Neste início de Copa do Mundo, o streamer Casimiro tem alcançado números expressivos de audiência no YouTube e na Twitch, em parceria com o serviço de streaming da Fifa. No jogo de abertura, entre Catar e Equador, a transmissão em seus canais na Internet alcançou quase 1 milhão de espectadores simultâneos. Os vídeos com os melhores momentos das partidas também têm tido um impacto importante. Lances de França e Austrália, por exemplo, registraram quase 3 milhões de visualizações.
Além do direito de transmitir 22 partidas do Mundial, incluindo todos os confrontos da seleção brasileira, semifinal e final, o jornalista também exibe, por meio do canal Cortes do Casimiro, os gols e jogadas de efeito dos jogos. Os ‘reacts’ da derrota da Argentina para a Arábia Saudita tem quase 400 mil visualizações.
Para a cobertura da Copa, o streamer investiu em uma equipe robusta nas transmissões. Nomes conhecidos, como Juninho Pernambucano, Denílson, o zagueiro Edmilson e o lateral Marcelo vão comentar os jogos, além de Luís Felipe Freitas e Chico Pedrotti no quadro de narradores. Há também repórteres in loco no Qatar, os conhecidos: André Hernan, Alexandre Oliveira e Isabella Pagliari.
“O sucesso de Casimiro é fruto dessa descentralização. É uma transmissão bem diferente da que temos em canais tradicionais e atende a um público específico. Além disso, vem de um trabalho consistente de construção de audiência há 3 anos nos canais dele, com um público que sabe bem o que ele oferece. Foram muitos jogos feitos antes, o que preparou para esse evento e para esse sucesso que ele colhe agora”, explica Bruno Maia, especialista em inovação e novas tecnologias do esporte e entretenimento e sócio da Feel The Match, desenvolvedora de propriedades intelectuais para Web3 e Streaming, e produtor e diretor de séries audiovisuais na globoplay, como ‘Nos Armários do Vestiários’, e do filme ‘Romário - O Cara’ para HBO MAX (previsão de lançamento para 2023).
A revolução não será televisionada
O anúncio de que Casimiro iria transmitir 22 jogos da Copa do Mundo de 2022 em suas plataformas na internet foi a grande novidade na estratégia de transmissão adotada pela Fifa para o Mundial. O acordo foi costurada pela LiveMode, empresa parceiro do youtuber, com a própria entidade responsável pelo torneio. O mais importante: todos esses jogos serão exibidos gratuitamente, o que comprova: a indústria do futebol mudou.
“O futebol foi um produto perfeito para a comunicação do século 20 e os projetos de expansão da comunicação de massa reguladas pelos estados. O streaming é o século 21, com distribuição descentralizada, através de dados que circulam pela neutralidade da rede da internet, sob a qual a interferência dos governos acaba sendo mais limitada. Neste novo cenário, o consumo é pensado para atingir audiências que têm possibilidade de customizar suas rotinas e seu entretenimento. Não são mais reféns de uma programação única típica da comunicação de massa, que lhes impunha narrativas. O esporte é rico demais em possibilidades de gerar histórias pra que a gente siga apenas discutindo o placar do jogo e a próxima rodada. Este futuro já chegou e a prova está aí na democratização das transmissões”, afirma Bruno Maia.
Em outubro deste ano, a Fifa já havia anunciado um acordo com a própria LiveMode para a transmissão dos jogos da Copa do Mundo de 2022 para as redes sociais, para exibição em múltiplas plataformas. A lista inclui YouTube, Facebook, TikTok, Kwai e Instagram.
Até então, a exclusividade dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2022 era do Grupo Globo, e isso englobava para todas as mídias: TV aberta, fechada, rádio e internet. No entanto, com a pandemia do coronavírus, a emissora foi à Justiça contra a Fifa para renegociar as dívidas e acabou perdendo a exclusividade em streaming.
Desde essa decisão, a Fifa autorizou a negociação desses direitos com outras interessadas, e a LiveMode, que já transmite os jogos do Athletico Paranaense como mandante no Brasileirão em parceria com o próprio Casimiro, ficou como a responsável por vender patrocínios regionais para a Copa.
“Não existe dúvida que não é mais tendência, e sim realidade. Basta ver a enormidade de grupos de mídia e comunicação de todo o planeta lançando plataformas próprias no mercado, aumentando a competitividade e a demanda por conteúdo original. Estamos falando para uma geração de consumidores que consomem conteúdos na hora e local em que quiserem, e o interesse por produções que contem histórias e bastidores é cada vez maior. O lançamento de filmes e documentários envolvendo grandes atletas como marcas maiores do que seus próprios times mudam o cenário do mercado”, complementa Bruno Maia.
De acordo com números da Nielsen, divulgados no final de agosto deste ano, 34,8% dos cidadãos americanos utilizaram as plataformas de streaming, com 191 bilhões de minutos consumidos. Isso é 22,6% maior se comparado com julho de 2021. Neste mesmo período de julho deste ano, a TV a cabo registrou 34,4% de participação, enquanto a TV aberta ficou com 21,6%.
“Comparando o perfil da audiência das nossas transmissões esportivas ao vivo no streaming e na TV a cabo, é possível perceber que, apesar de existir uma interesecção, o público do digital é mais jovem, mais conectado e early adopter de novas tecnologias”, diz Guilherme Figueiredo, CEO da NSports.
“Com isso, é natural que com o passar do tempo essa migração também ocorra no Brasil, especialmente após a intensificação da digitalização durante a pandemia”, complementa o executivo da empresa que possui 18 canais dos mais variados esportes e conta com oito confederações desportivas, cinco federações e associações, quatro ligas e três clubes do futebol nacional, entre elas uma parceria com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB).