Crise impede retenção de talentos brasileiros, comprados cada vez mais jovens pelos europeus


Saída de jogadores cada vez mais novos para o exterior é uma tendência, mas não irreversível, apontam especialistas

Por Ricardo Magatti
Atualização:

As vendas de jovens atletas por parte de clubes brasileiros para europeus, motivadas, sobretudo, pela necessidade dos clubes de pagar as contas e aliviar a crise financeira, se repetem com força no Brasil e a sinalização é de que não haverá mudanças no futuro. Esse movimento impede a retenção dos talentos e é um obstáculo para o fortalecimento do futebol brasileiro, que se organiza, com lentidão, para formar uma liga independente da CBF.

O Brasil, entendem os especialistas ouvidos pelo Estadão, é e continuará sendo o principal exportador de talentos. Os clubes do País revelam “pé de obra” de qualidade, mas não conseguem mantê-los por muito tempo porque dependem do dinheiro das negociações para equilibrar o orçamento.

Muitos jovens, inclusive, nem terminam seu desenvolvimento no clube que o formou, uma tendência reforçada nos últimos anos. O Real Madrid, por exemplo, comprou Vinicius Junior e Rodrygo quando eles ainda eram menores de idade. Ao completar 18 anos, idade mínima para deixar o País, os atacantes se mudaram para a Espanha, ainda longe de alcançar o ápice técnico.

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“Os europeus dão continuidade ao desenvolvimento dos jovens lá. Muitas vezes, compram e preparam o atleta. Às vezes emprestam para o time B, da segunda divisão, para ganhar experiência. Eles vêm com um objetivo já definido. É por isso que têm muitos olheiros. Esses caras tentam encontrar o timing certo de levar nosso ‘Mickey’, nossa ‘Minnie’, nossos grandes atrativos”, salienta Fábio Wolff, sócio da Wolff Sports, agência de marketing esportivo que mais fecha contratos de patrocínio em esportes no Brasil.

Lázaro deixou o Flamengo e acertou com o Almería Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Wolff cuida desde janeiro deste ano da gestão da imagem de Endrick, fenômeno da base palmeirense. O atacante, precoce em campo e fora dele, com decisões e postura incomuns para um garoto de 16 anos, ainda nem estreou no profissional do Palmeiras, mas já gera interesse de gigantes europeus, como Real Madrid e Barcelona. “Existe a chance. Quando vem muito dinheiro é difícil segurar”, diz Wolff.

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Talentos brasileiros no exterior

Na última janela de transferências, o Palmeiras negociou Gabriel Veron com o Porto, de Portugal, por 10 milhões de euros, o Flamengo recebeu 7,5 milhões de euros do Almería pela venda de Lázaro, o Atlético Mineiro mandou Savinho para o Troyes, da França, ao custo de 6 milhões de euros - o time francês emprestou posteriormente o atacante para o PSV, da Holanda - e o São Paulo aceitou a proposta do Arsenal de 3,5 milhões de euros por Marquinhos. Nenhum desses jovens tem mais do que 20 anos. Savinho fez menos de 30 jogos entre os profissionais do Atlético.

“Estamos vendendo nossa matéria-prima muito cedo. Temos que valorizar nosso futebol e melhorar a estrutura. A estrutura do Pais e do futebol é ruim”, contesta o técnico Vanderlei Luxemburgo. Acostumado a trabalhar com a base, o veterano treinador subiu 12 jogadores para o profissional do Palmeiras, penúltimo clube de sua carreira, e trabalhou brevemente com Vitor Roque no Cruzeiro.

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“Além do mais, o jogador também quer ter uma experiência nas grandes ligas europeias, por isso essa é uma rota sem fim”, afirma o advogado Eduardo Carlezzo, sócio do Carlezzo Advogados, escritório de advocacia responsável por fazer algumas transferências de atletas sul-americanos, como, Eduardo Vargas (Tigres para Atlético Mineiro), Benjamin Kuscevic (Universidad Católica para Palmeiras) e, recentemente, Soteldo (Tigres para Santos).

