Descobridor de Endrick recorda indicação ao Palmeiras: ‘Se não contratar, vai chorar sangue’


Referência na captação de talentos, Paulo Roca conta bastidores da ida do craque do Real Madrid à Academia de Futebol, projeta futuro de Estêvão e cita falta de identidade no desenvolvimento da base no País

Por Rodrigo Sampaio
Atualização:

Em 17 de setembro, Endrick arrancou do campo de defesa em velocidade e com um chute forte rasteiro fez o seu primeiro gol com a camisa do Real Madrid na Champions League. Os atributos apresentados pelo craque de 18 anos da seleção brasileira na jogada são os mesmos que chamaram a atenção de Paulo Roca anos atrás. O agente de olhar apurado, considerado um dos principais identificadores de jovens talentos do futebol nacional, foi o responsável por levar o prodígio ao Palmeiras.

A primeira vez que Paulo Roca viu Endrick jogar foi quando o atacante tinha apenas 9 anos. Segundo ele, o jogador sempre foi “abençoado fisicamente”, demonstrando agilidade e potência desde muito novo. “Às vezes você identifica um menino e ele vai mudando ao longo do tempo, não consegue mais fazer o que fazia antes. O Endrick, não”, conta. “Obviamente, uma das maiores virtudes dele era a força física, mas aliado com a capacidade de finalizar com a perna direita, e com a esquerda. Ele também tinha um desejo pelo gol que era uma coisa incrível.”

A certeza de que estava vendo o nascimento de uma joia pesou na insistência com João Paulo Sampaio, diretor da base palmeirense, para levar Endrick à Academia de Futebol. As exigências eram muitas para um menino de 9 anos, como escola particular e auxílio moradia, mas a boa relação entre os profissionais pesou para o clube alviverde afastar a concorrência de São Paulo e Grêmio. “Disse ao João ‘se você não contratar, vai chorar lágrimas de sangue”, revelou o agente. “O jogador bom sempre vai ter (no mercado). O diferente você tem de captar ainda nesta idade.”

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Paulo Roca ao lado de Endrick, ainda adolescente, antes de brilhar no Palmeiras. Foto: Arquivo pessoal

A parceria entre Endrick e Paulo Roca durou cinco anos. A família do jogador decidiu trocar de agente perto de o atacante assinar o seu primeiro contrato de formação com o Palmeiras, optando por uma oferta financeira mais vantajosa. “O pai dele me perguntou se eu poderia cobrir a proposta e mostrei tudo o que já tinha investido. Ele voltou para casa, conversou com a esposa, e voltou com a resposta negativa. Fiquei desapontado, é claro”, diz Roca, que ainda detém um percentual da venda do prodígio.

Outro jogador que Paulo Roca teve a oportunidade de ver florescer foi Estêvão. Natural de Franca, no interior paulista, o jogador participou de competições em que o agente estava nas arquibancadas. Apesar do jeito franzino, a capacidade de conduzir a bola driblando adversários, aliada a uma boa finalização, não o deixou com dúvida. Sabia que teria de ligar para João Paulo Sampaio e levá-lo ao Palmeiras.

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Estêvão passou pela Academia de Futebol antes de ir ao Cruzeiro, onde permaneceu até eclodir a crise no clube. A lapidação da joia continuou fora de Minas, novamente no Palmeiras. O sucesso da dupla com Endrick na base palmeirense despertou a atenção do Paris Saint-Germain, que antes mesmo de Real Madrid e Chelsea botarem suas ofertas na mesa, tentou levar os dois garotos.

“O PSG queria os dois. Quando surgiu a proposta para o Endrick, quando ele tinha 15 anos, eles queriam fazer uma composição e também levar o Estêvão”, revela. “Esses meninos, assim como o Luis Guilherme também, que hoje está na Inglaterra, são o futuro da seleção brasileira.”

Em fase final de tratamento de lesão, Estêvão não esteve presente na última convocação da seleção brasileira. Com um leque de jogadores recheado na frente, discutiu-se até a possibilidade de o ponta ser aproveitado atuando por dentro, como uma espécie de falso 9, função que ganhou relevância nos esquemas táticos mundo afora após o estouro de Lionel Messi — na base, Estêvão ganhou o apelido do craque argentino.

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Enzo Maresca, técnico do Chelsea, futuro time de Estêvão, já revelou que deseja trabalhar o atleta como um camisa 10. Paulo Roca não somente vê a joia palmeirense com totais condições de realizar a função como revela que é o sonho do pai, o missionário Ivo Gonçalves, vê-lo atuando na função.

“Vejo ele (Estêvão) como um jogador extremamente versátil. Embora ele produza muito da direita para dentro, porque ele bate muito bem na bola, tem essa chapada muito boa, ele realmente tem essa característica de jogar por dentro”, enfatiza o agente, citando partidas do jovem na base, quando era chamado de Messinho. “Essa percepção do Maresca é pertinente porque o futebol brasileiro vai precisar desse jogador que produza pelo centro, algo que já não vemos há muito tempo.

“O Luis Guilherme é outro com um estilo que se assemelha ao do Estêvão, de drible, corte para o meio. Acredito que também possa estar na seleção em breve”, afirma Roca, recordando a outra joia do trio de bilhão do Palmeiras.

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Alex Sandro: o primeiro sucesso

Formado em Educação Física, Paulo Roca, de 55 anos, começou sua trajetória como gerenciador de carreiras quase por um acaso. Depois de acumular passagens por times de menor expressão do interior paulista, como Grêmio Catanduvense, Guairense e Inter de Bebedouro, ele “usou a razão em vez do coração” e decidiu pendurar as chuteiras aos 25 anos. Em 1994, abriu uma escolinha de futebol em Guaíra e viu o negócio prosperar a ponto de levar dois meninos para conhecer as instalações do Vitória, em Salvador. A partir dali, passou a ser um gerenciador de carreiras.

