Erro de árbitro já fez título do Paulistão ser dividido entre Portuguesa e Santos de Pelé; relembre


Adversários das quartas de final do Paulistão neste domingo, dia 17, protagonizaram final com desfecho inusitado em 1973

Por Bruno Accorsi
Atualização:

O último título de Pelé com a camisa do Santos foi dividido com a Portuguesa. Adversários nas quartas de final do Paulistão 2024, neste domingo, santistas e rubro-verdes se encontraram poucas vezes nos últimos anos, mas têm extenso histórico de confrontos e protagonizaram a final mais peculiar já vista no Estadual, em 1973. Um erro do árbitro Armando Marques na contagem dos pênaltis, a sagacidade dos dirigentes da Lusa e um acordo entre os clubes levaram a decisão ao inusitado desfecho de ter dois campeões.

A partida, disputada no dia 26 de agosto de 1973, no Morumbi, terminou em empate sem gols no tempo normal e continuou sem alteração no placar durante a prorrogação. Por isso, foram necessárias as penalidades. Nas duas primeiras rodadas, o Santos, que começou batendo, parou no goleiro Zecão após a cobrança de Zé Carlos e foi à rede com Carlos Alberto. Já a Portuguesa teve os chutes de Isidoro e Calegari defendidos por Cejas.

Edu converteu o terceiro pênalti santista e, em seguida, Wilsinho colocou a terceira batida da Lusa no travessão. O placar ficou 2 a 0 a favor do time do litoral, mas restavam duas rodadas de cobranças, portanto ainda havia chance de os rubro-verdes alcançarem o empate. Armando Marques, contudo, encerrou a disputa após a penalidade desperdiçada por Wilsinho. Naquele momento, o Santos era campeão paulista.

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“Eu não culpo tanto o Armando, eu culpo em parte o Pelé”, conta Basílio, o Pé-de-Anjo, meia da Portuguesa na final de 1973, ao Estadão. Ele entende que a reação intensa do Rei do Futebol após o pênalti perdido contribuiu para o árbitro errar a contagem. “Porque, quando nós perdemos o pênalti, o Pelé sai vibrando e aí o Armando dá como encerrada a partida. Pega a bola e levanta”, explica.

Último título do Campeonato Paulista conquistado por Pelé deu-se em 1973. Santos e Portuguesa dividiram a taça Foto: Arquivo/Estadão

Assim que o árbitro encerrou o jogo, os santistas começaram a celebrar o título em campo, embora a sensação de que havia algo errado tivesse tomado também o lado alvinegro. “Eu estava atento”, relembra o ídolo Pepe, então treinador da equipe. “Eu observei, pensei e tinha a certeza que ele tinha errado a contagem dos pênaltis. Foi um erro crasso, que não se justifica em um árbitro do nível do Armando Marques, que, na época, era considerado um dos melhores do mundo.”

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Do outro lado, o treinador da Lusa, Otto Glória, também estava atento, assim como os dirigentes de seu clube, que entraram no gramado bradando que o que acabava de ocorrer era um “erro de direito”. Rapidamente, os jogadores foram levados ao vestiário e, logo em seguida, sem nem mesmo tomar banho, rumaram ao ônibus que os levaria ao Canindé, onde aí sim iriam ao chuveiro. “Foi um aproveitamento de inteligência do Otto, dos diretores da Portuguesa, que praticamente recolheram os jogadores e colocaram no ônibus”, diz Basílio.

Erro admitido e reunião nos bastidores

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Causador do caos no Morumbi, Armando Marques, que morreu em 2014, admitiu que cometeu “um erro de contagem, não de direito”, em entrevista duas horas após o jogo, e se justificou. “Vocês lembram que parei o jogo para afastar os repórteres que estavam atrás do gol de Cejas, durante a prorrogação. Tive que esvaziar o campo para as cobranças, reunir os jogadores e ainda controlar as cobranças. É muita coisa para uma pessoa só. Além disso, decidir uma partida por pênaltis é só em pelada de praia. Um horror”.

Armando entendeu que tinha errado a contagem ainda no meio da confusão, após ser muito pressionado, e tentou retomar as cobranças, mas já era tarde, como lembra Basílio. “Fui um dos últimos a descer. Não tinha chuteira, não tinha camisa, não tinha nada. Quando ele chegou no vestiário, não tinha ninguém lá. Meus colegas já estavam todos no ônibus. Foi isso que houve. Ele veio gritando ‘volta, volta!’, eu falei: ‘se você me arrumar uma chuteira, uma meia e uma camisa, eu sou um dos últimos batedores, aí eu volto para o campo’. Só que eu não tinha nem me tocado da contagem”.

O Santos chegou a desfilar com a faixa de campeão e Pelé foi bem direto em suas palavras sobre a situação. “Não quero saber de conversa. Digam o que digam, somos os campeões”, afirmou o Rei, conforme relatado em reportagem publicada na edição de 27 de agosto de 1973 do Jornal da Tarde. A situação, contudo, não estava resolvida. Foi apenas após uma reunião no túnel do vestiário, com a presença dos presidentes Osvaldo Teixeira Duarte, da Lusa, Vasco Faé, do Santos, e José Ermírio de Moraes, da Federação Paulista, que se deu o desfecho final. Todos concordaram, teríamos dois campeões paulistas.

