‘E aí, primo?’ Jornalista Carlos Nascimento relembra histórias com seu ‘parente’ Pelé


Jogador foi a origem, a pureza, a sensibilidade, a astúcia, a leveza e a arte do futebol

Por Carlos Nascimento
Atualização:

Pelé foi o orgulho da minha e de muitas gerações. Orgulho de nossos irmãos afrodescendentes, dos esportistas, da molecada na rua e de todos que o viram jogar de longe ou perto.

Ouvi o nome dele pela primeira vez na transmissão pelo rádio da Copa de 1962, no Chile, quando se machucou e foi substituído por Amarildo.

Lembro-me das peruas Kombi que levavam torcedores por estradas de terra vê-lo jogar pelo Campeonato Paulista em Araraquara, Bauru, Piracicaba e Jaú.

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Menino de calças curtas conheci um senhor magro que proseava comigo no banco de espera da Delegacia Regional de Saúde, na rua Cussy Júnior, em Bauru.

Meu tio Nelson, inspetor de farmácias que trabalhava lá apresentou-me :

- Sabe quem é ? O Dondinho, pai do Pelé.

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Pelé despede-se do Santos

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Despedida de Pelé do Santos

Foto: Acervo Estadão / Claudine Petroli / Reginaldo Manente
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Despedida de Pelé do Santos

Foto: Claudine Petroli/Estadão
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Despedida de Pelé do Santos

Foto: Equipe/Estadão
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Despedida de Pelé do Santos

Foto: Domício Pinheiro/Estadão
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Foto: Reginaldo Manente/Estadão
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Foto: Reginaldo Manente/Estadão
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Foto: Acervo Estadão
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Foto: Acervo Estadão
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Despedida de Pelé do Santos

Foto: Acervo Estadão

O filho havia ganhado de presente um Romi-Isetta pela Copa de 58 e estreava como garoto propaganda da Ducal.

Nos anos seguintes deixaria uma coleção de jogadas, gols e atitudes esportivas que o consagrariam Rei do Futebol e Atleta do Século XX.

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O reinado foi reconhecido em todos os estádios e países, inclusive pela realeza. Quando correspondente na Espanha vi Juan Carlos de Bourbon sair da sessão de estreia de Fuga Para a Vitória, o filme em que Pelé atuou com Michel Caine, Sylvester Stallone e o jogador inglês Bobby Moore.

Carlos Nascimento ouviu pela primeira vez o nome de Pelé em uma transmissão de rádio da Copa do Mundo de 1962 Foto: Acervo/ Estadão

Em 1982, a convite de Armando Nogueira tive a honra de jantar ao lado dele no Jockey, o restaurante mais importante de Madri.

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Foi o primeiro jogador brasileiro a se comunicar em inglês e ser reconhecido por todos os povos da Terra. Vestia-se bem, era polido, humilde e tratado como um símbolo.

Uma vez contei-lhe que o recepcionista de um hotel na França, ao ver o passaporte perguntou-me se era parente. Respondi “cousin” ! Tempos depois, ao entrar pela garagem no elevador de um prédio da avenida Juscelino Kubistchek, em São Paulo, viu-me :

- E aí, primo ?

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No estádio Rose Bowl, Pasadena, 1994 estava um degrau abaixo dele no momento em que o Brasil conquistou o Tetra. Virei-me e vi Pelé abrir um sorriso largo e dar um salto quando Baggio errou o pênalti italiano.

Na Copa de 2010 tiramos fotos de publicidade no estádio do Pacaembu e trabalhamos juntos no estúdio do SBT Brasil. Pelé comentou os resultados ao vivo e deu uma aula de companheirismo.

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Vivem inventando concorrentes para Pelé. Maradona, Messi, Cristiano Ronaldo e mais alguns, brasileiros.

Pelé foi a origem, a pureza, a sensibilidade, a astúcia, a leveza e a arte do futebol. Outros poderão marcar mais gols, vencer nas estatísticas, fazer jogadas memoráveis, ter milhões de dólares e frotas de aviões, mas nunca irão superá-lo.

A camisa 10 sempre será dele, lembrado por todas as gerações como o rapazote que saiu do interior do Brasil para encantar o futebol.

