Croácia, a seleção que se recusa a perder


Equipe precisa de mais uma vitória para chegar à sua segunda final consecutiva de Copa do Mundo. Se acontecer, provavelmente virá nos pênaltis

Por Rory Smith - The New York Times
Atualização:

DOHA, Catar — Zlatko Dalic sabia que algo precisava mudar. O técnico da Croácia, só não tinha certeza, naquele exato momento, exatamente do que se tratava. O Brasil estava começando a aumentar a pressão, suas camisas amarelas brilhantes avançando como ondas. A equipe croata estava se esforçando para conter os ataques. Seus jogadores mal estavam aguentando.

Seu primeiro instinto foi que precisava de sangue novo, pernas frescas. Em particular, seu premiado meio-campo - o atemporal Luka Modric e seus tenentes inabaláveis, Marcelo Brozovic e Mateo Kovacic - parecia ter ultrapassado seu limite. Talvez, ele e sua equipe se perguntaram, um aumento na energia em campo pudesse compensar a inevitável queda na qualidade. Em uma pausa no jogo, Dalic convocou Modric, o capitão totêmico da Croácia, para a linha lateral. Ele estava pensando em “mudar o meio-campo”, disse Dalic. O que Modric achava da ideia? Dalic deveria saber a resposta.

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Perisic é um dos líderes da seleção da Croácia na Copa do Mundo. Foto: AP Photo/Ricardo Mazalan

Modric, aos 37 anos, deu à ideia o menor tempo possível. Ele estava lá quando a Croácia aguentou a prorrogação. Ele estava lá quando Bruno Petkovic marcou o empate tardio para enviar o jogo para os pênaltis. Ele estava lá para bater e marcar a terceira cobrança, aquela que colocou um país de menos de 4 milhões de habitantes à beira de sua segunda semifinal consecutiva da Copa do Mundo.

“Eles são croatas”, disse Dalic. “Eles aceitam quando é mais difícil.” Essa infatigabilidade, essa recusa em tolerar a derrota, tornou-se o cartão de visita da Croácia. Em sua campanha para a final da Copa do Mundo em 2018 e à semifinal contra a Argentina nesta edição, eles disputaram cinco partidas de mata-mata. Todas foram para a prorrogação. Quatro foram para os pênaltis. A Croácia venceu todas.

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Tornou-se um time que não tanto derrota seus oponentes quanto os vence em superação. “Sabemos que ninguém gosta de jogar contra nós”, disse o zagueiro Borna Sosa enquanto seus companheiros ainda comemoravam a vitória sobre o Brasil. “Temos jogadores muito bons e uma mentalidade muito boa, e é sempre muito difícil vencer contra nós. Estamos prontos para ir até o fim.” Existem várias interpretações para a fonte dessa indomabilidade.

Tanto Modric quanto o goleiro Dominik Livakovic ligaram isso, explicitamente em vários pontos durante o Mundial, à luta relativamente recente do país pela independência, um novo trauma que alguns jogadores da seleção experimentaram. “Lutamos muito para conquistar nossa independência como nação e continuamos lutando até a última gota”, disse Modric.

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Sua família fugiu da Croácia quando ele tinha apenas 6 anos para escapar da guerra; seu avô foi executado por soldados sérvios. Seus companheiros de equipe mais jovens cresceram ainda à sombra da guerra. “Foi assim que fomos criados”, disse Livakovic. Outros têm explicações ligeiramente diferentes, se não não relacionadas.

A primeira Copa do Mundo da Croácia como nação independente ocorreu em 1998, com a geração final de estrelas produzidas pelo antigo sistema iugoslavo - Davor Suker, Robert Prosinecki, Zvonimir Boban - chegou às semifinais de surpesa. Essa conquista, disse Boban, não apenas serviu como o primeiro grande ato de auto-expressão da Croácia para a comunidade internacional - “garantiu que as pessoas no mundo soubessem que temos grande valor”, disse ele - mas também criou o que ele descreveu como um “culto à seleção”.