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O juiz Armando Marques admitiu que errou a contagem dos pênaltis. Foto: Acervo Estadão

Santos comemora no campo e Lusa no ônibus

A decisão trouxe um pouco de decepção aos santistas, inclusive para Pelé, que estava disposto a continuar as cobranças para resolver o imbróglio. “Era nosso cobrador de pênalti, ele tinha inventado a paradinha, estava fazendo sucesso total no campeonato. E era quase certeza de bola no barbante, mas ele ficou realmente decepcionado”, diz Pepe, que precisou conversar com o elenco para que eles assimilassem melhor a divisão do título.

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“A nossa reação, a princípio, foi negativa, porque havíamos conquistado saldo melhor na disputa dos pênaltis. Nós tínhamos a vantagem. Então, até certo ponto, nós ficamos decepcionados com essa divisão de título porque, mais uma vez eu digo, foi um erro crasso da arbitragem. Foi decepção, embora eu tenha, na ocasião, chamado os jogadores, conversado com eles: ‘Nós somos campeões paulistas. Dividir o título com a Portuguesa é um problema deles, agora vocês saem daqui com a faixa de campeão paulista’”, conclui o Canhão da Vila.

A notícia chegou aos jogadores da Portuguesa dentro do ônibus, já a caminho do Canindé, a cerca de um quilômetro do Morumbi, pelo que se lembra Basílio. Campeões, os jogadores se abraçaram e vibraram intensamente. O verdadeiro desejo, contudo, era de ter a chance de decidir em campo. “Ficou aquele gostinho porque nós, jogadores, queríamos que tivéssemos outra partida, nós pedimos que tivesse outra partida. Mas não se teria tempo hábil para se fazer uma nova partida. Porque durante a semana já começaria o Campeonato Brasileiro”, afirma o ex-meia.

Basílio também aponta que toda a confusão relativa aos pênaltis ofuscou problemas da arbitragem durante os minutos de bola rolando, como a controversa anulação de um gol marcado por Cabinho, da Lusa. O Pé-de-Anjo, inclusive, levantou o assunto quando participou de um almoço em Santos, com jogadores que estavam naquela partida. “Falei: vocês falam da vantagem que vocês tinham, né? Mas não falam dos gols que nós fizemos, dois foram invalidados. Um, sim, estava impedido. O outro não, foi legítimo. Vocês tiveram prejuízo, nós também”.

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Para o ex-jogador da Lusa, o título não perde nada em importância por ter sido dividido. “Lavamos as mãos, então levanta o braço dos dois, os dois são campeões”, afirma. Pepe também valoriza a conquista com o Santos, até porque foi seu primeiro título como treinador. “Foram momentos de alegria. Voltamos para Santos e houve festa, houve comemoração. O título foi dividido, mas grande parcela era do Santos Futebol Clube”.

Foi no meio de toda aquela confusão que Pelé, então com 32 anos, celebrou seu último título com a camisa do Santos e um dos últimos de sua carreira. Em 1974, foi para os Estados Unidos defender o Cosmos, clube pelo qual foi campeão da North American Soccer League, em 1977, ano em que se despediu dos gramados.

O último título de Pelé com a camisa do Santos foi dividido com a Portuguesa. Adversários nas quartas de final do Paulistão 2024, neste domingo, santistas e rubro-verdes se encontraram poucas vezes nos últimos anos, mas têm extenso histórico de confrontos e protagonizaram a final mais peculiar já vista no Estadual, em 1973. Um erro do árbitro Armando Marques na contagem dos pênaltis, a sagacidade dos dirigentes da Lusa e um acordo entre os clubes levaram a decisão ao inusitado desfecho de ter dois campeões.

A partida, disputada no dia 26 de agosto de 1973, no Morumbi, terminou em empate sem gols no tempo normal e continuou sem alteração no placar durante a prorrogação. Por isso, foram necessárias as penalidades. Nas duas primeiras rodadas, o Santos, que começou batendo, parou no goleiro Zecão após a cobrança de Zé Carlos e foi à rede com Carlos Alberto. Já a Portuguesa teve os chutes de Isidoro e Calegari defendidos por Cejas.

Edu converteu o terceiro pênalti santista e, em seguida, Wilsinho colocou a terceira batida da Lusa no travessão. O placar ficou 2 a 0 a favor do time do litoral, mas restavam duas rodadas de cobranças, portanto ainda havia chance de os rubro-verdes alcançarem o empate. Armando Marques, contudo, encerrou a disputa após a penalidade desperdiçada por Wilsinho. Naquele momento, o Santos era campeão paulista.

“Eu não culpo tanto o Armando, eu culpo em parte o Pelé”, conta Basílio, o Pé-de-Anjo, meia da Portuguesa na final de 1973, ao Estadão. Ele entende que a reação intensa do Rei do Futebol após o pênalti perdido contribuiu para o árbitro errar a contagem. “Porque, quando nós perdemos o pênalti, o Pelé sai vibrando e aí o Armando dá como encerrada a partida. Pega a bola e levanta”, explica.

