que seria uma segunda tentativa de negócio. Deradeli nega, mas admite considerar esta uma boa proposta. “Aqui a gente vende o almoço para comprar a janta”, diz sobre os gastos do Juventus.

A compra não envolveria o clube social. A direção afirma que já retirou dinheiro dali para investir no futebol. A expectativa da gestão é, mesmo com a venda apenas do futebol, contar com investimentos nas estruturas abertas aos sócios.

Em protesto contra a venda e com acusações de falta de transparência e valores baixos nas negociações, a torcida organizada Setor 2 chegou a deixar de ir a partidas durante a campanha Copa Paulista. O time foi eliminado pelo Taquaritinga, nas oitavas de final. Na Série A2 do Paulistão, a equipe quase conseguiu o acesso, mas caiu diante do Velo Clube, na semifinal.

Juventus quase conseguiu o acesso no centenário e agora vive conflito interno sobre futuro do futebol. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

São Bento negocia venda mais valorizado que Juventus e também mira Série B

O procedimento do Juventus é semelhante o que faz o São Bento. O clube de Sorocaba tornou-se SAF também no final de 2023 e então recebeu propostas para venda.

Os sorocabanos, contudo, esperam R$ 130 milhões para concessões semelhantes às do Juventus, cedendo 90% das ações, além dos valores esperados para investimentos futuros. O grupo interessado no São Bento é o Flash Forward, que reúne os ex-jogadores Zé Roberto e Fransérgio e o empresário Tiago Ribeiro (ex-CEO do Estoril).

As metas esportivas envolvem o acesso à elite do Paulistão em 2025 e chegar à Série B do Campeonato Brasileiro em 2030.

SAF do Botafogo-SP é exemplo de tensão entre empresa e clube

Em Ribeirão Preto, a relação do Botafogo-SP com a empresa que gere a SAF do clube é de turbulência nos bastidores. A gestão comandada por Osvaldo Festucci (de 2019 a 2021) efetivou a transformação da Botafogo SA em SAF. O clube detém 60% da gestão, em sociedade com o empresário Adalberto Baptista.

Entretanto, o conselho aprovou o estudo sobre o rompimento do negócio, após acusações de que a SAF não assumiu dívidas. Por outro lado, a SAF afirma que aceitou pagar todas as dívidas em um processo conciliatório, mas que o clube não se manifestou judicialmente sobre a proposta de acordo.

Negócio do Botafogo-SP envolveu também a cessão do estádio Santa Cruz, que virou Arena Nicnet. Foto: João Victor Menezes de Souza/Agência Botafogo

Festucci esteve em gestão desde abril de 2019 até renunciar em novembro de 2021. O conselho do Botafogo-SP autorizou que o clube entre na justiça contra o ex-mandatário, em busca de indenizações.

A principal acusação é de que Festucci assinou o documento que autorizou a transformação da Botafogo SA em SAF sem comunicar ou ter qualquer autorização dos poderes do clube. O Conselho de Ética já havia decidido pela expulsão de Festucci, que não pode retornar ao quadro de conselheiros em até 10 anos. A reportagem do Estadão tentou contato com o ex-mandatário, mas não obteve retorno. O espaço continua aberto e será atualizado, em caso de manifestação de Festucci.

O conselho do Juventus da Mooca analisa três propostas para a compra da SAF do seu futebol. A transformação para o modelo já avança desde os últimos meses do ano passado, em decisão divergente da assumida em 2022, quando a ideia foi rejeitada. Entretanto, protestos criticaram a condução da direção e motivaram a criação de uma comissão para análise das ofertas. A gestão do presidente Tadeu Deradeli diz ter seguido os ritos necessários e espera celeridade no trabalho de avaliação.

A reportagem do Estadão teve acesso a todas as ofertas, compartilhadas com os conselheiros com dever de sigilo. A expectativa inicial do presidente era que o negócio fosse concretizado até julho de 2024, ano do centenário do clube. No começo de agosto, a definição foi adiada para metade do mês, quando foi criada a comissão.

“É para ontem. Não dá para esperar mais. Querem ver novamente o valuation, mas não podemos esperar muito tempo. Se for fazer ao pé da letra, acho que até diminui o valor”, justifica Deradeli, ao Estadão, falando sobre o aumento da dívida do Juventus.

Estádio da Rua Javari recebe manutenção, com o fim da temporada do time profissional; nos bastidores do clube, o jogo continua quente. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A principal crítica à direção envolve um movimento adiantado do presidente, ainda no ano passado. Ele assinou com uma empresa de assessoria para a SAF, a Way Sports. O acordo foi feito em outubro, um mês antes de ter aprovação de fato para a transformação.

O contrato também previa diagnóstico e plano de estruturação do clube. Do total recebido em um eventual negócio, 6% iria para a Way Sports. A empresa ainda receberia R$ 80 mil pelo serviço de análise e 20% de futuros patrocínios do futebol. Tudo seria pago após a transição do Juventus para SAF e conclusão da venda.