Modric é o maestro do meio-campo da Croácia na Copa do Mundo. Foto: AP Photo/Pavel Golovkin
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“A Croácia é muito ligada ao futebol”, disse Boban. “Está inserido na nossa cultura que é a coisa principal na sociedade croata. Minha geração criou um culto e a geração seguinte respeitou isso.” O histórico do país confirma isso. Nas edições entre1998 e 2018, a Croácia nunca passou da fase de grupos em uma Copa do Mundo, e ainda sequer venceu uma partida mata-mata da Eurocopa, onde a pressão é um pouco menos intensa, mas a qualidade e a competição sempre foi historicamente mais concentrado.

Além da Eurocopa em 2000 e da Copa do Mundo em 2010, porém, os croatas estiveram presentes em todos os grandes torneios durante esse período, uma sequência de sucesso que poucas nações de tamanho comparável chegam perto de igualar. A Noruega não foi a uma Copa do Mundo neste século. A Irlanda não o faz desde 2002. Ambos abrigam 1 milhão de pessoas a mais do que a Croácia. Mesmo a Grécia, com mais do que o dobro da população de seu vizinho e uma seleção que venceu a Eurocopa em 2004, esteve em apenas três das últimas oito Copas do Mundo.

A Croácia, por outro lado, não apenas se tornou presença constante nesses torneios, mas emergiu como uma força genuína dentro deles, um time capaz - como o time de 1998 - não apenas com uma única campanha impressionante, mas retornando quatro anos depois, com um elenco marcadamente diferente de jogadores, e fazendo tudo de novo. “Temos 18 novos atletas”, disse Sosa, o zagueiro, sobre o time desta edição. “Muitos deles estão jogando a Copa do Mundo pela primeira vez.” Não fez nenhuma diferença.

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Agora, pela segunda vez em quatro anos, a Croácia está prestes a fazer o impossível. A vitória sobre a Argentina levaria o país à sua segunda final consecutiva de Copa do Mundo. Mais uma vez, no Mundial, a seleção que não quer ser derrotada está pronta para chegar até o fim.

DOHA, Catar — Zlatko Dalic sabia que algo precisava mudar. O técnico da Croácia, só não tinha certeza, naquele exato momento, exatamente do que se tratava. O Brasil estava começando a aumentar a pressão, suas camisas amarelas brilhantes avançando como ondas. A equipe croata estava se esforçando para conter os ataques. Seus jogadores mal estavam aguentando.

Seu primeiro instinto foi que precisava de sangue novo, pernas frescas. Em particular, seu premiado meio-campo - o atemporal Luka Modric e seus tenentes inabaláveis, Marcelo Brozovic e Mateo Kovacic - parecia ter ultrapassado seu limite. Talvez, ele e sua equipe se perguntaram, um aumento na energia em campo pudesse compensar a inevitável queda na qualidade. Em uma pausa no jogo, Dalic convocou Modric, o capitão totêmico da Croácia, para a linha lateral. Ele estava pensando em “mudar o meio-campo”, disse Dalic. O que Modric achava da ideia? Dalic deveria saber a resposta.

Perisic é um dos líderes da seleção da Croácia na Copa do Mundo. Foto: AP Photo/Ricardo Mazalan

Modric, aos 37 anos, deu à ideia o menor tempo possível. Ele estava lá quando a Croácia aguentou a prorrogação. Ele estava lá quando Bruno Petkovic marcou o empate tardio para enviar o jogo para os pênaltis. Ele estava lá para bater e marcar a terceira cobrança, aquela que colocou um país de menos de 4 milhões de habitantes à beira de sua segunda semifinal consecutiva da Copa do Mundo.