Podem apontar-lhe defeitos e imperfeições na vida privada, por não abordar o racismo e pela inabilidade ao comentar política. Exerceu cargos diplomáticos, foi ministro do Esporte e atuou na vida pública não por vocação, mas em consequência do futebol. Quanto à vida pessoal era dele, não nossa.

Foi apenas o maior jogador de futebol de todos os tempos. Um ser que se vai deste plano, mas não da memória nem do coração de quem o viu jogar e se transformar na principal referência do povo brasileiro.

Pelé foi o orgulho da minha e de muitas gerações. Orgulho de nossos irmãos afrodescendentes, dos esportistas, da molecada na rua e de todos que o viram jogar de longe ou perto.

Ouvi o nome dele pela primeira vez na transmissão pelo rádio da Copa de 1962, no Chile, quando se machucou e foi substituído por Amarildo.

Lembro-me das peruas Kombi que levavam torcedores por estradas de terra vê-lo jogar pelo Campeonato Paulista em Araraquara, Bauru, Piracicaba e Jaú.

Menino de calças curtas conheci um senhor magro que proseava comigo no banco de espera da Delegacia Regional de Saúde, na rua Cussy Júnior, em Bauru.

Meu tio Nelson, inspetor de farmácias que trabalhava lá apresentou-me :

- Sabe quem é ? O Dondinho, pai do Pelé.

Pelé despede-se do Santos

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Despedida de Pelé do Santos

Foto: Acervo Estadão / Claudine Petroli / Reginaldo Manente
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O filho havia ganhado de presente um Romi-Isetta pela Copa de 58 e estreava como garoto propaganda da Ducal.

Nos anos seguintes deixaria uma coleção de jogadas, gols e atitudes esportivas que o consagrariam Rei do Futebol e Atleta do Século XX.

O reinado foi reconhecido em todos os estádios e países, inclusive pela realeza. Quando correspondente na Espanha vi Juan Carlos de Bourbon sair da sessão de estreia de Fuga Para a Vitória, o filme em que Pelé atuou com Michel Caine, Sylvester Stallone e o jogador inglês Bobby Moore.

Carlos Nascimento ouviu pela primeira vez o nome de Pelé em uma transmissão de rádio da Copa do Mundo de 1962 Foto: Acervo/ Estadão

Em 1982, a convite de Armando Nogueira tive a honra de jantar ao lado dele no Jockey, o restaurante mais importante de Madri.

Foi o primeiro jogador brasileiro a se comunicar em inglês e ser reconhecido por todos os povos da Terra. Vestia-se bem, era polido, humilde e tratado como um símbolo.

Uma vez contei-lhe que o recepcionista de um hotel na França, ao ver o passaporte perguntou-me se era parente. Respondi “cousin” ! Tempos depois, ao entrar pela garagem no elevador de um prédio da avenida Juscelino Kubistchek, em São Paulo, viu-me :

- E aí, primo ?

No estádio Rose Bowl, Pasadena, 1994 estava um degrau abaixo dele no momento em que o Brasil conquistou o Tetra. Virei-me e vi Pelé abrir um sorriso largo e dar um salto quando Baggio errou o pênalti italiano.

Na Copa de 2010 tiramos fotos de publicidade no estádio do Pacaembu e trabalhamos juntos no estúdio do SBT Brasil. Pelé comentou os resultados ao vivo e deu uma aula de companheirismo.

Vivem inventando concorrentes para Pelé. Maradona, Messi, Cristiano Ronaldo e mais alguns, brasileiros.

Pelé foi a origem, a pureza, a sensibilidade, a astúcia, a leveza e a arte do futebol. Outros poderão marcar mais gols, vencer nas estatísticas, fazer jogadas memoráveis, ter milhões de dólares e frotas de aviões, mas nunca irão superá-lo.

A camisa 10 sempre será dele, lembrado por todas as gerações como o rapazote que saiu do interior do Brasil para encantar o futebol.

Podem apontar-lhe defeitos e imperfeições na vida privada, por não abordar o racismo e pela inabilidade ao comentar política. Exerceu cargos diplomáticos, foi ministro do Esporte e atuou na vida pública não por vocação, mas em consequência do futebol. Quanto à vida pessoal era dele, não nossa.

