Entenda como política e Justiça podem mudar presidente da CBF e causar punição da Fifa


Movimento articulado nos bastidores parte de dirigentes insatisfeitos com Ednaldo Rodrigues; entidade qualifica acusações como ‘fake news’

Por Marcos Antomil
Atualização:

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vive momento conturbado politicamente. O presidente Ednaldo Rodrigues tem sido alvo de queixas de alguns dirigentes do futebol nacional e se vê em um campo minado. Nesta quinta-feira, está pautado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro um julgamento que pode interferir no futuro da entidade.

Ednaldo tem como antagonistas dois ex-presidentes da CBF: Ricardo Teixeira, que está banido do futebol, e Marco Polo del Nero, afastado do esporte por 20 anos desde 2017. O atual mandatário também tem enfrentado dilemas ao não corresponder com a expectativa criada por clubes e federações estaduais. Promessas não cumpridas ou cumpridas tardiamente estariam por trás dos movimentos feitos nos bastidores para derrubar Ednaldo.

Uma dessas promessas seria a indicação de Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, para o cargo de diretor de seleções. O fim de quase 200 acordos com parceiros comerciais de antigas gestões também é apontado como motivador da insatisfação.

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A Fifa já avisou que a CBF poderá ser suspensa caso Ednaldo seja afastado do cargo “por influência indevida de terceiros”. Outra consequência imediata seria a saída do Fluminense da disputa do Mundial de Clubes. A entidade máxima do futebol define que a Corte Arbitral do Esporte (CAS) é a única esfera reconhecida para a resolução de conflitos envolvendo clubes e associações esportivas. Tirar o Flu seria uma espécie de punição à entidade brasileira. A vaga iria para o segundo colocado, o Boca.

Ednaldo Rodrigues tem mandato até 2026 como presidente da CBF. Foto: Wilton Junior/ Estadão

“Neste contexto, gostaríamos de lembrar que de acordo com o art. 14 par. 1 i) e art. 19 dos Estatutos da Fifa, as associações membros da Fifa são obrigadas a gerir os seus assuntos de forma independente e sem influência indevida de terceiros. Qualquer violação destas obrigações pode levar a potenciais sanções, conforme previsto nos Estatutos da Fifa. Além disso, e em relação ao acima exposto, gostaríamos de enfatizar que quaisquer violações ao art. 14 par. 1 i) dos Estatutos da Fifa também podem levar a sanções, mesmo que a influência de terceiros não tenha sido culpa da associação membro em questão (art. 14, parágrafo 3 dos Estatutos da Fifa)”, escreveu a entidade.

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Em texto publicado no Uol, Marco Polo del Nero evocou a Assembleia Geral da CBF para derrubar Ednaldo e pediu para que o atual presidente renuncie. “Pelo bem do futebol brasileiro, penso que ele deveria assumir sua incompetência e renunciar. Ou quem tem poder para isso, que é a Assembleia Geral, poderia retirá-lo de lá antes que ele comprometa o futuro do futebol brasileiro como um todo”, escreveu. Internamente, a CBF trata o caso como “tentativa de golpe” e as acusações de Del Nero como “mentirosas”.

“A CBF não comenta fake news. No mais, é público que a entidade teve em 2022 o maior superávit de sua história. Além disso, é público também que a CBF tem feito o maior investimento de sua história, atendendo os esquecidos até anos atrás, como os clubes das Séries C e D e o futebol feminino, o que já foi amplamente noticiado. Tudo isso seguindo cláusulas de transparência e anticorrupção avalizadas pela Fifa, que anos atrás suspendeu repasses à CBF em função de escândalos de corrupção”, disse a entidade em nota.

Entenda questão judicial que implica a CBF

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Uma ação, cujo trâmite se iniciou em 2018 e foi movida originalmente pelo Ministério Público, tinha como objetivo inicial questionar o formato da eleição na CBF, uma vez que atribuía diferentes pesos para os eleitores (clubes e federações estaduais). Em uma assembleia em 23 de março de 2017, com a presença das federações, foi definida uma alteração em que que os votos dessas entidades teriam peso 3, enquanto os dos times da Série A, teriam peso 2 e da Série B, peso 1. De acordo com o MP, essa modificação feria a Lei Pelé, uma vez que os clubes não foram convocados para o debate.