O acordo foi desfeito neste ano. “A coisa estava muito demorada, enrolada”, justificou Deradeli, sobre o distrato, mas também explicou por que a assinatura aconteceu ainda antes da aprovação do conselho para a SAF: “Foi fechado porque a gente precisava de uma empresa que viesse assessorar. O nosso jurídico do é tributário, cível... A lei de SAF é uma coisa nova”.

Como são as propostas para compra da SAF do Juventus?

Das três ofertas recebidas pelo Juventus, todas envolvem a concessão do estádio Rodolfo Crespi e exploração comercial da marca. Uma delas é uma é do grupo italiano AlmavivA, que tentou a compra do futebol do clube em 2022. Na época, foram oferecidos R$ 13 milhões por 90% das ações, o que foi barrado pelo conselho.

A AlmavivA trabalha com serviço e telemarketing e tem no Brasil um dos principais mercados fora da Itália. Também estão interessados na compra da SAF do Juventus: a Total Player, empresa de tecnologia ligada ao futebol, dos irmãos Paulo e Calucho Jamelli; e um consórcio entre o empresário do setor de RH Fernando Medina e a consultoria Outfiled.

Uma quarta oferta ainda chegou ao conselho, mas foi retirada pela empresa interessada. O Estadão apurou que há outro investidor com o desejo de participar da disputa, mas que ainda não apresentou de fato uma proposta.

AlmavivA

  • Compra de 90% das ações da SAF
  • R$ 18 milhões (R$ 9 milhões seriam pagos à vista e R$ 9 milhões em parcelas anuais de R$ 2,25 milhões, sem correção monetária)
  • Do total, destinação exclusiva de R$ 2 milhões para reformas do estádio Conde Rodolfo Crespi
  • Concessão do estádio por 10 anos (renováveis mediante pagamento a ser acordado)
  • Investimento mínimo de R$ 52 milhões no futebol em 10 anos
  • Multa de R$ 10 milhões caso não haja acesso à Série A1 do Paulistão em três anos
  • Acesso gratuito a jogos em casa nos 2 primeiros anos
  • Reconstituição do time feminino
  • Dobrar o investimento na equipe juvenil
  • R$ 100 mil em projetos socioculturais no bairro da Mooca nos primeiros 3 anos
  • Direito de preferência ao Juventus para comprar participação da AlmaVivA em caso de ofertas

Total Player

  • Compra de até 90% das ações da SAF
  • Fase 1: R$ 10 milhões no ato de compra de 30%
  • Do total da fase 1, R$ 2 milhões para o estádio e R$ 2 milhões melhorias no futebol
  • Fase 2: R$ 7 milhões por mais 30%, pagos em 30 meses ou no acesso à Série A1 do Paulistão (o que vier primeiro)
  • Fase 3: R$ 7 milhões por mais 30%, pagos em 60 meses ou no acesso à Série C do Brasileirão (o que vier primeiro)
  • Total: R$ 24 milhões por 90% das ações, mas com 100% da gestão e autonomia
  • Estádio sob concessão total da SAF por 30 anos, prorrogáveis por mais 30, sob pagamento de R$ 45 mil/mês
  • Estimativa de investimento total, incluindo a compra, de R$ 101 milhões em 10 anos

Fernando Medina e Outfiled

  • 90% das ações
  • R$ 16 milhões ao clube pela compra
  • 3 parcelas (R$ 8 milhões no ato; R$ 4 milhões em 24 meses e R$ 4 milhões em 36 meses); segunda e terceiras ajustadas pela Selic
  • R$ 1,8 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série A2 (projetado em 2025)
  • R$ 4,8 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série A1 (projetado em 2027)
  • R$ 9,5 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série C (projetado em 2030)
  • R$ 23,2 mínimo, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série B (projetado em 2032)
  • R$ 7,5 milhões para desenvolvimento da base até 2033
  • R$ 9,5 milhões para CT ou infraestrutura
  • Concessão do futebol profissional e amador
  • Concessão do estádio por 50 anos, renováveis por mais 50, por R$ 40 mil mensais, podendo ser ajustado por índice a ser acordado
  • R$ 101,1 milhões no futebol entre 2025 e 2033
Presidente Tadeu Deradeli espera análise da comissão da SAF no conselho deliberativo para que negócio prossiga. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Parte das manifestações contrárias se dão pelo entendimento de que a atual gestão já tem a intenção em fechar com a AlmaViva, no que seria uma segunda tentativa de negócio. Deradeli nega, mas admite considerar esta uma boa proposta. “Aqui a gente vende o almoço para comprar a janta”, diz sobre os gastos do Juventus.

A compra não envolveria o clube social. A direção afirma que já retirou dinheiro dali para investir no futebol. A expectativa da gestão é, mesmo com a venda apenas do futebol, contar com investimentos nas estruturas abertas aos sócios.

Em protesto contra a venda e com acusações de falta de transparência e valores baixos nas negociações, a torcida organizada Setor 2 chegou a deixar de ir a partidas durante a campanha Copa Paulista. O time foi eliminado pelo Taquaritinga, nas oitavas de final. Na Série A2 do Paulistão, a equipe quase conseguiu o acesso, mas caiu diante do Velo Clube, na semifinal.