O primeiro grande case de Paulo Roca foi Alex Sandro, ex-Juventus e seleção brasileira e atualmente no Flamengo. O jogador já tinha 15 anos e havia sido reprovado em diferentes clubes até o agente sugerir ao atleta mudar de posição. “Quando vou para vê-lo, ele joga como meia camisa 10, mas sempre dava a opção por fora e nunca por dentro, então raramente entrava na área, e buscava sempre as ações dele pelo corredor lateral. Quando terminou o jogo, eu virei para ele e disse ‘acho que eu sei qual o seu problema: você não é meia, é lateral’”, conta.

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Na nova posição, Alex Sandro conseguiu um teste no Athletico Paranaense, onde passou e conseguiu dar sequência à carreira de profissional, sendo campeão da Libertadores pelo Santos. “Eu tinha uma revista de quando o Alex Sandro chegou ao Porto me agradecendo por eu ter convencido a mãe dele a deixá-lo ir naquela viagem a Curitiba.”

Atualmente no Flamengo, o veterano Alex Sandro fez sucesso com a camisa do Santos. Foto: Ernesto Rodrigues/AE

Outro jogador que Paulo Roca teve êxito em levar para a Europa é o atacante Rodrigo Muniz, do Fulham. O agente monitorava o atleta desde 2016, quando ele estava no Desportivo Brasil. Após a ida do jovem ao Flamengo, o grupo do profissional passou a gerenciar a carreira do jogador e foi determinante para convencer o atleta a se mudar para Londres. Atualmente, Muniz é titular absoluto da equipe inglesa e um dos brasileiros de destaque na Premier League.

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Identidade brasileira

Com um longo histórico de observação em torneios de base, Paulo Roca é categórico ao afirmar que uma característica em específico mudou ao longo dos anos na busca por talentos: a parte física. Caso o atributo não seja uma virtude de um potencial atleta, é necessário ser “muito rápido e intenso”, na avaliação do agente. “Aquele jogador que a gente identificava lá atrás, como por exemplo o Paulo Henrique Ganso, possivelmente em uma avaliação hoje, ele não seria aprovado”, comenta o especialista na captação de atletas.

A evolução tática do futebol do europeu na última década, especialmente centrada na figura de Pep Guardiola, influenciou o desenvolvimento de atletas. Segundo Paulo Roca, tornou-se comum ver atletas sendo cada vez mais talhados ainda nas divisões de base, categoria em que deveria ter liberdade para explorar a criatividade, em prol de um modelo de jogo mais tático. Para o agente, isso reflete diretamente na seleção e no desenvolvimento do futebol brasileiro como um todo.

“Entendo que na formação precisa se incentivar o improviso, o drible, para que não vá tirando isso do menino. Às vezes a necessidade de ganhar competições na base se confunde com a formação e não deveria ser assim. É importante para os meus atletas serem vencedores para chegarem com uma mentalidade boa no profissional, mas é mais importante formar do que ganhar títulos. E isso é muito claro, caso contrário, não teremos um futuro promissor pela frente”, analisa.

O ponto de virada palmeirense

Paulo Roca tem como vista do apartamento onde mora na Pompeia o Allianz Parque, onde os meninos que ele viu dar os primeiros passos, como Endrick, Estêvão e Luis Guilherme, desabrocharam e marcaram um ponto de virada no Palmeiras. A base, antes pouco aproveitada, se tornou uma fonte importante de receitas para o clube, que ganhou a grife de bom vendedor e hoje vê o mercado cada vez mais procurando informações sobre atletas — o agente aposta em Vitor Reis como próxima grande venda do clube.

Ao comentar o crescimento do Palmeiras, Paulo Roca credita a ascensão alviverde ao trabalho iniciado por Paulo Nobre e às pessoas indicadas ao trabalho, especialmente João Paulo Sampaio, com quem mantém relação próxima. “Ele me perguntou quanto tempo eu achava que ele ia ficar. Eu falei ‘seis meses’ e ele se assustou, mas eu disse que se ele passasse de seis meses, ficaria seis anos”, relembra a situação, com bom humor.

Ele conta que o Palmeiras tinha seis assistentes sociais, mas apenas dois captadores na época em que o amigo desembarcou no clube, indicado por Alexandre Mattos. A configuração foi invertida e, ao verificar o bom trabalho que decorria na base alviverde, Paulo Roca sugeriu Endrick ao clube.

Novas práticas, novos mercados

Enquanto Estêvão, com apenas 17 anos, desfila seu futebol nos gramados brasileiros, Endrick, apenas um ano mais velho, já recebe oportunidades no time principal do Real Madrid. Gigantes europeus têm buscado contratar jovens promissores cada vez mais cedo, optando por terminar a formação destes atletas dentro próprio clube. Paulo Roca é reticente quanto ao processo e acredita que Endrick, por exemplo, vá encontrar dificuldades de adaptação no início de sua jornada na Espanha.

“Talvez (ele) não vai ter uma sequência ideal neste primeiro momento. É igual piloto de avião, quantas mais horas de voo, o cara fica mais experiente”, comenta. “Pela concorrência que existe lá, talvez jogar um tempo maior no Brasil seja mais interessante, mas este tipo de coisa não vai mais acontecer.”

Giovani, ex-palmeiras e atualmente no Catar, é mais um agenciado por Paulo Roca. Foto: Arquivo pessoal

Não é somente os olhos da Europa que estão de olho no futebol brasileiro e sul-americano. Paulo Roca comenta uma tendência do futebol do Oriente Médio em busca de talentos, em contraste com o recente movimento da Arábia Saudita em levar medalhões ao país. O agente participou da venda do atacante Giovani, de 20 anos, Palmeiras ao Al-Sadd, do Catar.

