‘Estamos criando um monstro’: René Simões não se arrepende de frase e manda conselho a Neymar


Crítica feita em 2010 repercute até hoje; em entrevista ao ‘Estadão’, treinador fala de Dorival Júnior na seleção, elogia Marta e analisa momento do Brasil feminino na temporada

Por Marcos Antomil
Atualização:
Foto: Reprodução/ Instagram @renesimoesoficial
Entrevista comRené Simõestreinador de futebol e palestrante motivacional

René Simões é um dos treinadores de futebol do Brasil com maior experiência no exterior. Dirigiu seleções e times de nove países (Catar, Kuwait, Irã, Portugal, Jamaica, Honduras, Costa Rica e Trinidad e Tobago). Aos 71 anos, o técnico que hoje se apresenta nas redes sociais como “palestrante motivacional e facilitador mental” está mais distante da elite da modalidade, mas almeja retornar à cena. Em entrevista ao Estadão, ele relembrou uma frase polêmica sobre Neymar - da qual não se arrepende -, mandou um conselho ao jogador do Al-Hilal sobre seu futuro, fez vastos elogios a Marta e comentou a façanha de levar a Jamaica à Copa do Mundo de 1998 e a seleção feminina à medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.

O técnico recorda com mais alegria de trabalhos de recuperação de equipes nacionais, com Coritiba e Fluminense, e a superação de obstáculos estruturais em seleções, especialmente nos casos da Jamaica e do time feminino do Brasil.

Em setembro de 2010, quando era técnico do Atlético Goianiense, René Simões presenciou em um jogo com o Santos, na Vila Belmiro, uma ríspida discussão entre Neymar, então com 18 anos, com seu treinador, Dorival Júnior, atual comandante da seleção brasileira. Tal entrevero culminou com a demissão de Dorival dias depois. Naquela mesma noite, René fez declarações em tom de alerta e crítica contra Neymar, que defende o clube saudita e se recupera, neste momento, de cirurgia no joelho. “Poucas vezes vi alguém tão mal educado desportivamente quando esse rapaz Neymar. Estamos criando um monstro no futebol brasileiro. Ele é um senhor todo poderoso dentro de campo”, disse René à época.

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René afirma que não muda uma vírgula do que disse naquela ocasião e diz estar incomodado com a falta de protagonismo do Brasil no cenário internacional do futebol. Neymar, para o treinador, ainda pode ser o melhor do mundo se quiser, mas precisa de foco e renunciar a atividades que têm atrapalhado sua carreira.

Como enxerga hoje a figura do Neymar?

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Quando falamos do Neymar, temos de abrir uma janela para não ser mal interpretado. Não vejo ninguém no Brasil com a qualidade dele. A desvantagem do Neymar é que ele pegou a seleção sem tantos outros craques como em outros momentos. Não arrependo do que falei lá atrás sobre ele, porque o disse de forma educativa. Alguém tinha de educá-lo desportivamente dentro de campo. E muitos treinadores me encontraram depois e disseram que eu tive a coragem de dizer o que eles gostariam. Quando ele foi para o Barcelona teve atuações excelentes, foi o momento máximo da carreira dele. O Barcelona não permite que o jogador seja maior do que o clube. Limite é bom para os nossos jovens. A vida propõe limites. Livre é aquele que faz o que não gosta, mas sabe que é importante.

‘Estamos criando um monstro, um senhor todo poderoso’. Essas foram as frases ditas por você sobre o Neymar em setembro de 2010. Você entende que quase 14 anos depois, o Neymar foi educado desportivamente ou ele continua sendo um senhor todo poderoso?

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Princípios não podem ser negociados. Estratégias, sim. Como chefe de redação, por estratégia, não posso tratar você como trato outro jornalista. Mas a quebra de princípios deve ser igualmente punida, independentemente de quem a cometa. A seleção precisa ter princípios e regras que valham para todos. Pelo que eu vejo, dentro de campo, repito, dentro de campo, o Neymar é o jogador mais importante que a gente tem.

Qual conselho o René Simões daria a Neymar?

Tenha foco naquilo que quer. Se você quer ser o melhor jogador do mundo, eu acredito que ainda pode ser. Qualidade não falta. Se não for o que ele quer, nós ficamos incomodados. Estamos com saudades de ter um brasileiro como número 1. O Kaká foi o último, em 2007. Quem não se incomoda se acomoda. Nós temos o melhor DNA de jogar futebol. Não é prepotência, é constatação. Neymar, coloque seu foco naquilo que você quer ser. E ter foco é dizer ‘não’. Você tem de abrir mão de uma coisa para conquistar outra. Ou uma ou outra. A gente precisa cuidar dessa nova geração, com Endrick, Vitor Roque, John Kennedy, Marlon Gomes...