“Eles são croatas”, disse Dalic. “Eles aceitam quando é mais difícil.” Essa infatigabilidade, essa recusa em tolerar a derrota, tornou-se o cartão de visita da Croácia. Em sua campanha para a final da Copa do Mundo em 2018 e à semifinal contra a Argentina nesta edição, eles disputaram cinco partidas de mata-mata. Todas foram para a prorrogação. Quatro foram para os pênaltis. A Croácia venceu todas.

Tornou-se um time que não tanto derrota seus oponentes quanto os vence em superação. “Sabemos que ninguém gosta de jogar contra nós”, disse o zagueiro Borna Sosa enquanto seus companheiros ainda comemoravam a vitória sobre o Brasil. “Temos jogadores muito bons e uma mentalidade muito boa, e é sempre muito difícil vencer contra nós. Estamos prontos para ir até o fim.” Existem várias interpretações para a fonte dessa indomabilidade.

Tanto Modric quanto o goleiro Dominik Livakovic ligaram isso, explicitamente em vários pontos durante o Mundial, à luta relativamente recente do país pela independência, um novo trauma que alguns jogadores da seleção experimentaram. “Lutamos muito para conquistar nossa independência como nação e continuamos lutando até a última gota”, disse Modric.

Sua família fugiu da Croácia quando ele tinha apenas 6 anos para escapar da guerra; seu avô foi executado por soldados sérvios. Seus companheiros de equipe mais jovens cresceram ainda à sombra da guerra. “Foi assim que fomos criados”, disse Livakovic. Outros têm explicações ligeiramente diferentes, se não não relacionadas.

A primeira Copa do Mundo da Croácia como nação independente ocorreu em 1998, com a geração final de estrelas produzidas pelo antigo sistema iugoslavo - Davor Suker, Robert Prosinecki, Zvonimir Boban - chegou às semifinais de surpesa. Essa conquista, disse Boban, não apenas serviu como o primeiro grande ato de auto-expressão da Croácia para a comunidade internacional - “garantiu que as pessoas no mundo soubessem que temos grande valor”, disse ele - mas também criou o que ele descreveu como um “culto à seleção”.

Modric é o maestro do meio-campo da Croácia na Copa do Mundo. Foto: AP Photo/Pavel Golovkin

“A Croácia é muito ligada ao futebol”, disse Boban. “Está inserido na nossa cultura que é a coisa principal na sociedade croata. Minha geração criou um culto e a geração seguinte respeitou isso.” O histórico do país confirma isso. Nas edições entre1998 e 2018, a Croácia nunca passou da fase de grupos em uma Copa do Mundo, e ainda sequer venceu uma partida mata-mata da Eurocopa, onde a pressão é um pouco menos intensa, mas a qualidade e a competição sempre foi historicamente mais concentrado.

Além da Eurocopa em 2000 e da Copa do Mundo em 2010, porém, os croatas estiveram presentes em todos os grandes torneios durante esse período, uma sequência de sucesso que poucas nações de tamanho comparável chegam perto de igualar. A Noruega não foi a uma Copa do Mundo neste século. A Irlanda não o faz desde 2002. Ambos abrigam 1 milhão de pessoas a mais do que a Croácia. Mesmo a Grécia, com mais do que o dobro da população de seu vizinho e uma seleção que venceu a Eurocopa em 2004, esteve em apenas três das últimas oito Copas do Mundo.

A Croácia, por outro lado, não apenas se tornou presença constante nesses torneios, mas emergiu como uma força genuína dentro deles, um time capaz - como o time de 1998 - não apenas com uma única campanha impressionante, mas retornando quatro anos depois, com um elenco marcadamente diferente de jogadores, e fazendo tudo de novo. “Temos 18 novos atletas”, disse Sosa, o zagueiro, sobre o time desta edição. “Muitos deles estão jogando a Copa do Mundo pela primeira vez.” Não fez nenhuma diferença.

Agora, pela segunda vez em quatro anos, a Croácia está prestes a fazer o impossível. A vitória sobre a Argentina levaria o país à sua segunda final consecutiva de Copa do Mundo. Mais uma vez, no Mundial, a seleção que não quer ser derrotada está pronta para chegar até o fim.