“É um movimento muito diferente do que aconteceu com a bolha da China. Pagaram um valor altíssimo pelo Marcos Leonardo. O Giovani não foi barato e agora mesmo nós estávamos negociando um jogador do Coritiba para Arábia Saudita”, revela. “Acredito que em breve os clubes europeus também vão virar os olhos para jogadores com potencial atuando no Oriente Médio, com esse mercado servindo de porta de entrada para jogadores promissores irem atuar na Europa.”

Em 17 de setembro, Endrick arrancou do campo de defesa em velocidade e com um chute forte rasteiro fez o seu primeiro gol com a camisa do Real Madrid na Champions League. Os atributos apresentados pelo craque de 18 anos da seleção brasileira na jogada são os mesmos que chamaram a atenção de Paulo Roca anos atrás. O agente de olhar apurado, considerado um dos principais identificadores de jovens talentos do futebol nacional, foi o responsável por levar o prodígio ao Palmeiras.

A primeira vez que Paulo Roca viu Endrick jogar foi quando o atacante tinha apenas 9 anos. Segundo ele, o jogador sempre foi “abençoado fisicamente”, demonstrando agilidade e potência desde muito novo. “Às vezes você identifica um menino e ele vai mudando ao longo do tempo, não consegue mais fazer o que fazia antes. O Endrick, não”, conta. “Obviamente, uma das maiores virtudes dele era a força física, mas aliado com a capacidade de finalizar com a perna direita, e com a esquerda. Ele também tinha um desejo pelo gol que era uma coisa incrível.”

A certeza de que estava vendo o nascimento de uma joia pesou na insistência com João Paulo Sampaio, diretor da base palmeirense, para levar Endrick à Academia de Futebol. As exigências eram muitas para um menino de 9 anos, como escola particular e auxílio moradia, mas a boa relação entre os profissionais pesou para o clube alviverde afastar a concorrência de São Paulo e Grêmio. “Disse ao João ‘se você não contratar, vai chorar lágrimas de sangue”, revelou o agente. “O jogador bom sempre vai ter (no mercado). O diferente você tem de captar ainda nesta idade.”

Paulo Roca ao lado de Endrick, ainda adolescente, antes de brilhar no Palmeiras. Foto: Arquivo pessoal

A parceria entre Endrick e Paulo Roca durou cinco anos. A família do jogador decidiu trocar de agente perto de o atacante assinar o seu primeiro contrato de formação com o Palmeiras, optando por uma oferta financeira mais vantajosa. “O pai dele me perguntou se eu poderia cobrir a proposta e mostrei tudo o que já tinha investido. Ele voltou para casa, conversou com a esposa, e voltou com a resposta negativa. Fiquei desapontado, é claro”, diz Roca, que ainda detém um percentual da venda do prodígio.

Outro jogador que Paulo Roca teve a oportunidade de ver florescer foi Estêvão. Natural de Franca, no interior paulista, o jogador participou de competições em que o agente estava nas arquibancadas. Apesar do jeito franzino, a capacidade de conduzir a bola driblando adversários, aliada a uma boa finalização, não o deixou com dúvida. Sabia que teria de ligar para João Paulo Sampaio e levá-lo ao Palmeiras.

Estêvão passou pela Academia de Futebol antes de ir ao Cruzeiro, onde permaneceu até eclodir a crise no clube. A lapidação da joia continuou fora de Minas, novamente no Palmeiras. O sucesso da dupla com Endrick na base palmeirense despertou a atenção do Paris Saint-Germain, que antes mesmo de Real Madrid e Chelsea botarem suas ofertas na mesa, tentou levar os dois garotos.

“O PSG queria os dois. Quando surgiu a proposta para o Endrick, quando ele tinha 15 anos, eles queriam fazer uma composição e também levar o Estêvão”, revela. “Esses meninos, assim como o Luis Guilherme também, que hoje está na Inglaterra, são o futuro da seleção brasileira.”

Em fase final de tratamento de lesão, Estêvão não esteve presente na última convocação da seleção brasileira. Com um leque de jogadores recheado na frente, discutiu-se até a possibilidade de o ponta ser aproveitado atuando por dentro, como uma espécie de falso 9, função que ganhou relevância nos esquemas táticos mundo afora após o estouro de Lionel Messi — na base, Estêvão ganhou o apelido do craque argentino.

Enzo Maresca, técnico do Chelsea, futuro time de Estêvão, já revelou que deseja trabalhar o atleta como um camisa 10. Paulo Roca não somente vê a joia palmeirense com totais condições de realizar a função como revela que é o sonho do pai, o missionário Ivo Gonçalves, vê-lo atuando na função.

“Vejo ele (Estêvão) como um jogador extremamente versátil. Embora ele produza muito da direita para dentro, porque ele bate muito bem na bola, tem essa chapada muito boa, ele realmente tem essa característica de jogar por dentro”, enfatiza o agente, citando partidas do jovem na base, quando era chamado de Messinho. “Essa percepção do Maresca é pertinente porque o futebol brasileiro vai precisar desse jogador que produza pelo centro, algo que já não vemos há muito tempo.

“O Luis Guilherme é outro com um estilo que se assemelha ao do Estêvão, de drible, corte para o meio. Acredito que também possa estar na seleção em breve”, afirma Roca, recordando a outra joia do trio de bilhão do Palmeiras.

Alex Sandro: o primeiro sucesso

Formado em Educação Física, Paulo Roca, de 55 anos, começou sua trajetória como gerenciador de carreiras quase por um acaso. Depois de acumular passagens por times de menor expressão do interior paulista, como Grêmio Catanduvense, Guairense e Inter de Bebedouro, ele “usou a razão em vez do coração” e decidiu pendurar as chuteiras aos 25 anos. Em 1994, abriu uma escolinha de futebol em Guaíra e viu o negócio prosperar a ponto de levar dois meninos para conhecer as instalações do Vitória, em Salvador. A partir dali, passou a ser um gerenciador de carreiras.