Outros fatores para além da necessidade de aumentar o faturamento reduzir os passivos compõem a decisão de vender um jogador muitas vezes antes de ele concluir seu desenvolvimento. A desvalorização do real frente ao euro e à libra e o desejo do atleta de jogar na Europa também fazem a diferença nesse movimento.

“O que acontece é que o atleta começa a performar, surgem especulações de que times de fora querem levá-lo, aí tudo isso mexe com a cabeça dele e começa a aparecer a vontade de ir embora”, diz Marcelo Vilhena, coordenador das categorias de base do São Paulo.

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Para Vilhena, as saídas precoces são uma tendência, mas não um processo irreversível. “Isso também varia de clube para clube. Há clubes com a política de vender os seus atletas de forma mais precoce, mas há outros que preferem e podem segurar um pouco mais. Creio que seja algo muito particular, de clube para clube”, considera.

Savinho, cria do Atlético-MG, rumou ao PSV, da Holanda Foto: PSV

Há, em algumas situações, a frustração de torcedores ao ver atletas de seus times saindo antes de consolidar sua performance esportiva. Isto é, existe o retorno financeiro, mas não esportivo em muitos casos.

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Existe, em outros casos, a impressão de que o valor da venda não é o ideal. Isso ocorreu na negociação de Veron, ao passo que a presidente do Palmeiras, Leila Pereira foi muito cobrada porque houve o entendimento de que era possível faturar mais com o atacante de 19 anos, uma das principais revelações do clube nos últimos anos.

“Digo que cada clube precisa saber muito bem ‘onde é que aperta o calo’. É importante que essas vendas, quando aconteçam, atendam minimamente os anseios econômicos e financeiros dos clubes. Obviamente que sempre é melhor ter o retorno técnico inicial para depois ter o retorno financeiro, mas nem sempre isso é possível”, argumenta Júnior Chávare, diretor executivo de base com passagens por Grêmio, São Paulo, Atlético-MG e Bahia.

“Creio que o ideal é o clube tentar se proteger e amarrar bem o negócio. O ideal é manter uma porcentagem do atleta ou alguma coisa que lhe permita receber uma compensação em caso de êxito do atleta no exterior”, analisa o coordenador da base são-paulina, citando o caso de Antony, vendido pelo Ajax ao Manchester United por 100 milhões de euros. A transação renderá quase R$ 100 milhões ao São Paulo, clube formador do atacante.

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Valorização da base

Nesse cenário, investir na base tem sido o melhor caminho para as agremiações brasileiras. Fortalecer as categorias inferiores garante negociações vultosas e retorno esportivo em muitos casos. Clubes com maior poder financeiro costumam manter seus jogadores por mais tempo, a fim de que os ganhos técnicos reflitam em títulos e, consequentemente, em vendas maiores.

Presidente do Internacional, tradicionalmente conhecido por ser um clube revelador, Alessandro Barcellos faz a avaliação de que existe potencial para aumentar o volume de jovens que possam estar em grandes times europeus.

“Eu acredito que as categorias de base do Brasil em geral são de excelência, tanto que revelamos muitos jovens. É verdade que pode ser aperfeiçoado, mas esse é um trabalho contínuo e vários clubes têm melhorado muito a sua performance”.

Endrick é a maior promessa do futebol brasileiro no momento Foto: Werther Santana/Estadão

O Palmeiras, por exemplo, começou a reformular suas categorias de base em 2015, com um investimentos altos, parte de um projeto ambicioso, e colhe frutos com as transações de Gabriel Jesus, Gabriel Veron e Patrick de Paula (este para o Botafogo). A saída de Danilo para a Europa também é iminente. E Endrick, no futuro, certamente renderá um valor expressivo.

“Os clubes passaram cada vez mais a entender que base é investimento e não despesa”, reforça Júnior Chávare. “Eu não vejo, na América do Sul, nenhum país que tenha tanta qualidade e quantidade a agregada quanto o nosso. Vemos até clubes que nem disputam alguma divisão com centro de treinamento de alta qualidade e trabalhos com metodologias muito bem definidas”, justifica.