Juventus quase conseguiu o acesso no centenário e agora vive conflito interno sobre futuro do futebol. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

São Bento negocia venda mais valorizado que Juventus e também mira Série B

O procedimento do Juventus é semelhante o que faz o São Bento. O clube de Sorocaba tornou-se SAF também no final de 2023 e então recebeu propostas para venda.

Os sorocabanos, contudo, esperam R$ 130 milhões para concessões semelhantes às do Juventus, cedendo 90% das ações, além dos valores esperados para investimentos futuros. O grupo interessado no São Bento é o Flash Forward, que reúne os ex-jogadores Zé Roberto e Fransérgio e o empresário Tiago Ribeiro (ex-CEO do Estoril).

As metas esportivas envolvem o acesso à elite do Paulistão em 2025 e chegar à Série B do Campeonato Brasileiro em 2030.

SAF do Botafogo-SP é exemplo de tensão entre empresa e clube

Em Ribeirão Preto, a relação do Botafogo-SP com a empresa que gere a SAF do clube é de turbulência nos bastidores. A gestão comandada por Osvaldo Festucci (de 2019 a 2021) efetivou a transformação da Botafogo SA em SAF. O clube detém 60% da gestão, em sociedade com o empresário Adalberto Baptista.

Entretanto, o conselho aprovou o estudo sobre o rompimento do negócio, após acusações de que a SAF não assumiu dívidas. Por outro lado, a SAF afirma que aceitou pagar todas as dívidas em um processo conciliatório, mas que o clube não se manifestou judicialmente sobre a proposta de acordo.

Negócio do Botafogo-SP envolveu também a cessão do estádio Santa Cruz, que virou Arena Nicnet. Foto: João Victor Menezes de Souza/Agência Botafogo

Festucci esteve em gestão desde abril de 2019 até renunciar em novembro de 2021. O conselho do Botafogo-SP autorizou que o clube entre na justiça contra o ex-mandatário, em busca de indenizações.

A principal acusação é de que Festucci assinou o documento que autorizou a transformação da Botafogo SA em SAF sem comunicar ou ter qualquer autorização dos poderes do clube. O Conselho de Ética já havia decidido pela expulsão de Festucci, que não pode retornar ao quadro de conselheiros em até 10 anos. A reportagem do Estadão tentou contato com o ex-mandatário, mas não obteve retorno. O espaço continua aberto e será atualizado, em caso de manifestação de Festucci.

O conselho do Juventus da Mooca analisa três propostas para a compra da SAF do seu futebol. A transformação para o modelo já avança desde os últimos meses do ano passado, em decisão divergente da assumida em 2022, quando a ideia foi rejeitada. Entretanto, protestos criticaram a condução da direção e motivaram a criação de uma comissão para análise das ofertas. A gestão do presidente Tadeu Deradeli diz ter seguido os ritos necessários e espera celeridade no trabalho de avaliação.

A reportagem do Estadão teve acesso a todas as ofertas, compartilhadas com os conselheiros com dever de sigilo. A expectativa inicial do presidente era que o negócio fosse concretizado até julho de 2024, ano do centenário do clube. No começo de agosto, a definição foi adiada para metade do mês, quando foi criada a comissão.

“É para ontem. Não dá para esperar mais. Querem ver novamente o valuation, mas não podemos esperar muito tempo. Se for fazer ao pé da letra, acho que até diminui o valor”, justifica Deradeli, ao Estadão, falando sobre o aumento da dívida do Juventus.

Estádio da Rua Javari recebe manutenção, com o fim da temporada do time profissional; nos bastidores do clube, o jogo continua quente. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A principal crítica à direção envolve um movimento adiantado do presidente, ainda no ano passado. Ele assinou com uma empresa de assessoria para a SAF, a Way Sports. O acordo foi feito em outubro, um mês antes de ter aprovação de fato para a transformação.

O contrato também previa diagnóstico e plano de estruturação do clube. Do total recebido em um eventual negócio, 6% iria para a Way Sports. A empresa ainda receberia R$ 80 mil pelo serviço de análise e 20% de futuros patrocínios do futebol. Tudo seria pago após a transição do Juventus para SAF e conclusão da venda.

O acordo foi desfeito neste ano. “A coisa estava muito demorada, enrolada”, justificou Deradeli, sobre o distrato, mas também explicou por que a assinatura aconteceu ainda antes da aprovação do conselho para a SAF: “Foi fechado porque a gente precisava de uma empresa que viesse assessorar. O nosso jurídico do é tributário, cível... A lei de SAF é uma coisa nova”.

Como são as propostas para compra da SAF do Juventus?

Das três ofertas recebidas pelo Juventus, todas envolvem a concessão do estádio Rodolfo Crespi e exploração comercial da marca. Uma delas é uma é do grupo italiano AlmavivA, que tentou a compra do futebol do clube em 2022. Na época, foram oferecidos R$ 13 milhões por 90% das ações, o que foi barrado pelo conselho.