O primeiro grande case de Paulo Roca foi Alex Sandro, ex-Juventus e seleção brasileira e atualmente no Flamengo. O jogador já tinha 15 anos e havia sido reprovado em diferentes clubes até o agente sugerir ao atleta mudar de posição. “Quando vou para vê-lo, ele joga como meia camisa 10, mas sempre dava a opção por fora e nunca por dentro, então raramente entrava na área, e buscava sempre as ações dele pelo corredor lateral. Quando terminou o jogo, eu virei para ele e disse ‘acho que eu sei qual o seu problema: você não é meia, é lateral’”, conta.

Na nova posição, Alex Sandro conseguiu um teste no Athletico Paranaense, onde passou e conseguiu dar sequência à carreira de profissional, sendo campeão da Libertadores pelo Santos. “Eu tinha uma revista de quando o Alex Sandro chegou ao Porto me agradecendo por eu ter convencido a mãe dele a deixá-lo ir naquela viagem a Curitiba.”

Atualmente no Flamengo, o veterano Alex Sandro fez sucesso com a camisa do Santos. Foto: Ernesto Rodrigues/AE

Outro jogador que Paulo Roca teve êxito em levar para a Europa é o atacante Rodrigo Muniz, do Fulham. O agente monitorava o atleta desde 2016, quando ele estava no Desportivo Brasil. Após a ida do jovem ao Flamengo, o grupo do profissional passou a gerenciar a carreira do jogador e foi determinante para convencer o atleta a se mudar para Londres. Atualmente, Muniz é titular absoluto da equipe inglesa e um dos brasileiros de destaque na Premier League.

Identidade brasileira

Com um longo histórico de observação em torneios de base, Paulo Roca é categórico ao afirmar que uma característica em específico mudou ao longo dos anos na busca por talentos: a parte física. Caso o atributo não seja uma virtude de um potencial atleta, é necessário ser “muito rápido e intenso”, na avaliação do agente. “Aquele jogador que a gente identificava lá atrás, como por exemplo o Paulo Henrique Ganso, possivelmente em uma avaliação hoje, ele não seria aprovado”, comenta o especialista na captação de atletas.

A evolução tática do futebol do europeu na última década, especialmente centrada na figura de Pep Guardiola, influenciou o desenvolvimento de atletas. Segundo Paulo Roca, tornou-se comum ver atletas sendo cada vez mais talhados ainda nas divisões de base, categoria em que deveria ter liberdade para explorar a criatividade, em prol de um modelo de jogo mais tático. Para o agente, isso reflete diretamente na seleção e no desenvolvimento do futebol brasileiro como um todo.

“Entendo que na formação precisa se incentivar o improviso, o drible, para que não vá tirando isso do menino. Às vezes a necessidade de ganhar competições na base se confunde com a formação e não deveria ser assim. É importante para os meus atletas serem vencedores para chegarem com uma mentalidade boa no profissional, mas é mais importante formar do que ganhar títulos. E isso é muito claro, caso contrário, não teremos um futuro promissor pela frente”, analisa.

O ponto de virada palmeirense

Paulo Roca tem como vista do apartamento onde mora na Pompeia o Allianz Parque, onde os meninos que ele viu dar os primeiros passos, como Endrick, Estêvão e Luis Guilherme, desabrocharam e marcaram um ponto de virada no Palmeiras. A base, antes pouco aproveitada, se tornou uma fonte importante de receitas para o clube, que ganhou a grife de bom vendedor e hoje vê o mercado cada vez mais procurando informações sobre atletas — o agente aposta em Vitor Reis como próxima grande venda do clube.

Ao comentar o crescimento do Palmeiras, Paulo Roca credita a ascensão alviverde ao trabalho iniciado por Paulo Nobre e às pessoas indicadas ao trabalho, especialmente João Paulo Sampaio, com quem mantém relação próxima. “Ele me perguntou quanto tempo eu achava que ele ia ficar. Eu falei ‘seis meses’ e ele se assustou, mas eu disse que se ele passasse de seis meses, ficaria seis anos”, relembra a situação, com bom humor.

Ele conta que o Palmeiras tinha seis assistentes sociais, mas apenas dois captadores na época em que o amigo desembarcou no clube, indicado por Alexandre Mattos. A configuração foi invertida e, ao verificar o bom trabalho que decorria na base alviverde, Paulo Roca sugeriu Endrick ao clube.

Novas práticas, novos mercados

Enquanto Estêvão, com apenas 17 anos, desfila seu futebol nos gramados brasileiros, Endrick, apenas um ano mais velho, já recebe oportunidades no time principal do Real Madrid. Gigantes europeus têm buscado contratar jovens promissores cada vez mais cedo, optando por terminar a formação destes atletas dentro próprio clube. Paulo Roca é reticente quanto ao processo e acredita que Endrick, por exemplo, vá encontrar dificuldades de adaptação no início de sua jornada na Espanha.

“Talvez (ele) não vai ter uma sequência ideal neste primeiro momento. É igual piloto de avião, quantas mais horas de voo, o cara fica mais experiente”, comenta. “Pela concorrência que existe lá, talvez jogar um tempo maior no Brasil seja mais interessante, mas este tipo de coisa não vai mais acontecer.”

Giovani, ex-palmeiras e atualmente no Catar, é mais um agenciado por Paulo Roca. Foto: Arquivo pessoal

Não é somente os olhos da Europa que estão de olho no futebol brasileiro e sul-americano. Paulo Roca comenta uma tendência do futebol do Oriente Médio em busca de talentos, em contraste com o recente movimento da Arábia Saudita em levar medalhões ao país. O agente participou da venda do atacante Giovani, de 20 anos, Palmeiras ao Al-Sadd, do Catar.

“É um movimento muito diferente do que aconteceu com a bolha da China. Pagaram um valor altíssimo pelo Marcos Leonardo. O Giovani não foi barato e agora mesmo nós estávamos negociando um jogador do Coritiba para Arábia Saudita”, revela. “Acredito que em breve os clubes europeus também vão virar os olhos para jogadores com potencial atuando no Oriente Médio, com esse mercado servindo de porta de entrada para jogadores promissores irem atuar na Europa.”