Último título do Campeonato Paulista conquistado por Pelé deu-se em 1973. Santos e Portuguesa dividiram a taça Foto: Arquivo/Estadão

Assim que o árbitro encerrou o jogo, os santistas começaram a celebrar o título em campo, embora a sensação de que havia algo errado tivesse tomado também o lado alvinegro. “Eu estava atento”, relembra o ídolo Pepe, então treinador da equipe. “Eu observei, pensei e tinha a certeza que ele tinha errado a contagem dos pênaltis. Foi um erro crasso, que não se justifica em um árbitro do nível do Armando Marques, que, na época, era considerado um dos melhores do mundo.”

Do outro lado, o treinador da Lusa, Otto Glória, também estava atento, assim como os dirigentes de seu clube, que entraram no gramado bradando que o que acabava de ocorrer era um “erro de direito”. Rapidamente, os jogadores foram levados ao vestiário e, logo em seguida, sem nem mesmo tomar banho, rumaram ao ônibus que os levaria ao Canindé, onde aí sim iriam ao chuveiro. “Foi um aproveitamento de inteligência do Otto, dos diretores da Portuguesa, que praticamente recolheram os jogadores e colocaram no ônibus”, diz Basílio.

Erro admitido e reunião nos bastidores

Causador do caos no Morumbi, Armando Marques, que morreu em 2014, admitiu que cometeu “um erro de contagem, não de direito”, em entrevista duas horas após o jogo, e se justificou. “Vocês lembram que parei o jogo para afastar os repórteres que estavam atrás do gol de Cejas, durante a prorrogação. Tive que esvaziar o campo para as cobranças, reunir os jogadores e ainda controlar as cobranças. É muita coisa para uma pessoa só. Além disso, decidir uma partida por pênaltis é só em pelada de praia. Um horror”.

Armando entendeu que tinha errado a contagem ainda no meio da confusão, após ser muito pressionado, e tentou retomar as cobranças, mas já era tarde, como lembra Basílio. “Fui um dos últimos a descer. Não tinha chuteira, não tinha camisa, não tinha nada. Quando ele chegou no vestiário, não tinha ninguém lá. Meus colegas já estavam todos no ônibus. Foi isso que houve. Ele veio gritando ‘volta, volta!’, eu falei: ‘se você me arrumar uma chuteira, uma meia e uma camisa, eu sou um dos últimos batedores, aí eu volto para o campo’. Só que eu não tinha nem me tocado da contagem”.

O Santos chegou a desfilar com a faixa de campeão e Pelé foi bem direto em suas palavras sobre a situação. “Não quero saber de conversa. Digam o que digam, somos os campeões”, afirmou o Rei, conforme relatado em reportagem publicada na edição de 27 de agosto de 1973 do Jornal da Tarde. A situação, contudo, não estava resolvida. Foi apenas após uma reunião no túnel do vestiário, com a presença dos presidentes Osvaldo Teixeira Duarte, da Lusa, Vasco Faé, do Santos, e José Ermírio de Moraes, da Federação Paulista, que se deu o desfecho final. Todos concordaram, teríamos dois campeões paulistas.

O juiz Armando Marques admitiu que errou a contagem dos pênaltis. Foto: Acervo Estadão

Santos comemora no campo e Lusa no ônibus

A decisão trouxe um pouco de decepção aos santistas, inclusive para Pelé, que estava disposto a continuar as cobranças para resolver o imbróglio. “Era nosso cobrador de pênalti, ele tinha inventado a paradinha, estava fazendo sucesso total no campeonato. E era quase certeza de bola no barbante, mas ele ficou realmente decepcionado”, diz Pepe, que precisou conversar com o elenco para que eles assimilassem melhor a divisão do título.

“A nossa reação, a princípio, foi negativa, porque havíamos conquistado saldo melhor na disputa dos pênaltis. Nós tínhamos a vantagem. Então, até certo ponto, nós ficamos decepcionados com essa divisão de título porque, mais uma vez eu digo, foi um erro crasso da arbitragem. Foi decepção, embora eu tenha, na ocasião, chamado os jogadores, conversado com eles: ‘Nós somos campeões paulistas. Dividir o título com a Portuguesa é um problema deles, agora vocês saem daqui com a faixa de campeão paulista’”, conclui o Canhão da Vila.

A notícia chegou aos jogadores da Portuguesa dentro do ônibus, já a caminho do Canindé, a cerca de um quilômetro do Morumbi, pelo que se lembra Basílio. Campeões, os jogadores se abraçaram e vibraram intensamente. O verdadeiro desejo, contudo, era de ter a chance de decidir em campo. “Ficou aquele gostinho porque nós, jogadores, queríamos que tivéssemos outra partida, nós pedimos que tivesse outra partida. Mas não se teria tempo hábil para se fazer uma nova partida. Porque durante a semana já começaria o Campeonato Brasileiro”, afirma o ex-meia.