A AlmavivA trabalha com serviço e telemarketing e tem no Brasil um dos principais mercados fora da Itália. Também estão interessados na compra da SAF do Juventus: a Total Player, empresa de tecnologia ligada ao futebol, dos irmãos Paulo e Calucho Jamelli; e um consórcio entre o empresário do setor de RH Fernando Medina e a consultoria Outfiled.

Uma quarta oferta ainda chegou ao conselho, mas foi retirada pela empresa interessada. O Estadão apurou que há outro investidor com o desejo de participar da disputa, mas que ainda não apresentou de fato uma proposta.

AlmavivA

  • Compra de 90% das ações da SAF
  • R$ 18 milhões (R$ 9 milhões seriam pagos à vista e R$ 9 milhões em parcelas anuais de R$ 2,25 milhões, sem correção monetária)
  • Do total, destinação exclusiva de R$ 2 milhões para reformas do estádio Conde Rodolfo Crespi
  • Concessão do estádio por 10 anos (renováveis mediante pagamento a ser acordado)
  • Investimento mínimo de R$ 52 milhões no futebol em 10 anos
  • Multa de R$ 10 milhões caso não haja acesso à Série A1 do Paulistão em três anos
  • Acesso gratuito a jogos em casa nos 2 primeiros anos
  • Reconstituição do time feminino
  • Dobrar o investimento na equipe juvenil
  • R$ 100 mil em projetos socioculturais no bairro da Mooca nos primeiros 3 anos
  • Direito de preferência ao Juventus para comprar participação da AlmaVivA em caso de ofertas

Total Player

  • Compra de até 90% das ações da SAF
  • Fase 1: R$ 10 milhões no ato de compra de 30%
  • Do total da fase 1, R$ 2 milhões para o estádio e R$ 2 milhões melhorias no futebol
  • Fase 2: R$ 7 milhões por mais 30%, pagos em 30 meses ou no acesso à Série A1 do Paulistão (o que vier primeiro)
  • Fase 3: R$ 7 milhões por mais 30%, pagos em 60 meses ou no acesso à Série C do Brasileirão (o que vier primeiro)
  • Total: R$ 24 milhões por 90% das ações, mas com 100% da gestão e autonomia
  • Estádio sob concessão total da SAF por 30 anos, prorrogáveis por mais 30, sob pagamento de R$ 45 mil/mês
  • Estimativa de investimento total, incluindo a compra, de R$ 101 milhões em 10 anos

Fernando Medina e Outfiled

  • 90% das ações
  • R$ 16 milhões ao clube pela compra
  • 3 parcelas (R$ 8 milhões no ato; R$ 4 milhões em 24 meses e R$ 4 milhões em 36 meses); segunda e terceiras ajustadas pela Selic
  • R$ 1,8 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série A2 (projetado em 2025)
  • R$ 4,8 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série A1 (projetado em 2027)
  • R$ 9,5 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série C (projetado em 2030)
  • R$ 23,2 mínimo, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série B (projetado em 2032)
  • R$ 7,5 milhões para desenvolvimento da base até 2033
  • R$ 9,5 milhões para CT ou infraestrutura
  • Concessão do futebol profissional e amador
  • Concessão do estádio por 50 anos, renováveis por mais 50, por R$ 40 mil mensais, podendo ser ajustado por índice a ser acordado
  • R$ 101,1 milhões no futebol entre 2025 e 2033
Presidente Tadeu Deradeli espera análise da comissão da SAF no conselho deliberativo para que negócio prossiga. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Parte das manifestações contrárias se dão pelo entendimento de que a atual gestão já tem a intenção em fechar com a AlmaViva, no que seria uma segunda tentativa de negócio. Deradeli nega, mas admite considerar esta uma boa proposta. “Aqui a gente vende o almoço para comprar a janta”, diz sobre os gastos do Juventus.

A compra não envolveria o clube social. A direção afirma que já retirou dinheiro dali para investir no futebol. A expectativa da gestão é, mesmo com a venda apenas do futebol, contar com investimentos nas estruturas abertas aos sócios.

Em protesto contra a venda e com acusações de falta de transparência e valores baixos nas negociações, a torcida organizada Setor 2 chegou a deixar de ir a partidas durante a campanha Copa Paulista. O time foi eliminado pelo Taquaritinga, nas oitavas de final. Na Série A2 do Paulistão, a equipe quase conseguiu o acesso, mas caiu diante do Velo Clube, na semifinal.

Juventus quase conseguiu o acesso no centenário e agora vive conflito interno sobre futuro do futebol. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

São Bento negocia venda mais valorizado que Juventus e também mira Série B

O procedimento do Juventus é semelhante o que faz o São Bento. O clube de Sorocaba tornou-se SAF também no final de 2023 e então recebeu propostas para venda.

Os sorocabanos, contudo, esperam R$ 130 milhões para concessões semelhantes às do Juventus, cedendo 90% das ações, além dos valores esperados para investimentos futuros. O grupo interessado no São Bento é o Flash Forward, que reúne os ex-jogadores Zé Roberto e Fransérgio e o empresário Tiago Ribeiro (ex-CEO do Estoril).

As metas esportivas envolvem o acesso à elite do Paulistão em 2025 e chegar à Série B do Campeonato Brasileiro em 2030.