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René Simões tem um vasto currículo com passagens importantes por seleções. Foto: Reprodução/ Instagram @renesimoesoficial

Técnico de futebol tem de ser facilitador mental e palestrante para seus comandados? Está aberto a voltar à elite do esporte?

Há 50 anos faço isso. Você tem de fazer a conexão de pessoas e entender a singularidade de cada um. Minha intenção agora é passar isso adiante. Tenho mentorado jogadores, treinadores, profissionais de educação física, advogados... Essa bagagem pode ser usada para ajudar as pessoas. No Brasil, falta uma figura que o São Paulo conseguiu construir agora com o Muricy Ramalho, de coordenador técnico. Eu estou muito disposto (a aceitar um projeto assim). É uma posição que gosto muito. A CBF, por exemplo, precisa agora de alguém para dar essa sustentação ao Dorival Júnior. Zagallo fez um trabalho semelhante com o Carlos Alberto Parreira em 1994 e deu confiança para o treinador.

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Concorda com a escolha de Dorival Júnior como técnico da seleção brasileira?

Em 1987, eu fui escolhido para trabalhar na seleção brasileira. No ano seguinte, fui campeão sul-americano sub-20 e, quando voltei, dei uma entrevista em que o repórter perguntou: ‘Você tem certeza de que quer que essa entrevista seja publicada? Ela pode causar sua demissão’. Eu disse que havia sido campeão, mas aquele não era o meu momento. Eu achava que deveria ter um ranking, com pontuação para títulos e bons resultados. Nesse ranking, o Dorival estaria muito bem. É um lugar que ele merece. Gostei muito dele falar em recuperar a ‘seleção do povo’. Eu me preocupo com esse amor perdido pela seleção brasileira.

Quais foram seus trabalhos mais satisfatórios em clubes e em seleções?

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Em dois clubes fiz um trabalho de recuperações e mexeram muito comigo. Assumi o Coritiba perto da zona de rebaixamento para a Série C e fomos campeões da Série B, em 2007. No Fluminense, em 2008, peguei uma equipe que havia perdido a final da Libertadores para a LDU e na zona de rebaixamento. Era um time muito bom, que se tivesse ganhado o Continental poderia ter se motivado para levar o Brasileirão. De seleção tem a Jamaica e a feminina do Brasil. A seleção feminina estava desacreditada e conseguimos fazer o País subir ao pódio pela primeira vez sem qualquer estrutura, em Atenas, em 2004. A Jamaica não tinha futebol profissional, a equipe era formada por carregador de mala, motorista de taxi, barman... Foi uma classificação indescritível. Participar da Copa de 1998, ganhar um jogo (contra o Japão) e marcar três gols. Depois daquilo, o futebol jamaicano foi descoberto pelo mundo e cresceu. Naquela época, o campeonato local era semiprofissional. Os campos eram cercados por corda. Quando o time atacava, o público pulava a corda e se aglomerava para ver a jogada. Era até difícil de assistir às partidas.

René Simões levou a Jamaica à Copa do Mundo de 1998, na França. Foto: Tasso Marcelo/ AE

Por que a seleção brasileira feminina, mesmo com uma estrutura melhor, não consegue os mesmos bons resultados do início dos anos 2000, quando foi vice-campeã olímpica (2004) e vice mundial (2007)?

Eu acho que o Arthur Elias fará um trabalho muito bom. A forma como a Pia Sundhage distribuía as jogadoras em campo tornou tudo complicado. A ausência da Cristiane também conta neste momento. Encarar uma Olimpíada e uma Copa do Mundo precisa de experiência. Ter a Marta em uma posição diferente, como quarta jogadora do meio de campo, atuando aberta pela ponta me pareceu um erro.

René Simões conquistou a medalha de prata nos Jogos de Atenas, em 2004, com a seleção feminina. Foto: Fabio Motta/ AE

A Marta é uma figura cativante e carismática, premiada no futebol mundial e uma referência com a qual você trabalhou. Como a avalia como jogadora e personalidade?

A Marta é exatamente isso que você disse e um pouco mais. Quando ela dá uma entrevista e chora é a Marta. Quando ela briga e quer melhores condições é a Marta. Quando ela entra em campo e brilha é a Marta. Quando você vê aquela pessoa simples e humilde, essa é a Marta. Na Vila Olímpica, em Atenas, fiquei hospedado no primeiro andar de um dos prédios da delegação brasileira, e a Marta no térreo. Havia uma varandinha com um tanque de lavar roupas. Teve um dia em que vi a Marta ir até esse tanque e lavar uma, duas, três, cinco, sete calcinhas... Eu perguntei: ‘Marta, você deixou acumular tantas assim?’. Ela olhou para cima, riu e daquele jeito dela disse: ‘Não, professor. É que estou lavando a das meninas também que elas pediram’. Ela é de uma simplicidade. Essa é a Marta, muito cuidadosa. Não haverá alguém igual a ela. É de uma genialidade do nível do Pelé.

