O Corinthians já gastou mais de R$ 180 milhões com contratações para reforçar a equipe profissional neste ano, mesmo após ter começado 2024 com uma dívida de R$ 1,6 bilhão – que contabiliza os valores da Neo Química Arena. Atualmente, os valores estão na casa dos R$ 2,1 bilhões. Além disso, o Cuiabá entrou com a ação na Justiça nesta semana após o clube não pagar os valores relativos ao volante Raniele. Como explicar, então, como a gestão de Augusto Melo consegue reforçar o elenco, em meio à situação financeira desfavorável?
Em levantamento, o Corinthians já trouxe 19 jogadores neste ano, sendo que 12 destes somaram para um custo aproximado de R$ 182 milhões – valor que não considera os gastos com salários e luvas e já convertido de euro para real. Na maioria destes casos, como no de Raniele, a negociação envolve um parcelamento, para que o clube consiga arcar com os custos, ao mesmo tempo que lida com as demais despesas e amortiza suas dívidas.
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No caso do Cuiabá, o Corinthians acertou o pagamento em três parcelas, além da entrada, até julho de 2025. Em agosto deste ano, a primeira venceu e fez com que o Cuiabá cobrasse o clube na Justiça. “A prestação de janeiro foi paga dias antes do início do Campeonato Paulista porque senão o Cuiabá não liberaria o registro no Boletim Informativo Diário da CBF. Infelizmente, a gente já previa que teria problemas com o Corinthians, até por isso colocamos uma cláusula com multa de 30% do valor total se houvesse atraso, além da antecipação de todas as parcelas a vencer”, afirmou Cristiano Dresch, presidente do time mato-grossense.
“O Clube reconhece que existe parte do valor cobrado em atraso, porém busca a regularização o mais breve possível”, afirmou o time alvinegro, em nota enviada ao Estadão.
A tática de parcelamento é utilizada pelo Corinthians – e pela maioria dos clubes do mundo – também em outros casos, como de Matheuzinho, contratado junto ao Flamengo, e Rodrigo Garro, ex-Talleres. Tanto o clube rubro-negro quanto o argentino tiveram atrasos para receber a quantia devida pela venda de seus ativos.
- Rodrigo Garro: R$ 38,7 milhões
- Félix Torres: R$ 35,6 milhões
- Pedro Raul: R$ 27,4 milhões
- Matheuzinho: R$ 24,4 milhões
- Alex Santana: R$ 15,3 milhões
- Raniele: R$ 13,5 milhões
- José Martínez: R$ 10,9 milhões
- Charles: R$ 9,8 milhões
- Talles Magno: R$ 8,2 milhões (empréstimo)
- Maycon: R$ 2,7 milhões (empréstimo)
- Pedro Henrique: R$ 2 milhões
- Hugo Souza: R$ 1,2 milhão (empréstimo)
José Martínez, ex-Philadelphia Union, ainda não foi anunciado oficialmente pelo clube, mas já acompanhou partida da equipe na Neo Química Arena
Na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, o time de Ramon Díaz se vê ‘obrigado’ a reforçar o elenco, para atingir as metas esportivas previstas no orçamento para 2024, aprovado em abril após revisão. Depois de se destacar e garantir a classificação do Corinthians, nos pênaltis, contra Grêmio (na Copa do Brasil) e Red Bull Bragantino (Copa Sul-Americana), Hugo Souza é um dos atletas que já está na mira do clube.
Em julho, o Corinthians pagou 200 mil euros (cerca de R$ 1,2 milhão) para contar com o jogador por empréstimo até o fim do ano. Caso deseje estender o vínculo, será preciso desembolsar ao Flamengo mais 800 mil euros (R$ 4,8 milhões) para contar com o jogador em definitivo. No entanto, o clube só poderá ativar esta cláusula de compra a partir do dia 1º de outubro, segundo acordo com o clube rubro-negro.
O planejamento financeiro do Corinthians para este ano previa um superávit de R$ 17,6 milhões no resultado financeiro líquido. O Corinthians ainda está vivo nas disputas da Copa do Brasil e Sul-Americana, inclusive já tendo superado as metas traçadas para estas competições (oitavas de final). O clube ainda previu um 7º lugar no Campeonato Brasileiro, que está distante do planejado.
A previsão de despesas com futebol profissional neste ano foi de R$ 251,1 milhões. Dos R$ 182 milhões com contratações, no entanto, nem todos estão considerados já no orçamento, já que o Corinthians parcelou a maior parte dessas dívidas com os clubes vendedores.
“Corinthians gera muita receita, seus custos nem são tão elevados, mas suas dívidas são caras e acima do ideal em termos de capacidade de pagamento. Um clube nessa situação não pode contratar atletas caros, nem mesmo pensar em contratá-los. E é fundamental reestruturar os passivos da arena, com alternativas de mercado, como venda de parte do negócio para um fundo imobiliário”, aponta o economista César Grafietti sobre os caminhos a serem tomados pelo clube alvinegro.
Para conquistar o superávit ao final do ano, essas metas são importantes em função dos direitos de TV, premiações e publicidade que o clube receberia ao passar das fases; no caso do Brasileirão, a CBF divide o montante das transmissões de acordo com a posição final na tabela.
Ressalta-se também a Esportes da Sorte, novo patrocinador máster do clube por três anos. O Corinthians vai receber R$ 56,5 milhões fixos neste primeiro ano. Em 2025, o valor sobe para R$ 66,5 milhões, e em 2026, vai a R$ 90 milhões. Outros R$ 57 milhões serão reservados para a contratação de um jogador, que podem ser ‘adiantados’ a qualquer momento da duração do contrato. Nenhum atleta que o clube comprou nesta temporada custou mais de R$ 40 milhões aos cofres do clube.
Não há ainda um modelo de fair play financeiro em vigor no Brasil, que regule os gastos dos clubes com salários e contratações. No entanto, a nova Lei Geral do Esporte impõe a criação de um fair play financeiro para a CBF e quaisquer outras ligas do País, conforme consta nos artigos 187 e 188 da Lei.
- Art. 187. As organizações esportivas promoverão a prática esportiva com base em padrões éticos e morais que garantam o fair play ou jogo limpo nas competições.
- Art. 188. Cada organização esportiva de abrangência nacional que administra e regula a respectiva modalidade esportiva deverá criar regulamento de fair play financeiro aplicável no âmbito das competições que promover e ao qual se submeterão as organizações esportivas associadas ou filiadas.
Augusto Melo esteve sob pressão do Conselho Deliberativo do Corinthians na última semana, e foi convocado à Comissão de Ética para prestar esclarecimentos sobre investigações relativas a possíveis irregularidades estatuárias praticadas pela atual gestão. O principal ponto levantado é o inquérito policial aberto para investigar a intermediação do contrato do clube com a ex-patrocinadora Vai de Bet.
Os contratos do clube com jogadores não estiveram sob análise do Conselho. Na gestão Duílio Monteiro Alves, o clube acumulou dívidas com o empresário André Cury, que agencia atletas como Carlos Miguel, Wesley, Yuri Alberto, Pedro Raul, Biro e Giovane. Ele cobra cerca de R$ 23 milhões na Justiça.