Em julho de 2021, logo após o afastamento do então presidente Rogério Caboclo por causa de denúncias de assédio sexual - das quais o ex-mandatário foi inocentado pela Justiça -, foi determinado judicialmente, pelo magistrado Mario Cunha Olinto Filho, da 2ª Vara Cível da Barra da Tijuca, que toda a diretoria eleita na CBF em 2017 (tendo Caboclo como líder) deveria ser destituída por ter sido escolhida sob regras irregularmente alteradas. A Justiça ainda apontou os presidentes do Flamengo, Rodolfo Landim, e da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos, como interventores.

Não demorou muito para a nomeação dos interventores cair, também por descumprimento à Lei Pelé. O desembargador Luiz de Mello Serra, da 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio (TJ-RJ), suspendeu a decisão porque a legislação proíbe a nomeação de dirigente de clube para presidir uma federação.

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Nesse meio tempo, em agosto de 2021, o presidente da Federação Baiana Ednaldo Rodrigues, substituindo Coronel Nunes, assumiu interinamente a presidência da CBF, sendo empossado pelo Conselho de Administração de entidade.

Em março de 2022, a CBF assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público para cumprir a Lei Pelé, convocar a assembleia geral, estabelecer os pesos dos eleitores com a presença dos clubes, determinar a cláusula de barreira para candidatura (que passou a ser de quatro federações e quatro clubes) e realizar posteriormente eleições para definir seu novo presidente. Algumas semanas depois, foi realizado o pleito na sede da entidade, contando apenas com uma chapa, a de Ednaldo, como candidata.

O dia da eleição foi marcado por uma ação movida em Alagoas, na 1ª Vara Cível de Maceió, por Gustavo Feijó - ex-presidente da Federação Alagoana de Futebol (FAF) e pai do atual presidente da FAF, Felipe Feijó - que tinha cargo de vice na chapa eleita com Caboclo em 2017 e que buscava a suspensão do pleito.

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No entanto, a eleição transcorreu normalmente, uma vez que a CBF afirmou não ter sido notificada de tal decisão. A FAF decidiu não votar, mas Ednaldo Rodrigues foi eleito para mandato de quatro anos, contando com o voto de 26 federações e 39 clubes - exceção à Ponte Preta, que teve problemas com a procuração do votante.

Gustavo Feijó é um dos principais opositores de Ednaldo. Foto: Wilton Junior/ Estadão

Gustavo Feijó, no entanto, volta à cena ao entrar com recurso junto ao TJ-RJ ao alegar que a homologação do TAC, feito em conjunto por CBF e Ministério Público, não poderia ter ocorrido na primeira instância. O caso agora é avaliado na 21ª Câmara de Direito Privado, pelo desembargador Gabriel de Oliveira Zefiro - e está pautado para a sessão do dia 7 de dezembro, quinta-feira. O alagoano pleiteia a revogação do TAC e a realização de nova eleição, provocando a saída temporária de Ednaldo e a nomeação de um interventor.

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Interventor

Um nome apontado nos bastidores como possível indicado como interventor é Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol Estadual do Rio de Janeiro (Ferj). Ele era aliado de Ednaldo, mas rusgas surgiram nos últimas semanas por causa da celebração do jogo entre Brasil e Argentina no Maracanã. O mandatário fluminense ficou incomodado após a expertise da entidade em celebrar eventos dessa magnitude e o alerta de risco elevado para o clássico - classificado com “bandeira vermelha” - terem sido ignorados pela CBF. Procuradas pelo Estadão, a Ferj e a FAF não se manifestaram até o momento. Já a CBF afirma que não comenta questões judiciais.

Na última semana, em sua sede, a CBF reuniu os presidentes das federações estaduais e contou com a declaração de apoio público de alguns deles a Ednaldo. “Ednaldo tem muito pouco tempo na presidência. Herdou uma casa que não tinha o respeito, no Brasil e internacionalmente. Isso não se conserta, não se corrige de uma hora para a outra. É um trabalho grande que incomoda muita gente. Tem muita coisa para fazer, muita coisa para melhorar, muito trabalho pela frente. Mas, hoje, nós somos respeitados. A administração do presidente Ednaldo é reconhecida como correta, como honesta e transparente, não só aqui no Brasil, como no mundo”, afirmou Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista.