Foi apenas o maior jogador de futebol de todos os tempos. Um ser que se vai deste plano, mas não da memória nem do coração de quem o viu jogar e se transformar na principal referência do povo brasileiro.

Pelé foi o orgulho da minha e de muitas gerações. Orgulho de nossos irmãos afrodescendentes, dos esportistas, da molecada na rua e de todos que o viram jogar de longe ou perto.

Ouvi o nome dele pela primeira vez na transmissão pelo rádio da Copa de 1962, no Chile, quando se machucou e foi substituído por Amarildo.

Lembro-me das peruas Kombi que levavam torcedores por estradas de terra vê-lo jogar pelo Campeonato Paulista em Araraquara, Bauru, Piracicaba e Jaú.

Menino de calças curtas conheci um senhor magro que proseava comigo no banco de espera da Delegacia Regional de Saúde, na rua Cussy Júnior, em Bauru.

Meu tio Nelson, inspetor de farmácias que trabalhava lá apresentou-me :

- Sabe quem é ? O Dondinho, pai do Pelé.

Pelé despede-se do Santos

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O filho havia ganhado de presente um Romi-Isetta pela Copa de 58 e estreava como garoto propaganda da Ducal.

Nos anos seguintes deixaria uma coleção de jogadas, gols e atitudes esportivas que o consagrariam Rei do Futebol e Atleta do Século XX.

O reinado foi reconhecido em todos os estádios e países, inclusive pela realeza. Quando correspondente na Espanha vi Juan Carlos de Bourbon sair da sessão de estreia de Fuga Para a Vitória, o filme em que Pelé atuou com Michel Caine, Sylvester Stallone e o jogador inglês Bobby Moore.

Carlos Nascimento ouviu pela primeira vez o nome de Pelé em uma transmissão de rádio da Copa do Mundo de 1962 Foto: Acervo/ Estadão

Em 1982, a convite de Armando Nogueira tive a honra de jantar ao lado dele no Jockey, o restaurante mais importante de Madri.

Foi o primeiro jogador brasileiro a se comunicar em inglês e ser reconhecido por todos os povos da Terra. Vestia-se bem, era polido, humilde e tratado como um símbolo.

Uma vez contei-lhe que o recepcionista de um hotel na França, ao ver o passaporte perguntou-me se era parente. Respondi “cousin” ! Tempos depois, ao entrar pela garagem no elevador de um prédio da avenida Juscelino Kubistchek, em São Paulo, viu-me :

- E aí, primo ?

No estádio Rose Bowl, Pasadena, 1994 estava um degrau abaixo dele no momento em que o Brasil conquistou o Tetra. Virei-me e vi Pelé abrir um sorriso largo e dar um salto quando Baggio errou o pênalti italiano.

Na Copa de 2010 tiramos fotos de publicidade no estádio do Pacaembu e trabalhamos juntos no estúdio do SBT Brasil. Pelé comentou os resultados ao vivo e deu uma aula de companheirismo.

Vivem inventando concorrentes para Pelé. Maradona, Messi, Cristiano Ronaldo e mais alguns, brasileiros.

Pelé foi a origem, a pureza, a sensibilidade, a astúcia, a leveza e a arte do futebol. Outros poderão marcar mais gols, vencer nas estatísticas, fazer jogadas memoráveis, ter milhões de dólares e frotas de aviões, mas nunca irão superá-lo.

A camisa 10 sempre será dele, lembrado por todas as gerações como o rapazote que saiu do interior do Brasil para encantar o futebol.

Podem apontar-lhe defeitos e imperfeições na vida privada, por não abordar o racismo e pela inabilidade ao comentar política. Exerceu cargos diplomáticos, foi ministro do Esporte e atuou na vida pública não por vocação, mas em consequência do futebol. Quanto à vida pessoal era dele, não nossa.

Foi apenas o maior jogador de futebol de todos os tempos. Um ser que se vai deste plano, mas não da memória nem do coração de quem o viu jogar e se transformar na principal referência do povo brasileiro.

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