Grêmio e Internacional contam com o patrocínio máster do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, o Banrisul, desde 2001. Os R$ 30 milhões que cada um recebe anualmente superam valores pagos por algumas bets a outros clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, mas ficam longe dos principais patrocínios. A dupla gaúcha tem, ainda, valores pagos por plataformas de apostas que chegam próximo ao aporte do banco. A regulamentação e a ambição de não perder competitividade podem, contudo, ser fator determinante para a mudança no principal espaço das camisas dos clubes, que já negociam novos acordos.
A Esportes da Sorte é patrocinadora do Grêmio desde março de 2023 e paga, anualmente, R$ 25 milhões para aparecer no peito da camisa, entre o escudo do clube e a marca do fornecedor esportivo. O valor é apenas R$ 5 milhões a menos que o máster, que além do peito, aparece nas mangas e nas costas, assim como no Inter.
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No primeiro ano do acordo, a bet ajudou com o pagamento do salário do atacante Luis Suárez, que recebeu R$ 23 milhões na temporada 2023. Atualmente, a empresa disponibilizou ao Corinthians R$ 57 milhões para a contratação de Memphis Depay, que receberá R$ 70 milhões até o fim do contrato, em julho de 2026.
Antes da Esportes da Sorte, o Grêmio tinha como bet parceira a MrJackBet, desde abril de 2022. Já o Inter conta com a EstrelaBet desde junho daquele ano. O acordo rende R$ 23 milhões aos cofres colorados, e a marca aparece na parte traseira do uniforme e como patrocínio máster do time feminino.
Os patrocínios de bets de Grêmio e Inter, mesmo fora do espaço máster, superam outros oito acordos de clubes da Série A, firmados com casas de apostas. Já a parceria do Banrisul com Grêmio e Inter vai até dezembro de 2024 e conta com renovação automática.
Ainda assim, o presidente Alessandro Barcellos já negocia uma renovação para o clube colorado e pleiteia um aumento nos valores recebidos. O mandatário tem preferência por uma renovação. O Inter não confirma oficialmente uma chance mudança no espaço master, mas tem pretensão de aumentar ganhos, o que envolve uma proposta da EstrelaBet que dobra o valor pago atualmente pelo Banrisul. É desejo do clube colorado, porém, manter o banco, em outras partes do uniforme.
O clube tricolor, conforme apurou o Estadão, também avalia e negocia a possibilidade de mudar o espaço hoje do Banrisul mudar, mas manter a parceria com o banco gaúcho, que ocuparia outro espaço de divulgação.
O clube acompanha a situação da Esportes da Sorte, diante da regulamentação das bets. Atualmente, a empresa tem o aval da Loterj, ao se tornar sócia de outra casa de apostas já regularizada. Uma decisão judicial até impede que a autarquia do Rio chancelasse atuações nacionais, mas um ofício da CBF dribla a decisão e permite o uso do patrocínio.
Há outras bets interessadas em patrocinar a equipe tricolor. Em um cenário que a atual patrocinadora não tenha pendências, ela terá prioridade em negociações.
Além dos R$ 30 milhões pagos anualmente, o banco também concede isenções de taxas de operação e juros reduzidos em empréstimos para a dupla GreNal. Esse é o motivo principal para que Grêmio e Inter queiram manter a parceria, mesmo que não seja no espaço mais nobre do uniforme.
Os outros três clubes que não têm patrocínios de bets na Série A são Palmeiras (mercado financeiro), Red Bull Bragantino (bebidas) e Cuiabá (borracha).
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Patrocínios masters da Série A por ano
- Flamengo - Pixbet - R$ 105 milhões
- Corinthians - Esportes da Sorte - R$ 103 milhões
- Palmeiras - Crefisa - R$ 81 milhões
- Vasco - Betfair - R$ 70 milhões
- São Paulo e Fluminense - SuperBet - (R$ 52 milhões)
- Grêmio e Inter - Banrisul - R$ 30 milhões
- Botafogo - Parimatch - R$ 27,5 milhões
- Cruzeiro - Betfair - 25 milhões
- Fortaleza: Novibet - 20 milhões
- Bahia: Esportes da Sorte - R$ 19 milhões
- Atlético-MG - Betano - R$ 18 milhões
- Athletico-PR: Esportes da Sorte - R$ 17 milhões
- Juventude: Stake - R$ 15 milhões
- Atlético-GO: Blaze - R$ 14 milhões
- Vitória: Betsat - R$ 10 milhões
- Criciúma: EstrelaBet - R$ 6 milhões
*Red Bull Bragantino e Cuiabá têm como patrocinadores masters empresas/empresários que também são donos dos clubes.
Especialista avalia que patrocínio precisa gerar negócios além da exposição
É comum que, ao abrir uma conta no Banrisul, seja questionado o time do cliente novo, para oferecer um cartão personalizado de Grêmio ou Inter. Entretanto, não há vantagens financeiras especificamente para os torcedores. A reportagem do Estadão questionou ao Banrisul se há algum plano de benefícios para torcedores e sobre o status das negociações com os clubes, mas o banco afirmou que não iria se manifestar.
Para o sócio fundador da Convocados, consultoria de investimentos especializada no mercado do futebol, Rafael Plastina, a relação com o torcedor precisa ser estreitada, e esse caminho é “inevitável”.
“Um patrocínio tão longevo (como esse no Rio Grande do Sul) precisava se reinventar. Para onde foi a relação com o torcedor? O que há de benefício? O que o Banrisul faz de relacionamento com o torcedor?”, questiona Plastina, que conclui: “Apesar de estatal, ele compete no mercado privado. As bets oferecem comissão aos clubes. É possível que um banco faça um banco digital especial para torcedores, como o Flamengo fez com o BRB”.
Há um ponto, porém, que é vantagem para o Banrisul em relação a bets. A marca é reconhecida dos gaúchos e pode agregar mais ao clube, em um sentido intangível. “A Rolex patrocinar o US Open vale muito mais do que o dinheiro pago”, exemplifica Plastina, que ressalva: “Mas nossos clubes não chegaram ainda nesse patamar de sofisticação. Ainda é dinheiro por dinheiro”, ressalva Plastina.
Regular pode qualificar parcerias, e papel social dos clubes cresce
A regulamentação das bets ainda está no começo, mas deve movimentar o mercado, com saídas e fusões de marcas. A consequência de um mercado regulado é que a demanda por esse tipo de patrocínio pode diminuir. Entretanto, ele se qualifica, menos em exposição da marca, e mais com ações de ativação, junto ao torcedor.
Para Plastina, contudo, isso deve ser acompanhado de um papel social e de saúde dos patrocinados. “O clube tem um papel muito importante. O processo de apostas tem que passar por educação. Na Europa, há restrição de exposição da marca para evitar o vício. É até um impacto até na economia do Estado. E os clubes têm esse papel também”, argumenta.
Um exemplo do reflexo das bets na economia foi levantado pelo Banco Central em setembro. Beneficiários do Bolsa Família fastaram R$ 10,5 bilhões em bets, em todo 2024.
O aparecimento com força dessas marcas no esporte se deve ao boom recente. Um mercado novo vê no esporte uma oportunidade de acertar o crescimento de marca. No Brasil, LG, Parmalat e Fiat são alguns exemplos entre o final dos anos 1990 e começo dos anos 2000.
Em um contexto em que ainda impera a ideia de vender a quem paga mais, as bets saem com vantagem, já que conseguem aportes maiores. Os clubes que recebem mais também conseguem aplicar essa diferença em impacto desportivo. Resta a dúvida sobre qual será a próxima tendência, após uma possível desaceleração do mercado de patrocínios do esporte.