Basílio também aponta que toda a confusão relativa aos pênaltis ofuscou problemas da arbitragem durante os minutos de bola rolando, como a controversa anulação de um gol marcado por Cabinho, da Lusa. O Pé-de-Anjo, inclusive, levantou o assunto quando participou de um almoço em Santos, com jogadores que estavam naquela partida. “Falei: vocês falam da vantagem que vocês tinham, né? Mas não falam dos gols que nós fizemos, dois foram invalidados. Um, sim, estava impedido. O outro não, foi legítimo. Vocês tiveram prejuízo, nós também”.

Para o ex-jogador da Lusa, o título não perde nada em importância por ter sido dividido. “Lavamos as mãos, então levanta o braço dos dois, os dois são campeões”, afirma. Pepe também valoriza a conquista com o Santos, até porque foi seu primeiro título como treinador. “Foram momentos de alegria. Voltamos para Santos e houve festa, houve comemoração. O título foi dividido, mas grande parcela era do Santos Futebol Clube”.

Foi no meio de toda aquela confusão que Pelé, então com 32 anos, celebrou seu último título com a camisa do Santos e um dos últimos de sua carreira. Em 1974, foi para os Estados Unidos defender o Cosmos, clube pelo qual foi campeão da North American Soccer League, em 1977, ano em que se despediu dos gramados.

O último título de Pelé com a camisa do Santos foi dividido com a Portuguesa. Adversários nas quartas de final do Paulistão 2024, neste domingo, santistas e rubro-verdes se encontraram poucas vezes nos últimos anos, mas têm extenso histórico de confrontos e protagonizaram a final mais peculiar já vista no Estadual, em 1973. Um erro do árbitro Armando Marques na contagem dos pênaltis, a sagacidade dos dirigentes da Lusa e um acordo entre os clubes levaram a decisão ao inusitado desfecho de ter dois campeões.

A partida, disputada no dia 26 de agosto de 1973, no Morumbi, terminou em empate sem gols no tempo normal e continuou sem alteração no placar durante a prorrogação. Por isso, foram necessárias as penalidades. Nas duas primeiras rodadas, o Santos, que começou batendo, parou no goleiro Zecão após a cobrança de Zé Carlos e foi à rede com Carlos Alberto. Já a Portuguesa teve os chutes de Isidoro e Calegari defendidos por Cejas.

Edu converteu o terceiro pênalti santista e, em seguida, Wilsinho colocou a terceira batida da Lusa no travessão. O placar ficou 2 a 0 a favor do time do litoral, mas restavam duas rodadas de cobranças, portanto ainda havia chance de os rubro-verdes alcançarem o empate. Armando Marques, contudo, encerrou a disputa após a penalidade desperdiçada por Wilsinho. Naquele momento, o Santos era campeão paulista.

“Eu não culpo tanto o Armando, eu culpo em parte o Pelé”, conta Basílio, o Pé-de-Anjo, meia da Portuguesa na final de 1973, ao Estadão. Ele entende que a reação intensa do Rei do Futebol após o pênalti perdido contribuiu para o árbitro errar a contagem. “Porque, quando nós perdemos o pênalti, o Pelé sai vibrando e aí o Armando dá como encerrada a partida. Pega a bola e levanta”, explica.

Último título do Campeonato Paulista conquistado por Pelé deu-se em 1973. Santos e Portuguesa dividiram a taça Foto: Arquivo/Estadão

Assim que o árbitro encerrou o jogo, os santistas começaram a celebrar o título em campo, embora a sensação de que havia algo errado tivesse tomado também o lado alvinegro. “Eu estava atento”, relembra o ídolo Pepe, então treinador da equipe. “Eu observei, pensei e tinha a certeza que ele tinha errado a contagem dos pênaltis. Foi um erro crasso, que não se justifica em um árbitro do nível do Armando Marques, que, na época, era considerado um dos melhores do mundo.”

Do outro lado, o treinador da Lusa, Otto Glória, também estava atento, assim como os dirigentes de seu clube, que entraram no gramado bradando que o que acabava de ocorrer era um “erro de direito”. Rapidamente, os jogadores foram levados ao vestiário e, logo em seguida, sem nem mesmo tomar banho, rumaram ao ônibus que os levaria ao Canindé, onde aí sim iriam ao chuveiro. “Foi um aproveitamento de inteligência do Otto, dos diretores da Portuguesa, que praticamente recolheram os jogadores e colocaram no ônibus”, diz Basílio.

Erro admitido e reunião nos bastidores

Causador do caos no Morumbi, Armando Marques, que morreu em 2014, admitiu que cometeu “um erro de contagem, não de direito”, em entrevista duas horas após o jogo, e se justificou. “Vocês lembram que parei o jogo para afastar os repórteres que estavam atrás do gol de Cejas, durante a prorrogação. Tive que esvaziar o campo para as cobranças, reunir os jogadores e ainda controlar as cobranças. É muita coisa para uma pessoa só. Além disso, decidir uma partida por pênaltis é só em pelada de praia. Um horror”.