Em 17 de setembro, Endrick arrancou do campo de defesa em velocidade e com um chute forte rasteiro fez o seu primeiro gol com a camisa do Real Madrid na Champions League. Os atributos apresentados pelo craque de 18 anos da seleção brasileira na jogada são os mesmos que chamaram a atenção de Paulo Roca anos atrás. O agente de olhar apurado, considerado um dos principais identificadores de jovens talentos do futebol nacional, foi o responsável por levar o prodígio ao Palmeiras.

A primeira vez que Paulo Roca viu Endrick jogar foi quando o atacante tinha apenas 9 anos. Segundo ele, o jogador sempre foi “abençoado fisicamente”, demonstrando agilidade e potência desde muito novo. “Às vezes você identifica um menino e ele vai mudando ao longo do tempo, não consegue mais fazer o que fazia antes. O Endrick, não”, conta. “Obviamente, uma das maiores virtudes dele era a força física, mas aliado com a capacidade de finalizar com a perna direita, e com a esquerda. Ele também tinha um desejo pelo gol que era uma coisa incrível.”

A certeza de que estava vendo o nascimento de uma joia pesou na insistência com João Paulo Sampaio, diretor da base palmeirense, para levar Endrick à Academia de Futebol. As exigências eram muitas para um menino de 9 anos, como escola particular e auxílio moradia, mas a boa relação entre os profissionais pesou para o clube alviverde afastar a concorrência de São Paulo e Grêmio. “Disse ao João ‘se você não contratar, vai chorar lágrimas de sangue”, revelou o agente. “O jogador bom sempre vai ter (no mercado). O diferente você tem de captar ainda nesta idade.”

Paulo Roca ao lado de Endrick, ainda adolescente, antes de brilhar no Palmeiras. Foto: Arquivo pessoal

A parceria entre Endrick e Paulo Roca durou cinco anos. A família do jogador decidiu trocar de agente perto de o atacante assinar o seu primeiro contrato de formação com o Palmeiras, optando por uma oferta financeira mais vantajosa. “O pai dele me perguntou se eu poderia cobrir a proposta e mostrei tudo o que já tinha investido. Ele voltou para casa, conversou com a esposa, e voltou com a resposta negativa. Fiquei desapontado, é claro”, diz Roca, que ainda detém um percentual da venda do prodígio.

Outro jogador que Paulo Roca teve a oportunidade de ver florescer foi Estêvão. Natural de Franca, no interior paulista, o jogador participou de competições em que o agente estava nas arquibancadas. Apesar do jeito franzino, a capacidade de conduzir a bola driblando adversários, aliada a uma boa finalização, não o deixou com dúvida. Sabia que teria de ligar para João Paulo Sampaio e levá-lo ao Palmeiras.

Estêvão passou pela Academia de Futebol antes de ir ao Cruzeiro, onde permaneceu até eclodir a crise no clube. A lapidação da joia continuou fora de Minas, novamente no Palmeiras. O sucesso da dupla com Endrick na base palmeirense despertou a atenção do Paris Saint-Germain, que antes mesmo de Real Madrid e Chelsea botarem suas ofertas na mesa, tentou levar os dois garotos.

“O PSG queria os dois. Quando surgiu a proposta para o Endrick, quando ele tinha 15 anos, eles queriam fazer uma composição e também levar o Estêvão”, revela. “Esses meninos, assim como o Luis Guilherme também, que hoje está na Inglaterra, são o futuro da seleção brasileira.”

Em fase final de tratamento de lesão, Estêvão não esteve presente na última convocação da seleção brasileira. Com um leque de jogadores recheado na frente, discutiu-se até a possibilidade de o ponta ser aproveitado atuando por dentro, como uma espécie de falso 9, função que ganhou relevância nos esquemas táticos mundo afora após o estouro de Lionel Messi — na base, Estêvão ganhou o apelido do craque argentino.

Enzo Maresca, técnico do Chelsea, futuro time de Estêvão, já revelou que deseja trabalhar o atleta como um camisa 10. Paulo Roca não somente vê a joia palmeirense com totais condições de realizar a função como revela que é o sonho do pai, o missionário Ivo Gonçalves, vê-lo atuando na função.

“Vejo ele (Estêvão) como um jogador extremamente versátil. Embora ele produza muito da direita para dentro, porque ele bate muito bem na bola, tem essa chapada muito boa, ele realmente tem essa característica de jogar por dentro”, enfatiza o agente, citando partidas do jovem na base, quando era chamado de Messinho. “Essa percepção do Maresca é pertinente porque o futebol brasileiro vai precisar desse jogador que produza pelo centro, algo que já não vemos há muito tempo.

“O Luis Guilherme é outro com um estilo que se assemelha ao do Estêvão, de drible, corte para o meio. Acredito que também possa estar na seleção em breve”, afirma Roca, recordando a outra joia do trio de bilhão do Palmeiras.

Alex Sandro: o primeiro sucesso

Formado em Educação Física, Paulo Roca, de 55 anos, começou sua trajetória como gerenciador de carreiras quase por um acaso. Depois de acumular passagens por times de menor expressão do interior paulista, como Grêmio Catanduvense, Guairense e Inter de Bebedouro, ele “usou a razão em vez do coração” e decidiu pendurar as chuteiras aos 25 anos. Em 1994, abriu uma escolinha de futebol em Guaíra e viu o negócio prosperar a ponto de levar dois meninos para conhecer as instalações do Vitória, em Salvador. A partir dali, passou a ser um gerenciador de carreiras.