Também se manifestaram em defesa de Ednaldo os mandatários das federações do Distrito Federal, Amapá, Paraíba, Amazonas, Pará, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Sul, Piauí e Tocantins.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vive momento conturbado politicamente. O presidente Ednaldo Rodrigues tem sido alvo de queixas de alguns dirigentes do futebol nacional e se vê em um campo minado. Nesta quinta-feira, está pautado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro um julgamento que pode interferir no futuro da entidade.

Ednaldo tem como antagonistas dois ex-presidentes da CBF: Ricardo Teixeira, que está banido do futebol, e Marco Polo del Nero, afastado do esporte por 20 anos desde 2017. O atual mandatário também tem enfrentado dilemas ao não corresponder com a expectativa criada por clubes e federações estaduais. Promessas não cumpridas ou cumpridas tardiamente estariam por trás dos movimentos feitos nos bastidores para derrubar Ednaldo.

Uma dessas promessas seria a indicação de Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, para o cargo de diretor de seleções. O fim de quase 200 acordos com parceiros comerciais de antigas gestões também é apontado como motivador da insatisfação.

A Fifa já avisou que a CBF poderá ser suspensa caso Ednaldo seja afastado do cargo “por influência indevida de terceiros”. Outra consequência imediata seria a saída do Fluminense da disputa do Mundial de Clubes. A entidade máxima do futebol define que a Corte Arbitral do Esporte (CAS) é a única esfera reconhecida para a resolução de conflitos envolvendo clubes e associações esportivas. Tirar o Flu seria uma espécie de punição à entidade brasileira. A vaga iria para o segundo colocado, o Boca.

Ednaldo Rodrigues tem mandato até 2026 como presidente da CBF. Foto: Wilton Junior/ Estadão

“Neste contexto, gostaríamos de lembrar que de acordo com o art. 14 par. 1 i) e art. 19 dos Estatutos da Fifa, as associações membros da Fifa são obrigadas a gerir os seus assuntos de forma independente e sem influência indevida de terceiros. Qualquer violação destas obrigações pode levar a potenciais sanções, conforme previsto nos Estatutos da Fifa. Além disso, e em relação ao acima exposto, gostaríamos de enfatizar que quaisquer violações ao art. 14 par. 1 i) dos Estatutos da Fifa também podem levar a sanções, mesmo que a influência de terceiros não tenha sido culpa da associação membro em questão (art. 14, parágrafo 3 dos Estatutos da Fifa)”, escreveu a entidade.

Em texto publicado no Uol, Marco Polo del Nero evocou a Assembleia Geral da CBF para derrubar Ednaldo e pediu para que o atual presidente renuncie. “Pelo bem do futebol brasileiro, penso que ele deveria assumir sua incompetência e renunciar. Ou quem tem poder para isso, que é a Assembleia Geral, poderia retirá-lo de lá antes que ele comprometa o futuro do futebol brasileiro como um todo”, escreveu. Internamente, a CBF trata o caso como “tentativa de golpe” e as acusações de Del Nero como “mentirosas”.

“A CBF não comenta fake news. No mais, é público que a entidade teve em 2022 o maior superávit de sua história. Além disso, é público também que a CBF tem feito o maior investimento de sua história, atendendo os esquecidos até anos atrás, como os clubes das Séries C e D e o futebol feminino, o que já foi amplamente noticiado. Tudo isso seguindo cláusulas de transparência e anticorrupção avalizadas pela Fifa, que anos atrás suspendeu repasses à CBF em função de escândalos de corrupção”, disse a entidade em nota.

Entenda questão judicial que implica a CBF

Uma ação, cujo trâmite se iniciou em 2018 e foi movida originalmente pelo Ministério Público, tinha como objetivo inicial questionar o formato da eleição na CBF, uma vez que atribuía diferentes pesos para os eleitores (clubes e federações estaduais). Em uma assembleia em 23 de março de 2017, com a presença das federações, foi definida uma alteração em que que os votos dessas entidades teriam peso 3, enquanto os dos times da Série A, teriam peso 2 e da Série B, peso 1. De acordo com o MP, essa modificação feria a Lei Pelé, uma vez que os clubes não foram convocados para o debate.