Armando entendeu que tinha errado a contagem ainda no meio da confusão, após ser muito pressionado, e tentou retomar as cobranças, mas já era tarde, como lembra Basílio. “Fui um dos últimos a descer. Não tinha chuteira, não tinha camisa, não tinha nada. Quando ele chegou no vestiário, não tinha ninguém lá. Meus colegas já estavam todos no ônibus. Foi isso que houve. Ele veio gritando ‘volta, volta!’, eu falei: ‘se você me arrumar uma chuteira, uma meia e uma camisa, eu sou um dos últimos batedores, aí eu volto para o campo’. Só que eu não tinha nem me tocado da contagem”.

O Santos chegou a desfilar com a faixa de campeão e Pelé foi bem direto em suas palavras sobre a situação. “Não quero saber de conversa. Digam o que digam, somos os campeões”, afirmou o Rei, conforme relatado em reportagem publicada na edição de 27 de agosto de 1973 do Jornal da Tarde. A situação, contudo, não estava resolvida. Foi apenas após uma reunião no túnel do vestiário, com a presença dos presidentes Osvaldo Teixeira Duarte, da Lusa, Vasco Faé, do Santos, e José Ermírio de Moraes, da Federação Paulista, que se deu o desfecho final. Todos concordaram, teríamos dois campeões paulistas.

O juiz Armando Marques admitiu que errou a contagem dos pênaltis. Foto: Acervo Estadão

Santos comemora no campo e Lusa no ônibus

A decisão trouxe um pouco de decepção aos santistas, inclusive para Pelé, que estava disposto a continuar as cobranças para resolver o imbróglio. “Era nosso cobrador de pênalti, ele tinha inventado a paradinha, estava fazendo sucesso total no campeonato. E era quase certeza de bola no barbante, mas ele ficou realmente decepcionado”, diz Pepe, que precisou conversar com o elenco para que eles assimilassem melhor a divisão do título.

“A nossa reação, a princípio, foi negativa, porque havíamos conquistado saldo melhor na disputa dos pênaltis. Nós tínhamos a vantagem. Então, até certo ponto, nós ficamos decepcionados com essa divisão de título porque, mais uma vez eu digo, foi um erro crasso da arbitragem. Foi decepção, embora eu tenha, na ocasião, chamado os jogadores, conversado com eles: ‘Nós somos campeões paulistas. Dividir o título com a Portuguesa é um problema deles, agora vocês saem daqui com a faixa de campeão paulista’”, conclui o Canhão da Vila.

A notícia chegou aos jogadores da Portuguesa dentro do ônibus, já a caminho do Canindé, a cerca de um quilômetro do Morumbi, pelo que se lembra Basílio. Campeões, os jogadores se abraçaram e vibraram intensamente. O verdadeiro desejo, contudo, era de ter a chance de decidir em campo. “Ficou aquele gostinho porque nós, jogadores, queríamos que tivéssemos outra partida, nós pedimos que tivesse outra partida. Mas não se teria tempo hábil para se fazer uma nova partida. Porque durante a semana já começaria o Campeonato Brasileiro”, afirma o ex-meia.

Basílio também aponta que toda a confusão relativa aos pênaltis ofuscou problemas da arbitragem durante os minutos de bola rolando, como a controversa anulação de um gol marcado por Cabinho, da Lusa. O Pé-de-Anjo, inclusive, levantou o assunto quando participou de um almoço em Santos, com jogadores que estavam naquela partida. “Falei: vocês falam da vantagem que vocês tinham, né? Mas não falam dos gols que nós fizemos, dois foram invalidados. Um, sim, estava impedido. O outro não, foi legítimo. Vocês tiveram prejuízo, nós também”.

Para o ex-jogador da Lusa, o título não perde nada em importância por ter sido dividido. “Lavamos as mãos, então levanta o braço dos dois, os dois são campeões”, afirma. Pepe também valoriza a conquista com o Santos, até porque foi seu primeiro título como treinador. “Foram momentos de alegria. Voltamos para Santos e houve festa, houve comemoração. O título foi dividido, mas grande parcela era do Santos Futebol Clube”.

Foi no meio de toda aquela confusão que Pelé, então com 32 anos, celebrou seu último título com a camisa do Santos e um dos últimos de sua carreira. Em 1974, foi para os Estados Unidos defender o Cosmos, clube pelo qual foi campeão da North American Soccer League, em 1977, ano em que se despediu dos gramados.

O último título de Pelé com a camisa do Santos foi dividido com a Portuguesa. Adversários nas quartas de final do Paulistão 2024, neste domingo, santistas e rubro-verdes se encontraram poucas vezes nos últimos anos, mas têm extenso histórico de confrontos e protagonizaram a final mais peculiar já vista no Estadual, em 1973. Um erro do árbitro Armando Marques na contagem dos pênaltis, a sagacidade dos dirigentes da Lusa e um acordo entre os clubes levaram a decisão ao inusitado desfecho de ter dois campeões.

A partida, disputada no dia 26 de agosto de 1973, no Morumbi, terminou em empate sem gols no tempo normal e continuou sem alteração no placar durante a prorrogação. Por isso, foram necessárias as penalidades. Nas duas primeiras rodadas, o Santos, que começou batendo, parou no goleiro Zecão após a cobrança de Zé Carlos e foi à rede com Carlos Alberto. Já a Portuguesa teve os chutes de Isidoro e Calegari defendidos por Cejas.