O primeiro grande case de Paulo Roca foi Alex Sandro, ex-Juventus e seleção brasileira e atualmente no Flamengo. O jogador já tinha 15 anos e havia sido reprovado em diferentes clubes até o agente sugerir ao atleta mudar de posição. “Quando vou para vê-lo, ele joga como meia camisa 10, mas sempre dava a opção por fora e nunca por dentro, então raramente entrava na área, e buscava sempre as ações dele pelo corredor lateral. Quando terminou o jogo, eu virei para ele e disse ‘acho que eu sei qual o seu problema: você não é meia, é lateral’”, conta.

Na nova posição, Alex Sandro conseguiu um teste no Athletico Paranaense, onde passou e conseguiu dar sequência à carreira de profissional, sendo campeão da Libertadores pelo Santos. “Eu tinha uma revista de quando o Alex Sandro chegou ao Porto me agradecendo por eu ter convencido a mãe dele a deixá-lo ir naquela viagem a Curitiba.”

Atualmente no Flamengo, o veterano Alex Sandro fez sucesso com a camisa do Santos. Foto: Ernesto Rodrigues/AE

Outro jogador que Paulo Roca teve êxito em levar para a Europa é o atacante Rodrigo Muniz, do Fulham. O agente monitorava o atleta desde 2016, quando ele estava no Desportivo Brasil. Após a ida do jovem ao Flamengo, o grupo do profissional passou a gerenciar a carreira do jogador e foi determinante para convencer o atleta a se mudar para Londres. Atualmente, Muniz é titular absoluto da equipe inglesa e um dos brasileiros de destaque na Premier League.

Identidade brasileira

Com um longo histórico de observação em torneios de base, Paulo Roca é categórico ao afirmar que uma característica em específico mudou ao longo dos anos na busca por talentos: a parte física. Caso o atributo não seja uma virtude de um potencial atleta, é necessário ser “muito rápido e intenso”, na avaliação do agente. “Aquele jogador que a gente identificava lá atrás, como por exemplo o Paulo Henrique Ganso, possivelmente em uma avaliação hoje, ele não seria aprovado”, comenta o especialista na captação de atletas.

A evolução tática do futebol do europeu na última década, especialmente centrada na figura de Pep Guardiola, influenciou o desenvolvimento de atletas. Segundo Paulo Roca, tornou-se comum ver atletas sendo cada vez mais talhados ainda nas divisões de base, categoria em que deveria ter liberdade para explorar a criatividade, em prol de um modelo de jogo mais tático. Para o agente, isso reflete diretamente na seleção e no desenvolvimento do futebol brasileiro como um todo.

“Entendo que na formação precisa se incentivar o improviso, o drible, para que não vá tirando isso do menino. Às vezes a necessidade de ganhar competições na base se confunde com a formação e não deveria ser assim. É importante para os meus atletas serem vencedores para chegarem com uma mentalidade boa no profissional, mas é mais importante formar do que ganhar títulos. E isso é muito claro, caso contrário, não teremos um futuro promissor pela frente”, analisa.

O ponto de virada palmeirense

Paulo Roca tem como vista do apartamento onde mora na Pompeia o Allianz Parque, onde os meninos que ele viu dar os primeiros passos, como Endrick, Estêvão e Luis Guilherme, desabrocharam e marcaram um ponto de virada no Palmeiras. A base, antes pouco aproveitada, se tornou uma fonte importante de receitas para o clube, que ganhou a grife de bom vendedor e hoje vê o mercado cada vez mais procurando informações sobre atletas — o agente aposta em Vitor Reis como próxima grande venda do clube.

Ao comentar o crescimento do Palmeiras, Paulo Roca credita a ascensão alviverde ao trabalho iniciado por Paulo Nobre e às pessoas indicadas ao trabalho, especialmente João Paulo Sampaio, com quem mantém relação próxima. “Ele me perguntou quanto tempo eu achava que ele ia ficar. Eu falei ‘seis meses’ e ele se assustou, mas eu disse que se ele passasse de seis meses, ficaria seis anos”, relembra a situação, com bom humor.

Ele conta que o Palmeiras tinha seis assistentes sociais, mas apenas dois captadores na época em que o amigo desembarcou no clube, indicado por Alexandre Mattos. A configuração foi invertida e, ao verificar o bom trabalho que decorria na base alviverde, Paulo Roca sugeriu Endrick ao clube.

Novas práticas, novos mercados

Enquanto Estêvão, com apenas 17 anos, desfila seu futebol nos gramados brasileiros, Endrick, apenas um ano mais velho, já recebe oportunidades no time principal do Real Madrid. Gigantes europeus têm buscado contratar jovens promissores cada vez mais cedo, optando por terminar a formação destes atletas dentro próprio clube. Paulo Roca é reticente quanto ao processo e acredita que Endrick, por exemplo, vá encontrar dificuldades de adaptação no início de sua jornada na Espanha.

“Talvez (ele) não vai ter uma sequência ideal neste primeiro momento. É igual piloto de avião, quantas mais horas de voo, o cara fica mais experiente”, comenta. “Pela concorrência que existe lá, talvez jogar um tempo maior no Brasil seja mais interessante, mas este tipo de coisa não vai mais acontecer.”

Giovani, ex-palmeiras e atualmente no Catar, é mais um agenciado por Paulo Roca. Foto: Arquivo pessoal

Não é somente os olhos da Europa que estão de olho no futebol brasileiro e sul-americano. Paulo Roca comenta uma tendência do futebol do Oriente Médio em busca de talentos, em contraste com o recente movimento da Arábia Saudita em levar medalhões ao país. O agente participou da venda do atacante Giovani, de 20 anos, Palmeiras ao Al-Sadd, do Catar.

“É um movimento muito diferente do que aconteceu com a bolha da China. Pagaram um valor altíssimo pelo Marcos Leonardo. O Giovani não foi barato e agora mesmo nós estávamos negociando um jogador do Coritiba para Arábia Saudita”, revela. “Acredito que em breve os clubes europeus também vão virar os olhos para jogadores com potencial atuando no Oriente Médio, com esse mercado servindo de porta de entrada para jogadores promissores irem atuar na Europa.”