Em julho de 2021, logo após o afastamento do então presidente Rogério Caboclo por causa de denúncias de assédio sexual - das quais o ex-mandatário foi inocentado pela Justiça -, foi determinado judicialmente, pelo magistrado Mario Cunha Olinto Filho, da 2ª Vara Cível da Barra da Tijuca, que toda a diretoria eleita na CBF em 2017 (tendo Caboclo como líder) deveria ser destituída por ter sido escolhida sob regras irregularmente alteradas. A Justiça ainda apontou os presidentes do Flamengo, Rodolfo Landim, e da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos, como interventores.

Não demorou muito para a nomeação dos interventores cair, também por descumprimento à Lei Pelé. O desembargador Luiz de Mello Serra, da 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio (TJ-RJ), suspendeu a decisão porque a legislação proíbe a nomeação de dirigente de clube para presidir uma federação.

Nesse meio tempo, em agosto de 2021, o presidente da Federação Baiana Ednaldo Rodrigues, substituindo Coronel Nunes, assumiu interinamente a presidência da CBF, sendo empossado pelo Conselho de Administração de entidade.

Em março de 2022, a CBF assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público para cumprir a Lei Pelé, convocar a assembleia geral, estabelecer os pesos dos eleitores com a presença dos clubes, determinar a cláusula de barreira para candidatura (que passou a ser de quatro federações e quatro clubes) e realizar posteriormente eleições para definir seu novo presidente. Algumas semanas depois, foi realizado o pleito na sede da entidade, contando apenas com uma chapa, a de Ednaldo, como candidata.

O dia da eleição foi marcado por uma ação movida em Alagoas, na 1ª Vara Cível de Maceió, por Gustavo Feijó - ex-presidente da Federação Alagoana de Futebol (FAF) e pai do atual presidente da FAF, Felipe Feijó - que tinha cargo de vice na chapa eleita com Caboclo em 2017 e que buscava a suspensão do pleito.

No entanto, a eleição transcorreu normalmente, uma vez que a CBF afirmou não ter sido notificada de tal decisão. A FAF decidiu não votar, mas Ednaldo Rodrigues foi eleito para mandato de quatro anos, contando com o voto de 26 federações e 39 clubes - exceção à Ponte Preta, que teve problemas com a procuração do votante.

Gustavo Feijó é um dos principais opositores de Ednaldo. Foto: Wilton Junior/ Estadão

Gustavo Feijó, no entanto, volta à cena ao entrar com recurso junto ao TJ-RJ ao alegar que a homologação do TAC, feito em conjunto por CBF e Ministério Público, não poderia ter ocorrido na primeira instância. O caso agora é avaliado na 21ª Câmara de Direito Privado, pelo desembargador Gabriel de Oliveira Zefiro - e está pautado para a sessão do dia 7 de dezembro, quinta-feira. O alagoano pleiteia a revogação do TAC e a realização de nova eleição, provocando a saída temporária de Ednaldo e a nomeação de um interventor.

Interventor

Um nome apontado nos bastidores como possível indicado como interventor é Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol Estadual do Rio de Janeiro (Ferj). Ele era aliado de Ednaldo, mas rusgas surgiram nos últimas semanas por causa da celebração do jogo entre Brasil e Argentina no Maracanã. O mandatário fluminense ficou incomodado após a expertise da entidade em celebrar eventos dessa magnitude e o alerta de risco elevado para o clássico - classificado com “bandeira vermelha” - terem sido ignorados pela CBF. Procuradas pelo Estadão, a Ferj e a FAF não se manifestaram até o momento. Já a CBF afirma que não comenta questões judiciais.

Na última semana, em sua sede, a CBF reuniu os presidentes das federações estaduais e contou com a declaração de apoio público de alguns deles a Ednaldo. “Ednaldo tem muito pouco tempo na presidência. Herdou uma casa que não tinha o respeito, no Brasil e internacionalmente. Isso não se conserta, não se corrige de uma hora para a outra. É um trabalho grande que incomoda muita gente. Tem muita coisa para fazer, muita coisa para melhorar, muito trabalho pela frente. Mas, hoje, nós somos respeitados. A administração do presidente Ednaldo é reconhecida como correta, como honesta e transparente, não só aqui no Brasil, como no mundo”, afirmou Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista.