DOHA, Catar — Zlatko Dalic sabia que algo precisava mudar. O técnico da Croácia, só não tinha certeza, naquele exato momento, exatamente do que se tratava. O Brasil estava começando a aumentar a pressão, suas camisas amarelas brilhantes avançando como ondas. A equipe croata estava se esforçando para conter os ataques. Seus jogadores mal estavam aguentando.

Seu primeiro instinto foi que precisava de sangue novo, pernas frescas. Em particular, seu premiado meio-campo - o atemporal Luka Modric e seus tenentes inabaláveis, Marcelo Brozovic e Mateo Kovacic - parecia ter ultrapassado seu limite. Talvez, ele e sua equipe se perguntaram, um aumento na energia em campo pudesse compensar a inevitável queda na qualidade. Em uma pausa no jogo, Dalic convocou Modric, o capitão totêmico da Croácia, para a linha lateral. Ele estava pensando em “mudar o meio-campo”, disse Dalic. O que Modric achava da ideia? Dalic deveria saber a resposta.

Perisic é um dos líderes da seleção da Croácia na Copa do Mundo. Foto: AP Photo/Ricardo Mazalan

Modric, aos 37 anos, deu à ideia o menor tempo possível. Ele estava lá quando a Croácia aguentou a prorrogação. Ele estava lá quando Bruno Petkovic marcou o empate tardio para enviar o jogo para os pênaltis. Ele estava lá para bater e marcar a terceira cobrança, aquela que colocou um país de menos de 4 milhões de habitantes à beira de sua segunda semifinal consecutiva da Copa do Mundo.

“Eles são croatas”, disse Dalic. “Eles aceitam quando é mais difícil.” Essa infatigabilidade, essa recusa em tolerar a derrota, tornou-se o cartão de visita da Croácia. Em sua campanha para a final da Copa do Mundo em 2018 e à semifinal contra a Argentina nesta edição, eles disputaram cinco partidas de mata-mata. Todas foram para a prorrogação. Quatro foram para os pênaltis. A Croácia venceu todas.

Tornou-se um time que não tanto derrota seus oponentes quanto os vence em superação. “Sabemos que ninguém gosta de jogar contra nós”, disse o zagueiro Borna Sosa enquanto seus companheiros ainda comemoravam a vitória sobre o Brasil. “Temos jogadores muito bons e uma mentalidade muito boa, e é sempre muito difícil vencer contra nós. Estamos prontos para ir até o fim.” Existem várias interpretações para a fonte dessa indomabilidade.

Tanto Modric quanto o goleiro Dominik Livakovic ligaram isso, explicitamente em vários pontos durante o Mundial, à luta relativamente recente do país pela independência, um novo trauma que alguns jogadores da seleção experimentaram. “Lutamos muito para conquistar nossa independência como nação e continuamos lutando até a última gota”, disse Modric.

Sua família fugiu da Croácia quando ele tinha apenas 6 anos para escapar da guerra; seu avô foi executado por soldados sérvios. Seus companheiros de equipe mais jovens cresceram ainda à sombra da guerra. “Foi assim que fomos criados”, disse Livakovic. Outros têm explicações ligeiramente diferentes, se não não relacionadas.

A primeira Copa do Mundo da Croácia como nação independente ocorreu em 1998, com a geração final de estrelas produzidas pelo antigo sistema iugoslavo - Davor Suker, Robert Prosinecki, Zvonimir Boban - chegou às semifinais de surpesa. Essa conquista, disse Boban, não apenas serviu como o primeiro grande ato de auto-expressão da Croácia para a comunidade internacional - “garantiu que as pessoas no mundo soubessem que temos grande valor”, disse ele - mas também criou o que ele descreveu como um “culto à seleção”.