As vendas de jovens atletas por parte de clubes brasileiros para europeus, motivadas, sobretudo, pela necessidade dos clubes de pagar as contas e aliviar a crise financeira, se repetem com força no Brasil e a sinalização é de que não haverá mudanças no futuro. Esse movimento impede a retenção dos talentos e é um obstáculo para o fortalecimento do futebol brasileiro, que se organiza, com lentidão, para formar uma liga independente da CBF.

O Brasil, entendem os especialistas ouvidos pelo Estadão, é e continuará sendo o principal exportador de talentos. Os clubes do País revelam “pé de obra” de qualidade, mas não conseguem mantê-los por muito tempo porque dependem do dinheiro das negociações para equilibrar o orçamento.

Muitos jovens, inclusive, nem terminam seu desenvolvimento no clube que o formou, uma tendência reforçada nos últimos anos. O Real Madrid, por exemplo, comprou Vinicius Junior e Rodrygo quando eles ainda eram menores de idade. Ao completar 18 anos, idade mínima para deixar o País, os atacantes se mudaram para a Espanha, ainda longe de alcançar o ápice técnico.

“Os europeus dão continuidade ao desenvolvimento dos jovens lá. Muitas vezes, compram e preparam o atleta. Às vezes emprestam para o time B, da segunda divisão, para ganhar experiência. Eles vêm com um objetivo já definido. É por isso que têm muitos olheiros. Esses caras tentam encontrar o timing certo de levar nosso ‘Mickey’, nossa ‘Minnie’, nossos grandes atrativos”, salienta Fábio Wolff, sócio da Wolff Sports, agência de marketing esportivo que mais fecha contratos de patrocínio em esportes no Brasil.

Lázaro deixou o Flamengo e acertou com o Almería Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Wolff cuida desde janeiro deste ano da gestão da imagem de Endrick, fenômeno da base palmeirense. O atacante, precoce em campo e fora dele, com decisões e postura incomuns para um garoto de 16 anos, ainda nem estreou no profissional do Palmeiras, mas já gera interesse de gigantes europeus, como Real Madrid e Barcelona. “Existe a chance. Quando vem muito dinheiro é difícil segurar”, diz Wolff.

Talentos brasileiros no exterior

Na última janela de transferências, o Palmeiras negociou Gabriel Veron com o Porto, de Portugal, por 10 milhões de euros, o Flamengo recebeu 7,5 milhões de euros do Almería pela venda de Lázaro, o Atlético Mineiro mandou Savinho para o Troyes, da França, ao custo de 6 milhões de euros - o time francês emprestou posteriormente o atacante para o PSV, da Holanda - e o São Paulo aceitou a proposta do Arsenal de 3,5 milhões de euros por Marquinhos. Nenhum desses jovens tem mais do que 20 anos. Savinho fez menos de 30 jogos entre os profissionais do Atlético.

“Estamos vendendo nossa matéria-prima muito cedo. Temos que valorizar nosso futebol e melhorar a estrutura. A estrutura do Pais e do futebol é ruim”, contesta o técnico Vanderlei Luxemburgo. Acostumado a trabalhar com a base, o veterano treinador subiu 12 jogadores para o profissional do Palmeiras, penúltimo clube de sua carreira, e trabalhou brevemente com Vitor Roque no Cruzeiro.

“Além do mais, o jogador também quer ter uma experiência nas grandes ligas europeias, por isso essa é uma rota sem fim”, afirma o advogado Eduardo Carlezzo, sócio do Carlezzo Advogados, escritório de advocacia responsável por fazer algumas transferências de atletas sul-americanos, como, Eduardo Vargas (Tigres para Atlético Mineiro), Benjamin Kuscevic (Universidad Católica para Palmeiras) e, recentemente, Soteldo (Tigres para Santos).

