De um ano em que Corinthians e Flamengo começaram com uma boa relação nos bastidores, as equipes se enfrentam às 16h, na Neo Química Arena, no pior momento entre as diretorias, com clima bélico na arquibancada e dentro das quatro linhas. Após a vitória do time paulista sobre o Athletico-PR na quinta-feira, pelo Brasileirão, os corintianos que compareceram à Arena em Itaquera foram categóricos: “Domingo é guerra”.
Além da decisão por uma vaga à final da Copa do Brasil, o cântico evidencia a ruptura das relações entre os clubes ao longo de 2024. No início da temporada, Rubão, então diretor do Corinthians, e Marcos Braz, vice-presidente de futebol do Flamengo, conversaram como amigos no início do trabalho da gestão Augusto Melo. O dirigente flamenguista esteve presente na cerimônia de posse em janeiro.
À época, os clubes conversaram sobre uma possível transferência de Gabigol, um desejo de Augusto e da nova diretoria corintiana, que substituiu Duílio Monteiro Alves à frente do clube. “É um grande jogador, tem a cara do Corinthians, como outros grandes jogadores que estamos monitorando, que têm essa personalidade, que é o que quero. Eu quero trazer a identidade do Corinthians de volta, aquele time aguerrido, atletas com personalidade forte”, disse o presidente corintiano em dezembro, durante participação no programa “Apito Final”, da TV Bandeirantes.
Gabigol era o principal alvo da janela de transferências e o mandatário corintiano chegou a receber Marcos Braz, vice-presidente de futebol do Flamengo, para negociar o jogador A diretoria rubro-negra, porém, bateu o pé e decidiu não vender o atleta, mesmo correndo o risco de perdê-lo de graça ao final da temporada, já que o atacante ainda não renovou e tem contrato somente até o final deste ano. Foi o primeiro momento de crise entre as partes.
Em maio, Gabigol chegou a aparecer vestindo a camisa do Corinthians em uma foto vazada de uma confraternização com amigos na casa do atacante. A polêmica, somado às falas de Augusto à imprensa sobre Gabigol, acabou por ruir de vez a relação entre corintianos e flamenguistas.
Caso Matheuzinho
Outro momento de crise se deu durante a contratação de Matheuzinho. Antes de chegar ao Corinthians por empréstimo, como era o desejo da diretoria, o lateral-direito treinou com o elenco corintiano no CT Joaquim Grava mesmo mantendo o vínculo com o Flamengo. Em um primeiro momento, a negociação esfriou e fez com que o jogador tivesse de retornar ao Rio para cumprir o contrato.
O Corinthians não aceitou as exigências impostas pelo Flamengo para selar o empréstimo. A compra em definitivo do jogador não estava sendo negociada até aquele momento. Os pontos de divergência foram:
- Nenhuma taxa de vitrine – o Corinthians propôs 20%.
- Valor de compra pré-fixado em 11 milhões de euros.
- Cláusula de retorno imediato.
O Corinthians conseguiu retomar a negociação posteriormente, fechando a compra de 60% dos direitos econômicos de Matheuzinho por 4 milhões de euros (cerca de R$ 24 milhões à época). Os paulistas atrasaram o pagamento de parcelas, fazendo com que o rival se irritasse e perdesse a confiança em futuras negociações.
“Domingo é guerra, assim como a torcida falou. É um jogo muito importante que pode levar a gente pra uma final de um campeonato muito importante. Tem um gosto especial jogar contra o Flamengo, foi o time que me abriu as portas para o futebol brasileiro da Série A”, disse Matheuzinho nesta quinta. Ele marcou um dos gols na vitória por 5 a 2 sobre o Athletico-PR.
Caso Hugo Souza
O caso Matheuzinho faz o Flamengo não concordar com os termos para a liberação em definitivo de Hugo Souza. O goleiro de 25 anos foi contratado pelo Corinthians em julho por empréstimo até o final do ano. O Corinthians exerceu a opção de compra a partir da data estipulada no contrato, mas brecou o avanço da negociação por não aceitar o contrato do clube paulista com a Brax como garantia de pagamento. Isso porque o documento é exatamente o mesmo utilizado na negociação por Matheuzinho, cujos depósitos atrasaram.
Para efetuar o empréstimo de Hugo Souza, o Corinthians desembolsou 200 mil euros (R$ 1,19 milhão). Agora, para contratar o goleiro em definitivo, será necessário mais 800 mil euros (R$ 4,85 milhões aproximadamente). O contrato prevê o pagamento em quatro parcelas até 2026. Braz falou publicamente sobre a divergência no lançamento da candidatura de Rodrigo Dunshee à presidência .
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“Tá faltando o pagamento. Tá faltando o dinheiro. O que eu posso falar é que hoje (segunda-feira) a gente não tem a situação resolvida. (Acho) que vai ser resolvido, não tem problema nenhum. Agora, hoje, o que eu posso te falar é que no domingo, se ele jogar de novo, mais R$ 500 mil (terão de ser pagos)”, afirmou Braz. O jogo deste domingo será o terceiro em que o Corinthians precisará arcar com uma multa para utilizar o goleiro.
Julgamentos no STJD
Além das arrastadas negociações envolvendo jogadores, o ponto mais baixo da relação entre os clubes em 2024 se deu nos bastidores. Se Corinthians e Flamengo vão subir ao gramado neste domingo, 20, é porque o rubro-negro carioca solicitou à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para que o segundo jogo da semifinal fosse adiado, em vez de ser realizado na data original, em 17 de outubro.
O Flamengo entendeu que seria prejudicado pela Data Fifa (que se encerrou no último dia 15) e não teria todos os seus jogadores em perfeitas condições para o duelo. Corinthians reclamou da decisão e, junto com o Vasco, que também teve a data de seu duelo com o Atlético-MG na semifinal da Copa do Brasil alterado, entrou com ação no STJD. O tribunal deu ganho de causa à CBF, garantindo que a entidade tem o direito de alterar as datas, caso entenda que seja necessário.
Na sexta-feira, 18, o STJD também aplicou uma série de punição a jogadores e dirigentes de ambos os clubes por causa da briga generalizada ocorrida na vitória dos paulistas, por 2 a 1, em 1º de setembro, na Neo Química Arena, pela 25ª rodada do Brasileirão. Carlos Alcaraz pegou quatro partidas de suspensão, enquanto Yuri ALberto e Cacá, duas. Os paulistas receberam uma multa de R$ 13 mil, enquanto os cariocas tiveram de pagar R$ 8 mil.