Modric é o maestro do meio-campo da Croácia na Copa do Mundo. Foto: AP Photo/Pavel Golovkin

“A Croácia é muito ligada ao futebol”, disse Boban. “Está inserido na nossa cultura que é a coisa principal na sociedade croata. Minha geração criou um culto e a geração seguinte respeitou isso.” O histórico do país confirma isso. Nas edições entre1998 e 2018, a Croácia nunca passou da fase de grupos em uma Copa do Mundo, e ainda sequer venceu uma partida mata-mata da Eurocopa, onde a pressão é um pouco menos intensa, mas a qualidade e a competição sempre foi historicamente mais concentrado.

Além da Eurocopa em 2000 e da Copa do Mundo em 2010, porém, os croatas estiveram presentes em todos os grandes torneios durante esse período, uma sequência de sucesso que poucas nações de tamanho comparável chegam perto de igualar. A Noruega não foi a uma Copa do Mundo neste século. A Irlanda não o faz desde 2002. Ambos abrigam 1 milhão de pessoas a mais do que a Croácia. Mesmo a Grécia, com mais do que o dobro da população de seu vizinho e uma seleção que venceu a Eurocopa em 2004, esteve em apenas três das últimas oito Copas do Mundo.

A Croácia, por outro lado, não apenas se tornou presença constante nesses torneios, mas emergiu como uma força genuína dentro deles, um time capaz - como o time de 1998 - não apenas com uma única campanha impressionante, mas retornando quatro anos depois, com um elenco marcadamente diferente de jogadores, e fazendo tudo de novo. “Temos 18 novos atletas”, disse Sosa, o zagueiro, sobre o time desta edição. “Muitos deles estão jogando a Copa do Mundo pela primeira vez.” Não fez nenhuma diferença.

Agora, pela segunda vez em quatro anos, a Croácia está prestes a fazer o impossível. A vitória sobre a Argentina levaria o país à sua segunda final consecutiva de Copa do Mundo. Mais uma vez, no Mundial, a seleção que não quer ser derrotada está pronta para chegar até o fim.

DOHA, Catar — Zlatko Dalic sabia que algo precisava mudar. O técnico da Croácia, só não tinha certeza, naquele exato momento, exatamente do que se tratava. O Brasil estava começando a aumentar a pressão, suas camisas amarelas brilhantes avançando como ondas. A equipe croata estava se esforçando para conter os ataques. Seus jogadores mal estavam aguentando.

Seu primeiro instinto foi que precisava de sangue novo, pernas frescas. Em particular, seu premiado meio-campo - o atemporal Luka Modric e seus tenentes inabaláveis, Marcelo Brozovic e Mateo Kovacic - parecia ter ultrapassado seu limite. Talvez, ele e sua equipe se perguntaram, um aumento na energia em campo pudesse compensar a inevitável queda na qualidade. Em uma pausa no jogo, Dalic convocou Modric, o capitão totêmico da Croácia, para a linha lateral. Ele estava pensando em “mudar o meio-campo”, disse Dalic. O que Modric achava da ideia? Dalic deveria saber a resposta.

Perisic é um dos líderes da seleção da Croácia na Copa do Mundo. Foto: AP Photo/Ricardo Mazalan

Modric, aos 37 anos, deu à ideia o menor tempo possível. Ele estava lá quando a Croácia aguentou a prorrogação. Ele estava lá quando Bruno Petkovic marcou o empate tardio para enviar o jogo para os pênaltis. Ele estava lá para bater e marcar a terceira cobrança, aquela que colocou um país de menos de 4 milhões de habitantes à beira de sua segunda semifinal consecutiva da Copa do Mundo.

“Eles são croatas”, disse Dalic. “Eles aceitam quando é mais difícil.” Essa infatigabilidade, essa recusa em tolerar a derrota, tornou-se o cartão de visita da Croácia. Em sua campanha para a final da Copa do Mundo em 2018 e à semifinal contra a Argentina nesta edição, eles disputaram cinco partidas de mata-mata. Todas foram para a prorrogação. Quatro foram para os pênaltis. A Croácia venceu todas.