Edu converteu o terceiro pênalti santista e, em seguida, Wilsinho colocou a terceira batida da Lusa no travessão. O placar ficou 2 a 0 a favor do time do litoral, mas restavam duas rodadas de cobranças, portanto ainda havia chance de os rubro-verdes alcançarem o empate. Armando Marques, contudo, encerrou a disputa após a penalidade desperdiçada por Wilsinho. Naquele momento, o Santos era campeão paulista.

“Eu não culpo tanto o Armando, eu culpo em parte o Pelé”, conta Basílio, o Pé-de-Anjo, meia da Portuguesa na final de 1973, ao Estadão. Ele entende que a reação intensa do Rei do Futebol após o pênalti perdido contribuiu para o árbitro errar a contagem. “Porque, quando nós perdemos o pênalti, o Pelé sai vibrando e aí o Armando dá como encerrada a partida. Pega a bola e levanta”, explica.

Último título do Campeonato Paulista conquistado por Pelé deu-se em 1973. Santos e Portuguesa dividiram a taça Foto: Arquivo/Estadão

Assim que o árbitro encerrou o jogo, os santistas começaram a celebrar o título em campo, embora a sensação de que havia algo errado tivesse tomado também o lado alvinegro. “Eu estava atento”, relembra o ídolo Pepe, então treinador da equipe. “Eu observei, pensei e tinha a certeza que ele tinha errado a contagem dos pênaltis. Foi um erro crasso, que não se justifica em um árbitro do nível do Armando Marques, que, na época, era considerado um dos melhores do mundo.”

Do outro lado, o treinador da Lusa, Otto Glória, também estava atento, assim como os dirigentes de seu clube, que entraram no gramado bradando que o que acabava de ocorrer era um “erro de direito”. Rapidamente, os jogadores foram levados ao vestiário e, logo em seguida, sem nem mesmo tomar banho, rumaram ao ônibus que os levaria ao Canindé, onde aí sim iriam ao chuveiro. “Foi um aproveitamento de inteligência do Otto, dos diretores da Portuguesa, que praticamente recolheram os jogadores e colocaram no ônibus”, diz Basílio.

Erro admitido e reunião nos bastidores

Causador do caos no Morumbi, Armando Marques, que morreu em 2014, admitiu que cometeu “um erro de contagem, não de direito”, em entrevista duas horas após o jogo, e se justificou. “Vocês lembram que parei o jogo para afastar os repórteres que estavam atrás do gol de Cejas, durante a prorrogação. Tive que esvaziar o campo para as cobranças, reunir os jogadores e ainda controlar as cobranças. É muita coisa para uma pessoa só. Além disso, decidir uma partida por pênaltis é só em pelada de praia. Um horror”.

Armando entendeu que tinha errado a contagem ainda no meio da confusão, após ser muito pressionado, e tentou retomar as cobranças, mas já era tarde, como lembra Basílio. “Fui um dos últimos a descer. Não tinha chuteira, não tinha camisa, não tinha nada. Quando ele chegou no vestiário, não tinha ninguém lá. Meus colegas já estavam todos no ônibus. Foi isso que houve. Ele veio gritando ‘volta, volta!’, eu falei: ‘se você me arrumar uma chuteira, uma meia e uma camisa, eu sou um dos últimos batedores, aí eu volto para o campo’. Só que eu não tinha nem me tocado da contagem”.

O Santos chegou a desfilar com a faixa de campeão e Pelé foi bem direto em suas palavras sobre a situação. “Não quero saber de conversa. Digam o que digam, somos os campeões”, afirmou o Rei, conforme relatado em reportagem publicada na edição de 27 de agosto de 1973 do Jornal da Tarde. A situação, contudo, não estava resolvida. Foi apenas após uma reunião no túnel do vestiário, com a presença dos presidentes Osvaldo Teixeira Duarte, da Lusa, Vasco Faé, do Santos, e José Ermírio de Moraes, da Federação Paulista, que se deu o desfecho final. Todos concordaram, teríamos dois campeões paulistas.

O juiz Armando Marques admitiu que errou a contagem dos pênaltis. Foto: Acervo Estadão

Santos comemora no campo e Lusa no ônibus

A decisão trouxe um pouco de decepção aos santistas, inclusive para Pelé, que estava disposto a continuar as cobranças para resolver o imbróglio. “Era nosso cobrador de pênalti, ele tinha inventado a paradinha, estava fazendo sucesso total no campeonato. E era quase certeza de bola no barbante, mas ele ficou realmente decepcionado”, diz Pepe, que precisou conversar com o elenco para que eles assimilassem melhor a divisão do título.

“A nossa reação, a princípio, foi negativa, porque havíamos conquistado saldo melhor na disputa dos pênaltis. Nós tínhamos a vantagem. Então, até certo ponto, nós ficamos decepcionados com essa divisão de título porque, mais uma vez eu digo, foi um erro crasso da arbitragem. Foi decepção, embora eu tenha, na ocasião, chamado os jogadores, conversado com eles: ‘Nós somos campeões paulistas. Dividir o título com a Portuguesa é um problema deles, agora vocês saem daqui com a faixa de campeão paulista’”, conclui o Canhão da Vila.

