Marcelo Bielsa, técnico do Uruguai, é uma das maiores mentes pensantes da história do futebol. Idolatrado por Pep Guardiola, o treinador argentino de 68 anos não poupou críticas ao estado do esporte na América do Sul e, citando dois craques brasileiros que acabaram de ser vendido para Europa — Endrick e Estêvão —, fez um diagnóstico dos motivos que levam a modalidade a decadência.
Na noite desta sexta-feira, dia 5 de julho, o comandante da seleção uruguaia participava de entrevista coletiva antes das quartas de final da Copa América, contra o Brasil, quando foi perguntando por um jornalista brasileiro sobre o São Paulo de Telê Santana. Bielsa era o técnico do Newell’s Old Boys, rival do tricolor paulista na final da Libertadores de 1992.
Quebrando sua típica postura sisuda, o argentino abriu um sorriso e interrompeu o repórter. “Isso sim era outro futebol”, ele comentou rindo. “Você recorda a formação do São Paulo?”, indagou o treinador. “Um treinador monumental e uma formação com vários jogadores da seleção brasileira ainda jogando no futebol local.”
“Vejam o que aconteceu com o pobre futebol sul-americano”, continuou o técnico. “Aqui jogavam Raí, Antonio Carlos, Ronaldo, Cafú, Pintado, Muller, todos jogadores ‘europeus’, mas que antes de irem à Europa, jogaram duas finais de Copa Libertadores. O que aconteceu com o futebol?”
Animado com seu próprio devaneio, Bielsa continuou a explicar sua visão de mundo e lamentou que o esporte, outrora feito para as camadas mais populares da população, estava perdendo sua essência democrática ao se vender para os interesses europeus.
“Os pobres já tem pouca capacidade de acesso à felicidade, pois não dispõem de dinheiro para comprá-la. O futebol é gratuito e de origem popular”, ponderou. “Mas, agora, o futebol é algo que os mais pobres já não tem mais, porque, aos 17 anos, já vendem Endrick e o outro jovem do Palmeiras (Estêvão).”
Em outra resposta, o treinador criticou o uso excessivo da tecnologia no esporte. “O auxílio da tecnologia nos deixa ainda mais perto para avaliar as conclusões que pareciam irreversíveis. Para mim, isso faz muito dano ao futebol. O jogo tem essa particularidade, na medida que o jogo se torne plenamente previsível cada vez irá perdendo o atrativo”, comentou. “Eu tenho a certeza que o futebol está em um processo decrescente.”
Para o argentino, o futebol se torna cada vez menos atrativo.”Não se privilegia o que tornou esse jogo o esporte número um do mundo. Ele não protege quem vê. Isso favorece o negócio, o negócio é que muita gente veja o jogo. Mas quando passa o tempo e cada vez os futebolistas que merecem ser olhados sejam menos e cada vez o jogo seja menos agradável, esse aumento artificial dos espectadores vai sofrer um corte.”
“Futebol não é 5 minutos de ação, é muito mais do que isso, é expressão cultural, uma forma de identificação”, finalizou o técnico. O Uruguai enfrenta o Brasil pelas quartas de final da Copa América neste sábado, dia 6 de julho, às 22h. O jogo será transmitido pela Globo e pelo SporTV.