SAF do Botafogo-SP é exemplo de tensão entre empresa e clube

Em Ribeirão Preto, a relação do Botafogo-SP com a empresa que gere a SAF do clube é de turbulência nos bastidores. A gestão comandada por Osvaldo Festucci (de 2019 a 2021) efetivou a transformação da Botafogo SA em SAF. O clube detém 60% da gestão, em sociedade com o empresário Adalberto Baptista.

Entretanto, o conselho aprovou o estudo sobre o rompimento do negócio, após acusações de que a SAF não assumiu dívidas. Por outro lado, a SAF afirma que aceitou pagar todas as dívidas em um processo conciliatório, mas que o clube não se manifestou judicialmente sobre a proposta de acordo.

Negócio do Botafogo-SP envolveu também a cessão do estádio Santa Cruz, que virou Arena Nicnet. Foto: João Victor Menezes de Souza/Agência Botafogo

Festucci esteve em gestão desde abril de 2019 até renunciar em novembro de 2021. O conselho do Botafogo-SP autorizou que o clube entre na justiça contra o ex-mandatário, em busca de indenizações.

A principal acusação é de que Festucci assinou o documento que autorizou a transformação da Botafogo SA em SAF sem comunicar ou ter qualquer autorização dos poderes do clube. O Conselho de Ética já havia decidido pela expulsão de Festucci, que não pode retornar ao quadro de conselheiros em até 10 anos. A reportagem do Estadão tentou contato com o ex-mandatário, mas não obteve retorno. O espaço continua aberto e será atualizado, em caso de manifestação de Festucci.

O conselho do Juventus da Mooca analisa três propostas para a compra da SAF do seu futebol. A transformação para o modelo já avança desde os últimos meses do ano passado, em decisão divergente da assumida em 2022, quando a ideia foi rejeitada. Entretanto, protestos criticaram a condução da direção e motivaram a criação de uma comissão para análise das ofertas. A gestão do presidente Tadeu Deradeli diz ter seguido os ritos necessários e espera celeridade no trabalho de avaliação.

A reportagem do Estadão teve acesso a todas as ofertas, compartilhadas com os conselheiros com dever de sigilo. A expectativa inicial do presidente era que o negócio fosse concretizado até julho de 2024, ano do centenário do clube. No começo de agosto, a definição foi adiada para metade do mês, quando foi criada a comissão.

“É para ontem. Não dá para esperar mais. Querem ver novamente o valuation, mas não podemos esperar muito tempo. Se for fazer ao pé da letra, acho que até diminui o valor”, justifica Deradeli, ao Estadão, falando sobre o aumento da dívida do Juventus.

Estádio da Rua Javari recebe manutenção, com o fim da temporada do time profissional; nos bastidores do clube, o jogo continua quente. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A principal crítica à direção envolve um movimento adiantado do presidente, ainda no ano passado. Ele assinou com uma empresa de assessoria para a SAF, a Way Sports. O acordo foi feito em outubro, um mês antes de ter aprovação de fato para a transformação.

O contrato também previa diagnóstico e plano de estruturação do clube. Do total recebido em um eventual negócio, 6% iria para a Way Sports. A empresa ainda receberia R$ 80 mil pelo serviço de análise e 20% de futuros patrocínios do futebol. Tudo seria pago após a transição do Juventus para SAF e conclusão da venda.

O acordo foi desfeito neste ano. “A coisa estava muito demorada, enrolada”, justificou Deradeli, sobre o distrato, mas também explicou por que a assinatura aconteceu ainda antes da aprovação do conselho para a SAF: “Foi fechado porque a gente precisava de uma empresa que viesse assessorar. O nosso jurídico do é tributário, cível... A lei de SAF é uma coisa nova”.

Como são as propostas para compra da SAF do Juventus?

Das três ofertas recebidas pelo Juventus, todas envolvem a concessão do estádio Rodolfo Crespi e exploração comercial da marca. Uma delas é uma é do grupo italiano AlmavivA, que tentou a compra do futebol do clube em 2022. Na época, foram oferecidos R$ 13 milhões por 90% das ações, o que foi barrado pelo conselho.

A AlmavivA trabalha com serviço e telemarketing e tem no Brasil um dos principais mercados fora da Itália. Também estão interessados na compra da SAF do Juventus: a Total Player, empresa de tecnologia ligada ao futebol, dos irmãos Paulo e Calucho Jamelli; e um consórcio entre o empresário do setor de RH Fernando Medina e a consultoria Outfiled.

Uma quarta oferta ainda chegou ao conselho, mas foi retirada pela empresa interessada. O Estadão apurou que há outro investidor com o desejo de participar da disputa, mas que ainda não apresentou de fato uma proposta.