René Simões é um dos treinadores de futebol do Brasil com maior experiência no exterior. Dirigiu seleções e times de nove países (Catar, Kuwait, Irã, Portugal, Jamaica, Honduras, Costa Rica e Trinidad e Tobago). Aos 71 anos, o técnico que hoje se apresenta nas redes sociais como “palestrante motivacional e facilitador mental” está mais distante da elite da modalidade, mas almeja retornar à cena. Em entrevista ao Estadão, ele relembrou uma frase polêmica sobre Neymar - da qual não se arrepende -, mandou um conselho ao jogador do Al-Hilal sobre seu futuro, fez vastos elogios a Marta e comentou a façanha de levar a Jamaica à Copa do Mundo de 1998 e a seleção feminina à medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.

O técnico recorda com mais alegria de trabalhos de recuperação de equipes nacionais, com Coritiba e Fluminense, e a superação de obstáculos estruturais em seleções, especialmente nos casos da Jamaica e do time feminino do Brasil.

Em setembro de 2010, quando era técnico do Atlético Goianiense, René Simões presenciou em um jogo com o Santos, na Vila Belmiro, uma ríspida discussão entre Neymar, então com 18 anos, com seu treinador, Dorival Júnior, atual comandante da seleção brasileira. Tal entrevero culminou com a demissão de Dorival dias depois. Naquela mesma noite, René fez declarações em tom de alerta e crítica contra Neymar, que defende o clube saudita e se recupera, neste momento, de cirurgia no joelho. “Poucas vezes vi alguém tão mal educado desportivamente quando esse rapaz Neymar. Estamos criando um monstro no futebol brasileiro. Ele é um senhor todo poderoso dentro de campo”, disse René à época.

René afirma que não muda uma vírgula do que disse naquela ocasião e diz estar incomodado com a falta de protagonismo do Brasil no cenário internacional do futebol. Neymar, para o treinador, ainda pode ser o melhor do mundo se quiser, mas precisa de foco e renunciar a atividades que têm atrapalhado sua carreira.

Como enxerga hoje a figura do Neymar?

Quando falamos do Neymar, temos de abrir uma janela para não ser mal interpretado. Não vejo ninguém no Brasil com a qualidade dele. A desvantagem do Neymar é que ele pegou a seleção sem tantos outros craques como em outros momentos. Não arrependo do que falei lá atrás sobre ele, porque o disse de forma educativa. Alguém tinha de educá-lo desportivamente dentro de campo. E muitos treinadores me encontraram depois e disseram que eu tive a coragem de dizer o que eles gostariam. Quando ele foi para o Barcelona teve atuações excelentes, foi o momento máximo da carreira dele. O Barcelona não permite que o jogador seja maior do que o clube. Limite é bom para os nossos jovens. A vida propõe limites. Livre é aquele que faz o que não gosta, mas sabe que é importante.

‘Estamos criando um monstro, um senhor todo poderoso’. Essas foram as frases ditas por você sobre o Neymar em setembro de 2010. Você entende que quase 14 anos depois, o Neymar foi educado desportivamente ou ele continua sendo um senhor todo poderoso?

Princípios não podem ser negociados. Estratégias, sim. Como chefe de redação, por estratégia, não posso tratar você como trato outro jornalista. Mas a quebra de princípios deve ser igualmente punida, independentemente de quem a cometa. A seleção precisa ter princípios e regras que valham para todos. Pelo que eu vejo, dentro de campo, repito, dentro de campo, o Neymar é o jogador mais importante que a gente tem.

Qual conselho o René Simões daria a Neymar?

Tenha foco naquilo que quer. Se você quer ser o melhor jogador do mundo, eu acredito que ainda pode ser. Qualidade não falta. Se não for o que ele quer, nós ficamos incomodados. Estamos com saudades de ter um brasileiro como número 1. O Kaká foi o último, em 2007. Quem não se incomoda se acomoda. Nós temos o melhor DNA de jogar futebol. Não é prepotência, é constatação. Neymar, coloque seu foco naquilo que você quer ser. E ter foco é dizer ‘não’. Você tem de abrir mão de uma coisa para conquistar outra. Ou uma ou outra. A gente precisa cuidar dessa nova geração, com Endrick, Vitor Roque, John Kennedy, Marlon Gomes...