Outros fatores para além da necessidade de aumentar o faturamento reduzir os passivos compõem a decisão de vender um jogador muitas vezes antes de ele concluir seu desenvolvimento. A desvalorização do real frente ao euro e à libra e o desejo do atleta de jogar na Europa também fazem a diferença nesse movimento.

“O que acontece é que o atleta começa a performar, surgem especulações de que times de fora querem levá-lo, aí tudo isso mexe com a cabeça dele e começa a aparecer a vontade de ir embora”, diz Marcelo Vilhena, coordenador das categorias de base do São Paulo.

Para Vilhena, as saídas precoces são uma tendência, mas não um processo irreversível. “Isso também varia de clube para clube. Há clubes com a política de vender os seus atletas de forma mais precoce, mas há outros que preferem e podem segurar um pouco mais. Creio que seja algo muito particular, de clube para clube”, considera.

Savinho, cria do Atlético-MG, rumou ao PSV, da Holanda Foto: PSV

Há, em algumas situações, a frustração de torcedores ao ver atletas de seus times saindo antes de consolidar sua performance esportiva. Isto é, existe o retorno financeiro, mas não esportivo em muitos casos.

Existe, em outros casos, a impressão de que o valor da venda não é o ideal. Isso ocorreu na negociação de Veron, ao passo que a presidente do Palmeiras, Leila Pereira foi muito cobrada porque houve o entendimento de que era possível faturar mais com o atacante de 19 anos, uma das principais revelações do clube nos últimos anos.

“Digo que cada clube precisa saber muito bem ‘onde é que aperta o calo’. É importante que essas vendas, quando aconteçam, atendam minimamente os anseios econômicos e financeiros dos clubes. Obviamente que sempre é melhor ter o retorno técnico inicial para depois ter o retorno financeiro, mas nem sempre isso é possível”, argumenta Júnior Chávare, diretor executivo de base com passagens por Grêmio, São Paulo, Atlético-MG e Bahia.

“Creio que o ideal é o clube tentar se proteger e amarrar bem o negócio. O ideal é manter uma porcentagem do atleta ou alguma coisa que lhe permita receber uma compensação em caso de êxito do atleta no exterior”, analisa o coordenador da base são-paulina, citando o caso de Antony, vendido pelo Ajax ao Manchester United por 100 milhões de euros. A transação renderá quase R$ 100 milhões ao São Paulo, clube formador do atacante.

Valorização da base

Nesse cenário, investir na base tem sido o melhor caminho para as agremiações brasileiras. Fortalecer as categorias inferiores garante negociações vultosas e retorno esportivo em muitos casos. Clubes com maior poder financeiro costumam manter seus jogadores por mais tempo, a fim de que os ganhos técnicos reflitam em títulos e, consequentemente, em vendas maiores.

Presidente do Internacional, tradicionalmente conhecido por ser um clube revelador, Alessandro Barcellos faz a avaliação de que existe potencial para aumentar o volume de jovens que possam estar em grandes times europeus.

“Eu acredito que as categorias de base do Brasil em geral são de excelência, tanto que revelamos muitos jovens. É verdade que pode ser aperfeiçoado, mas esse é um trabalho contínuo e vários clubes têm melhorado muito a sua performance”.

Endrick é a maior promessa do futebol brasileiro no momento Foto: Werther Santana/Estadão

O Palmeiras, por exemplo, começou a reformular suas categorias de base em 2015, com um investimentos altos, parte de um projeto ambicioso, e colhe frutos com as transações de Gabriel Jesus, Gabriel Veron e Patrick de Paula (este para o Botafogo). A saída de Danilo para a Europa também é iminente. E Endrick, no futuro, certamente renderá um valor expressivo.

“Os clubes passaram cada vez mais a entender que base é investimento e não despesa”, reforça Júnior Chávare. “Eu não vejo, na América do Sul, nenhum país que tenha tanta qualidade e quantidade a agregada quanto o nosso. Vemos até clubes que nem disputam alguma divisão com centro de treinamento de alta qualidade e trabalhos com metodologias muito bem definidas”, justifica.