Tornou-se um time que não tanto derrota seus oponentes quanto os vence em superação. “Sabemos que ninguém gosta de jogar contra nós”, disse o zagueiro Borna Sosa enquanto seus companheiros ainda comemoravam a vitória sobre o Brasil. “Temos jogadores muito bons e uma mentalidade muito boa, e é sempre muito difícil vencer contra nós. Estamos prontos para ir até o fim.” Existem várias interpretações para a fonte dessa indomabilidade.

Tanto Modric quanto o goleiro Dominik Livakovic ligaram isso, explicitamente em vários pontos durante o Mundial, à luta relativamente recente do país pela independência, um novo trauma que alguns jogadores da seleção experimentaram. “Lutamos muito para conquistar nossa independência como nação e continuamos lutando até a última gota”, disse Modric.

Sua família fugiu da Croácia quando ele tinha apenas 6 anos para escapar da guerra; seu avô foi executado por soldados sérvios. Seus companheiros de equipe mais jovens cresceram ainda à sombra da guerra. “Foi assim que fomos criados”, disse Livakovic. Outros têm explicações ligeiramente diferentes, se não não relacionadas.

A primeira Copa do Mundo da Croácia como nação independente ocorreu em 1998, com a geração final de estrelas produzidas pelo antigo sistema iugoslavo - Davor Suker, Robert Prosinecki, Zvonimir Boban - chegou às semifinais de surpesa. Essa conquista, disse Boban, não apenas serviu como o primeiro grande ato de auto-expressão da Croácia para a comunidade internacional - “garantiu que as pessoas no mundo soubessem que temos grande valor”, disse ele - mas também criou o que ele descreveu como um “culto à seleção”.

Modric é o maestro do meio-campo da Croácia na Copa do Mundo. Foto: AP Photo/Pavel Golovkin

“A Croácia é muito ligada ao futebol”, disse Boban. “Está inserido na nossa cultura que é a coisa principal na sociedade croata. Minha geração criou um culto e a geração seguinte respeitou isso.” O histórico do país confirma isso. Nas edições entre1998 e 2018, a Croácia nunca passou da fase de grupos em uma Copa do Mundo, e ainda sequer venceu uma partida mata-mata da Eurocopa, onde a pressão é um pouco menos intensa, mas a qualidade e a competição sempre foi historicamente mais concentrado.

Além da Eurocopa em 2000 e da Copa do Mundo em 2010, porém, os croatas estiveram presentes em todos os grandes torneios durante esse período, uma sequência de sucesso que poucas nações de tamanho comparável chegam perto de igualar. A Noruega não foi a uma Copa do Mundo neste século. A Irlanda não o faz desde 2002. Ambos abrigam 1 milhão de pessoas a mais do que a Croácia. Mesmo a Grécia, com mais do que o dobro da população de seu vizinho e uma seleção que venceu a Eurocopa em 2004, esteve em apenas três das últimas oito Copas do Mundo.

A Croácia, por outro lado, não apenas se tornou presença constante nesses torneios, mas emergiu como uma força genuína dentro deles, um time capaz - como o time de 1998 - não apenas com uma única campanha impressionante, mas retornando quatro anos depois, com um elenco marcadamente diferente de jogadores, e fazendo tudo de novo. “Temos 18 novos atletas”, disse Sosa, o zagueiro, sobre o time desta edição. “Muitos deles estão jogando a Copa do Mundo pela primeira vez.” Não fez nenhuma diferença.

Agora, pela segunda vez em quatro anos, a Croácia está prestes a fazer o impossível. A vitória sobre a Argentina levaria o país à sua segunda final consecutiva de Copa do Mundo. Mais uma vez, no Mundial, a seleção que não quer ser derrotada está pronta para chegar até o fim.

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