René Simões tem um vasto currículo com passagens importantes por seleções. Foto: Reprodução/ Instagram @renesimoesoficial

Técnico de futebol tem de ser facilitador mental e palestrante para seus comandados? Está aberto a voltar à elite do esporte?

Há 50 anos faço isso. Você tem de fazer a conexão de pessoas e entender a singularidade de cada um. Minha intenção agora é passar isso adiante. Tenho mentorado jogadores, treinadores, profissionais de educação física, advogados... Essa bagagem pode ser usada para ajudar as pessoas. No Brasil, falta uma figura que o São Paulo conseguiu construir agora com o Muricy Ramalho, de coordenador técnico. Eu estou muito disposto (a aceitar um projeto assim). É uma posição que gosto muito. A CBF, por exemplo, precisa agora de alguém para dar essa sustentação ao Dorival Júnior. Zagallo fez um trabalho semelhante com o Carlos Alberto Parreira em 1994 e deu confiança para o treinador.

Concorda com a escolha de Dorival Júnior como técnico da seleção brasileira?

Em 1987, eu fui escolhido para trabalhar na seleção brasileira. No ano seguinte, fui campeão sul-americano sub-20 e, quando voltei, dei uma entrevista em que o repórter perguntou: ‘Você tem certeza de que quer que essa entrevista seja publicada? Ela pode causar sua demissão’. Eu disse que havia sido campeão, mas aquele não era o meu momento. Eu achava que deveria ter um ranking, com pontuação para títulos e bons resultados. Nesse ranking, o Dorival estaria muito bem. É um lugar que ele merece. Gostei muito dele falar em recuperar a ‘seleção do povo’. Eu me preocupo com esse amor perdido pela seleção brasileira.

Quais foram seus trabalhos mais satisfatórios em clubes e em seleções?

Em dois clubes fiz um trabalho de recuperações e mexeram muito comigo. Assumi o Coritiba perto da zona de rebaixamento para a Série C e fomos campeões da Série B, em 2007. No Fluminense, em 2008, peguei uma equipe que havia perdido a final da Libertadores para a LDU e na zona de rebaixamento. Era um time muito bom, que se tivesse ganhado o Continental poderia ter se motivado para levar o Brasileirão. De seleção tem a Jamaica e a feminina do Brasil. A seleção feminina estava desacreditada e conseguimos fazer o País subir ao pódio pela primeira vez sem qualquer estrutura, em Atenas, em 2004. A Jamaica não tinha futebol profissional, a equipe era formada por carregador de mala, motorista de taxi, barman... Foi uma classificação indescritível. Participar da Copa de 1998, ganhar um jogo (contra o Japão) e marcar três gols. Depois daquilo, o futebol jamaicano foi descoberto pelo mundo e cresceu. Naquela época, o campeonato local era semiprofissional. Os campos eram cercados por corda. Quando o time atacava, o público pulava a corda e se aglomerava para ver a jogada. Era até difícil de assistir às partidas.

René Simões levou a Jamaica à Copa do Mundo de 1998, na França. Foto: Tasso Marcelo/ AE

Por que a seleção brasileira feminina, mesmo com uma estrutura melhor, não consegue os mesmos bons resultados do início dos anos 2000, quando foi vice-campeã olímpica (2004) e vice mundial (2007)?

Eu acho que o Arthur Elias fará um trabalho muito bom. A forma como a Pia Sundhage distribuía as jogadoras em campo tornou tudo complicado. A ausência da Cristiane também conta neste momento. Encarar uma Olimpíada e uma Copa do Mundo precisa de experiência. Ter a Marta em uma posição diferente, como quarta jogadora do meio de campo, atuando aberta pela ponta me pareceu um erro.

René Simões conquistou a medalha de prata nos Jogos de Atenas, em 2004, com a seleção feminina. Foto: Fabio Motta/ AE

A Marta é uma figura cativante e carismática, premiada no futebol mundial e uma referência com a qual você trabalhou. Como a avalia como jogadora e personalidade?

A Marta é exatamente isso que você disse e um pouco mais. Quando ela dá uma entrevista e chora é a Marta. Quando ela briga e quer melhores condições é a Marta. Quando ela entra em campo e brilha é a Marta. Quando você vê aquela pessoa simples e humilde, essa é a Marta. Na Vila Olímpica, em Atenas, fiquei hospedado no primeiro andar de um dos prédios da delegação brasileira, e a Marta no térreo. Havia uma varandinha com um tanque de lavar roupas. Teve um dia em que vi a Marta ir até esse tanque e lavar uma, duas, três, cinco, sete calcinhas... Eu perguntei: ‘Marta, você deixou acumular tantas assim?’. Ela olhou para cima, riu e daquele jeito dela disse: ‘Não, professor. É que estou lavando a das meninas também que elas pediram’. Ela é de uma simplicidade. Essa é a Marta, muito cuidadosa. Não haverá alguém igual a ela. É de uma genialidade do nível do Pelé.