As vendas de jovens atletas por parte de clubes brasileiros para europeus, motivadas, sobretudo, pela necessidade dos clubes de pagar as contas e aliviar a crise financeira, se repetem com força no Brasil e a sinalização é de que não haverá mudanças no futuro. Esse movimento impede a retenção dos talentos e é um obstáculo para o fortalecimento do futebol brasileiro, que se organiza, com lentidão, para formar uma liga independente da CBF.

O Brasil, entendem os especialistas ouvidos pelo Estadão, é e continuará sendo o principal exportador de talentos. Os clubes do País revelam “pé de obra” de qualidade, mas não conseguem mantê-los por muito tempo porque dependem do dinheiro das negociações para equilibrar o orçamento.

Muitos jovens, inclusive, nem terminam seu desenvolvimento no clube que o formou, uma tendência reforçada nos últimos anos. O Real Madrid, por exemplo, comprou Vinicius Junior e Rodrygo quando eles ainda eram menores de idade. Ao completar 18 anos, idade mínima para deixar o País, os atacantes se mudaram para a Espanha, ainda longe de alcançar o ápice técnico.

“Os europeus dão continuidade ao desenvolvimento dos jovens lá. Muitas vezes, compram e preparam o atleta. Às vezes emprestam para o time B, da segunda divisão, para ganhar experiência. Eles vêm com um objetivo já definido. É por isso que têm muitos olheiros. Esses caras tentam encontrar o timing certo de levar nosso ‘Mickey’, nossa ‘Minnie’, nossos grandes atrativos”, salienta Fábio Wolff, sócio da Wolff Sports, agência de marketing esportivo que mais fecha contratos de patrocínio em esportes no Brasil.

Lázaro deixou o Flamengo e acertou com o Almería Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Wolff cuida desde janeiro deste ano da gestão da imagem de Endrick, fenômeno da base palmeirense. O atacante, precoce em campo e fora dele, com decisões e postura incomuns para um garoto de 16 anos, ainda nem estreou no profissional do Palmeiras, mas já gera interesse de gigantes europeus, como Real Madrid e Barcelona. “Existe a chance. Quando vem muito dinheiro é difícil segurar”, diz Wolff.

Talentos brasileiros no exterior

Na última janela de transferências, o Palmeiras negociou Gabriel Veron com o Porto, de Portugal, por 10 milhões de euros, o Flamengo recebeu 7,5 milhões de euros do Almería pela venda de Lázaro, o Atlético Mineiro mandou Savinho para o Troyes, da França, ao custo de 6 milhões de euros - o time francês emprestou posteriormente o atacante para o PSV, da Holanda - e o São Paulo aceitou a proposta do Arsenal de 3,5 milhões de euros por Marquinhos. Nenhum desses jovens tem mais do que 20 anos. Savinho fez menos de 30 jogos entre os profissionais do Atlético.

“Estamos vendendo nossa matéria-prima muito cedo. Temos que valorizar nosso futebol e melhorar a estrutura. A estrutura do Pais e do futebol é ruim”, contesta o técnico Vanderlei Luxemburgo. Acostumado a trabalhar com a base, o veterano treinador subiu 12 jogadores para o profissional do Palmeiras, penúltimo clube de sua carreira, e trabalhou brevemente com Vitor Roque no Cruzeiro.

“Além do mais, o jogador também quer ter uma experiência nas grandes ligas europeias, por isso essa é uma rota sem fim”, afirma o advogado Eduardo Carlezzo, sócio do Carlezzo Advogados, escritório de advocacia responsável por fazer algumas transferências de atletas sul-americanos, como, Eduardo Vargas (Tigres para Atlético Mineiro), Benjamin Kuscevic (Universidad Católica para Palmeiras) e, recentemente, Soteldo (Tigres para Santos).