Também se manifestaram em defesa de Ednaldo os mandatários das federações do Distrito Federal, Amapá, Paraíba, Amazonas, Pará, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Sul, Piauí e Tocantins.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vive momento conturbado politicamente. O presidente Ednaldo Rodrigues tem sido alvo de queixas de alguns dirigentes do futebol nacional e se vê em um campo minado. Nesta quinta-feira, está pautado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro um julgamento que pode interferir no futuro da entidade.

Ednaldo tem como antagonistas dois ex-presidentes da CBF: Ricardo Teixeira, que está banido do futebol, e Marco Polo del Nero, afastado do esporte por 20 anos desde 2017. O atual mandatário também tem enfrentado dilemas ao não corresponder com a expectativa criada por clubes e federações estaduais. Promessas não cumpridas ou cumpridas tardiamente estariam por trás dos movimentos feitos nos bastidores para derrubar Ednaldo.

Uma dessas promessas seria a indicação de Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, para o cargo de diretor de seleções. O fim de quase 200 acordos com parceiros comerciais de antigas gestões também é apontado como motivador da insatisfação.

A Fifa já avisou que a CBF poderá ser suspensa caso Ednaldo seja afastado do cargo “por influência indevida de terceiros”. Outra consequência imediata seria a saída do Fluminense da disputa do Mundial de Clubes. A entidade máxima do futebol define que a Corte Arbitral do Esporte (CAS) é a única esfera reconhecida para a resolução de conflitos envolvendo clubes e associações esportivas. Tirar o Flu seria uma espécie de punição à entidade brasileira. A vaga iria para o segundo colocado, o Boca.

Ednaldo Rodrigues tem mandato até 2026 como presidente da CBF. Foto: Wilton Junior/ Estadão

“Neste contexto, gostaríamos de lembrar que de acordo com o art. 14 par. 1 i) e art. 19 dos Estatutos da Fifa, as associações membros da Fifa são obrigadas a gerir os seus assuntos de forma independente e sem influência indevida de terceiros. Qualquer violação destas obrigações pode levar a potenciais sanções, conforme previsto nos Estatutos da Fifa. Além disso, e em relação ao acima exposto, gostaríamos de enfatizar que quaisquer violações ao art. 14 par. 1 i) dos Estatutos da Fifa também podem levar a sanções, mesmo que a influência de terceiros não tenha sido culpa da associação membro em questão (art. 14, parágrafo 3 dos Estatutos da Fifa)”, escreveu a entidade.

Em texto publicado no Uol, Marco Polo del Nero evocou a Assembleia Geral da CBF para derrubar Ednaldo e pediu para que o atual presidente renuncie. “Pelo bem do futebol brasileiro, penso que ele deveria assumir sua incompetência e renunciar. Ou quem tem poder para isso, que é a Assembleia Geral, poderia retirá-lo de lá antes que ele comprometa o futuro do futebol brasileiro como um todo”, escreveu. Internamente, a CBF trata o caso como “tentativa de golpe” e as acusações de Del Nero como “mentirosas”.

“A CBF não comenta fake news. No mais, é público que a entidade teve em 2022 o maior superávit de sua história. Além disso, é público também que a CBF tem feito o maior investimento de sua história, atendendo os esquecidos até anos atrás, como os clubes das Séries C e D e o futebol feminino, o que já foi amplamente noticiado. Tudo isso seguindo cláusulas de transparência e anticorrupção avalizadas pela Fifa, que anos atrás suspendeu repasses à CBF em função de escândalos de corrupção”, disse a entidade em nota.

Entenda questão judicial que implica a CBF

Uma ação, cujo trâmite se iniciou em 2018 e foi movida originalmente pelo Ministério Público, tinha como objetivo inicial questionar o formato da eleição na CBF, uma vez que atribuía diferentes pesos para os eleitores (clubes e federações estaduais). Em uma assembleia em 23 de março de 2017, com a presença das federações, foi definida uma alteração em que que os votos dessas entidades teriam peso 3, enquanto os dos times da Série A, teriam peso 2 e da Série B, peso 1. De acordo com o MP, essa modificação feria a Lei Pelé, uma vez que os clubes não foram convocados para o debate.