AlmavivA

  • Compra de 90% das ações da SAF
  • R$ 18 milhões (R$ 9 milhões seriam pagos à vista e R$ 9 milhões em parcelas anuais de R$ 2,25 milhões, sem correção monetária)
  • Do total, destinação exclusiva de R$ 2 milhões para reformas do estádio Conde Rodolfo Crespi
  • Concessão do estádio por 10 anos (renováveis mediante pagamento a ser acordado)
  • Investimento mínimo de R$ 52 milhões no futebol em 10 anos
  • Multa de R$ 10 milhões caso não haja acesso à Série A1 do Paulistão em três anos
  • Acesso gratuito a jogos em casa nos 2 primeiros anos
  • Reconstituição do time feminino
  • Dobrar o investimento na equipe juvenil
  • R$ 100 mil em projetos socioculturais no bairro da Mooca nos primeiros 3 anos
  • Direito de preferência ao Juventus para comprar participação da AlmaVivA em caso de ofertas

Total Player

  • Compra de até 90% das ações da SAF
  • Fase 1: R$ 10 milhões no ato de compra de 30%
  • Do total da fase 1, R$ 2 milhões para o estádio e R$ 2 milhões melhorias no futebol
  • Fase 2: R$ 7 milhões por mais 30%, pagos em 30 meses ou no acesso à Série A1 do Paulistão (o que vier primeiro)
  • Fase 3: R$ 7 milhões por mais 30%, pagos em 60 meses ou no acesso à Série C do Brasileirão (o que vier primeiro)
  • Total: R$ 24 milhões por 90% das ações, mas com 100% da gestão e autonomia
  • Estádio sob concessão total da SAF por 30 anos, prorrogáveis por mais 30, sob pagamento de R$ 45 mil/mês
  • Estimativa de investimento total, incluindo a compra, de R$ 101 milhões em 10 anos

Fernando Medina e Outfiled

  • 90% das ações
  • R$ 16 milhões ao clube pela compra
  • 3 parcelas (R$ 8 milhões no ato; R$ 4 milhões em 24 meses e R$ 4 milhões em 36 meses); segunda e terceiras ajustadas pela Selic
  • R$ 1,8 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série A2 (projetado em 2025)
  • R$ 4,8 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série A1 (projetado em 2027)
  • R$ 9,5 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série C (projetado em 2030)
  • R$ 23,2 mínimo, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série B (projetado em 2032)
  • R$ 7,5 milhões para desenvolvimento da base até 2033
  • R$ 9,5 milhões para CT ou infraestrutura
  • Concessão do futebol profissional e amador
  • Concessão do estádio por 50 anos, renováveis por mais 50, por R$ 40 mil mensais, podendo ser ajustado por índice a ser acordado
  • R$ 101,1 milhões no futebol entre 2025 e 2033
Presidente Tadeu Deradeli espera análise da comissão da SAF no conselho deliberativo para que negócio prossiga. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Parte das manifestações contrárias se dão pelo entendimento de que a atual gestão já tem a intenção em fechar com a AlmaViva, no que seria uma segunda tentativa de negócio. Deradeli nega, mas admite considerar esta uma boa proposta. “Aqui a gente vende o almoço para comprar a janta”, diz sobre os gastos do Juventus.

A compra não envolveria o clube social. A direção afirma que já retirou dinheiro dali para investir no futebol. A expectativa da gestão é, mesmo com a venda apenas do futebol, contar com investimentos nas estruturas abertas aos sócios.

Em protesto contra a venda e com acusações de falta de transparência e valores baixos nas negociações, a torcida organizada Setor 2 chegou a deixar de ir a partidas durante a campanha Copa Paulista. O time foi eliminado pelo Taquaritinga, nas oitavas de final. Na Série A2 do Paulistão, a equipe quase conseguiu o acesso, mas caiu diante do Velo Clube, na semifinal.

Juventus quase conseguiu o acesso no centenário e agora vive conflito interno sobre futuro do futebol. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

São Bento negocia venda mais valorizado que Juventus e também mira Série B

O procedimento do Juventus é semelhante o que faz o São Bento. O clube de Sorocaba tornou-se SAF também no final de 2023 e então recebeu propostas para venda.

Os sorocabanos, contudo, esperam R$ 130 milhões para concessões semelhantes às do Juventus, cedendo 90% das ações, além dos valores esperados para investimentos futuros. O grupo interessado no São Bento é o Flash Forward, que reúne os ex-jogadores Zé Roberto e Fransérgio e o empresário Tiago Ribeiro (ex-CEO do Estoril).

As metas esportivas envolvem o acesso à elite do Paulistão em 2025 e chegar à Série B do Campeonato Brasileiro em 2030.

SAF do Botafogo-SP é exemplo de tensão entre empresa e clube

Em Ribeirão Preto, a relação do Botafogo-SP com a empresa que gere a SAF do clube é de turbulência nos bastidores. A gestão comandada por Osvaldo Festucci (de 2019 a 2021) efetivou a transformação da Botafogo SA em SAF. O clube detém 60% da gestão, em sociedade com o empresário Adalberto Baptista.

Entretanto, o conselho aprovou o estudo sobre o rompimento do negócio, após acusações de que a SAF não assumiu dívidas. Por outro lado, a SAF afirma que aceitou pagar todas as dívidas em um processo conciliatório, mas que o clube não se manifestou judicialmente sobre a proposta de acordo.