A notícia chegou aos jogadores da Portuguesa dentro do ônibus, já a caminho do Canindé, a cerca de um quilômetro do Morumbi, pelo que se lembra Basílio. Campeões, os jogadores se abraçaram e vibraram intensamente. O verdadeiro desejo, contudo, era de ter a chance de decidir em campo. “Ficou aquele gostinho porque nós, jogadores, queríamos que tivéssemos outra partida, nós pedimos que tivesse outra partida. Mas não se teria tempo hábil para se fazer uma nova partida. Porque durante a semana já começaria o Campeonato Brasileiro”, afirma o ex-meia.

Basílio também aponta que toda a confusão relativa aos pênaltis ofuscou problemas da arbitragem durante os minutos de bola rolando, como a controversa anulação de um gol marcado por Cabinho, da Lusa. O Pé-de-Anjo, inclusive, levantou o assunto quando participou de um almoço em Santos, com jogadores que estavam naquela partida. “Falei: vocês falam da vantagem que vocês tinham, né? Mas não falam dos gols que nós fizemos, dois foram invalidados. Um, sim, estava impedido. O outro não, foi legítimo. Vocês tiveram prejuízo, nós também”.

Para o ex-jogador da Lusa, o título não perde nada em importância por ter sido dividido. “Lavamos as mãos, então levanta o braço dos dois, os dois são campeões”, afirma. Pepe também valoriza a conquista com o Santos, até porque foi seu primeiro título como treinador. “Foram momentos de alegria. Voltamos para Santos e houve festa, houve comemoração. O título foi dividido, mas grande parcela era do Santos Futebol Clube”.

Foi no meio de toda aquela confusão que Pelé, então com 32 anos, celebrou seu último título com a camisa do Santos e um dos últimos de sua carreira. Em 1974, foi para os Estados Unidos defender o Cosmos, clube pelo qual foi campeão da North American Soccer League, em 1977, ano em que se despediu dos gramados.

O último título de Pelé com a camisa do Santos foi dividido com a Portuguesa. Adversários nas quartas de final do Paulistão 2024, neste domingo, santistas e rubro-verdes se encontraram poucas vezes nos últimos anos, mas têm extenso histórico de confrontos e protagonizaram a final mais peculiar já vista no Estadual, em 1973. Um erro do árbitro Armando Marques na contagem dos pênaltis, a sagacidade dos dirigentes da Lusa e um acordo entre os clubes levaram a decisão ao inusitado desfecho de ter dois campeões.

A partida, disputada no dia 26 de agosto de 1973, no Morumbi, terminou em empate sem gols no tempo normal e continuou sem alteração no placar durante a prorrogação. Por isso, foram necessárias as penalidades. Nas duas primeiras rodadas, o Santos, que começou batendo, parou no goleiro Zecão após a cobrança de Zé Carlos e foi à rede com Carlos Alberto. Já a Portuguesa teve os chutes de Isidoro e Calegari defendidos por Cejas.

Edu converteu o terceiro pênalti santista e, em seguida, Wilsinho colocou a terceira batida da Lusa no travessão. O placar ficou 2 a 0 a favor do time do litoral, mas restavam duas rodadas de cobranças, portanto ainda havia chance de os rubro-verdes alcançarem o empate. Armando Marques, contudo, encerrou a disputa após a penalidade desperdiçada por Wilsinho. Naquele momento, o Santos era campeão paulista.

“Eu não culpo tanto o Armando, eu culpo em parte o Pelé”, conta Basílio, o Pé-de-Anjo, meia da Portuguesa na final de 1973, ao Estadão. Ele entende que a reação intensa do Rei do Futebol após o pênalti perdido contribuiu para o árbitro errar a contagem. “Porque, quando nós perdemos o pênalti, o Pelé sai vibrando e aí o Armando dá como encerrada a partida. Pega a bola e levanta”, explica.

Último título do Campeonato Paulista conquistado por Pelé deu-se em 1973. Santos e Portuguesa dividiram a taça Foto: Arquivo/Estadão

Assim que o árbitro encerrou o jogo, os santistas começaram a celebrar o título em campo, embora a sensação de que havia algo errado tivesse tomado também o lado alvinegro. “Eu estava atento”, relembra o ídolo Pepe, então treinador da equipe. “Eu observei, pensei e tinha a certeza que ele tinha errado a contagem dos pênaltis. Foi um erro crasso, que não se justifica em um árbitro do nível do Armando Marques, que, na época, era considerado um dos melhores do mundo.”

Do outro lado, o treinador da Lusa, Otto Glória, também estava atento, assim como os dirigentes de seu clube, que entraram no gramado bradando que o que acabava de ocorrer era um “erro de direito”. Rapidamente, os jogadores foram levados ao vestiário e, logo em seguida, sem nem mesmo tomar banho, rumaram ao ônibus que os levaria ao Canindé, onde aí sim iriam ao chuveiro. “Foi um aproveitamento de inteligência do Otto, dos diretores da Portuguesa, que praticamente recolheram os jogadores e colocaram no ônibus”, diz Basílio.