Em 17 de setembro, Endrick arrancou do campo de defesa em velocidade e com um chute forte rasteiro fez o seu primeiro gol com a camisa do Real Madrid na Champions League. Os atributos apresentados pelo craque de 18 anos da seleção brasileira na jogada são os mesmos que chamaram a atenção de Paulo Roca anos atrás. O agente de olhar apurado, considerado um dos principais identificadores de jovens talentos do futebol nacional, foi o responsável por levar o prodígio ao Palmeiras.

A primeira vez que Paulo Roca viu Endrick jogar foi quando o atacante tinha apenas 9 anos. Segundo ele, o jogador sempre foi “abençoado fisicamente”, demonstrando agilidade e potência desde muito novo. “Às vezes você identifica um menino e ele vai mudando ao longo do tempo, não consegue mais fazer o que fazia antes. O Endrick, não”, conta. “Obviamente, uma das maiores virtudes dele era a força física, mas aliado com a capacidade de finalizar com a perna direita, e com a esquerda. Ele também tinha um desejo pelo gol que era uma coisa incrível.”

A certeza de que estava vendo o nascimento de uma joia pesou na insistência com João Paulo Sampaio, diretor da base palmeirense, para levar Endrick à Academia de Futebol. As exigências eram muitas para um menino de 9 anos, como escola particular e auxílio moradia, mas a boa relação entre os profissionais pesou para o clube alviverde afastar a concorrência de São Paulo e Grêmio. “Disse ao João ‘se você não contratar, vai chorar lágrimas de sangue”, revelou o agente. “O jogador bom sempre vai ter (no mercado). O diferente você tem de captar ainda nesta idade.”

Paulo Roca ao lado de Endrick, ainda adolescente, antes de brilhar no Palmeiras. Foto: Arquivo pessoal

A parceria entre Endrick e Paulo Roca durou cinco anos. A família do jogador decidiu trocar de agente perto de o atacante assinar o seu primeiro contrato de formação com o Palmeiras, optando por uma oferta financeira mais vantajosa. “O pai dele me perguntou se eu poderia cobrir a proposta e mostrei tudo o que já tinha investido. Ele voltou para casa, conversou com a esposa, e voltou com a resposta negativa. Fiquei desapontado, é claro”, diz Roca, que ainda detém um percentual da venda do prodígio.

Outro jogador que Paulo Roca teve a oportunidade de ver florescer foi Estêvão. Natural de Franca, no interior paulista, o jogador participou de competições em que o agente estava nas arquibancadas. Apesar do jeito franzino, a capacidade de conduzir a bola driblando adversários, aliada a uma boa finalização, não o deixou com dúvida. Sabia que teria de ligar para João Paulo Sampaio e levá-lo ao Palmeiras.

Estêvão passou pela Academia de Futebol antes de ir ao Cruzeiro, onde permaneceu até eclodir a crise no clube. A lapidação da joia continuou fora de Minas, novamente no Palmeiras. O sucesso da dupla com Endrick na base palmeirense despertou a atenção do Paris Saint-Germain, que antes mesmo de Real Madrid e Chelsea botarem suas ofertas na mesa, tentou levar os dois garotos.

“O PSG queria os dois. Quando surgiu a proposta para o Endrick, quando ele tinha 15 anos, eles queriam fazer uma composição e também levar o Estêvão”, revela. “Esses meninos, assim como o Luis Guilherme também, que hoje está na Inglaterra, são o futuro da seleção brasileira.”

Em fase final de tratamento de lesão, Estêvão não esteve presente na última convocação da seleção brasileira. Com um leque de jogadores recheado na frente, discutiu-se até a possibilidade de o ponta ser aproveitado atuando por dentro, como uma espécie de falso 9, função que ganhou relevância nos esquemas táticos mundo afora após o estouro de Lionel Messi — na base, Estêvão ganhou o apelido do craque argentino.

Enzo Maresca, técnico do Chelsea, futuro time de Estêvão, já revelou que deseja trabalhar o atleta como um camisa 10. Paulo Roca não somente vê a joia palmeirense com totais condições de realizar a função como revela que é o sonho do pai, o missionário Ivo Gonçalves, vê-lo atuando na função.

“Vejo ele (Estêvão) como um jogador extremamente versátil. Embora ele produza muito da direita para dentro, porque ele bate muito bem na bola, tem essa chapada muito boa, ele realmente tem essa característica de jogar por dentro”, enfatiza o agente, citando partidas do jovem na base, quando era chamado de Messinho. “Essa percepção do Maresca é pertinente porque o futebol brasileiro vai precisar desse jogador que produza pelo centro, algo que já não vemos há muito tempo.

“O Luis Guilherme é outro com um estilo que se assemelha ao do Estêvão, de drible, corte para o meio. Acredito que também possa estar na seleção em breve”, afirma Roca, recordando a outra joia do trio de bilhão do Palmeiras.

Alex Sandro: o primeiro sucesso

Formado em Educação Física, Paulo Roca, de 55 anos, começou sua trajetória como gerenciador de carreiras quase por um acaso. Depois de acumular passagens por times de menor expressão do interior paulista, como Grêmio Catanduvense, Guairense e Inter de Bebedouro, ele “usou a razão em vez do coração” e decidiu pendurar as chuteiras aos 25 anos. Em 1994, abriu uma escolinha de futebol em Guaíra e viu o negócio prosperar a ponto de levar dois meninos para conhecer as instalações do Vitória, em Salvador. A partir dali, passou a ser um gerenciador de carreiras.