Negócio do Botafogo-SP envolveu também a cessão do estádio Santa Cruz, que virou Arena Nicnet. Foto: João Victor Menezes de Souza/Agência Botafogo

Festucci esteve em gestão desde abril de 2019 até renunciar em novembro de 2021. O conselho do Botafogo-SP autorizou que o clube entre na justiça contra o ex-mandatário, em busca de indenizações.

A principal acusação é de que Festucci assinou o documento que autorizou a transformação da Botafogo SA em SAF sem comunicar ou ter qualquer autorização dos poderes do clube. O Conselho de Ética já havia decidido pela expulsão de Festucci, que não pode retornar ao quadro de conselheiros em até 10 anos. A reportagem do Estadão tentou contato com o ex-mandatário, mas não obteve retorno. O espaço continua aberto e será atualizado, em caso de manifestação de Festucci.

O conselho do Juventus da Mooca analisa três propostas para a compra da SAF do seu futebol. A transformação para o modelo já avança desde os últimos meses do ano passado, em decisão divergente da assumida em 2022, quando a ideia foi rejeitada. Entretanto, protestos criticaram a condução da direção e motivaram a criação de uma comissão para análise das ofertas. A gestão do presidente Tadeu Deradeli diz ter seguido os ritos necessários e espera celeridade no trabalho de avaliação.

A reportagem do Estadão teve acesso a todas as ofertas, compartilhadas com os conselheiros com dever de sigilo. A expectativa inicial do presidente era que o negócio fosse concretizado até julho de 2024, ano do centenário do clube. No começo de agosto, a definição foi adiada para metade do mês, quando foi criada a comissão.

“É para ontem. Não dá para esperar mais. Querem ver novamente o valuation, mas não podemos esperar muito tempo. Se for fazer ao pé da letra, acho que até diminui o valor”, justifica Deradeli, ao Estadão, falando sobre o aumento da dívida do Juventus.

Estádio da Rua Javari recebe manutenção, com o fim da temporada do time profissional; nos bastidores do clube, o jogo continua quente. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A principal crítica à direção envolve um movimento adiantado do presidente, ainda no ano passado. Ele assinou com uma empresa de assessoria para a SAF, a Way Sports. O acordo foi feito em outubro, um mês antes de ter aprovação de fato para a transformação.

O contrato também previa diagnóstico e plano de estruturação do clube. Do total recebido em um eventual negócio, 6% iria para a Way Sports. A empresa ainda receberia R$ 80 mil pelo serviço de análise e 20% de futuros patrocínios do futebol. Tudo seria pago após a transição do Juventus para SAF e conclusão da venda.

O acordo foi desfeito neste ano. “A coisa estava muito demorada, enrolada”, justificou Deradeli, sobre o distrato, mas também explicou por que a assinatura aconteceu ainda antes da aprovação do conselho para a SAF: “Foi fechado porque a gente precisava de uma empresa que viesse assessorar. O nosso jurídico do é tributário, cível... A lei de SAF é uma coisa nova”.

Como são as propostas para compra da SAF do Juventus?

Das três ofertas recebidas pelo Juventus, todas envolvem a concessão do estádio Rodolfo Crespi e exploração comercial da marca. Uma delas é uma é do grupo italiano AlmavivA, que tentou a compra do futebol do clube em 2022. Na época, foram oferecidos R$ 13 milhões por 90% das ações, o que foi barrado pelo conselho.

A AlmavivA trabalha com serviço e telemarketing e tem no Brasil um dos principais mercados fora da Itália. Também estão interessados na compra da SAF do Juventus: a Total Player, empresa de tecnologia ligada ao futebol, dos irmãos Paulo e Calucho Jamelli; e um consórcio entre o empresário do setor de RH Fernando Medina e a consultoria Outfiled.

Uma quarta oferta ainda chegou ao conselho, mas foi retirada pela empresa interessada. O Estadão apurou que há outro investidor com o desejo de participar da disputa, mas que ainda não apresentou de fato uma proposta.

AlmavivA

  • Compra de 90% das ações da SAF
  • R$ 18 milhões (R$ 9 milhões seriam pagos à vista e R$ 9 milhões em parcelas anuais de R$ 2,25 milhões, sem correção monetária)
  • Do total, destinação exclusiva de R$ 2 milhões para reformas do estádio Conde Rodolfo Crespi
  • Concessão do estádio por 10 anos (renováveis mediante pagamento a ser acordado)
  • Investimento mínimo de R$ 52 milhões no futebol em 10 anos
  • Multa de R$ 10 milhões caso não haja acesso à Série A1 do Paulistão em três anos
  • Acesso gratuito a jogos em casa nos 2 primeiros anos
  • Reconstituição do time feminino
  • Dobrar o investimento na equipe juvenil
  • R$ 100 mil em projetos socioculturais no bairro da Mooca nos primeiros 3 anos
  • Direito de preferência ao Juventus para comprar participação da AlmaVivA em caso de ofertas