René Simões é um dos treinadores de futebol do Brasil com maior experiência no exterior. Dirigiu seleções e times de nove países (Catar, Kuwait, Irã, Portugal, Jamaica, Honduras, Costa Rica e Trinidad e Tobago). Aos 71 anos, o técnico que hoje se apresenta nas redes sociais como “palestrante motivacional e facilitador mental” está mais distante da elite da modalidade, mas almeja retornar à cena. Em entrevista ao Estadão, ele relembrou uma frase polêmica sobre Neymar - da qual não se arrepende -, mandou um conselho ao jogador do Al-Hilal sobre seu futuro, fez vastos elogios a Marta e comentou a façanha de levar a Jamaica à Copa do Mundo de 1998 e a seleção feminina à medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.

O técnico recorda com mais alegria de trabalhos de recuperação de equipes nacionais, com Coritiba e Fluminense, e a superação de obstáculos estruturais em seleções, especialmente nos casos da Jamaica e do time feminino do Brasil.

Em setembro de 2010, quando era técnico do Atlético Goianiense, René Simões presenciou em um jogo com o Santos, na Vila Belmiro, uma ríspida discussão entre Neymar, então com 18 anos, com seu treinador, Dorival Júnior, atual comandante da seleção brasileira. Tal entrevero culminou com a demissão de Dorival dias depois. Naquela mesma noite, René fez declarações em tom de alerta e crítica contra Neymar, que defende o clube saudita e se recupera, neste momento, de cirurgia no joelho. “Poucas vezes vi alguém tão mal educado desportivamente quando esse rapaz Neymar. Estamos criando um monstro no futebol brasileiro. Ele é um senhor todo poderoso dentro de campo”, disse René à época.

René afirma que não muda uma vírgula do que disse naquela ocasião e diz estar incomodado com a falta de protagonismo do Brasil no cenário internacional do futebol. Neymar, para o treinador, ainda pode ser o melhor do mundo se quiser, mas precisa de foco e renunciar a atividades que têm atrapalhado sua carreira.

Como enxerga hoje a figura do Neymar?

Quando falamos do Neymar, temos de abrir uma janela para não ser mal interpretado. Não vejo ninguém no Brasil com a qualidade dele. A desvantagem do Neymar é que ele pegou a seleção sem tantos outros craques como em outros momentos. Não arrependo do que falei lá atrás sobre ele, porque o disse de forma educativa. Alguém tinha de educá-lo desportivamente dentro de campo. E muitos treinadores me encontraram depois e disseram que eu tive a coragem de dizer o que eles gostariam. Quando ele foi para o Barcelona teve atuações excelentes, foi o momento máximo da carreira dele. O Barcelona não permite que o jogador seja maior do que o clube. Limite é bom para os nossos jovens. A vida propõe limites. Livre é aquele que faz o que não gosta, mas sabe que é importante.

‘Estamos criando um monstro, um senhor todo poderoso’. Essas foram as frases ditas por você sobre o Neymar em setembro de 2010. Você entende que quase 14 anos depois, o Neymar foi educado desportivamente ou ele continua sendo um senhor todo poderoso?

Princípios não podem ser negociados. Estratégias, sim. Como chefe de redação, por estratégia, não posso tratar você como trato outro jornalista. Mas a quebra de princípios deve ser igualmente punida, independentemente de quem a cometa. A seleção precisa ter princípios e regras que valham para todos. Pelo que eu vejo, dentro de campo, repito, dentro de campo, o Neymar é o jogador mais importante que a gente tem.

Qual conselho o René Simões daria a Neymar?

Tenha foco naquilo que quer. Se você quer ser o melhor jogador do mundo, eu acredito que ainda pode ser. Qualidade não falta. Se não for o que ele quer, nós ficamos incomodados. Estamos com saudades de ter um brasileiro como número 1. O Kaká foi o último, em 2007. Quem não se incomoda se acomoda. Nós temos o melhor DNA de jogar futebol. Não é prepotência, é constatação. Neymar, coloque seu foco naquilo que você quer ser. E ter foco é dizer ‘não’. Você tem de abrir mão de uma coisa para conquistar outra. Ou uma ou outra. A gente precisa cuidar dessa nova geração, com Endrick, Vitor Roque, John Kennedy, Marlon Gomes...

René Simões tem um vasto currículo com passagens importantes por seleções. Foto: Reprodução/ Instagram @renesimoesoficial

Técnico de futebol tem de ser facilitador mental e palestrante para seus comandados? Está aberto a voltar à elite do esporte?