Em julho de 2021, logo após o afastamento do então presidente Rogério Caboclo por causa de denúncias de assédio sexual - das quais o ex-mandatário foi inocentado pela Justiça -, foi determinado judicialmente, pelo magistrado Mario Cunha Olinto Filho, da 2ª Vara Cível da Barra da Tijuca, que toda a diretoria eleita na CBF em 2017 (tendo Caboclo como líder) deveria ser destituída por ter sido escolhida sob regras irregularmente alteradas. A Justiça ainda apontou os presidentes do Flamengo, Rodolfo Landim, e da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos, como interventores.

Não demorou muito para a nomeação dos interventores cair, também por descumprimento à Lei Pelé. O desembargador Luiz de Mello Serra, da 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio (TJ-RJ), suspendeu a decisão porque a legislação proíbe a nomeação de dirigente de clube para presidir uma federação.

Nesse meio tempo, em agosto de 2021, o presidente da Federação Baiana Ednaldo Rodrigues, substituindo Coronel Nunes, assumiu interinamente a presidência da CBF, sendo empossado pelo Conselho de Administração de entidade.

Em março de 2022, a CBF assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público para cumprir a Lei Pelé, convocar a assembleia geral, estabelecer os pesos dos eleitores com a presença dos clubes, determinar a cláusula de barreira para candidatura (que passou a ser de quatro federações e quatro clubes) e realizar posteriormente eleições para definir seu novo presidente. Algumas semanas depois, foi realizado o pleito na sede da entidade, contando apenas com uma chapa, a de Ednaldo, como candidata.

O dia da eleição foi marcado por uma ação movida em Alagoas, na 1ª Vara Cível de Maceió, por Gustavo Feijó - ex-presidente da Federação Alagoana de Futebol (FAF) e pai do atual presidente da FAF, Felipe Feijó - que tinha cargo de vice na chapa eleita com Caboclo em 2017 e que buscava a suspensão do pleito.

No entanto, a eleição transcorreu normalmente, uma vez que a CBF afirmou não ter sido notificada de tal decisão. A FAF decidiu não votar, mas Ednaldo Rodrigues foi eleito para mandato de quatro anos, contando com o voto de 26 federações e 39 clubes - exceção à Ponte Preta, que teve problemas com a procuração do votante.

Gustavo Feijó é um dos principais opositores de Ednaldo. Foto: Wilton Junior/ Estadão

Gustavo Feijó, no entanto, volta à cena ao entrar com recurso junto ao TJ-RJ ao alegar que a homologação do TAC, feito em conjunto por CBF e Ministério Público, não poderia ter ocorrido na primeira instância. O caso agora é avaliado na 21ª Câmara de Direito Privado, pelo desembargador Gabriel de Oliveira Zefiro - e está pautado para a sessão do dia 7 de dezembro, quinta-feira. O alagoano pleiteia a revogação do TAC e a realização de nova eleição, provocando a saída temporária de Ednaldo e a nomeação de um interventor.

Interventor

Um nome apontado nos bastidores como possível indicado como interventor é Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol Estadual do Rio de Janeiro (Ferj). Ele era aliado de Ednaldo, mas rusgas surgiram nos últimas semanas por causa da celebração do jogo entre Brasil e Argentina no Maracanã. O mandatário fluminense ficou incomodado após a expertise da entidade em celebrar eventos dessa magnitude e o alerta de risco elevado para o clássico - classificado com “bandeira vermelha” - terem sido ignorados pela CBF. Procuradas pelo Estadão, a Ferj e a FAF não se manifestaram até o momento. Já a CBF afirma que não comenta questões judiciais.

Na última semana, em sua sede, a CBF reuniu os presidentes das federações estaduais e contou com a declaração de apoio público de alguns deles a Ednaldo. “Ednaldo tem muito pouco tempo na presidência. Herdou uma casa que não tinha o respeito, no Brasil e internacionalmente. Isso não se conserta, não se corrige de uma hora para a outra. É um trabalho grande que incomoda muita gente. Tem muita coisa para fazer, muita coisa para melhorar, muito trabalho pela frente. Mas, hoje, nós somos respeitados. A administração do presidente Ednaldo é reconhecida como correta, como honesta e transparente, não só aqui no Brasil, como no mundo”, afirmou Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista.

Também se manifestaram em defesa de Ednaldo os mandatários das federações do Distrito Federal, Amapá, Paraíba, Amazonas, Pará, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Sul, Piauí e Tocantins.

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