Total Player

  • Compra de até 90% das ações da SAF
  • Fase 1: R$ 10 milhões no ato de compra de 30%
  • Do total da fase 1, R$ 2 milhões para o estádio e R$ 2 milhões melhorias no futebol
  • Fase 2: R$ 7 milhões por mais 30%, pagos em 30 meses ou no acesso à Série A1 do Paulistão (o que vier primeiro)
  • Fase 3: R$ 7 milhões por mais 30%, pagos em 60 meses ou no acesso à Série C do Brasileirão (o que vier primeiro)
  • Total: R$ 24 milhões por 90% das ações, mas com 100% da gestão e autonomia
  • Estádio sob concessão total da SAF por 30 anos, prorrogáveis por mais 30, sob pagamento de R$ 45 mil/mês
  • Estimativa de investimento total, incluindo a compra, de R$ 101 milhões em 10 anos

Fernando Medina e Outfiled

  • 90% das ações
  • R$ 16 milhões ao clube pela compra
  • 3 parcelas (R$ 8 milhões no ato; R$ 4 milhões em 24 meses e R$ 4 milhões em 36 meses); segunda e terceiras ajustadas pela Selic
  • R$ 1,8 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série A2 (projetado em 2025)
  • R$ 4,8 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série A1 (projetado em 2027)
  • R$ 9,5 milhões, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série C (projetado em 2030)
  • R$ 23,2 mínimo, no mínimo, para folha de pagamento anual na Série B (projetado em 2032)
  • R$ 7,5 milhões para desenvolvimento da base até 2033
  • R$ 9,5 milhões para CT ou infraestrutura
  • Concessão do futebol profissional e amador
  • Concessão do estádio por 50 anos, renováveis por mais 50, por R$ 40 mil mensais, podendo ser ajustado por índice a ser acordado
  • R$ 101,1 milhões no futebol entre 2025 e 2033
Presidente Tadeu Deradeli espera análise da comissão da SAF no conselho deliberativo para que negócio prossiga. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Parte das manifestações contrárias se dão pelo entendimento de que a atual gestão já tem a intenção em fechar com a AlmaViva, no que seria uma segunda tentativa de negócio. Deradeli nega, mas admite considerar esta uma boa proposta. “Aqui a gente vende o almoço para comprar a janta”, diz sobre os gastos do Juventus.

A compra não envolveria o clube social. A direção afirma que já retirou dinheiro dali para investir no futebol. A expectativa da gestão é, mesmo com a venda apenas do futebol, contar com investimentos nas estruturas abertas aos sócios.

Em protesto contra a venda e com acusações de falta de transparência e valores baixos nas negociações, a torcida organizada Setor 2 chegou a deixar de ir a partidas durante a campanha Copa Paulista. O time foi eliminado pelo Taquaritinga, nas oitavas de final. Na Série A2 do Paulistão, a equipe quase conseguiu o acesso, mas caiu diante do Velo Clube, na semifinal.

Juventus quase conseguiu o acesso no centenário e agora vive conflito interno sobre futuro do futebol. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

São Bento negocia venda mais valorizado que Juventus e também mira Série B

O procedimento do Juventus é semelhante o que faz o São Bento. O clube de Sorocaba tornou-se SAF também no final de 2023 e então recebeu propostas para venda.

Os sorocabanos, contudo, esperam R$ 130 milhões para concessões semelhantes às do Juventus, cedendo 90% das ações, além dos valores esperados para investimentos futuros. O grupo interessado no São Bento é o Flash Forward, que reúne os ex-jogadores Zé Roberto e Fransérgio e o empresário Tiago Ribeiro (ex-CEO do Estoril).

As metas esportivas envolvem o acesso à elite do Paulistão em 2025 e chegar à Série B do Campeonato Brasileiro em 2030.

SAF do Botafogo-SP é exemplo de tensão entre empresa e clube

Em Ribeirão Preto, a relação do Botafogo-SP com a empresa que gere a SAF do clube é de turbulência nos bastidores. A gestão comandada por Osvaldo Festucci (de 2019 a 2021) efetivou a transformação da Botafogo SA em SAF. O clube detém 60% da gestão, em sociedade com o empresário Adalberto Baptista.

Entretanto, o conselho aprovou o estudo sobre o rompimento do negócio, após acusações de que a SAF não assumiu dívidas. Por outro lado, a SAF afirma que aceitou pagar todas as dívidas em um processo conciliatório, mas que o clube não se manifestou judicialmente sobre a proposta de acordo.

Negócio do Botafogo-SP envolveu também a cessão do estádio Santa Cruz, que virou Arena Nicnet. Foto: João Victor Menezes de Souza/Agência Botafogo

Festucci esteve em gestão desde abril de 2019 até renunciar em novembro de 2021. O conselho do Botafogo-SP autorizou que o clube entre na justiça contra o ex-mandatário, em busca de indenizações.

A principal acusação é de que Festucci assinou o documento que autorizou a transformação da Botafogo SA em SAF sem comunicar ou ter qualquer autorização dos poderes do clube. O Conselho de Ética já havia decidido pela expulsão de Festucci, que não pode retornar ao quadro de conselheiros em até 10 anos. A reportagem do Estadão tentou contato com o ex-mandatário, mas não obteve retorno. O espaço continua aberto e será atualizado, em caso de manifestação de Festucci.

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