Há 50 anos faço isso. Você tem de fazer a conexão de pessoas e entender a singularidade de cada um. Minha intenção agora é passar isso adiante. Tenho mentorado jogadores, treinadores, profissionais de educação física, advogados... Essa bagagem pode ser usada para ajudar as pessoas. No Brasil, falta uma figura que o São Paulo conseguiu construir agora com o Muricy Ramalho, de coordenador técnico. Eu estou muito disposto (a aceitar um projeto assim). É uma posição que gosto muito. A CBF, por exemplo, precisa agora de alguém para dar essa sustentação ao Dorival Júnior. Zagallo fez um trabalho semelhante com o Carlos Alberto Parreira em 1994 e deu confiança para o treinador.

Concorda com a escolha de Dorival Júnior como técnico da seleção brasileira?

Em 1987, eu fui escolhido para trabalhar na seleção brasileira. No ano seguinte, fui campeão sul-americano sub-20 e, quando voltei, dei uma entrevista em que o repórter perguntou: ‘Você tem certeza de que quer que essa entrevista seja publicada? Ela pode causar sua demissão’. Eu disse que havia sido campeão, mas aquele não era o meu momento. Eu achava que deveria ter um ranking, com pontuação para títulos e bons resultados. Nesse ranking, o Dorival estaria muito bem. É um lugar que ele merece. Gostei muito dele falar em recuperar a ‘seleção do povo’. Eu me preocupo com esse amor perdido pela seleção brasileira.

Quais foram seus trabalhos mais satisfatórios em clubes e em seleções?

Em dois clubes fiz um trabalho de recuperações e mexeram muito comigo. Assumi o Coritiba perto da zona de rebaixamento para a Série C e fomos campeões da Série B, em 2007. No Fluminense, em 2008, peguei uma equipe que havia perdido a final da Libertadores para a LDU e na zona de rebaixamento. Era um time muito bom, que se tivesse ganhado o Continental poderia ter se motivado para levar o Brasileirão. De seleção tem a Jamaica e a feminina do Brasil. A seleção feminina estava desacreditada e conseguimos fazer o País subir ao pódio pela primeira vez sem qualquer estrutura, em Atenas, em 2004. A Jamaica não tinha futebol profissional, a equipe era formada por carregador de mala, motorista de taxi, barman... Foi uma classificação indescritível. Participar da Copa de 1998, ganhar um jogo (contra o Japão) e marcar três gols. Depois daquilo, o futebol jamaicano foi descoberto pelo mundo e cresceu. Naquela época, o campeonato local era semiprofissional. Os campos eram cercados por corda. Quando o time atacava, o público pulava a corda e se aglomerava para ver a jogada. Era até difícil de assistir às partidas.

René Simões levou a Jamaica à Copa do Mundo de 1998, na França. Foto: Tasso Marcelo/ AE

Por que a seleção brasileira feminina, mesmo com uma estrutura melhor, não consegue os mesmos bons resultados do início dos anos 2000, quando foi vice-campeã olímpica (2004) e vice mundial (2007)?

Eu acho que o Arthur Elias fará um trabalho muito bom. A forma como a Pia Sundhage distribuía as jogadoras em campo tornou tudo complicado. A ausência da Cristiane também conta neste momento. Encarar uma Olimpíada e uma Copa do Mundo precisa de experiência. Ter a Marta em uma posição diferente, como quarta jogadora do meio de campo, atuando aberta pela ponta me pareceu um erro.

René Simões conquistou a medalha de prata nos Jogos de Atenas, em 2004, com a seleção feminina. Foto: Fabio Motta/ AE

A Marta é uma figura cativante e carismática, premiada no futebol mundial e uma referência com a qual você trabalhou. Como a avalia como jogadora e personalidade?

A Marta é exatamente isso que você disse e um pouco mais. Quando ela dá uma entrevista e chora é a Marta. Quando ela briga e quer melhores condições é a Marta. Quando ela entra em campo e brilha é a Marta. Quando você vê aquela pessoa simples e humilde, essa é a Marta. Na Vila Olímpica, em Atenas, fiquei hospedado no primeiro andar de um dos prédios da delegação brasileira, e a Marta no térreo. Havia uma varandinha com um tanque de lavar roupas. Teve um dia em que vi a Marta ir até esse tanque e lavar uma, duas, três, cinco, sete calcinhas... Eu perguntei: ‘Marta, você deixou acumular tantas assim?’. Ela olhou para cima, riu e daquele jeito dela disse: ‘Não, professor. É que estou lavando a das meninas também que elas pediram’. Ela é de uma simplicidade. Essa é a Marta, muito cuidadosa. Não haverá alguém igual a ela. É de uma genialidade do nível do Pelé.