Erro admitido e reunião nos bastidores

Causador do caos no Morumbi, Armando Marques, que morreu em 2014, admitiu que cometeu “um erro de contagem, não de direito”, em entrevista duas horas após o jogo, e se justificou. “Vocês lembram que parei o jogo para afastar os repórteres que estavam atrás do gol de Cejas, durante a prorrogação. Tive que esvaziar o campo para as cobranças, reunir os jogadores e ainda controlar as cobranças. É muita coisa para uma pessoa só. Além disso, decidir uma partida por pênaltis é só em pelada de praia. Um horror”.

Armando entendeu que tinha errado a contagem ainda no meio da confusão, após ser muito pressionado, e tentou retomar as cobranças, mas já era tarde, como lembra Basílio. “Fui um dos últimos a descer. Não tinha chuteira, não tinha camisa, não tinha nada. Quando ele chegou no vestiário, não tinha ninguém lá. Meus colegas já estavam todos no ônibus. Foi isso que houve. Ele veio gritando ‘volta, volta!’, eu falei: ‘se você me arrumar uma chuteira, uma meia e uma camisa, eu sou um dos últimos batedores, aí eu volto para o campo’. Só que eu não tinha nem me tocado da contagem”.

O Santos chegou a desfilar com a faixa de campeão e Pelé foi bem direto em suas palavras sobre a situação. “Não quero saber de conversa. Digam o que digam, somos os campeões”, afirmou o Rei, conforme relatado em reportagem publicada na edição de 27 de agosto de 1973 do Jornal da Tarde. A situação, contudo, não estava resolvida. Foi apenas após uma reunião no túnel do vestiário, com a presença dos presidentes Osvaldo Teixeira Duarte, da Lusa, Vasco Faé, do Santos, e José Ermírio de Moraes, da Federação Paulista, que se deu o desfecho final. Todos concordaram, teríamos dois campeões paulistas.

O juiz Armando Marques admitiu que errou a contagem dos pênaltis. Foto: Acervo Estadão

Santos comemora no campo e Lusa no ônibus

A decisão trouxe um pouco de decepção aos santistas, inclusive para Pelé, que estava disposto a continuar as cobranças para resolver o imbróglio. “Era nosso cobrador de pênalti, ele tinha inventado a paradinha, estava fazendo sucesso total no campeonato. E era quase certeza de bola no barbante, mas ele ficou realmente decepcionado”, diz Pepe, que precisou conversar com o elenco para que eles assimilassem melhor a divisão do título.

“A nossa reação, a princípio, foi negativa, porque havíamos conquistado saldo melhor na disputa dos pênaltis. Nós tínhamos a vantagem. Então, até certo ponto, nós ficamos decepcionados com essa divisão de título porque, mais uma vez eu digo, foi um erro crasso da arbitragem. Foi decepção, embora eu tenha, na ocasião, chamado os jogadores, conversado com eles: ‘Nós somos campeões paulistas. Dividir o título com a Portuguesa é um problema deles, agora vocês saem daqui com a faixa de campeão paulista’”, conclui o Canhão da Vila.

A notícia chegou aos jogadores da Portuguesa dentro do ônibus, já a caminho do Canindé, a cerca de um quilômetro do Morumbi, pelo que se lembra Basílio. Campeões, os jogadores se abraçaram e vibraram intensamente. O verdadeiro desejo, contudo, era de ter a chance de decidir em campo. “Ficou aquele gostinho porque nós, jogadores, queríamos que tivéssemos outra partida, nós pedimos que tivesse outra partida. Mas não se teria tempo hábil para se fazer uma nova partida. Porque durante a semana já começaria o Campeonato Brasileiro”, afirma o ex-meia.

Basílio também aponta que toda a confusão relativa aos pênaltis ofuscou problemas da arbitragem durante os minutos de bola rolando, como a controversa anulação de um gol marcado por Cabinho, da Lusa. O Pé-de-Anjo, inclusive, levantou o assunto quando participou de um almoço em Santos, com jogadores que estavam naquela partida. “Falei: vocês falam da vantagem que vocês tinham, né? Mas não falam dos gols que nós fizemos, dois foram invalidados. Um, sim, estava impedido. O outro não, foi legítimo. Vocês tiveram prejuízo, nós também”.

Para o ex-jogador da Lusa, o título não perde nada em importância por ter sido dividido. “Lavamos as mãos, então levanta o braço dos dois, os dois são campeões”, afirma. Pepe também valoriza a conquista com o Santos, até porque foi seu primeiro título como treinador. “Foram momentos de alegria. Voltamos para Santos e houve festa, houve comemoração. O título foi dividido, mas grande parcela era do Santos Futebol Clube”.

Foi no meio de toda aquela confusão que Pelé, então com 32 anos, celebrou seu último título com a camisa do Santos e um dos últimos de sua carreira. Em 1974, foi para os Estados Unidos defender o Cosmos, clube pelo qual foi campeão da North American Soccer League, em 1977, ano em que se despediu dos gramados.

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