Cássio se reuniu com a diretoria do Corinthians em mais de uma reunião e avisou que não quer ficar. O presidente Augusto Melo tentou reverter o quadro ao oferecer dois anos de contrato para o goleiro, cujo vínculo termina no fim deste ano. No entanto, desgastado emocionalmente, o atleta já decidiu que seu plano é vestir outra camisa depois de mais de 12 anos de dedicação ao time paulista.
Cássio recebeu proposta do Cruzeiro e gostou do que lhe foi apresentado. Ele aprovou os valores, tempo de contrato - de três anos - e o projeto oferecido. O fato de ter ido para a reserva no Corinthians não foi o que mais lhe incomodou, mas a ideia de voltar a ser titular e ter sequência em um novo ambiente, com pressão muito menor, foi determinante para a sua escolha.
Sob nova direção, com Alexandre Mattos como diretor de futebol, o clube mineiro vê no goleiro uma figura cuja contratação gerará impacto significativo. O goleiro de 36 anos quer jogar ao menos até os 40 e vê no Cruzeiro a possibilidade de retomar o alto nível.
Para além de salário e questões contratuais, o fator mais determinante para a decisão de Cássio foi o desgaste emocional que acumulou nos últimos anos no Corinthians e que se acentuou nesta temporada. Líder, o experiente jogador sempre se apresentava nas crises e depois de resultados ruins. Ele funcionou, muitas vezes, como um escudo para a diretoria, o que foi minando sua confiança e lhe deixando infeliz.
O goleiro não quer mais ser essa figura, que sempre tem de responder às críticas, às vezes nem relacionadas a ele, nas entrevistas depois dos jogos. Cássio não gostou de algumas ações da diretoria, que deixou os atletas expostos em momentos de crise neste ano. A postura foi outro ponto a lhe incomodar. Os dirigentes haviam oferecido um salário menor e apenas mais um ano de contrato. Depois, mudaram de ideia.
O gaúcho de Veranópolis também entende que, vestindo uma nova camisa, terá paz para retomar o seu melhor nível. Ele reconhece que sua fase recente é ruim e aceitou a reserva com naturalidade. Ser suplente de Carlos Miguel não é o maior dos problemas, mas Cássio não vê mais clima para continuar e brigar para voltar a ser titular.
Ele pensa em fazer isso em um ambiente fresco, sem a pressão e as críticas que tem recebido há meses de parte da torcida corintiana. O esgotamento mental foi a razão principal de sua escolha, como ficou claro pelas suas palavras em entrevista há quase um mês, antes de perder a titularidade.
“Se eu estiver atrapalhando o Corinthians, se não estiver agradando... Para mim está muito difícil também. Tudo de errado que acontece no Corinthians sobra para mim. O time leva gol e a culpa é do Cássio. Toma um gol de pênalti e a culpa é do Cássio”, disse, na ocasião, em tom de desabafo.
Mais de uma década de idolatria
A decisão levou poucos dias para ser tomada. Ele recebeu a proposta do Cruzeiro no fim de semana e avisou qual era sua vontade já na segunda-feira, depois de conversar com sua família. O anúncio demora a sair porque Cássio discute com a diretoria a rescisão de seu contrato. Ele quer a liberação imediata, mas Augusto Melo deseja uma compensação financeira. Daí o motivo do entrave.
Mesmo que a janela de transferência só abra no dia 10 de julho, o seu desejo é sair agora. O presidente Augusto Melo tentou de tudo, marcou uma série de reuniões para convencê-lo a ficar, ofereceu dois anos de contrato, mas não foi capaz de demover o goleiro de seu plano.
Cássio sabe o quão importante foi para o Corinthians na história, e por isso, quer sair sem rusgas. Ele considera que não haverá mágoa das duas partes, ainda que saiba que uma parcela da torcida ficará chateada. Mas outra grande parte dos torcedores demonstrou apoio publicamente ao ídolo.
O ídolo corintiano foi ovacionado pelos torcedores antes do duelo com o Argentino Juniors e também teve o nome gritado nas arquibancadas da arena na saída do campo. O jogador agradeceu o apoio, mas não comentou sobre os próximos passos da carreira. “No momento certo, eu vou falar”, limitou-se a dizer, ao passar pela zona mista.
A última partida de Cássio como titular do Corinthians foi na derrota para o Argentinos Juniors, pela Copa Sul-Americana, no dia 23 de abril. Nos últimos seis compromissos, ficou no banco, mas foi recebido com carinho pela torcida e ajudou nas instruções aos companheiros de time. Ao todo, o atleta soma 712 jogos pelo time alvinegro e nove títulos, incluindo quatro edições do Paulistão (2013, 2017, 2018 e 2019), dois troféus do Brasileirão (2015 e 2017), além de Libertadores (2012), Mundial (2012) e Recopa (2013).
Confirmada sua saída, ele deixará o clube como o segundo jogar que mais vezes vestiu a camisa do Corinthians. O primeiro é Wladimir, com 806 jogos.