René Simões é um dos treinadores de futebol do Brasil com maior experiência no exterior. Dirigiu seleções e times de nove países (Catar, Kuwait, Irã, Portugal, Jamaica, Honduras, Costa Rica e Trinidad e Tobago). Aos 71 anos, o técnico que hoje se apresenta nas redes sociais como “palestrante motivacional e facilitador mental” está mais distante da elite da modalidade, mas almeja retornar à cena. Em entrevista ao Estadão, ele relembrou uma frase polêmica sobre Neymar - da qual não se arrepende -, mandou um conselho ao jogador do Al-Hilal sobre seu futuro, fez vastos elogios a Marta e comentou a façanha de levar a Jamaica à Copa do Mundo de 1998 e a seleção feminina à medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.

O técnico recorda com mais alegria de trabalhos de recuperação de equipes nacionais, com Coritiba e Fluminense, e a superação de obstáculos estruturais em seleções, especialmente nos casos da Jamaica e do time feminino do Brasil.

Em setembro de 2010, quando era técnico do Atlético Goianiense, René Simões presenciou em um jogo com o Santos, na Vila Belmiro, uma ríspida discussão entre Neymar, então com 18 anos, com seu treinador, Dorival Júnior, atual comandante da seleção brasileira. Tal entrevero culminou com a demissão de Dorival dias depois. Naquela mesma noite, René fez declarações em tom de alerta e crítica contra Neymar, que defende o clube saudita e se recupera, neste momento, de cirurgia no joelho. “Poucas vezes vi alguém tão mal educado desportivamente quando esse rapaz Neymar. Estamos criando um monstro no futebol brasileiro. Ele é um senhor todo poderoso dentro de campo”, disse René à época.

René afirma que não muda uma vírgula do que disse naquela ocasião e diz estar incomodado com a falta de protagonismo do Brasil no cenário internacional do futebol. Neymar, para o treinador, ainda pode ser o melhor do mundo se quiser, mas precisa de foco e renunciar a atividades que têm atrapalhado sua carreira.

Como enxerga hoje a figura do Neymar?

Quando falamos do Neymar, temos de abrir uma janela para não ser mal interpretado. Não vejo ninguém no Brasil com a qualidade dele. A desvantagem do Neymar é que ele pegou a seleção sem tantos outros craques como em outros momentos. Não arrependo do que falei lá atrás sobre ele, porque o disse de forma educativa. Alguém tinha de educá-lo desportivamente dentro de campo. E muitos treinadores me encontraram depois e disseram que eu tive a coragem de dizer o que eles gostariam. Quando ele foi para o Barcelona teve atuações excelentes, foi o momento máximo da carreira dele. O Barcelona não permite que o jogador seja maior do que o clube. Limite é bom para os nossos jovens. A vida propõe limites. Livre é aquele que faz o que não gosta, mas sabe que é importante.

‘Estamos criando um monstro, um senhor todo poderoso’. Essas foram as frases ditas por você sobre o Neymar em setembro de 2010. Você entende que quase 14 anos depois, o Neymar foi educado desportivamente ou ele continua sendo um senhor todo poderoso?

Princípios não podem ser negociados. Estratégias, sim. Como chefe de redação, por estratégia, não posso tratar você como trato outro jornalista. Mas a quebra de princípios deve ser igualmente punida, independentemente de quem a cometa. A seleção precisa ter princípios e regras que valham para todos. Pelo que eu vejo, dentro de campo, repito, dentro de campo, o Neymar é o jogador mais importante que a gente tem.

Qual conselho o René Simões daria a Neymar?

Tenha foco naquilo que quer. Se você quer ser o melhor jogador do mundo, eu acredito que ainda pode ser. Qualidade não falta. Se não for o que ele quer, nós ficamos incomodados. Estamos com saudades de ter um brasileiro como número 1. O Kaká foi o último, em 2007. Quem não se incomoda se acomoda. Nós temos o melhor DNA de jogar futebol. Não é prepotência, é constatação. Neymar, coloque seu foco naquilo que você quer ser. E ter foco é dizer ‘não’. Você tem de abrir mão de uma coisa para conquistar outra. Ou uma ou outra. A gente precisa cuidar dessa nova geração, com Endrick, Vitor Roque, John Kennedy, Marlon Gomes...

René Simões tem um vasto currículo com passagens importantes por seleções. Foto: Reprodução/ Instagram @renesimoesoficial

Técnico de futebol tem de ser facilitador mental e palestrante para seus comandados? Está aberto a voltar à elite do esporte?