O primeiro grande case de Paulo Roca foi Alex Sandro, ex-Juventus e seleção brasileira e atualmente no Flamengo. O jogador já tinha 15 anos e havia sido reprovado em diferentes clubes até o agente sugerir ao atleta mudar de posição. “Quando vou para vê-lo, ele joga como meia camisa 10, mas sempre dava a opção por fora e nunca por dentro, então raramente entrava na área, e buscava sempre as ações dele pelo corredor lateral. Quando terminou o jogo, eu virei para ele e disse ‘acho que eu sei qual o seu problema: você não é meia, é lateral’”, conta.

Na nova posição, Alex Sandro conseguiu um teste no Athletico Paranaense, onde passou e conseguiu dar sequência à carreira de profissional, sendo campeão da Libertadores pelo Santos. “Eu tinha uma revista de quando o Alex Sandro chegou ao Porto me agradecendo por eu ter convencido a mãe dele a deixá-lo ir naquela viagem a Curitiba.”

Atualmente no Flamengo, o veterano Alex Sandro fez sucesso com a camisa do Santos. Foto: Ernesto Rodrigues/AE

Outro jogador que Paulo Roca teve êxito em levar para a Europa é o atacante Rodrigo Muniz, do Fulham. O agente monitorava o atleta desde 2016, quando ele estava no Desportivo Brasil. Após a ida do jovem ao Flamengo, o grupo do profissional passou a gerenciar a carreira do jogador e foi determinante para convencer o atleta a se mudar para Londres. Atualmente, Muniz é titular absoluto da equipe inglesa e um dos brasileiros de destaque na Premier League.

Identidade brasileira

Com um longo histórico de observação em torneios de base, Paulo Roca é categórico ao afirmar que uma característica em específico mudou ao longo dos anos na busca por talentos: a parte física. Caso o atributo não seja uma virtude de um potencial atleta, é necessário ser “muito rápido e intenso”, na avaliação do agente. “Aquele jogador que a gente identificava lá atrás, como por exemplo o Paulo Henrique Ganso, possivelmente em uma avaliação hoje, ele não seria aprovado”, comenta o especialista na captação de atletas.

A evolução tática do futebol do europeu na última década, especialmente centrada na figura de Pep Guardiola, influenciou o desenvolvimento de atletas. Segundo Paulo Roca, tornou-se comum ver atletas sendo cada vez mais talhados ainda nas divisões de base, categoria em que deveria ter liberdade para explorar a criatividade, em prol de um modelo de jogo mais tático. Para o agente, isso reflete diretamente na seleção e no desenvolvimento do futebol brasileiro como um todo.

“Entendo que na formação precisa se incentivar o improviso, o drible, para que não vá tirando isso do menino. Às vezes a necessidade de ganhar competições na base se confunde com a formação e não deveria ser assim. É importante para os meus atletas serem vencedores para chegarem com uma mentalidade boa no profissional, mas é mais importante formar do que ganhar títulos. E isso é muito claro, caso contrário, não teremos um futuro promissor pela frente”, analisa.

O ponto de virada palmeirense

Paulo Roca tem como vista do apartamento onde mora na Pompeia o Allianz Parque, onde os meninos que ele viu dar os primeiros passos, como Endrick, Estêvão e Luis Guilherme, desabrocharam e marcaram um ponto de virada no Palmeiras. A base, antes pouco aproveitada, se tornou uma fonte importante de receitas para o clube, que ganhou a grife de bom vendedor e hoje vê o mercado cada vez mais procurando informações sobre atletas — o agente aposta em Vitor Reis como próxima grande venda do clube.

Ao comentar o crescimento do Palmeiras, Paulo Roca credita a ascensão alviverde ao trabalho iniciado por Paulo Nobre e às pessoas indicadas ao trabalho, especialmente João Paulo Sampaio, com quem mantém relação próxima. “Ele me perguntou quanto tempo eu achava que ele ia ficar. Eu falei ‘seis meses’ e ele se assustou, mas eu disse que se ele passasse de seis meses, ficaria seis anos”, relembra a situação, com bom humor.

Ele conta que o Palmeiras tinha seis assistentes sociais, mas apenas dois captadores na época em que o amigo desembarcou no clube, indicado por Alexandre Mattos. A configuração foi invertida e, ao verificar o bom trabalho que decorria na base alviverde, Paulo Roca sugeriu Endrick ao clube.

Novas práticas, novos mercados

Enquanto Estêvão, com apenas 17 anos, desfila seu futebol nos gramados brasileiros, Endrick, apenas um ano mais velho, já recebe oportunidades no time principal do Real Madrid. Gigantes europeus têm buscado contratar jovens promissores cada vez mais cedo, optando por terminar a formação destes atletas dentro próprio clube. Paulo Roca é reticente quanto ao processo e acredita que Endrick, por exemplo, vá encontrar dificuldades de adaptação no início de sua jornada na Espanha.

“Talvez (ele) não vai ter uma sequência ideal neste primeiro momento. É igual piloto de avião, quantas mais horas de voo, o cara fica mais experiente”, comenta. “Pela concorrência que existe lá, talvez jogar um tempo maior no Brasil seja mais interessante, mas este tipo de coisa não vai mais acontecer.”

Giovani, ex-palmeiras e atualmente no Catar, é mais um agenciado por Paulo Roca. Foto: Arquivo pessoal

Não é somente os olhos da Europa que estão de olho no futebol brasileiro e sul-americano. Paulo Roca comenta uma tendência do futebol do Oriente Médio em busca de talentos, em contraste com o recente movimento da Arábia Saudita em levar medalhões ao país. O agente participou da venda do atacante Giovani, de 20 anos, Palmeiras ao Al-Sadd, do Catar.

“É um movimento muito diferente do que aconteceu com a bolha da China. Pagaram um valor altíssimo pelo Marcos Leonardo. O Giovani não foi barato e agora mesmo nós estávamos negociando um jogador do Coritiba para Arábia Saudita”, revela. “Acredito que em breve os clubes europeus também vão virar os olhos para jogadores com potencial atuando no Oriente Médio, com esse mercado servindo de porta de entrada para jogadores promissores irem atuar na Europa.”

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