Que o futebol europeu tem um olhar cuidadoso para o futebol sul-americano, disso ninguém duvida. Mas um fato curioso tem chamado a atenção nos últimos anos. O clubes do Velho Continente têm acertado com atletas cada vez mais cedo. Muitos têm contratos assinado com grandes equipes do futebol nacional sem nem terem completados 18 anos. Como é o caso de Endrick, agora ex-Palmeiras, que desde quando tinha apenas 16 já estava assinando com o Real Madrid, da Espanha.
E a procura por jovens promissores não acontece apenas no Brasil. Em maio deste ano, o Borussia Dortmund, que disputa neste sábado a final da Liga dos Campeões, contratou o meia Justin Lerma, de apenas 16 anos, junto ao Independiente del Valle, do Equador. Ele chegará à Alemanha apenas na temporada 2026/27, quando completar 18 anos, assim como foi o acordo do Real com Endrick.
Além deles, outro jovem nome sul-americano aguçou o interesse de um time europeu: o argentino Claudio Echeverri, que aos 17 anos foi contratado pelo Manchester City. Ele vai ficar no River Plate até 2025.
Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, agência norte-americana comandada pelo rapper e empresário Jay-Z e que gerencia as carreiras de atletas como Endrick, Vini Jr e Lucas Paquetá, vê que o olhar dos times da Europa para o mercado sul-americano é inevitável e se correlaciona diretamente com a diferença de nível técnico entre os dois continentes.
“O nível do futebol na América do Sul ainda é muito abaixo do praticado na Europa”, explicou. “Há uma distância grande em relação ao padrão dos treinamentos e das exigências das partidas. Por isso, os principais clubes europeus optam por negociar suas transferências cada vez mais cedo, para já se planejarem e se envolverem com atletas, antes que completem dezoito anos, para que no dia em que os completem, estejam já em suas estruturas. Não faz sentido para um extra-classe, por exemplo, limitar seu desenvolvimento no mais alto nível, ao longo de uma década e meia, ou mesmo duas, na América do Sul”, completou.
Brasil como referência
Os holofotes europeus apontados especialmente para o Brasil se justificam. Afinal, além do País ser o maior vencedor de Copas do Mundo, são inúmeros os exemplos de jogadores que despontaram por aqui. Dos exemplos mais recentes é válido citar Vitor Roque, adquirido pelo Barcelona junto ao Athletico-PR, e Lucas Beraldo (ex-São Paulo e hoje na seleção brasileira) e Gabriel Moscardo (ex-Corinthians), que foram comprados pelo Paris Saint-Germain.
Mais modesto, o Nottingham Forest, da Inglaterra, também viu na América do Sul a oportunidade de contratar jovens promissores com relativo baixo custo. O clube britânico recentemente contratou nomes como o do volante Danilo, ex-Palmeiras, e do zagueiro Murillo, revelado pelo Corinthians.
Segundo Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e CEO da agência Heatmap, estas negociações podem representar ganhos significativos para as equipes do futebol latino, que está demonstrando dificuldade em manter os atletas promissores a médio e longo prazo.
“Embora as equipes sul-americanas estejam presenciando suas joias migrando para a Europa cada vez mais cedo, clubes e atletas acabam se beneficiando com estes movimentos. Transferências para grandes clubes europeus não apenas aumentam a visibilidade do jogador, mas também solidificam sua reputação como uma estrela em ascensão. Além disso, essas transações significam um impulso financeiro substancial para os clubes de origem e enfatizam resultados esportivos e financeiros positivos vindos da base”, analisou.
Em contrapartida, Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports, explicou que as transferências precoces implicam na dificuldade em gerar identificação com o país e os clubes formadores. “Os jogadores de futebol sul-americanos são alvos frequentes do mercado europeu. Os atletas têm saído muito cedo de seus respectivos países, fato esse que muitas vezes impede o desenvolvimento de uma idolatria e do reconhecimento por parte dos torcedores”, concluiu.
Vitrine
A procura leva às oportunidades. Com seus nomes sendo especulados constantemente com gigantes europeus, Estevão, de 17 anos, e Wesley, de 19, têm ganhado cada vez mais tempo em campo no Palmeiras e Corinthians, respectivamente. As chances em campo ajudam não apenas aos jogadores em ganharem minutos para se promoverem, como também ajudam seus times formadores e geram visibilidade para o mundo exterior.