Há 50 anos faço isso. Você tem de fazer a conexão de pessoas e entender a singularidade de cada um. Minha intenção agora é passar isso adiante. Tenho mentorado jogadores, treinadores, profissionais de educação física, advogados... Essa bagagem pode ser usada para ajudar as pessoas. No Brasil, falta uma figura que o São Paulo conseguiu construir agora com o Muricy Ramalho, de coordenador técnico. Eu estou muito disposto (a aceitar um projeto assim). É uma posição que gosto muito. A CBF, por exemplo, precisa agora de alguém para dar essa sustentação ao Dorival Júnior. Zagallo fez um trabalho semelhante com o Carlos Alberto Parreira em 1994 e deu confiança para o treinador.

Concorda com a escolha de Dorival Júnior como técnico da seleção brasileira?

Em 1987, eu fui escolhido para trabalhar na seleção brasileira. No ano seguinte, fui campeão sul-americano sub-20 e, quando voltei, dei uma entrevista em que o repórter perguntou: ‘Você tem certeza de que quer que essa entrevista seja publicada? Ela pode causar sua demissão’. Eu disse que havia sido campeão, mas aquele não era o meu momento. Eu achava que deveria ter um ranking, com pontuação para títulos e bons resultados. Nesse ranking, o Dorival estaria muito bem. É um lugar que ele merece. Gostei muito dele falar em recuperar a ‘seleção do povo’. Eu me preocupo com esse amor perdido pela seleção brasileira.

Quais foram seus trabalhos mais satisfatórios em clubes e em seleções?

Em dois clubes fiz um trabalho de recuperações e mexeram muito comigo. Assumi o Coritiba perto da zona de rebaixamento para a Série C e fomos campeões da Série B, em 2007. No Fluminense, em 2008, peguei uma equipe que havia perdido a final da Libertadores para a LDU e na zona de rebaixamento. Era um time muito bom, que se tivesse ganhado o Continental poderia ter se motivado para levar o Brasileirão. De seleção tem a Jamaica e a feminina do Brasil. A seleção feminina estava desacreditada e conseguimos fazer o País subir ao pódio pela primeira vez sem qualquer estrutura, em Atenas, em 2004. A Jamaica não tinha futebol profissional, a equipe era formada por carregador de mala, motorista de taxi, barman... Foi uma classificação indescritível. Participar da Copa de 1998, ganhar um jogo (contra o Japão) e marcar três gols. Depois daquilo, o futebol jamaicano foi descoberto pelo mundo e cresceu. Naquela época, o campeonato local era semiprofissional. Os campos eram cercados por corda. Quando o time atacava, o público pulava a corda e se aglomerava para ver a jogada. Era até difícil de assistir às partidas.

René Simões levou a Jamaica à Copa do Mundo de 1998, na França. Foto: Tasso Marcelo/ AE

Por que a seleção brasileira feminina, mesmo com uma estrutura melhor, não consegue os mesmos bons resultados do início dos anos 2000, quando foi vice-campeã olímpica (2004) e vice mundial (2007)?

Eu acho que o Arthur Elias fará um trabalho muito bom. A forma como a Pia Sundhage distribuía as jogadoras em campo tornou tudo complicado. A ausência da Cristiane também conta neste momento. Encarar uma Olimpíada e uma Copa do Mundo precisa de experiência. Ter a Marta em uma posição diferente, como quarta jogadora do meio de campo, atuando aberta pela ponta me pareceu um erro.

René Simões conquistou a medalha de prata nos Jogos de Atenas, em 2004, com a seleção feminina. Foto: Fabio Motta/ AE

A Marta é uma figura cativante e carismática, premiada no futebol mundial e uma referência com a qual você trabalhou. Como a avalia como jogadora e personalidade?

A Marta é exatamente isso que você disse e um pouco mais. Quando ela dá uma entrevista e chora é a Marta. Quando ela briga e quer melhores condições é a Marta. Quando ela entra em campo e brilha é a Marta. Quando você vê aquela pessoa simples e humilde, essa é a Marta. Na Vila Olímpica, em Atenas, fiquei hospedado no primeiro andar de um dos prédios da delegação brasileira, e a Marta no térreo. Havia uma varandinha com um tanque de lavar roupas. Teve um dia em que vi a Marta ir até esse tanque e lavar uma, duas, três, cinco, sete calcinhas... Eu perguntei: ‘Marta, você deixou acumular tantas assim?’. Ela olhou para cima, riu e daquele jeito dela disse: ‘Não, professor. É que estou lavando a das meninas também que elas pediram’. Ela é de uma simplicidade. Essa é a Marta, muito cuidadosa. Não haverá alguém igual a ela. É de uma genialidade do nível do Pelé.

Entrevista por Marcos Antomil

Editor assistente de Esportes. Formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduado em Jornalismo e Transmissões Esportivas pela Universidad Nebrija (Espanha).

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