Outros fatores para além da necessidade de aumentar o faturamento reduzir os passivos compõem a decisão de vender um jogador muitas vezes antes de ele concluir seu desenvolvimento. A desvalorização do real frente ao euro e à libra e o desejo do atleta de jogar na Europa também fazem a diferença nesse movimento.

“O que acontece é que o atleta começa a performar, surgem especulações de que times de fora querem levá-lo, aí tudo isso mexe com a cabeça dele e começa a aparecer a vontade de ir embora”, diz Marcelo Vilhena, coordenador das categorias de base do São Paulo.

Para Vilhena, as saídas precoces são uma tendência, mas não um processo irreversível. “Isso também varia de clube para clube. Há clubes com a política de vender os seus atletas de forma mais precoce, mas há outros que preferem e podem segurar um pouco mais. Creio que seja algo muito particular, de clube para clube”, considera.

Savinho, cria do Atlético-MG, rumou ao PSV, da Holanda Foto: PSV

Há, em algumas situações, a frustração de torcedores ao ver atletas de seus times saindo antes de consolidar sua performance esportiva. Isto é, existe o retorno financeiro, mas não esportivo em muitos casos.

Existe, em outros casos, a impressão de que o valor da venda não é o ideal. Isso ocorreu na negociação de Veron, ao passo que a presidente do Palmeiras, Leila Pereira foi muito cobrada porque houve o entendimento de que era possível faturar mais com o atacante de 19 anos, uma das principais revelações do clube nos últimos anos.

“Digo que cada clube precisa saber muito bem ‘onde é que aperta o calo’. É importante que essas vendas, quando aconteçam, atendam minimamente os anseios econômicos e financeiros dos clubes. Obviamente que sempre é melhor ter o retorno técnico inicial para depois ter o retorno financeiro, mas nem sempre isso é possível”, argumenta Júnior Chávare, diretor executivo de base com passagens por Grêmio, São Paulo, Atlético-MG e Bahia.

“Creio que o ideal é o clube tentar se proteger e amarrar bem o negócio. O ideal é manter uma porcentagem do atleta ou alguma coisa que lhe permita receber uma compensação em caso de êxito do atleta no exterior”, analisa o coordenador da base são-paulina, citando o caso de Antony, vendido pelo Ajax ao Manchester United por 100 milhões de euros. A transação renderá quase R$ 100 milhões ao São Paulo, clube formador do atacante.

Valorização da base

Nesse cenário, investir na base tem sido o melhor caminho para as agremiações brasileiras. Fortalecer as categorias inferiores garante negociações vultosas e retorno esportivo em muitos casos. Clubes com maior poder financeiro costumam manter seus jogadores por mais tempo, a fim de que os ganhos técnicos reflitam em títulos e, consequentemente, em vendas maiores.

Presidente do Internacional, tradicionalmente conhecido por ser um clube revelador, Alessandro Barcellos faz a avaliação de que existe potencial para aumentar o volume de jovens que possam estar em grandes times europeus.

“Eu acredito que as categorias de base do Brasil em geral são de excelência, tanto que revelamos muitos jovens. É verdade que pode ser aperfeiçoado, mas esse é um trabalho contínuo e vários clubes têm melhorado muito a sua performance”.

Endrick é a maior promessa do futebol brasileiro no momento Foto: Werther Santana/Estadão

O Palmeiras, por exemplo, começou a reformular suas categorias de base em 2015, com um investimentos altos, parte de um projeto ambicioso, e colhe frutos com as transações de Gabriel Jesus, Gabriel Veron e Patrick de Paula (este para o Botafogo). A saída de Danilo para a Europa também é iminente. E Endrick, no futuro, certamente renderá um valor expressivo.

“Os clubes passaram cada vez mais a entender que base é investimento e não despesa”, reforça Júnior Chávare. “Eu não vejo, na América do Sul, nenhum país que tenha tanta qualidade e quantidade a agregada quanto o nosso. Vemos até clubes que nem disputam alguma divisão com centro de treinamento de alta qualidade e trabalhos com metodologias muito bem definidas”, justifica.

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